Capítulo 3: Casa de Penhores Justa

Essas duas pessoas envolvidas em ‘transações legítimas’ pareciam ainda mais implacáveis do que os criminosos, e Adam sentiu como se tivesse sido salvo da frigideira apenas para ser lançado no fogo.

— Não tenha medo, garoto! Não vamos fazer nada com você. Como acabou de ver, somos cidadãos bons e cumpridores da lei!

A voz sedutora soou mais uma vez quando Aranha Vermelha se aproximou de Adam, balançando a cintura esguia de um lado para o outro.

— Só porque seguem a lei não quer dizer que são boas pessoas. Vocês também estavam presentes quando aqueles sem-teto foram mortos, certo?

— Estávamos, mas não existe nenhuma lei que diga que testemunhas precisam se arriscar para salvar os outros. Já somos cidadãos exemplares por termos enviado provas para a força policial robótica e ajudado a capturar os culpados, não é mesmo, garoto?

— Por que me salvaram? O que vocês querem? Também estão atrás do meu corpo?

— Hahaha, que garoto esperto você é. De fato, nossa casa de penhores também precisa de adaptadores de primeira linha, mas vamos adquiri-lo por vias legais. Veja só, eu até já preparei um contrato.

Enquanto falava, Aranha Vermelha tirou uma das mãos do bolso e projetou um contrato eletrônico.

O contrato tinha muitas cláusulas restritivas, mas seu conteúdo era muito simples: essencialmente, estava pedindo que Adam empenhasse a si mesmo.

Claro que, por se tratar de um acordo legal, a casa de penhores não deixaria Adam morrer, nem permitiria que outros indivíduos ricos reivindicassem seu corpo. Tudo o que a casa de penhores exigia era um funcionário adaptador.

— Vocês querem que eu empenhe meu próprio corpo em troca de uma quantia em dinheiro, e então use esse dinheiro para contratar vocês como proteção? Que tipo de contrato é esse? Posso ser um quadro em branco, mas não sou burro! Vocês não estão abrindo mão de nada com esse contrato!

— É aí que você se engana, garoto. Nossa proteção é muito cara. Se outras pessoas lá fora quisessem nos contratar, o preço seria mais ou menos o mesmo. Essa é uma troca justa, e nossos custos operacionais também são bem altos. Pegue, por exemplo, esses módulos de energia no meu corpo, todos são muito caros. Claro, contratos só são assinados entre partes dispostas, sob condições justas, abertas e transparentes. Permita-me reforçar que somos uma empresa legítima. — Aranha Vermelha então fez uma pausa, soltando um leve suspiro, e lançou um olhar preocupado com seus olhos eletrônicos na direção da estrada rural escura. — Só porque seguimos a lei não quer dizer que o resto do mundo faça o mesmo. Sempre há gente má demais por aí. Que tal fazermos uma aposta?

— Que aposta?

— Apostamos que, se você não assinar o contrato e não intervirmos para protegê-lo, sua consciência será apagada de novo dentro de 24 horas, e seu corpo vai parar no mercado negro, sendo vendido para o maior lance. Se tivermos que salvá-lo outra vez, o valor da garantia que você receberá será reduzido pela metade! Ah, e uma vez que sua consciência for apagada de novo, você não vai se lembrar de nada disso quando nos encontrarmos na próxima vez, pois não será mais você. Vai se tornar, mais uma vez, um quadro em branco.

Tudo isso foi dito em um tom provocador, mas havia claramente um elemento de ameaça por trás das palavras dela, e Adam ficou em silêncio ao ouvi-las. Ele sabia que, na situação atual, era como uma criança indefesa carregando um tesouro, o que significava que estava em perigo constante.

Assim, após refletir um pouco sobre a situação, ele assentiu em concordância, mesmo ainda estando extremamente relutante em aceitar aquele arranjo.

— O contrato diz que vou trabalhar para vocês por 10 anos, durante os quais vocês vão garantir minha segurança e também me ensinar habilidades para me proteger, certo?

— Exatamente. É um acordo muito justo! Tudo o que precisa fazer é pressionar o dedo aqui e permitir que a máquina colete sua informação de DNA. Depois de assinar o contrato, seremos uma família.

Enquanto falava, um sorriso que fazia jus ao seu nome surgiu no rosto de Aranha Vermelha.

Depois de finalizar o contrato e entregar os criminosos à força policial robótica, o trio partiu no carro de Aranha Vermelha. Adam estava sentado no interior do carro, mas Tanque era grande demais e só pôde ir sentado no teto.

— Aqui, isso é para você. É o emblema da nossa casa de penhores, e, em termos gerais, ninguém se atreveria a fazer nenhuma gracinha com você ao ver esse emblema. Mesmo que tentem, o emblema contém os mecanismos de localização e alerta mais avançados, que podem ativar um chamado de SOS a qualquer momento, então mesmo que você morra, alguém com certeza vai vingar você.

Aranha Vermelha estava sentada no banco do motorista, usando as pernas de aranha em suas costas para dirigir, enquanto enfiava a mão no bolso do peito e puxava um distintivo que entregou a Adam.

Adam aceitou o distintivo e viu que havia uma balança gravada nele, simbolizando a justiça.

— Nossa loja de penhores se chama Casa de Penhores Justa. No entanto, fazemos as coisas de forma justa até demais, então ninguém gosta de mencionar esse nome. Por isso, geralmente nos chamam apenas de ‘a casa de penhores’. Já somos conhecidos demais por estas bandas, então não importa se mencionam o nome completo ou não. Se alguém fala em casa de penhores, os outros já presumem que estão falando da nossa. Nossa casa de penhores oferece muitos serviços, incluindo transações de dinheiro e produtos, resgate de reféns, ajuda na resolução de casos, eliminação de problemas, obtenção de inteligência empresarial por meios legais, psicoterapia… Basicamente, fazemos qualquer coisa, contanto que nos paguem bem.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Você quer me perguntar sobre adaptadores, certo? Sim, precisamos de funcionários adaptadores, e nunca é demais tê-los. Em contraste com lutadores contratados como nós, adaptadores são muito mais versáteis e úteis. Você sabe de onde vem a identidade de um adaptador, certo?

— Sei. São humanos com neurônios inatamente superdesenvolvidos. As sinapses dessas pessoas são especialmente avançadas, permitindo que se conectem à própria consciência e entrem livremente nos mundos psíquicos delas mesmas e dos outros. É exatamente por causa desse potencial de conexão excessivo que outras personalidades também conseguem invadir suas mentes com mais facilidade. Provavelmente é essa a característica desejada por aqueles indivíduos ricos que querem comprar meu corpo.

— Tudo o que você disse está certo, mas os adaptadores têm ainda mais utilidades do que isso. Como psiquiatra, você poderá captar os traumas subconscientes esquecidos por seus pacientes. Como espião corporativo, poderá roubar segredos empresariais com facilidade. Como interrogador, poderá interrogar suspeitos com uma eficiência espantosa, já que não precisará se preocupar com mentiras. E até como assassino, será completamente indetectável ao realizar um trabalho. Claro, somos uma empresa legítima, não fazemos assassinatos por contrato. — O sorriso característico de Aranha Vermelha ‘somos uma empresa legítima’ apareceu em seu rosto enquanto falava, e ao mesmo tempo, ela pisou no acelerador com força total, claramente infringindo a lei ao ultrapassar o limite de velocidade.

— Por que ficou só observando enquanto a Aranha matava todos aqueles sem-teto? Com suas habilidades, você poderia ter impedido aquilo desde o início, não é?

— É porque, quando mataram só algumas pessoas, isso não era o suficiente para justificar a pena de morte. No mundo dos negócios, gostamos de fazer o máximo de amigos possível e manter o mínimo de inimigos. Se formos fazer inimigos, então a melhor forma de lidar com eles é eliminá-los. Nas palavras da nossa senhora, um negócio deve maximizar os lucros. O lucro é prioridade, mas a justiça é fundamental!

Ao ouvir o orgulho com que Aranha Vermelha declarava aquele mantra, Adam teve certeza de que realmente tinha se envolvido com um bando de bandidos. A única coisa pela qual podia se sentir grato era o fato de, pelo menos por agora, estar do lado deles.

O caro carro de suspensão magnética seguia velozmente, e logo depois, eles chegaram àquela cidade gigantesca.

Tinham saído direto de um mundo sombrio e árido para um repleto de luzes neon brilhantes, e o contraste entre a cidade e a zona selvagem era gritante.

O carro deslizou entre os altos arranha-céus como um peixe ágil, até finalmente chegar a uma luxuosa rua comercial.

O céu ali era preenchido com todos os tipos de imagens e sons: letreiros de propaganda, placas de bares, membros protéticos pendurados feitos de joias, bandeiras de lojas de luxo, fogos eletrônicos vindos de cassinos… No chão, havia todo tipo de pessoa, malandros, acompanhantes de bar, esposas ricas vestidas com roupas caras e joias. Tudo isso misturado formava um cenário surreal, como um delírio etílico.

Na maior loja no centro da rua havia uma placa com os dizeres ‘Casa de Penhores Justa’, e assim que Adam chegou, viu uma figura familiar parada na entrada. Era a primeira pessoa que ele tinha visto depois de recobrar a consciência: a mulher chamada May.

— Trouxe a pessoa que você queria, Senhora.

Aranha Vermelha imediatamente cumprimentou May com um largo sorriso assim que saiu do carro.