Eles abriram a porta. O seu rangido parecia cósmico, um sussurro das estrelas que ecoava por todas as direções. O chão parecia não existir, como uma queda infinita; porém, estranhamente iluminado.

    Saito, ainda que admirasse sua aparência convidativa, tinha receio em sequer pisar lá, o que o fez hesitar. Pensou: “Devo mesmo entrar? Não vou cair?” Seu suor frio entregava seu desconforto. Seu irmão não pensava da mesma forma.

    Ônix tocou seu pé naquele solo abissal. Apesar de parecer não haver nada, era firme como a terra. Em seu primeiro passo, uma ondulação espalhou-se, trazendo consigo brilhos que vinham de pouco a pouco.

    O chão, agora, parecia um mar de petróleo. Alguns pontos brancos espalhavam-se junto à ondulação, mas rapidamente juntaram-se abaixo dos pés de Ônix, como se o reconhecessem de imediato.

    — Vamos?

    Saito tocou o chão com as pontas dos dedos, verificando se era seguro pisar. Era estranho. Sentia seu pé ser envolvido por uma brisa invisível. Seu coração palpitava em animação e todos os seus instintos o apoiavam a entrar.

    Ainda com muita desconfiança, pisou, dando seu primeiro passo. Partículas de luz juntavam-se abaixo de seus pés, movendo-se animadamente da direita para a esquerda.

    — Tá estranho isso aqui, viu? Tô sentindo que vou cair a qualquer momento…

    Ônix riu brevemente, caminhando sem rumo algum em seguida. Saito o acompanhou, observando o abismo ao seu redor, sentindo seus pés ficarem ainda mais gélidos a cada segundo.

    O brilho estelar que acompanhava Ônix ficava ainda mais predominante a cada passo e o de Saito também. Finalmente, cada um ocupou metade do solo em uma harmonia perfeita.

    O brilhar universal de Ônix e a luz harmônica de Saito, que estavam sob seus pés, começaram a subir. Seus corpos foram envolvidos por elas como a névoa que cobre a árvore, mas não era desconfortável, era agradável, quase um abraço.

    Ônix olhava para suas mãos que, agora, estavam tão leves quanto uma pena. Tinha a impressão de que poderia flutuar ou até mesmo voar a qualquer momento.

    Saito sentia seu corpo transbordar de energia, mas, ao mesmo tempo, também era relaxador como um calmante. Seus olhos tornaram-se brancos, retornando à cor escarlate logo após.

    O brilhar universal e a luz harmoniosa deixaram seus corpos, indo em direção ao céu. Uma rodeava a outra calmamente, como crianças brincando enquanto sorriam.

    Pouco tempo depois, elas juntaram-se em uma só esfera, onde metade parecia uma noite estrelada enquanto a outra assemelhava-se à luz do sol.

    Todo o céu ressoou, ondulando por um momento. O chão, de pouco a pouco, alterou sua aparência, abandonando o abismo e tornando-se o símbolo do yin-yang.

    Partículas da cor branca desciam daquela esfera suavemente, pousando à direita de Saito, formando três sombras prateadas. Em suas costas, o número “três” brilhava tão pouco quanto a lua. Ajoelhavam-se em reverência, olhando para o chão fixamente.

    Partículas universais também desceram, tão leves quanto uma folha. Pousaram à esquerda de Ônix e, logo depois, transformaram-se em seis sombras também ajoelhadas em reverência. O número “seis” brilhava intensamente em suas costas.

    Por fim, a esfera, agora vazia, desceu, tocando o solo que ondulou com sua vinda. Começou a girar; um redemoinho a envolvia, ocultando sua forma. Não demorou muito para que começasse a desaparecer.

    Assim que o redemoinho se foi, uma sombra surgiu. Metade de seu corpo era prateado, e a outra metade estava completamente escura. Seus olhos eram idênticos aos de Ônix.

    Sua presença trazia o vento do inverno consigo enquanto seus passos eram tão suaves quanto gotas caindo na água. Ônix a observava com admiração em seu olhar; Saito também, abandonando sua cautela.

    Essa mesma sombra avançou em um ponto próximo a eles, em frente às sombras que se ajoelhavam. Ela tocou o invisível como alguém que segura uma maçaneta, recuando sua mão em seguida.

    O abismo começou a abrir como uma porta, dando-lhes passagem para um caminho estreito, porém, iluminado num ponto agradável para os olhos.

    Aquela sombra também ajoelhou-se, olhando para o chão. Sua voz ecoou, tão imponente quanto um viking, mas tão leve quanto o vento:

    — Boa… Sorte…

    Ônix caminhava até a porta, a boca semiaberta em surpresa. Saito, enquanto andava, observava as sombras prateadas com um brilho em seu olhar. Um forte vínculo os ligava, como almas gêmeas.

    Assim que atravessaram, foram consumidos pela luz que vinha de todos os lados. Cada passo de Saito criava flores; as de Ônix deixavam rastros escuros com as marcas de seus pés.

    Após pouco tempo andando, se depararam com um enorme buraco no chão. Não dava para ver o fim, o ar parecia estar sendo sugado por ele. Alguns sussurros ecoavam de lá, repetindo:

    — Maldições… Maldições…

    Ônix teve sua paz roubada. Seu corpo, antes leve, pesava como chumbo. Seus olhos encaravam o rombo com seriedade, sentindo seu coração palpitar, sabendo que algo desagradável o esperava.

    Suspirou profundamente. Saito o observou, notando seu desânimo vir à tona. Olhou para aquela cratera e notou os sussurros, franzindo as sobrancelhas.

    — Acho que chegou a hora… Vamo? Bem que tava bom demais pra ser verdade, né?

    Ônix respondeu com um “É…” tranquilo e desanimado. Em seguida, disse que iria na frente primeiro e que seu irmão deveria segui-lo assim que fosse. Saito concordou, fazendo o sinal de beleza com o dedão.

    Ônix aproximou-se daquele buraco. O frio envolvia seu corpo como um sopro gentil, dançando ao seu redor, atraindo-o cada vez mais para a queda. Sussurros apertavam seus ouvidos:

    — Venha… Rápido… Nove segundos…

    E então, ele finalmente pulou até lá. Nada, senão a escuridão, o acompanhava. Nem o frio, muito menos o calor, tudo estava curiosamente vazio.

    Sentiu algo tocando seus pés e, quando percebeu, já estava em terra firme. Tudo ao seu redor era feito de rochas arcaicas, como uma caverna abandonada há muito tempo.

    Começou a andar em direção a uma porta aberta. Seus passos ecoavam com facilidade, como se o chão estivesse oco. Assim que a atravessou, notou um sistema ciano virado de costas com algumas falhas, como se fosse uma projeção.

    Acima dele, havia escrito: “Cronômetro”. Logo abaixo, um temporizador estava congelado na contagem “00 Minutos, 02 Segundos”. O sistema começou a virar-se calmamente.

    Finalmente virou-se, revelando-se S1. Um enorme sorriso cobria toda sua interface enquanto seu olhar parecia estar em êxtase. Começou a gargalhar loucamente. Era quase demoníaco, como se a própria maldade estivesse presente.

    Ônix sentiu seu corpo tremer junto ao ambiente. Os olhos arregalados tentavam entender o que estava acontecendo. O sistema era seu inimigo? Ou o arquiteto do que estava por vir? A resposta não estava ao seu alcance. Em seguida, o sistema disse:


    S1
    Maravilhoso… Simplesmente perfeito. Eu jurei que não daria tempo… MAS DEU!

    Aproximou-se de Ônix. Seu sorriso permanecia inabalável na interface; os dentes afiados destacavam-se como facas afiadas com perfeição.


    S1
    Aproveite seu desafio, meu eterno amaldiçoado.

    Ele desapareceu, partícula por partícula, sem rastros de pressa. Ônix ainda não entendia, mas todos os seus instintos gritavam em seu peito: perigo.

    Saito finalmente pousou e observou seu irmão estático, seus olhos observando algo que ele não via. Saito esticou as costas; um pequeno desagrado pousou em seu olhar.

    Abismo grande do caralho, né? Fiquei 36 anos caindo e nunca chegava no final.

    Ônix não o respondeu. Sua boca estava entreaberta, os olhos arregalados, quase trêmulos, ainda observando algo. Saito achou isso estranho, nunca havia acontecido antes. Assim que ele aproximou-se, notou algumas criaturas aparecerem.

    Pouco depois, elas apareceram por completo. Sua pele verde como a grama, pequenas como anões, orelhas pontudas e, por fim, olhos que cobriam metade do rosto. Todas as características indicavam somente uma coisa: globin.

    Eles tremiam. Olhavam para suas mãos, as bocas semiabertas. Observavam onde estavam e, de seus olhos, lágrimas caíam. Não lágrimas comuns, e sim de ódio. Sangue escorria pelas suas faces.

    Todos berraram, chorando em desespero. Alguns socavam o chão, enquanto gritavam que era apenas um sonho ruim. Saito estava em choque, nunca havia presenciado esse tornado de desespero.

    Mano do céu… Acho que a gente vai ter que lutar contra esses daí…

    Ônix perdeu-se em devaneios. Sua mente tentava entender o que estava acontecendo, pensando consigo: “O que é isso…?”, enquanto tentava encontrar a resposta para o motivo deles estarem se batendo.

    “É minha culpa…? Eu não deveria estar aqui?”

    Então, um deles se levantou, tampando os olhos enquanto seu rosto apontava para o céu. Sua boca estava trêmula, mas, ainda assim, o permitiu dizer:

    Ainda temos… Uma chance! Eu sei que é difícil, mas, TEMOS que TENTAR!

    Uma espada desgastada surgiu diante dele para que pudesse usar. Ele a segurou, mais forte que podia. Seus aliados começaram a se levantar, tentando ignorar as dores, o desespero, a tristeza, tudo. Em uma fagulha de esperança, o mesmo globin apontou sua espada para Saito e Ônix, gritando:

    Companheiros… À LUTA!

    Próximo capítulo: Não há diferença.

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