Capítulo 836: O Desenho de uma Criança
— Papai! — gritou animado um garotinho quando seu pai entrou pela porta.
O homem riu um pouco ao empurrar de leve o filho ansioso para o lado. — Espera o papai tirar o manto primeiro.
O garoto deu um passo para trás, pulando de expectativa para abraçar o pai.
O homem pendurou o casaco no cabide antes de erguer o filho nos braços.
Deu um beijo rápido em sua testa, e o menino envolveu o pescoço do pai com os bracinhos.
— Você precisa aprender um pouco de paciência — disse o pai. — Com paciência suficiente, tudo vem naturalmente.
Mas o garoto não se importava com isso.
Depois de se saudarem, o pai colocou o filho no chão e seguiu para a sala de estar.
Ao entrar, teve que assobiar, impressionado.
— É alguma ocasião especial, ou por que tem tanta comida assim aqui? — perguntou ao olhar para a mesa farta.
Uma bela mulher de cabelos negros estava ao lado da mesa com um sorriso convencido.
— Impressionante, né? — disse ela. — Tive vontade de cozinhar um pouco mais hoje.
O homem riu e se aproximou da esposa.
Trocaram um beijo rápido e se abraçaram com carinho.
— Posso comer agora? — perguntou o garoto, ansioso.
— Querido, o que seu pai acabou de te dizer? — perguntou a mulher, olhando para o filho.
— Paciência… — resmungou o menino.
O pai riu e se sentou. — Não vamos deixá-lo esperando demais. Estou morrendo de fome.
Os três começaram a comer.
— Isso está maravilhoso — disse o pai.
— Eu sei — respondeu a mãe com um sorriso convencido. — Como foi o trabalho?
O pai suspirou. — Difícil. Ainda não encontrei nenhuma pista. Alguém pensaria que haveria toneladas de Espectros na Cidade Externa, mas mal tem algum.
— Por que não está procurando nos Dregs? — perguntou a mãe.
— Não é uma opção. Há ainda mais Investigadores nos Dregs, e as gangues complicam tudo.
O pai parou de comer.
— Além disso, dói só de olhar para as pessoas que vivem lá. Há sofrimento por todo lado.
O clima na sala ficou um pouco mais pesado.
— Ah, você fez mais desenhos? — perguntou o pai ao filho.
Os olhos do garoto brilharam ao lembrar dos desenhos.
Ele devorou a comida rapidamente e saltou da mesa.
— Está tudo bem? — perguntou a mãe, aproveitando a ausência do filho para questionar o marido mais diretamente.
— O trabalho está garantido — disse o pai, sem olhar para ela. — Isso é o que importa.
A mãe olhou para o marido com uma expressão de dor.
Ela sabia que ele fazia coisas bastante controversas e obscuras.
Tentara perguntar mais sobre isso, mas ele sempre evitava o assunto.
Sempre dizia que seu dever era sustentar a família, e que o trabalho não deveria envolvê-los.
Um momento depois, o garoto voltou correndo com alguns desenhos.
O pai riu e pôs o filho no colo.
— Essa é uma Besta de Sangue! — disse o menino, mostrando o primeiro desenho.
O pai olhou e viu um animal vermelho.
O menino era muito bom para sua idade, e o contorno realmente lembrava um animal.
Infelizmente, o desenho não era muito detalhado.
— O que ela faz? — perguntou o pai.
— A mesma coisa que todos os Espectros de Sangue! Ela se regenera super rápido e é muito forte! — disse o menino.
O pai assentiu. — Gostei do desenho. E os outros?
O menino mostrou todos os outros desenhos, que representavam ideias diferentes de Espectros.
Então, chegaram ao último.
Era apenas uma folha completamente preta.
— E esse aqui? — perguntou o pai, olhando para a página preta.
— É o nada! — disse o menino com orgulho.
— Nada? — perguntou o pai.
— É! Eu queria inventar o Espectro mais assustador, mas não consegui pensar em nada assustador o suficiente.
— Então, fiz uma página preta. Se eu não consigo ver, não sei como é. E isso é super assustador!
O pai assentiu. — Bastante profundo. Você usou o medo do desconhecido.
— Medo do desconhecido? — perguntou o menino.
— Muitas pessoas têm medo do que não conhecem. Se elas não sabem o que é, não sabem como lidar. Isso torna as coisas assustadoras.
— Ooohh — disse o garoto.
Então, seus olhos se arregalaram.
— Tive uma ideia! — gritou, pulando do colo do pai.
Pegou uma folha de papel e desenhou apenas um pequeno ponto preto no centro.
— Pronto! — disse, mostrando para o pai.
— O que é isso? — perguntou o pai.
— Algo! — disse o menino com orgulho. — É algo, mas a gente não sabe o que é. É tudo, e é nada. Pode se tornar o que você mais teme, mas nunca dá pra encontrar porque é nada!
O pai pareceu interessado no desenho.
A essa altura, a mãe também havia se interessado.
— Isso teria que ser um Espectro de Força — disse o pai. — Um Espectro de Força que pode ser basicamente qualquer coisa e nada ao mesmo tempo.
— Realmente assustador.
O pai ficou olhando o desenho por mais um tempo.
Então, seus dedos soltaram o papel, e seus olhos se arregalaram de horror.
— O que… — a mãe começou a dizer, mas o mesmo aconteceu com ela.
Os dois começaram a suar.
— AAAAAAAHHH!
E então, começaram a gritar.
A criança arregalou os olhos em horror e correu, ainda com o lápis na mão.
Não sabia o que estava acontecendo.
Mas estava com medo.
Muito medo.
Ficou parada no meio do quarto, olhando para a porta com horror.
Chamas começaram a surgir na casa.
A criança não entendia o que estava acontecendo.
Então, algo se aproximou.
A coisa se revelou.
Era o pai, mas ele parecia muito diferente.
Seus olhos estavam fundos, e havia perdido metade do peso.
Quando viu seu filho, caminhou em sua direção com todas as forças que lhe restavam.
A criança apenas ficou ali, congelada.
O pai arrancou um cano de metal da estrutura metálica da casa.
Enquanto a criança permanecia imóvel, finalmente entendeu o que estava acontecendo.
O Espectro que ela havia criado.
Era real!
E então, uma dor profunda surgiu dentro de seu corpo e mente.
Agora, sabia por que os pais estavam gritando.
A criança gritava como seus pais.
E então, parou de gritar quando o pai a atingiu na cabeça com o cano de metal.
Uma ferida profunda se abriu na cabeça da criança.
Com suas últimas forças, o pai lançou a criança pela janela.
Depois, caiu no chão, gritando de dor.
Usara tudo o que lhe restava.
O pai sabia o que havia acontecido.
Eles aprenderam algo sobre o Nulo.
A única maneira de salvar seu filho era fazê-lo esquecer.
Um período desconhecido depois, a criança acordou.
Ainda estava desorientada e não entendia nada.
Não sabia o que era, onde estava, nem quem era.
Apenas olhava para o prédio em chamas com confusão.
Viu algumas pessoas chegando perto da casa para conter o fogo, e algumas outras se aproximaram dela.
Mas então, a criança perdeu a consciência de novo.
Muitas horas depois, acordou mais uma vez.
Estava em um beco qualquer, e todas as suas roupas haviam sumido.
— Ei, garoto.
A criança olhou ao ouvir uma voz.
Um momento depois, um rato saiu das sombras.
— A vida te derrubou?
— Talvez eu possa ajudar.
— Posso acabar com toda a sua dor.
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