Índice de Capítulo

    A Dente Dourado Inc. era a empresa por trás de Shae.

    Enquanto Adam examinava os arquivos sobre Porco Desvairado e a Dente Dourado Inc., Aranha Vermelha continuava desrespeitando o limite de velocidade, passando por cerca de uma dúzia de ruas até chegar ao portão de um enorme casarão.

    Após se identificar, ela passou pelo portão, além do qual havia um mundo de puro luxo e extravagância.

    A fonte jorrava um tipo de composto estranho que, ao ser inalado, despertava uma sensação de alegria e excitação.

    Pelos jardins, circulavam bêbados e gueixas com todo tipo de membros protéticos exóticos instalados em seus corpos, e, sem exceção, todos podiam ser descritos como brilhantes e reluzentes.

    Além do aroma peculiar no ar, havia também uma música extremamente cativante tocando, fazendo com que qualquer um tivesse vontade de balançar a cabeça no ritmo enquanto caminhava.

    — Você deve ser a senhora Aranha Vermelha, certo? — Pouco depois de entrarem no jardim, Aranha Vermelha foi recebida por uma figura relativamente normal. — Já estamos esperando por você há bastante tempo. Por favor, venha comigo.

    Após atravessarem o jardim e o pátio, Adam e Aranha Vermelha adentraram um salão espetacular. Antes mesmo de entrarem de fato, ouviram um rugido furioso vindo lá de dentro.

    — Porra! Vocês disseram que chegariam ao meio-dia, mas já passou da meia-noite e só agora aparecem! Até os camelôs que vendem pílulas falsificadas sabem a importância da pontualidade! Como é que a casa de penhores pretende se dizer uma empresa legítima mantendo os clientes esperando desse jeito?!

    Aranha Vermelha deu uma risadinha em resposta.

    — Se estamos atrasados, é porque viemos bem preparados. Não se exalte! Se não gostou, pode procurar outra empresa!

    Enquanto falava, Aranha Vermelha caminhava até o homem furioso que estava sentado no centro do sofá, balançando os quadris de um lado para o outro.

    Adam olhou na direção de onde a voz havia vindo e viu um homem extremamente corpulento. Era alto, musculoso e gordo, e mesmo desconsiderando o peso dos membros protéticos, devia pesar bem mais de 170 quilos.

    O homem tinha traços faciais intensos e uma expressão meio insana, mas seu semblante claramente suavizou um pouco quando Aranha Vermelha sugeriu que ele procurasse outro serviço.

    — A casa de penhores tem muitos defeitos, mas sua habilidade em resolver problemas é quase imbatível. Caso contrário, eu não teria gasto tanto dinheiro para contratar vocês!

    — Pois é! Como dizem por aí, as coisas boas da vida sempre valem a espera! Vamos, nos leve até ela pra que possamos entender melhor a situação.

    Porco Desvairado se levantou e conduziu Aranha Vermelha e Adam até um quarto no andar de cima.

    Em contraste com o estilo extravagante do exterior, o quarto tinha uma decoração nitidamente cor-de-rosa, no estilo ‘princesa’. Na cama, jazia uma garota de aparência frágil, com cerca de 13 ou 14 anos. Seu corpo magro contrastava fortemente com o do pai corpulento. No entanto, o que mais chamava atenção não era sua silhueta, e sim seu braço esquerdo, que estava incompleto. Faltava uma parte do membro, e apenas um tratamento simples havia sido feito. Nenhum membro protético fora instalado.

    — Esta é minha filha, Kim. Há pouco mais de um mês, ela sofreu um grave acidente de carro que causou ferimentos severos no braço esquerdo, e ele não pôde ser salvo. Mas, depois da amputação, ela recusou a instalação de um membro protético.

    — Ela recusou um membro protético? — Um olhar surpreso surgiu no rosto de Aranha Vermelha, que pousou uma das mãos sobre as pernas de aranha nas costas. — Isso é bem estranho.

    Nos dias atuais, membros protéticos eram extremamente populares. Além de suas múltiplas funcionalidades, também eram um símbolo de estilo. Muitos jovens ricos, mesmo sem perderem membros, se interessavam por instalar próteses. Por isso, ver alguém recusar uma prótese após uma amputação era, de fato, muito incomum.

    — No começo, achei que fosse só uma birra. Tentei conversar com ela, mas não adiantou, então mandamos instalar o braço à força. Pode ficar tranquila, não era uma daquelas próteses esquisitas, era um braço protético comum, de imitação. Mas desde que colocaram, Kim passou a se sentir muito mal, com pesadelos constantes. No fim, ela chegou a desmaiar de doença. Não tive escolha senão pedir ao médico que removesse a prótese. Após alguns exames, o médico me disse que era um caso de instabilidade emocional extrema. Finalmente, recorri a um psiquiatra, e ele diagnosticou como algum tipo de transtorno pós-traumático.

    — E depois disso?

    — Depois disso, o psiquiatra só pôde prescrever alguns medicamentos e tentar uma terapia comunicativa, mas pra tratar a raiz do problema, precisávamos de um adaptador. Foi aí que procurei a casa de penhores.

    — Entendi. — Aranha Vermelha assentiu antes de apontar para Adam. — Vá até ela e dê uma olhada.

    — Er… — Adam se aproximou de Kim, que suava em profusão, e a observou.

    — Viu alguma coisa?

    — Não.

    — Eu mandei você olhar o coração dela, não o rosto, seu idiota! — Aranha Vermelha deu um tapa na parte de trás da cabeça de Adam com uma expressão exasperada. Adam não apenas não tinha experiência médica, como também aquela era sua primeira vez entrando oficialmente no mundo psíquico de outra pessoa. Após o tapa, ele finalmente entendeu o que devia fazer e pressionou a ponta do dedo contra a testa da garota antes de ativar o transmissor para entrar em sua consciência.

    No instante seguinte, ele se viu em um pátio escolar.

    Sua primeira impressão daquele lugar foi que ele era extremamente frio.

    — Que atmosfera gelada e assustadora!

    Adam inspirou profundamente enquanto analisava os arredores. Aquilo era o parquinho de uma escola, e não havia sol nem lua no céu, o que tornava a visibilidade bem baixa. Além disso, toda a área estava tomada por uma névoa densa.

    O mundo psíquico de uma pessoa tinha ligação direta com suas memórias, emoções e experiências, então fazia sentido que o mundo interior de uma garotinha com transtorno pós-traumático não fosse exatamente ensolarado e acolhedor.

    Após tirar um momento para se acostumar ao ambiente, Adam começou a explorar.

    Primeiro, viu algumas crianças pequenas na beirada do parquinho. Essas crianças provavelmente eram colegas de escola de Kim. O fato de estarem presentes no mundo psíquico dela indicava que deviam ter algum tipo de ligação com ela.

    Assim, Adam tentou se comunicar com elas.

    — Oi.

    — …

    Os alunos levantaram os olhos para encará-lo com expressões frias, mas nenhum deles disse nada.

    — Vocês conhecem a Kim? Kim Garcia? A filha do rapper?

    — Não — os alunos frios e apáticos finalmente responderam, dessa vez.

    — Entendi.

    Parecia que aqueles alunos tinham apenas o papel de figurantes aleatórios nas memórias, e não possuíam uma ligação real com Kim.

    Adam continuou procurando. Não havia muitas pessoas nas lembranças de Kim, mas sua lembrança dos edifícios ao redor era particularmente nítida.

    A julgar pelo estilo das construções, aquilo parecia ser uma escola particular com mensalidades bem altas. Os prédios ao redor ou eram marcos históricos ou passavam uma sensação de prestígio artístico.

    “Todos que frequentam essa escola provavelmente vem de famílias de grande riqueza ou posição social elevada, então a filha de um rapper famoso não chamaria muita atenção aqui.”

    Adam seguiu em sua busca enquanto coletava informações pelo caminho.

    Depois de conversar com mais alguns estudantes frios e distantes, finalmente encontrou um que conhecia Kim, e seguiu as instruções dele até localizar Kim no ginásio.

    No momento, ela estava sendo atacada por três rãs vestindo uniformes escolares femininos.

    As três rãs estavam constantemente chicoteando o rosto de Kim com suas línguas enquanto a cobriam com saliva, uma cena tão repulsiva quanto grotesca.

    — O que está acontecendo lá dentro?

    Ben também observava do mundo real.

    A cena que ele presenciava estava sendo transmitida por Aranha Vermelha. Ela não podia entrar no mundo psíquico dos outros, mas também possuía um transmissor implantado no corpo. Isso permitia que monitorasse a situação dentro do mundo mental de Kim, e também que interrompesse imediatamente a conexão caso Adam corresse perigo.

    — Não precisa se preocupar, ele vai dar conta!

    Assim que a voz de Aranha Vermelha se calou, Adam já havia disparado em direção às três aberrações.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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