Capítulo 837: Anticorpo
Nick segurou a lateral da cabeça ao ser tomado por emoções.
Sentiu calor, mas também um terror profundo.
Lembrou-se de duas pessoas.
Um homem e uma mulher.
Eles pareciam… bons e acolhedores.
Lembrou-se de um desenho.
“Não!”, gritou Nick em sua mente, desviando os pensamentos com uma disciplina inabalável.
Aria olhou para Nick, notando que havia algo de errado com ele.
— Está tudo bem? — ela perguntou.
— Não, quer dizer, sim. Está tudo bem — disse ele, respirando fundo.
Nick fechou os olhos.
“Por que agora?”, pensou.
Naturalmente, Nick sabia exatamente o que tinha acabado de acontecer.
Seu cérebro estava tentando lembrar da vida antes dos dez anos.
Mas isso era perigoso.
“Não posso pensar na minha vida anterior. Se eu me lembrar do Nulo, vou morrer. Não sei se o Nulo também ataca Espectros, mas não quero correr o risco.”
Nick focou em sua vida após o evento.
Ele havia acordado desorientado, com sangue seco na cabeça.
O Parasita imediatamente tentou convencê-lo de que a vida não valia a pena.
No entanto, Nick ainda era apenas uma criança na época, e temia mais a morte do que qualquer coisa que o Parasita dissesse.
Então, o Parasita tentou matá-lo com seus ratos, mas Nick simplesmente correu para fora do beco.
Ao ver todas as pessoas nas ruas, o Parasita não o perseguiu mais.
Depois disso, Nick apenas vagou pela cidade, confuso.
Sabia algumas coisas sobre a cidade, mas nada específico.
Quando teve sede, bebeu da água acumulada nos barris de chuva.
Quando teve fome, roubou de mercadores.
Eventualmente, o povo da Cidade Externa se cansou dele, e os guardas o jogaram nos Dregs.
Como qualquer outra pessoa vivendo nos Dregs, Nick passou pelo inferno.
Felizmente, tinha uma vantagem.
Era bastante forte.
Como uma criança de dez anos, já era quase tão forte quanto um adolescente. E, quando se tornou adolescente, tinha força de um homem adulto.
Naturalmente, isso se devia ao fato de Nick já ter se tornado um Novato Iniciante naquela época.
Ele entrou para uma das gangues bem cedo, mas certas coisas aconteceram e acabou sendo expulso.
Então, tornou-se uma espécie de contratado que fazia qualquer serviço por dinheiro.
Vivia relativamente bem para alguém dos Dregs e começou a treinar.
Com o tempo, ficou velho e forte o suficiente para se candidatar como Extrator para os Laboratórios Ghosty.
O exame era difícil e aterrorizante, mas Nick conseguiu passar.
Porém, quando deveria receber sua primeira habilidade, os examinadores perceberam que ele já possuía uma.
Como todos no laboratório precisavam de uma habilidade específica, o negaram.
Aceitar alguém com uma habilidade desconhecida era arriscado demais.
No entanto, apesar de o terem rejeitado, ainda se interessaram por sua habilidade.
Sabiam que ele possuía uma, mas não sabiam qual era.
Em alguns testes, ele se saía excepcionalmente bem, em outros, tinha desempenho mediano.
Enquanto Ghosty revisava os candidatos e os que haviam sido recusados, viu o dossiê de Nick.
Ficou interessado na habilidade, mas não teve tempo de procurá-lo pessoalmente.
Durante uma conversa com um amigo, Albert, Ghosty mencionou a habilidade, e Albert ficou curioso.
Albert procurou por Nick e acabou encontrando-o.
Pela primeira vez em sua vida, Nick teve orientação de verdade.
E dois anos depois, entrou em contato com Wyntor.
Foi aí que sua carreira começou.
Nick respirou fundo.
Ao focar em sua verdadeira vida, conseguiu se dissociar das memórias que tentavam invadir sua mente.
“Esse não sou eu”, pensou Nick. “A criança que existia antes do incêndio não sou eu.”
“É a vida de um estranho.”
Com disciplina, Nick se desligou das memórias invasivas.
Elas se tornaram irrelevantes e sem importância.
Deixaram de ser interessantes.
Essa era a forma mais segura de impedir sua mente de seguir por desvios perigosos.
— Desculpa, tive que lidar com uma coisa — disse Nick, abrindo os olhos novamente.
Aria assentiu e voltou a olhar para o chão.
O incidente com os pesquisadores gritando ainda a aterrorizava.
Durante muitos anos, acreditou que todos morreriam a qualquer momento.
Ela tinha visto o verdadeiro rosto do inimigo, e um dos Eternos deles basicamente invadira a base secreta.
O verdadeiro inimigo poderia enviar seus servos a qualquer momento.
Mas isso nunca aconteceu.
Todo dia parecia ser o último, mas sempre havia um amanhã.
— Tivemos sorte — disse Nick. — Não posso falar dos detalhes, mas tenho quase certeza de que nada vai acontecer com a base de pesquisa por causa desse incidente.
Aria apenas suspirou novamente.
“O Nulo provavelmente é como o Sol”, pensou Nick. “Ou, talvez, não exatamente.”
“O propósito do Nulo é impedir que certas informações se espalhem. Provavelmente, se alguém fala sobre a verdadeira natureza do Sol ou dos alienígenas, é o Nulo que os elimina.”
“Mesmo em completa escuridão, longe de toda luz solar, o Nulo consegue sentir que a informação está sendo disseminada.”
“Pode ser que o Nulo seja um sistema autônomo, mas também pode ser um Espectro.”
“Pelas ações instintivas, não parece ter uma mente inteligente. Provavelmente, é um Espectro de Força.”
“Felizmente, o Nulo não parece ser um coletor de informações. Ele é apenas um limpador.”
“Se o Nulo coletasse informações e as entregasse ao Sol, essa base de pesquisa já teria sido destruída.”
“Mas, como a base ainda está aqui, isso significa que o Nulo não entrega informação alguma.”
“É como um anticorpo. A única coisa que faz é encontrar vírus e destruí-los. O anticorpo não avisa ao cérebro qual vírus capturou. Apenas os consome.”
No momento seguinte, Nick olhou para os feixes de luz saindo de seu corpo.
“Eu sei parcialmente sobre você.”
“Provavelmente existem milhões de feixes, e eu sou um deles.”
“Meu feixe deve ser mais escuro que 99% dos outros, mas não escuro o suficiente para te ativar.”
“No entanto, você com certeza sabe da minha existência.”
“E já que sabe que eu existo…”
Nick estreitou os olhos ao olhar para os feixes de luz muito levemente coloridos.
“Você é um dos feixes.”
“Um desses feixes pertence ao Nulo.”
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