Índice de Capítulo

    Mesmo quando ele apertou bem os olhos e os abriu novamente… mesmo quando desativou e reativou os Nove Olhos… tudo continuava igual.

    O contrato de Kim Hannah brilhava em dourado, enquanto o da Sinyoung não tinha cor alguma.

    “E por que você está brilhando em dourado, logo você…?”

    Uma coisa que ele aprendeu foi que o ‘Mandamento Dourado’ se aplicava a objetos, não apenas a pessoas.

    De qualquer forma, ele não podia ter certeza do que fazer apenas com base no que estava vendo e ouvindo.

    Faltavam informações para que decidisse sobre um contrato, enquanto no outro ele sequer conseguia entender o que aquilo tudo significava.

    Não podia ter certeza de nada, mas…

    — Eu vou assinar este aqui.

    Após uma longa deliberação, Seol escolheu o contrato de Kim Hannah.

    — Hã?

    A expressão de Shin Hansung mostrava o quão chocado ele ficou com a escolha de Seol.

    — Ahh!

    Enquanto isso, Yun Seora foi completamente pega de surpresa e ficou bastante desnorteada.

    — Você pode nos dizer o motivo?

    Shin Hansung ergueu a voz, e Kim Hannah não tentou impedir o jovem de cabelos cacheados. Em vez disso, ela abaixou levemente a cabeça enquanto sua expressão se endurecia, demonstrando choque naquele momento. É claro, ela estava apenas encenando.

    — Você não gostou dos termos oferecidos?

    — Na verdade, não é isso. Os termos de vocês são tão incrivelmente bons que chegam a me deixar sobrecarregado com o peso deles.

    — Pode ser honesto conosco. Se houver alguma cláusula de que não tenha gostado…

    — De forma alguma. Sou sinceramente grato por terem me avaliado tão bem. Mas…

    Quando Seol deixou a frase no ar, ele lançou um olhar de canto para Kim Hannah. Só continuou após confirmar que o canto dos lábios dela se curvava levemente para cima.

    — …Tenho um certo motivo pessoal para essa escolha. Só posso me sentir arrependido por recusar um contrato tão incrível. Sem contar que também devo me desculpar com vocês.

    Ele tentou condensar sua explicação ao mínimo de palavras possível. Sua recusa ponderada, mas firme, implicava que deveriam encerrar o assunto ali antes que a situação ficasse mais constrangedora do que o necessário.

    Shin Hansung entendeu isso, mas não podia recuar assim tão fácil. Inclinou-se para frente com uma expressão determinada no rosto.

    — Por favor, me escute. Seria mentira dizer que não consideramos seu potencial futuro, mas mais do que isso, também apreciamos de verdade o que você fez por nós.

    — …

    — A Sinyoung é uma organização que recompensa estritamente quem merece. Especialmente, suas ações altruístas ao ajudar a Senhorita, a filha mais nova do Presidente… isso com certeza não será esquecido. Na verdade, há muitos entre nós que já olham para você com bons olhos. Eu incluído.

    As doces palavras de tentação começaram a fluir da língua banhada em mel de Shin Hansung. Pena que Kim Hannah já havia colocado a mão sobre um dos contratos.

    “Isso também não significa que há pessoas que não me querem lá?”

    Ele já tinha entendido mais ou menos que o relacionamento entre Yun Seora e a Sinyoung era complicado.

    Do nada, Seol sentiu uma sensação suave envolvendo seu braço direito.

    — Venha com a gente, por favor…

    Uma voz suplicante entrou por seus ouvidos. O olhar de Yun Seora, tentando penetrar na alma de Seol, estava tingido de ansiedade.

    — E-Eu vou me esforçar ao máximo…

    “Se esforçar no quê exatamente…?”

    O que ela queria dizer com aquilo? Seol conteve uma risada que quase escapou de sua boca. A expressão de Yun Seora estava séria demais para que ele respondesse com um sorriso.

    “Isso é um dilema sem sentido, não é?”

    Ele não baseou sua decisão nos Nove Olhos. Não se apoiou em suas emoções, nem em sua lógica.

    Havia um motivo que ele não podia dizer em voz alta.

    ‘Gula.’

    ⟅Venha mais perto, minha criança.⟆

    …As memórias remanescentes daquele sonho. A essa altura, ele já havia esquecido quase tudo do conteúdo. Mas os momentos finais ainda estavam vívidos em sua mente.

    Os momentos finais. O homem que ele suspeitava ser ele mesmo fez um pedido, mas foi recusado. No entanto, no fim, Seol recebeu ‘emoções’ na forma de um sonho.

    Ele estava curioso. Queria descobrir como o pedido da sua versão no sonho foi atendido.

    Claro, não era só isso. Ele considerou tanto os avisos de Kim Hannah quanto o selo dourado pertencente ao Templo da Gula.

    Além disso, havia um medo difícil de entender em seu coração, o medo de que, ao assinar com a Sinyoung, acabaria levando uma vida que não seria muito diferente da que experimentou naquele sonho.

    Ele definitivamente não queria ser abusado como um escravo, e também não estava com vontade de ser usado.

    Mesmo que o caminho à frente fosse difícil e árduo, queria viver esta vida sob seus próprios termos.

    Por isso, só precisou balançar a cabeça em negação.

    — N-Nós realmente podemos te tratar bem…

    A voz de Yun Seora entrando por seus ouvidos soava mais chorosa do que antes. Shin Hansung soltou um leve suspiro.

    — Então por que não fazemos o seguinte?

    Justo quando Seol pegou a caneta com certa dificuldade, Kim Hannah quebrou o silêncio e falou.

    — Vamos dar um tempo.

    — Tempo?

    — É. Bem, vamos precisar de um tempo para ajustar o contrato, e você também precisa de mais tempo para refletir sobre as coisas, não é? Sem contar que você também precisa voltar para casa.

    Seol estava prestes a assinar na linha pontilhada, mas a simples menção de casa o trouxe de volta à realidade na hora.

    “Casa.”

    Ele percebeu que já tinham se passado mais de três meses. O que teria acontecido em casa, na Terra? E sua família? E Yoo Seonhwa? Estariam preocupados com ele depois de seu desaparecimento sem avisar ninguém?

    — É verdade. Não é uma má ideia dar um tempo para refletir.

    Shin Hansung logo expressou sua opinião.

    Seol assentiu com a cabeça para demonstrar concordância. Kim Hannah guardou os contratos e se levantou do assento.

    — Seol e eu vamos para o templo, mas e vocês dois?

    — Eu levarei a Senhorita Yun de volta à sede da Sinyoung. Afinal, o Presidente está esperando por ela lá. Vamos nos separar na cidade de Scheherazade.

    Enquanto Shin Hansung se levantava, Seol também deixou seu assento. Ele não fazia ideia do que era esse templo e tampouco essa tal de Scheherazade, mas parecia que poderia voltar para casa com certeza.

    Ao olhar em volta, as negociações ainda continuavam em todo lugar.

    Ele não conseguia ver Shin Sang-Ah em lugar algum; Hyun Sangmin estava no meio de uma conversa importante, gesticulando bastante para ilustrar seus pontos.

    Yi Seol-Ah também estava em uma longa conversa com um homem desconhecido. Quando seu olhar cruzou com o de Seol, ela tentou se levantar, mas ele apenas acenou com a mão para indicar que não precisava. Não queria interromper sua negociação, afinal. Ela deve ter entendido suas intenções, pois voltou a se sentar enquanto ria baixinho para si mesma.

    — Devemos esperar por eles?

    Kim Hannah perguntou, mas Seol balançou a cabeça lentamente.

    Não era como se ele não quisesse mais estar com eles, mas… seus próprios caminhos estavam começando a ser traçados agora, e ele não queria se intrometer na vida deles quando isso já não era mais realmente necessário.

    “Tenho certeza de que vamos nos encontrar de novo.”

    Desde que todos sobrevivessem, deveriam se reencontrar no futuro.

    Seol observou a Zona Neutra pela última vez, antes de se virar devagar para partir.


    Como tinha ouvido que o meio de transporte seria uma carruagem, achou que não passaria de uma carroça de madeira puxada por alguns cavalos. Mas acabou se surpreendendo bastante ao ver o veículo real.

    Essa carruagem de quatro rodas se parecia muito mais com uma carruagem de luxo, pois era fechada nos quatro lados.

    Seol olhou, atônito, para o teto revestido em couro e um tecido parecido com veludo, antes de desviar o olhar curioso para os quatro animais estranhos amarrados à frente da carruagem, estudando-os com certo interesse.

    Sua aparência geral era semelhante à de cavalos, mas suas orelhas pontudas e as corcovas nas costas lembravam muito mais camelos.

    Shin Hansung forçou as duas pessoas amarradas perto do assento do cocheiro a beberem uma certa substância e, nesse meio-tempo, Kim Hannah subiu a bordo.

    — O que estão fazendo aí? Subam logo.

    Seol e Yun Seora trocaram olhares enquanto subiam na carruagem. Havia dois bancos frente a frente no interior.

    Kim Hannah se acomodou no assento de frente para Seol, enquanto Yun Seora sentou-se bem ao lado do jovem.

    Pouco depois, Kim Hannah fechou a porta, e o corpo da carruagem balançou um pouco, indicando que estavam partindo. Só balançou no começo; quando começaram a se mover de fato, a viagem se tornou bem mais confortável.

    Quando ganharam velocidade, Kim Hannah abriu a boca.

    — Vamos precisar de cerca de 40 minutos para chegar ao nosso destino. Só temos que seguir pela Zahrah.

    — Zahrah?

    — É só o nome da estrada que leva até Scheherazade. Mas não se preocupe! Não ouvi nenhuma notícia sobre monstros ou outras raças atacando viajantes na Zahrah no último ano, pelo menos.

    Seol inclinou a cabeça levemente. Ainda não fazia ideia do que era o quê, mas eram coisas que teria que aprender com o tempo.

    Cloc, Cloc.

    A carruagem cruzava velozmente o deserto árido. Durante a viagem, Seol se manteve entretido pelas companhias.

    Kim Hannah pediu que ele informasse o local na Terra para onde queria ser teleportado assim que chegassem ao destino, e em seguida explicou o que ele teria que fazer depois de chegar lá, o método de voltar ao Paraíso depois de retornar à Terra, etc.

    Havia muitas coisas que chamaram a atenção de Seol entre as explicações. E uma delas foi a revelação de que o fluxo do tempo ali era diferente do da Terra, na proporção de 3:1.

    Ou seja, três meses passados dentro da Zona Neutra equivaliam a um mês na Terra.

    Além disso, Kim Hannah também falou sobre coisas que podiam ser levadas da Terra para o Paraíso. E, talvez por estar atenta à presença de Yun Seora, ela não esquecia de mencionar, de tempos em tempos, as vantagens da Sinyoung. Sempre que isso acontecia, Yun Seora o olhava com olhos suplicantes e/ou tentava encorajar sua decisão com sua voz suave. Seol não pôde evitar sentir certa pressão com essa abordagem.

    — Parece que estamos quase chegando.

    Kim Hannah abriu a porta da carruagem e espiou lá fora antes de murmurar.

    Seol também enfiou a cabeça pela porta aberta e, conforme os ventos fortes bagunçavam seus cabelos, seu queixo quase caiu.

    As imensas muralhas cor de terra refletiam cegantemente a luz do sol enquanto se erguiam imponentes.

    Ao confirmar a expressão de Seol, um sorriso surgiu no rosto de Kim Hannah.

    — Bem-vindo a Scheherazade.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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