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    — …

    One ficou quieto. 

    Senti medo, pensando no que poderia acontecer com minha pele.

    Ele estendeu sua mão, chegando próximo ao meu rosto. 

    Estava arrepiada e com medo. Não consegui me mexer.

    E então… ele pegou um doce ao meu lado.

    Acabei rindo de nervosismo. 

    Todo o alívio foi suficiente para me fazer perder um pouco de força em minhas pernas.

    Antes que caísse no chão, One me segurou pela gola. Seu rosto ainda demonstrava nenhuma expressão além da raiva. Ele abriu a boca, como se quisesse falar algo, mas acabou ficando quieto.

    — Mil desculpas! — disse.

    Ele apenas me ergueu.


    [Fantasia sente a presença da Ação…!]

    Que?!

    Eu sei que ele é um herói, mas Ação? O que isso significa? 

    Tenho muitas dúvidas, mas não sei se elas podem ser respondidas pela pessoa à minha frente.

    Por que ele não falava? Isso estava me deixando curiosa. Mas… ele pode apenas não falar com estranhos.

    É, definitivamente, é isso.

    One pegou mais alguns doces nas bandejas. Eram pequenos biscoitos de morango que ele estava colocando em seu bolso.

    Ele não se segurou e acabou comendo alguns biscoitos, deixando migalhas caírem no chão limpo e em sua armadura.

    Passou a mão em sua boca, a limpando parcialmente. E, mais uma vez, vários restos dos biscoitos caíram no chão.

    Se fosse para descrever ele em uma palavra, seria… selvagem.

    — Você também é uma, não é? — murmurou One com a voz rouca.

    — C-como assim?

    — Uma Estrela.

    Na cara assim?

    Fiquei sem palavras.

    Caso sim, o que aconteceria? Ele poderia me atacar para tirar a concorrência… Afinal, com essa aparência assustadora, eu não duvidaria de nada.

    Caso não, ele provavelmente recebeu essa mesma mensagem se somos iguais! Uma enrascada.

    Apenas respondi com o que me veio à mente. 

    — Talvez…

    Ele suspirou. Seus olhos se estreitaram, como se analisassem alguma coisa.

    Não entendia suas intenções. 

    — Você parece uma novata, sabe. Muito ruim em mentir.

    Ainda continuava com seu tom de voz baixo, quase imperceptível. 

    — E-eu não sei do que você está falando.

    — Passei tempo o suficiente aqui para saber quando estão mentindo ou não.


    [Uma habilidade está sendo usada, deve ser impedida?] 

    Os olhos dele começaram a escurecer. 

    Em um movimento quase inconsciente, tudo que pude pensar foi “Sim”. 

    Logo, seus olhos voltaram ao normal. 

    — Isso é… interessante. Realmente, bem diferente de mim — disse One, comendo mais biscoitos. — Impedir bençãos e dádivas… Nunca vi nada parecido.

    É.

    Ele descobriu.

    — Você vai… me matar? — perguntei. 

    Meu corpo tremia.

    — Não? Por que eu faria isso? 

    — Para tirar uma “pedra do caminho”?

    Ugh… Bem que Xenorath falou. Minha aparência deve ser realmente assustadora…

    Ele tirou um pouco de seu longo cabelo do rosto, colocando para trás da orelha. E então, comeu mais alguns biscoitos.

    — Devo imaginar que você seja… Eleven?


    [Uma habilidade está prestes a ser usada, deve ser impedida?]

    Sim.

    Novamente, impedi que sua benção fosse utilizada. Ele pareceu ficar um pouco mais interessado, efeito contrário do que queria.

    — Eleven? — perguntei confusa.

    — Quero dizer… — Ele tossiu. — Seu nome seria?

    — Seven, eu acho.

    — Então é realmente a novata.

    — Já falei que n–

    — Sei, eu sei. — Fui interrompida antes que terminasse minha frase.

    One é definitivamente uma Estrela há mais tempo que eu, mas como isso é realmente possível? Todo esse lance de ser novata me faz pensar em apenas uma única coisa…

    Nós viemos em tempos diferentes.

    — Temos muito o que conversar, não é mesmo? Mas, sinceramente, esse não é o lugar para eu te encher de explicações. Aproveite a festa, novata.

    Gaia percebeu após um tempo a falta de minha presença. Olhou para os lados, desconcertada. 

    Até que seus olhos se encontraram comigo.

    Ela entendeu que estava enrascada.

    Gaia andou em nossa direção, como se não aguentasse mais ver essa cena. Chegou e me puxou pelo braço.

    — Eu saúdo o herói One — disse Gaia.

    — Dispense essa formalidade toda  — respondeu One, levantando sua mão.

    — Posso saber o que você está fazendo com Seven? — Ela estava definitivamente com raiva.

    — Você demorou — murmurei para Gaia.

    — É, eu sei… Ester acabou me enchendo de perguntas. Por isso, não deu para vir antes — sussurrou de volta.

    Gaia me colocou para trás, como se fosse um escudo humano. 

    Mas, antes que One pudesse responder, o rei chegou perto de seu trono com seus filhos. Os dois se sentaram nos tronos ao lado do maior, enquanto o rei erguia seu braço aos nobres.

    — Querida nação! — Começou o rei. — A Casa de Equirrion está gratificada com as ações de nosso herói! […]

    Então, a primeira coisa que ele fez foi agradecer a One? Sinceramente…

    — Estão escutando? Alguém me chama — disse One.

    Ele pegou mais alguns doces antes de sair, colocando os biscoitos em seus bolsos. Definitivamente, era um vício dele.

    O rei, por outro lado, apenas continuou seu discurso aos nobres. Falou sobre o quão era rico, tinha dinheiro e poder… Mas é claro, não com essas palavras realmente.

    One subiu as escadas, se aproximando do rei. Se ajoelhou perante ele e entregou sua espada grande.

    Equirrion pegou sua espada com apenas uma mão.

    Algo surpreendente para mim. Afinal, pensei que, com seu velho rosto, ele não poderia fazer movimentos tão bruscos.

    — Glorifico toda sua jornada. — Colocou a espada no ombro direito de One. — Em nome da esperança, do amor e da paz — vociferou ao povo, enquanto passava a espada para o ombro direito.

    Os nobres prestavam total atenção nisso, como se fosse algum rito. Eles logo aplaudiram os feitos de One.

    Parecia interminável.

    Durou minutos, antes que o rei intervisse.

    Ele levantou sua mão e as palmas cessaram.

    Novamente, aquilo não me interessava mais. Agora poderia comer finalmente.

    Virei para a mesa, pensando em qual comida seria a escolhida para encher meu bucho. E, sem pensar muito, soube exatamente o que queria. 

    O salmão me chamava.

    Peguei um prato e imediatamente fui direto ao peixe para colocar alguns pedaços. Gaia nem tentou me impedir, apenas me olhou realizar meus planos.

    A primeira pratada foi deliciosa, o suficiente para me fazer ir pra segunda. O gosto era delicioso, fazia realmente jus aos rumores que tanto rondavam. 

    Uma verdadeira mistura de sabores.

    — Só não coma demais — disse Gaia.

    — Heh, apenas estou degustando um pouco — respondi.

    Ela parecia incomodada, e eu meio que sabia o motivo.

    — One não me incomodou.

    — É, mas você estava tremendo.

    — Coisas assim acontecem.

    Gaia não me respondeu após isso.

    Virei para ela.

    Mas antes que pudesse terminar minha volta, fui agarrada por seus braços. Ela voou comigo para longe da janela que tinha à frente da mesa.

    Após cairmos no chão, pude escutar o vidro quebrando.

    As pessoas entraram em pânico. Os gritos estavam inundando o local.

    Fiquei desnorteada, sem saber o que estava acontecendo. Minha visão desfocada da coisa em minha frente não me ajudava no momento.

    Quando finalmente pude enxergar, vi o que parecia ser uma coisa que apenas veria em meus profundos sonhos.

    Um corpo quadrúpede e com asas tão grandes quanto. Tinha um rosto de arrepiar… porque parecia tão… humano.

    Estava aterrorizada… mais uma vez.

    A criatura abriu sua boca, revelando seus dentes afiados.

    Uma cena de horripilante.

    Gritos e mais gritos. E dentre todas essas vozes, prevaleceu a de Ester, guiando a evacuação.

    A família Equirrion tinha sido evacuada por alguns guardas segundos atrás.

    O monstro rugiu, paralisando tudo à sua volta. Ele ergueu os ferrões que continha em seu rabo, disparando em direções aleatórias do salão.

    Eles acertaram alguns nobres, perfurando totalmente seus corpos.  

    “Por que diabos tem um Viajante aqui!?” 

    “Corram! É uma fratura!”

    Escutava gritos como esses pelo salão.

    Aquela cena só me lembrava da última vez. A rápida e brutal morte assolava todo o local. 

    Eu tinha que ajudar? Não. Eu vou ajudar.

    Mas… não conseguia.

    Não iria conseguir ajudar ninguém… mais uma vez.

    E, por algum motivo, apenas pude prever a destruição.


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