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    Os sentimentos são capazes de determinar o quão forte é um desviante. O vazio torna-te tão poderoso quanto o altruísmo. Entretanto, é na harmonia que reside a verdadeira força.

    Nem o bem ou mal, afinal, esta guerra eternamente irá acontecer, portanto, cabe ao equilíbrio trazê-lhe vossa resiliência. A paciência de durar uma eternidade, foi isso que Theo aprendeu enquanto, pelo tempo, era puxado.

    Não havia ninguém além de Nik’Hael, e nada além do espaço vazio e as ondas do tempo, então, Theo esperou. Manteve a mente concentrada no momento, tentando ao máximo ignorar um futuro que talvez não chegasse.

    Foi uma experiência irônica, pois conforme se deixava a mercê da quarta dimensão, Theo percebeu que o próprio tempo, às vezes, esquecia quem era. Movimentava-se por um tecido linear, portanto, turbulento e tênue.

    O espaço, naquele ponto, não fazia sentido lógico; um segundo durava um século, com este fato eles tiveram que conviver.

    Por algum motivo irracional, Theo pensou que não seria possível acessar seu plano espiritual por estar numa dimensão que constitui a realidade, mas, após um enorme tempo de tédio, ele começou a cogitar uma tentativa.

    O motivo era simples…

    Nik’Hael não calava a boca.

    O pequeno anjo estava testando a paciência de Theo, enchendo-o de perguntas retóricas e sem sentido que, para o Jovem Mestre Lawrence, eram banais.

    Naquela altura do campeonato, eles estavam formando uma quase amizade, mas o comportamento infantil e sádico de Hael estava impedindo Theo de se aproximar.

    Esse comportamento fez Theo entrar e se auto confinar no próprio plano espiritual.

    ‘Bem-vindo novamente, Portador do Vento.’ disse a pixie.

    Sem proferir uma palavra, Theo se dirigiu até o quinto andar aonde iria se encontrar com Khun novamente. Em pouco tempo, o Jovem Mestre Lawrence estava de cara com o majestoso e belo tigre branco; seus olhares se cruzaram e o vento agitou-se.

    Theo estava diferente. O espirito do vento notou isso e grunhiu. Ele tentou intimidá-lo, mas não foi capaz de afetar a postura do rapaz.

    Alongando-se ao encarar profundamente a besta, Theo notou o que estava se tornando.

    ‘O Portador do Vento, neste momento, consegue encarar as Presas Celestes nos olhos.’

    Khun esbanjou sua força, afetando diretamente o plano espiritual de Theo. Embora pressionado por um espirito do vento, Theo não foi intimidado.  

    Entretanto, mesmo com toda aquela confiança e poder… Ainda que desviasse dos golpes de Khun com seu túnel vetorial… Theo não foi capaz de lidar com o espirito do vento.

    Ainda utilizando o túnel vetorial, Khun conseguia o acompanhar com sua própria velocidade. 

    Ao desviar do espirito do vento, Theo descuidou-se e manteve-se de costas ao tigre; seu pior erro. Quando se virou, Khun desceu suas garras aos olhos de Theo e arrancou sua pele, expôs a carne do jovem; fez seu sangue escorrer dentro do próprio plano espiritual.

    Theo acordou desnorteado no tempo.

    — Teve um pesadelo, princesa? — zombou Hael.

    Theo se calou e voltou ao plano espiritual. Ele tentou mais de trinta vezes, porém, sempre encontrou uma morte pior e mais dolorosa, dignas de uma caça brutal.

    Depois da vigésima tentativa, Theo parou de atacar e decidiu estudar como um espirito do vento agia. Claro, ele estava fazendo isso desde o início, mas intensificou os estudos quando notou que não iria conseguir nada com Khun.

    Ele estudou o espirito do vento durante dias, talvez semanas, mas Khun era tão imprevisível que o vento não sabia como guiá-lo.

    Em dado momento Theo ficou sobrecarregado de tantas tentativas e derrotas, e não achou outra saída a não ser deixar-se a mercê do tempo novamente.

    Ele olhou para a singularidade a qual estava sendo puxado, mas notou que, devido à imensidão daquela dimensão, eles não haviam se aproximado nada do centro.

    — Se não me suportar, vai morrer de ódio. — Nik’Hael estava em posição de meditação à medida que era sugado pelo tempo. — Teremos muito tempo para nos conhecermos melhor.

    — Você já esteve aqui, certo? — Theo deduziu ao interromper Hael.

    Nik’Hael sorriu.

    — Como notou?

    — Você conseguia se mover neste espaço. E, desde que entramos aqui, você esteve calmo demais para alguém perdido. Isso me levou a uma única conclusão; você quem nos trouxe para cá…

    — Certeiro!

    Nik saiu da posição anterior e ficou de pé no vácuo; segundos depois um piso se formou abaixo de seus pés e ele começou a caminhar.

    — Quando senti a liberação extrema daquele general, eu a usei como brecha para acessar este local novamente. O tempo… Antes, somente meu pai havia me trazido até aqui graças ao djinn dele. Graças a isso, eu e meu pai despertamos habilidades temporais…

    Nik’Hael ficou em silêncio ao perceber um fato. Ele fechou o punho e encarou as ondas do tempo.

    “Nihaya os trouxe aqui? Como um djinn, faz sentido ele ter se tornado um ser além do tempo. Mas… Por quê Bvoyna iria querer visitar este local?” ponderou Theo.

    — Se você está sobrevivendo a essa exposição… — Nik’Hael encarou Theo perplexo, seus olhos quase saltando pelo crânio e esboçando desespero. — Você também tem potencial para ser um temporal…

    ***

    Malcolm despertou abruptamente, sentando-se em meio à nevoa que ainda tomava o ambiente. Já havia se passado bastante tempo, mas a eletricidade e os efeitos ecológicos ainda pairavam pelo ar.

    O general tentou se mover, pois somente agora conseguiu pensar: ele estava esperançoso que Theo estivesse vivo mas em outra dimensão, porém, quanto aos outros grupos?

    A Trupe de Ataque estava dentro da zona de alcance primário de sua descarga junto de Zemynder. Se ninguém tivesse tomado providências, naquela altura eles já teriam sido pulverizados pela liberação.

    No entanto, o seu desespero veio quando pensou em Jeanne: com certeza seu feitiço teve efeitos até no outro lado do mundo. O general tentou se levantar e correr em direção à deusa, mas seu corpo o impediu.

    Estava fraco, tão fraco quanto uma criança doente.

    De repente, Nihaya — disfarçado de Nietsz — apareceu ao lado do general de braços cruzados. Ele o encarou de cima como o general Nietsz faria.

    — Nietsz?… — murmurou Malcolm.

    — Que estrago… Você foi petulante.

    — Era a única saída. Isso ou me sacrificar para selar aquele bastardo.

    — Quem era?

    — Se não for um Emissário, está quase virando um.

    O djinn soube na hora de quem se tratava.

    “Nik’Hael…” ponderou.

    — Já volto. Vou tirar aquele fedelho de onde ele está.

    — E quanto aos outros?! — Malcolm tossiu de dor.

    — Estão a salvos. Eu os protegi com barreiras e limitei a destruição somente aos Pilares do Renascimento, mas alguns danos como abalos sísmicos vazaram.

    Malcolm deitou-se aliviado novamente quando Nihaya desapareceu em partículas azuis.

    ☽✪☾

    — Um temporal? — Theo repetiu.

    — Porra! Caralho! Que merda! Onde eu meti esse bastardo?!

    Nik’Hael estava completamente revoltado consigo. Ele puxava os cabelos e cerrava os punhos, ficou ofegante e ansioso.

    — Não, se bem que aquele djinn avisou sobre os potenciais dessa expedição… Ainda assim, não mencionou um temporal!

    — O que caralhos é um temporal?! — exclamou Theo, se impondo a Nik’Hael.

    Ambos se encararam; Theo estava curioso e começando a se alterar. Nik’Hael, por outro lado, já estava alterado e completamente nervoso.

    — Um temporius. — Nihaya surgiu acima deles, de braços cruzados e olhando para os dois.

    Ele havia adotado a verdadeira aparência de um djinn, assim Nik’Hael não iria conseguir denunciar seus disfarces.

    Um homem alto e magro, com runas escuras por todo seu corpo quase como tatuagens; sua pele era azulada e olhos negros, com um certo brilho intenso cor azul-celeste. Usava todos os tipos de utensílios de ouro e tinha um físico bastante robusto, mas ainda passava a imagem de uma pessoa jovem.

    Afinal, após tornar-se um djinn, Nihaya obteve a dádiva da imortalidade, podendo permanecer em qualquer aparência por qualquer tempo. Em essência, aquele era o verdadeiro Nihaya.

    — Ou seja, um ser capaz de controlar o tempo de alguma maneira — explicou Nihaya.

    — Djinn! — exclamou Hael. — Salve-me! Mate-o e tire-me daqui!

    Nihaya olhou diretamente para Theo, ignorando a presença e os berros de Nik’Hael.

    — Djinn, está me ouvindo?!

    — Antes, quero ter uma conversa só nós três.

    Nihaya surgiu de repente ao lado de Theo, segurando-o pelo braço.

    Nik’Hael hesitou; ele pensou que seria deixado ali.

    — Não se preocupe, irei lhe tirar daqui. Afinal, deixar que você passe milhões de anos aqui e evolua é um erro…

    — Do que você está… Quê? — Nihaya desapareceu. — Djinn!

    O grito de Nik’Hael estrondou, mas foi tratado com insignificância pelo tempo.

    Nihaya, portanto, carregou Theo pelo tempo. Ele o arrastou pelas ondas do universo, permitindo que o rapaz vislumbrasse o tempo com outros olhos; com sua própria perspectiva, ao invés da visão de Nik’Hael.

    — Como você vê o tempo? — perguntou Nihaya.

    Theo ficou em silêncio; estava admirado.

    — Parado… Não, lento. Ele quase não se move.

    — Então este é o seu poder? — resmungou o djinn, mas Theo escutou.

    — O quê? — retrucou surpreso e animado. — Parar o tempo?!

    — Não. — Nihaya quebrou sua animação. — Talvez vê-lo diferente dos demais, não sei. Se você parar o tempo, para os átomos. Se isso acontecer, o universo perde o equilíbrio e então…

    Theo imitou uma explosão com a boca, completando o raciocínio de Nihaya.

    — Uma grande explosão.

    — Justamente.

    Eles pousaram em uma plataforma de mármore-celestial, uma pedra do paraíso. O éter estava pela superfície. Na verdade, agora que entrou em contato com éter, Theo notou que todo o tempo era feito por àquela energia.

    Na verdade, por sua forma pura e superior: aether.

    A energia divina/angelical estava mantendo a harmonia do tempo.

    Mas, em sua frente, estava aquele cujo dever da existência é manter aquela harmonia. Uma enorme singularidade que mantinha o tempo se movendo; puxando o futuro para o presente, e depois descartando o passado na fenda do abismo.

    — Não o olhe diretamente — ordenou Nihaya, sendo forçado a desviar os olhos para o mármore. — Este em sua frente é Arcduth, o Único. Tenha cuidado com seus pensamentos.

    ‘A criança de Araav?’

    A voz de Arcduth desestabilizou o próprio tempo. Turbulento, agudo e, ao mesmo tempo, grave. Poderoso, imponente, capaz de tornar qualquer um prepotente… Aquela voz foi capaz de bagunçar o juízo de Theo.

    ‘Consigo senti-lo. Venha, vamos debater o futuro.’

    Por reflexo, Theo vislumbrou a singularidade. No centro do ponto gravitacional, estava a centelha de um Arconte; seu conhecimento, o núcleo e a verdadeira aparência de um ser superior a quase tudo e todos, abaixo apenas do criador: um Tesseract.

    Um cubo que se distorce pelas próprias arestas e comprime os vértices, ignorando qualquer ideia e lei da física, um ser tão perfeito que a mente imperfeita de um humano trata como “estranho e sobrenatural”. Assim é um anjo.

    — Eu…

    Theo admirou-se sem poder conter o brilho nos olhos, a determinação e toda calmaria no coração.

    — Quero chegar a isso — declarou diante a um ser que ele jamais se aproximará.

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