Índice de Capítulo

    As rainhas de Runyra permaneciam de pé uma diante da outra, seus corpos vibrando com a energia concentrada enquanto mantinham suas mãos estendidas. Seus trajes de treino revelavam seus corpos curvilíneos, suas expressões focadas na intensidade do momento.

    Entre as palmas estendidas das duas, um anel girava incessantemente dentro de anéis menores. Era um espetáculo de controle e habilidade, um testemunho do poder que haviam alcançado juntas.

    O cabelo de Brighid, agora de um verde brilhante que costumava possuir, ondulava suavemente em torno de seu rosto enquanto ela se concentrava na tarefa à sua frente.

    Ayla e Brighid mantinham a ilha flutuante numa dimensão simulada, um feito de magia sem igual. Enquanto o anel girava entre elas, a ilha debaixo de seus pés se erguia, suspensa no ar como um fragmento de poder de um todo magnífico.

    Finalmente, quando sentiram que sua tarefa estava completa, abaixaram as mãos.

    — Acho que conseguimos ir bem longe dessa vez — disse Brighid, sorrindo. — Nosso próximo passo é encontrar a ilha das fadas e testar lá.

    Ayla alisou o cabelo molhado de suor para trás. — Tem certeza? Soube que é uma ilha gigantesca, acha mesmo que a gente dá conta?

    Brighid segurou as mãos dela e abriu seu sorriso que iluminou todo seu rosto.

    — Se você for comigo, eu consigo!

    Corada, Ayla assentiu, e elas caminharam até a borda da ilha, seus olhos varrendo o vale verdejante estendendo-se diante delas.

    — Não retornou a ilha desde que Coen a destruiu, né?

    — Sim… — A fada desviou o olhar, mas logo abriu um sorriso gentil. — Não encontrei o corpo de nenhuma fada na ilha, então tenho certeza de que eles conseguiram se esconder em algum lugar. Minha mãe e os outros estão bem!

    — Espero que estejam… — Ayla apoiou as mãos na cintura, sentindo a brisa no rosto. — Você já recuperou seu poder, né? Assim que as coisas se ajeitarem, iremos atrás do Bahamut e faremos dele seu pandoriano.

    — Não todo… eu diria que 90%…

    — É o suficiente?

    Brighid fez que não com a cabeça.

    — É Og’tharoz quem vigia Bahamut, e ele é mais forte que eu — ela desviou o olhar, cabisbaixa. — Eu devia ter conseguido superá-lo quando fui treinada pelos apóstolos, mas não consegui…

    Ayla deu dois tapinhas nas costas da amiga.

    — Não faz essa cara, a gente dá conta.

    — É… acho que sim…

    — Vamos voltar, está quase na hora do café das crianças. Quando todos os cinco começam a chorar, é impossível fazê-los parar sem ter uma dor de cabeça.

    Brighid apoiou a mão frente aos lábios, segurando o riso.

    — Que foi?

    — Nada, vamos! — Ela empurrou Ayla para o centro da ilha flutuante.


    Espreguiçando, Colin despertou coçando o olho direito e dando um longo bocejo. Olhou para o lado e viu que Morwyna ainda estava em seu sono sereno.

    Ergueu-se lentamente e começou a caminhar pela câmara, indo até um canto para urinar. Depois de um bocejo, coçou a orelha e uma aranha saiu de dentro, pulando do seu ombro até o chão.

    Um círculo mágico se abriu atrás dele e a aranha assumiu a forma de Jane.

    — Colin, seu idiota! — disse Ela, irritada.

    Colin terminou as necessidades e coçou a nuca, nem um pouco surpreso com Jane na sua frente.

    — Fiquei me perguntando quando ia aparecer — disse ele passando por ela e sentando-se em uma rocha. — Como estão as coisas em Runyra?

    — Idiota! Como pode estar tão calmo? Ig’drolluuth foi liberto, sabe o quão horrível isso é?

    Ele bocejou novamente.

    — É, tô sabendo.

    Irritada, ela alisou a testa e olhou ao redor, avistando Morwyna dormindo.

    — O que aconteceu nesse lugar, e quem é ela?

    — A filha de Milveg. Não precisa se preocupar, ela tá do nosso lado.

    — Como ela… tá, esquece… como eu estava dizendo, Ig’drolluuth foi o meu mestre, o meu e de milhares de súcubos. Tem uma legião de demônios que o servem, demônios poderosos.

    Colin coçou a bochecha, desinteressado.

    — Ele já mandou dois deles, não eram tão fortes, na verdade, eram, mas não para o meu nível atual.

    Jane cruzou os braços e se aproximou dele, ficando a centímetros de seu rosto. — É… você parece mais forte — ela se afastou, sentando-se ao lado dele. — Mesmo assim, é melhor não subestimar Ig’drolluuth, e me diz logo, que lugar é esse?

    — O subterrâneo. Meu pai me capturou e me jogou aqui. Samantha estava comigo, mas a gente se separou. Marcamos de nos encontrar em uma cidade chamada Gheskou. Como estão Brighid, Ayla e as crianças?

    — Como estão? Morrendo de preocupação, e aqueles três conseguiram passar na prova de seleção da universidade.

    Colin assentiu com um sorriso orgulhoso.

    — Eu sabia que conseguiriam.

    — Tem outra coisa, Runyra e o país dos Elfos Negros estão travando uma guerra, por hora, conseguimos segurá-los. Ayla também conseguiu vencer Lumur, tomando todo o sul.

    Ouvir isso o deixou genuinamente impressionado.

    — Não esperava menos. Elas parecem estar se virando bem.

    — Por enquanto… tem mais uma coisa… — Ela desviou o olhar. — Lina está morta.

    Colin arregalou os olhos.

    — O quê? Lina? Mas… isso é impossível…

    — Celeste também se foi, só restou Eilika, a pandoriana camundongo…

    Ele se ergueu, furioso.

    — Como isso aconteceu? Quem a matou? Me diga, Jane!

    — Se acalma! Foi Lumur, ele a matou, mas teve ajuda… alguns caídos e um Elfo negro chamado Miogve.

    — Miogve…? — disse Morwyna nos fundos, coçando o olho. — Ele é um soldado bem antigo do meu pai… lamento que isso tenha acontecido, senhor Colin…

    “Tsc…” Ele cerrou o punho e os dentes. “Logo agora que precisam de mim, essas coisas começam a acontecer…”

    — Tenho que voltar logo para a casa, minhas esposas precisam de mim, meus filhos, meu reino.

    — Se acalme, bonitinho, as coisas estão sob controle por enquanto. — Com um sedutor sorriso, encarou Morwyna. — O seu irmãozinho está nas masmorras de Runyra, a bonitinha de cabelo branco liquidou todo exército dele com astúcia.

    — Meu irmão? — Morwyna se aproximou, apavorada. — E-ele está bem?

    Jane deu de ombros. — Bem… não sei se essa é a palavra, mas está vivo. Ayla só não o matou porque ele é um refém valioso.

    Com uma expressão chorosa, ela se ajoelhou diante de Colin e juntou as mãos em súplica.

    — Senhor… por favor… poupe o meu irmão, ele não é um monstro!

    Vendo os olhos suplicantes dela, ele coçou a nuca.

    — Escuta, Jane, quando voltar, diga a Ayla para poupar o príncipe. Diga que estou com a irmã dele, e se ele for inteligente, saberá de qual lado ficar. O destino dos Elfos Negros está nas mãos dele, espero que ele não se arrependa.

    — Obrigada, senhor, muito obrigada! — gracejou a Elfa limpando as lágrimas do canto dos olhos.

    — Morwyna — Colin estava mais sério que o normal. — Estou poupando seu irmão porque foi um pedido seu, mas se ele insistir em ajudar seu pai, não terei piedade alguma dele. Tenho poupado muitos oponentes que eu sei que poderiam ser úteis, mas se eles insistirem na ideia estúpida de ir contra mim, então não há nada para eles a não ser a morte.

    Ela engoliu em seco. — Ghindrion não vai contrariá-lo, eu juro!

    — Espero que esteja certa — Seus olhos afiados encontraram Jane. — Yonolondor deve estar chegando com alguns refugiados, diga a Ayla que ele é um aliado. Sei que o foco são os Elfos, mas teve mais alguma notícia da Thaz’geth ou da Morgana?

    Jane balançou a cabeça.

    — Não, nem aquela fofoqueira da Isabella encontrou algo.

    — Entendi…

    — Quer que os Orcs marchem para ajudar você? A bonitinha de cabelo branco estava se martirizando por que ela não mandou ajuda para o “príncipe encantado” dela.

    Ele abanou uma das mãos.

    — Não precisa, consigo resolver isso sozinho, diga a elas para não se preocuparem comigo e que a prioridade principal são a segurança delas e das crianças, só então devem se preocupar com o reino.

    — Tem certeza? Estamos falando de um príncipe do abismo.

    — Ig’drolluuth não me preocupa, e sim a mãe dos monstros — Ele mordeu a ponta do dedão, irritado. — Com as coisas que tenho que resolver aqui, acho que vai levar algum tempo até que eu retorne…

    — Bem, você está longe demais, e estou focando minha magia em outras coisas no momento. Levará algum tempo até eu fazer contato novamente.

    Ele assentiu, abanando as mãos.

    — Certo, vá e dê o meu recado.

    — Tudo bem, se cuida e trate de voltar logo, a preocupação daquelas duas por você chega a me dar raiva só de olhar. Quando encontrar Ig’drolluuth, tome cuidado com as magias da tríade do outono dele, silêncio é a sua especialidade. — Ela olhou para Morwyna. — Cuida dele, garota, esse idiota adora passar dos limites.

    — Ce-certo…

    A Súcubo, poderosa e sinuosa, diminuiu de tamanho até se tornar uma pequena aranha que correu pelo braço de Colin. Ela deslizou para dentro de seu ouvido e ele se ergueu, encarando Morwyna.

    — Vou olhar ao redor — declarou. — Fique aqui e esteja pronta para partir.

    Morwyna assentiu, seus olhos fixos no rosto dele. Decidido, ele caminhou para longe até um túnel escuro e sua expressão se contorceu de dor. Ele apoiou a mão no peito, o corpo curvado como se uma força invisível o atingisse.

    — Merda! — Colin murmurou, suas costas encontrando a parede úmida. Ele escorregou até se sentar no chão frio. — Senhorita Lina… droga!

    Lembranças dançavam em sua mente. Lina havia sido mais que uma aliada. Assim como Brighid, ela o ajudara a se fortalecer e até mesmo cuidou das crianças quando Ultan caiu.

    Colin nutria um profundo respeito por ela.

    Lina havia perdido tudo, seu reino, sua família, mas quando se encontravam, ela estava sempre sorridente, mostrando uma força que ele tentava imitar.

    Ele suspirou, cerrou os olhos e os abriu novamente. A caverna escura e solitária parecia se encher de fantasmas. Fantasmas de todos os companheiros que ele fizera ao longo de sua jornada, agora ausentes daquele mundo.

    — Me desculpem… — sussurrou Colin, sua voz carregada de uma tristeza quase insuportável. — Eu não consegui proteger nenhum de vocês… muito menos retribuir tudo o que fizeram por mim…

    Ele abaixou a cabeça, e apoiou uma das mãos no rosto, sombreando seu semblante. As sombras dançavam ao redor dele, sussurrando os nomes dos que se foram. Seu corpo tremia, não de medo, mas de um pesar profundo que parecia devorá-lo por dentro.

    — O número de vocês só aumenta e eu… não se preocupem, eu vou dar um jeito nisso, nada do que aconteceu antes será em vão, e quando minha hora chegar, vou me desculpar com cada um de vocês…

    Respirando fundo, ele se ergueu, seu olhar de tristeza dando lugar a um semblante de uma determinação quase insana.

    — Tenho que continuar firme, de pé, inabalável. Tenho que continuar sendo como todos me veem agora. Desculpem, mas por enquanto, guardarei minhas lágrimas.

    Ele ficou ali, parado por alguns instantes, deixando todo sentimento ruim desvanecer. Um riso amargo escapou de seus lábios.

    — Você precisa descansar, senhor — ele ouviu a voz de alguém que já havia partido há algum tempo.

    — Loaus tem razão. — Foi a vez de ouvir a voz de Liena. — Lutas difíceis são ótimas, mas o que o senhor precisa mesmo é passar um tempo aproveitando a família, um tempo de paz só para o senhor, já imaginou isso?

    Colin suspirou. Ele estava sozinho naquele lugar úmido e escuro, mas, ao mesmo tempo, cercado daqueles que um dia chamou de amigos.

    — Meu pai, Drez’gan… eles não vão descansar, e se eu parar agora, eles ganham.

    — É engraçado te ver tão preocupado. — Foi a vez de Wiben. — O Colin que eu conhecia parecia manter tudo sob controle.

    — Isso foi antes de tudo que aconteceu com vocês… agora… não sou mais o Colin de antes, eu tenho família, filhos… um reino inteiro para governar. As pessoas dependem de mim.

    — Tudo bem, filho — ouviu a voz de sua mãe. — Não precisa tentar parecer forte o tempo todo…

    Ele coçou tão forte a cabeça a ponto de fazê-la sangrar. Suspirando, ele apoiou as mãos nos joelhos, fechando os olhos. Seus olhos começaram a encher-se de lágrimas, então ele as limpou rapidamente.

    — Eu não sou fraco, mãe, a senhora não viu o que fiz com aquele demônio, o que fiz com Gorred? Tsc… acha que ficarei chorando como antes? Todas às vezes que fui fraco só aconteceram coisas ruins… minha ex-noiva me largou, eu me afoguei naquele mar de merda, tentei acabar com a minha própria vida e… todos vocês se foram…

    Coçando violentamente a cabeça, ele começou a caminhar de um lado para o outro.

    — Então por que está fugindo? — Era a voz de Lina.

    — Fugindo? — Colin travou, seus olhos arregalados.

    — Deixou seu povo, sua família, e por qual motivo? Sentir prazer em uma luta de cinco minutos? Isso é coisa de homem covarde, garoto, e você não é covarde.

    O cenho dele franziu.

    — Eu não estou fugindo! — gritava para a parede. — Acha que vim para esse inferno à toa? Vim buscar a mãe dos monstros, fazê-la minha, ficar ainda mais forte pra nenhum de vocês me deixar de novo! Só então, quando eu tiver acabado de vez com Coen e Drez’gan que poderei descansar, aproveitar a família, o reino, entenderam?

    Respirando pesadamente, ele caminhava de um lado para o outro sem parar, até que parou na entrada do corredor cavernoso, seus olhos fixos no escuro.

    — Eu não sou a merda de um erro! Vocês vão ver quando eu matar todos esses desgraçados que insistem em tentar me desafiar, eu vencerei o meu pai! Mãe, a senhora vai ver, todos vocês vão ver!

    Puxando ar para os pulmões, ele alisou o cabelo escuro para trás, assumindo sua postura ereta e olhar confiante, deixando toda sua preocupação no túnel.

    — Eu não perco mais — disse, com uma convicção feroz. — Sou forte, agora, eu sou invencível.

    Colin estava pronto para enfrentar qualquer coisa, a loucura e a dor misturando-se numa determinação inabalável. Ele não era mais o mesmo homem.

    Deixava toda sua preocupação no túnel, como se a insanidade fosse sua única aliada naquela luta pela sobrevivência.

    — Morwyna, você está pronta?

    A Elfa estava ali, de joelhos, suas mãos estendidas enquanto um corvo de sangue estava de pé em suas mãos, falando com ela.

    — Me perdoe por não estar com você, pequena, muito menos por não a proteger do seu pai… cometi erros demais, e os meus erros trouxeram desgraça a milhares de pessoas. Queria consertá-los em vida, mas isso não será possível… O que Milveg se tornou é culpa minha… criei ele e seu tio para serem conquistadores, quando me dei conta, já era tarde demais…

    Morwyna murmurou um “vovô”, segurando o choro com todas as forças. As palavras do corvo a apunhalaram como lâminas.

    — Se minha mensagem chegou até você — continuou o corvo. — Significa que está segura. E eu… estou morto. Isso é bom. Espero também que o rei de Runyra seja o homem honrado e justo que imaginei. Estou orgulhoso de você, querida. Vou te contar a verdade, sobre você… seu irmão… sua mãe… Milveg havia colocado uma restrição de segredo, mas ela só funciona se for uma criatura viva que disser o segredo que ele quer tanto esconder, mas eu não estou mais vivo, então não há problema… preste atenção, querida, essa será toda a verdade.  

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