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    Na sala de reuniões da Universidade de Jinling, foi convocada uma reunião emergencial, presidida pessoalmente pelo reitor Xu Jian, com a exigência de que toda a liderança da faculdade de ciência da computação estivesse presente.

    Muitos professores estavam originalmente em seus laboratórios, mas acabaram sendo chamados por telefone para participar da reunião.

    O tema da reunião era simples: um único problema, o artigo que estava circulando no Weibo – “Uma Análise Sobre o Cenário Acadêmico Atual na China – Começando com o Artigo de um Estudante de Graduação”.

    O artigo mencionava que um estudante de graduação havia publicado, em apenas um mês, nove artigos científicos na área de computação, usando esse fato como ponto de partida para criticar o ambiente acadêmico nas instituições de ensino superior da China e atacar diretamente um determinado periódico por sua falta de rigor na revisão. Além disso, o artigo especificava que esse aluno pertencia à Universidade de Jinling.

    Isso era praticamente colocar a Jinling na fogueira.

    Durante a reunião, um professor veterano da faculdade de ciência da computação empurrou os óculos no rosto e se levantou, dizendo com calma: “…Eu li os nove artigos em questão. Para ser sincero, estão muito bem escritos. É impressionante que um aluno de graduação consiga produzir algo assim. Dizer que ele está só enchendo linguiça é uma acusação no mínimo descabida. Tem muito artigo que entra em periódico de computação que tem uma qualidade inferior à dele. Esse tal de Zhu Fangcai… esse crítico educacional, provavelmente nem entende direito o que é tecnologia da informação. Talvez se a gente conversar com ele, explicar onde ele errou, conseguimos que ele apague a postagem.”

    Quer dizer que agora publicar demais também é motivo de crítica?

    Muitos professores estavam com a cabeça cheia de dúvidas, essa reunião parecia completamente sem pé nem cabeça!

    “Isso não é factível… Esse tal de Zhu Fangcai, ele mesmo deve ter consciência dos limites de sua compreensão. Veja seus títulos: comentarista educacional, divulgador científico… Nenhum deles sugere uma afinidade real com a área de ciência da computação ou com a prática acadêmica propriamente dita.” Comentou o secretário, balançando a cabeça. “Está claro que ele busca visibilidade através da polêmica. Em um caso assim, não há espaço para negociação.”

    A situação era difícil de resolver.

    O estudante não havia feito nada de errado e a universidade, obviamente, não podia expulsá-lo. O problema era que a opinião pública estava completamente unilateral e condenava a instituição.

    Antes de mais nada, o estudante não cometeu qualquer infração. Ainda que a universidade considerasse ceder à pressão pública, o que seria impensável, não haveria justificativa para puni-lo. No entanto, agora, o que se formou na opinião pública foi um ataque unilateral e sistemático.

    E o mais irônico de tudo era que aquilo tinha começado devido a um cara completamente fora da bolha, que achou que por ter presença social, podia dar pitaco em tudo.

    Quanto às motivações dele, os líderes da escola também não conseguiam entender direito.

    Pelo menos o escândalo não tinha estourado um mês antes, na época das inscrições para o vestibular. Se fosse o caso, com certeza todo mundo ali estaria xingando até a quinta geração dele.

    Mas, seja como for, o fato é que isso já tinha causado um baita estrago na reputação da universidade!

    O reitor Xu permaneceu em silêncio por cerca de meio minuto. Seu semblante era carregado de preocupação. Por fim, falou de forma pausada: “A esta altura, já não se trata da qualidade das publicações, e, sim, do fato de que a sociedade está questionando o nosso ambiente acadêmico. Nossa prioridade agora é responder às críticas e esclarecer os fatos perante a opinião pública. Por outro lado, também precisamos entender exatamente o que aconteceu.”

    Depois de uma tarde inteira de discussão, a reunião chegou a duas decisões.

    Primeiro, para proteger a reputação da universidade, foi decidido que a equipe de relações públicas trabalharia para controlar os danos causados pela postagem, com a publicação de uma nota oficial esclarecendo o valor acadêmico das publicações, além do envio de uma notificação judicial exigindo retratação. Segundo, os líderes de cada faculdade foram instruídos a localizar o estudante de sobrenome Lu e entender a fundo a situação.

    Nove artigos científicos em um mês, mais um e seriam dois dígitos. Realmente soava como coisa de outro mundo. Mesmo os professores veteranos da faculdade de ciência da computação, que já tinham experiência em encher linguiça, sabiam que, apesar do padrão de exigência das publicações em computação não ser lá essas coisas, ninguém ali jamais tinha enchido tanto a linguiça daquele jeito!

    O problema é que os líderes da universidade ainda não sabiam… que Lu Zhou, na verdade, tinha publicado dez artigos. Só que o décimo não era de computação, era de matemática.

    Weibo, seção de comentários.

    [Caralho, um graduando publicando nove artigos científicos? Vai enganar a sua avó! Essa porcaria é fácil assim de publicar, é?]

    […Tenho a impressão de que se fosse eu, também conseguiria. (cachorro rindo)]

    [Apoio total ao professor Zhu! Vamos combater os tumores acadêmicos! Vamos corrigir essa tendência podre! (soco) (soco)]

    [Sou um estudante de intercâmbio no MIT, e posso afirmar com certeza: esse tipo de coisa simplesmente não acontece nos EUA, nem em sonho. O autor com certeza se aproveitou das brechas na revisão fajuta de alguns periódicos nacionais…]

    [Lamentável. Olha só o tipo de aluno que nossas universidades estão formando! Pesquisadores que só sabem escrever artigo. Pra quê serve um artigo? Dá pra transformar isso em bomba atômica? Até aluno de graduação consegue escrever esse monte de coisa! Dá pra imaginar o quão podre tá o nosso meio acadêmico…]

    [Para de passar pano. Tenta aí escrever 9 artigos em um mês. Não consegue? Então cala a boca.]

    Que porra é essa?

    Será que não tem uma mísera pessoa com um pingo de bom senso que esteja do meu lado?

    Vinte mil repostagens, dez mil comentários, incontáveis curtidas!

    Sentado numa sala de aula vazia, rolando o Weibo, Lu Zhou ficava cada vez mais irritado quanto mais lia, mas não havia muito o que pudesse fazer.

    Na real, ninguém está genuinamente interessado na verdade. O que as pessoas querem mesmo é ver aquilo que querem ver.

    Como, por exemplo: ver autoridades sendo derrubadas, ver “produtos da educação voltada para exames” sendo humilhados, acreditar que os verdadeiros gênios estão entre o povo, desmascarar a suposta hipocrisia do meio acadêmico… E quanto ao conteúdo dos artigos, se eles realmente são tão sem valor quanto o tal Zhu alega? Quem é que vai parar para ler e tirar a própria conclusão?

    Ninguém.

    Só pra rebater essas baboseiras, Lu Zhou chegou a criar uma conta só pra comentar no Weibo. Mas mesmo sendo o próprio autor dos artigos, suas postagens sumiram como pedra jogada no mar, nem uma mísera curtida.

    Talvez… esse seja o triste destino dos pequenos anônimos na rede.

    Repetindo baixinho um “mantém a calma” algumas vezes, Lu Zhou desligou a tela do celular e passou a mão pelos cabelos, tentando esfriar a cabeça.

    Ele achava que tinha escolhido o projeto mais fácil possível. Quem diria que tinha uma armadilha dessas esperando.

    A culpa, no fim, também era dele. Se ele tivesse usado um pseudônimo para publicar os artigos, ninguém teria ligado os pontos. Mas agora que já tinha acontecido, de que adiantava se arrepender?

    Foi então que o celular vibrou com uma chamada.

    Era o professor Tang.

    Lu Zhou fez uma expressão estranha, tentando imaginar o que o velho professor poderia querer com ele. Será que era devido à confusão com os artigos?

    Não… acho que não, né?

    Com o coração um pouco inquieto, ele atendeu: “Alô?”

    “Xiao Lu, está ocupado com alguma coisa?”

    A voz soava bem tranquila. Lu Zhou respirou fundo e respondeu: “Estou estudando na sala… aconteceu alguma coisa?”

    O professor Tang fez uma breve pausa antes de continuar: “Se puder, passa aqui no meu escritório.”

    “Agora?”

    “Un. Agora.”

    Após arrumar suas coisas, Lu Zhou colocou o notebook e os livros na mochila e seguiu direto para o escritório do professor Tang.

    Ao entrar, percebeu que o diretor Lu da faculdade de matemática aplicada e o diretor Zhang da faculdade de ciência da computação também estavam presentes.

    Assim que viram Lu Zhou entrar, os três professores sorriram de leve, mas logo trocaram olhares sutis, como se se comunicassem em silêncio. No fim, foi o professor Tang quem suspirou e foi direto ao ponto: Lu Zhou, quero te perguntar uma coisa.

    “Pode perguntar, professor”, respondeu Lu Zhou.

    “Há algum tempo… depois de publicar aquele artigo de matemática, você chegou a enviar outros para revistas científicas?”

    Sabendo que dificilmente conseguiria esconder, Lu Zhou suspirou por dentro e respondeu com sinceridade: “Sim.”

    O diretor Zhang olhou para o diretor Lu ao lado e comentou com um suspiro: “Eu imaginei. Quando ouvi que era alguém com sobrenome Lu, já pensei que no nossa faculdade quase não há alunos com esse nome. Perguntei um por um. Nem escrever artigo sabiam, quanto mais enviar pra publicação.”

    O professor Tang se apressou, sem acreditar: “Você publicou artigos de matemática, certo?

    “Sim…” Lu Zhou assentiu com honestidade, mas logo completou em voz mais baixa: “Também publiquei outros… sobre inteligência artificial e sistemas de informação geográfica.”

    Os olhos do professor Tang quase saltaram das órbitas.

    “Você… Por que foi parar na ciência da computação?! Dias atrás, você estava pesquisando números primos de Mersenne!”

    Lu Zhou, um pouco sem graça, respondeu: “Eu descobri que aquele periódico pagava pelas publicações. Cada artigo dava 150.”

    E, coçando a cabeça, acrescentou baixinho: “Então dividi minha pesquisa em nove partes e publiquei como nove artigos separados… Isso é errado?”

    Professor Tang: “…”

    Diretor Lu: “…”

    Diretor Zhang: “…”

    Errado? 

    Na verdade, não. Afinal, a universidade incentiva os alunos a publicarem mais artigos. Escrever por causa da remuneração pode parecer estranho, mas não é exatamente algo condenável…

    O problema é que dessa vez, a coisa tomou outro rumo.

    Um silêncio estranho se instalou no escritório, até que o diretor Lu pigarreou e perguntou, num tom amigável: “Então… Lu, foi você mesmo quem escreveu os artigos?”

    “Claro.” Lu Zhou assentiu. “Escrevi todos na biblioteca.”

    E ele não estava mentindo. Só obter os artigos do sistema não bastava. Se ele mesmo não entendesse os conceitos por trás, não conseguiria desenvolver os textos, no máximo conseguiria copiar os algoritmos.

    Para concluir tudo aquilo, ele havia lido mais de cem artigos acadêmicos, sem falar nos livros especializados.

    Então, mesmo se resolvessem puxar imagens de câmeras ou até fazer uma avaliação presencial sobre inteligência artificial e SIG, ele conseguiria responder com fluência.

    É claro, se perguntassem sobre aplicações de IA em áreas que fogem da pesquisa dele, talvez fosse mais complicado. Mas, com o sistema em mãos, bastaria trocar alguns pontos… só seria um pequeno desperdício.

    Diante disso, até o diretor Lu ficou sem saber o que dizer. No fim, foi o diretor Zhang, da faculdade de ciência da computação, quem quebrou o silêncio, com um leve sorriso: “O professor Lu não quis insinuar nada, na verdade. É só que ficamos surpresos… Você não só tem um talento para a matemática, como também mostra um ótimo domínio em tecnologia da informação. Eu vi sua nota em linguagem C. Tirar 95 já é excelente. Claro que acreditamos que os artigos são seus… Mas agora tem gente dizendo o contrário, e estão tentando usar isso para causar alarde. Você chegou a ver algo no Weibo?”

    Na realidade, embora grande parte da IA seja programada em C++, a nota numa prova de linguagem C não tem muita relação direta com a área. Os professores só ensinam o básico da linguagem, e dificilmente entram em temas avançados.

    Por outro lado, alguém que consegue escrever artigos como os dele com certeza não iria mal numa avaliação de fundamentos. Nota 95 era mais que suficiente para satisfazer a expectativa do diretor Zhang.

    “O senhor está falando daquele artigo?”, perguntou Lu Zhou.

    “Exato.”  O diretor Zhang assentiu, olhando diretamente para ele. “Você já leu?”

    “Já li.” Embora estivesse com raiva por dentro, Lu Zhou se forçou a manter a postura diante dos outros. Balançou a mão e disse, tentando soar indiferente. “Um texto que só sabe atacar de forma rasa e sem base… Não vale a pena perder tempo com isso.”

    Ainda que, por dentro, ele quisesse dar umas boas pauladas no autor.

    “Lu, preciso corrigir uma coisa”, diretor Lu olhou para ele com seriedade, “você não é só um indivíduo. Você é aluno da nossa universidade, e representa a imagem da instituição. Nós não toleramos má conduta acadêmica, mas também não vamos permitir que denigram nossos estudantes de forma injusta. Espero que você leve isso a sério e trate essa situação com a devida atenção.”

    “Mas, professor Lu, o que posso fazer? Mandei mensagem para ele e fui completamente ignorado…”, Lu Zhou disse, num tom resignado.

    “O professor Lu não quis te criticar, só espera que você não tenha uma postura tão passiva”, disse o diretor Zhang, num tom conciliador. “A universidade vai se manifestar publicamente em relação ao ocorrido. Só pedimos que você colabore conosco e se posicione quando for apropriado,  tanto por você quanto pela universidade. Pode ser?”

    Ah, então era isso. Estavam querendo me defender…

    E eu achando que era bronca. Custava avisar antes!?

    Lu Zhou suspirou aliviado e assentiu: “Com certeza!”

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