Capítulo 67
Cayena deu um tapinha gentil em suas costas. Foi uma demonstração calorosa de apoio.
Raphael se apoiou naquela mão, segurando Cayena mais apertado em seus braços.
Ele realmente precisava dar a Cayena a carta de Madame Elivan no bolso do casaco?
Raphael continuou a se preocupar até agora. Ele não podia prever como Cayena agiria quando ele lhe contasse a verdade.
Ela choraria? Ou ela ficará indiferente? Ela se resignaria em silêncio e aceitaria isso? Se não, ela ficaria frustrada e com raiva?
Suas entranhas pareciam confusas e complicadas.
Cayena parecia muito preocupada quando ela deu um tapinha nas costas de Raphael. Ela não podia deixá-lo ir. Ele agiu como se tivesse escapado de um túnel escuro no momento em que a viu.
O que cargas d”água aconteceu? Não seria muito sério se este homem não pudesse esconder sua vulnerabilidade?
“Quem o fez agir assim?”
Cayena ficou completamente abalada quando Raphael a abraçou como se estivesse pretendendo nunca deixá-la ir.
“Vamos nos acalmar. Calma.”
Depois de algum tempo, Raphael afrouxou o controle sobre Cayena. No entanto, ele continuou a abraçá-la. Raphael abriu a boca.
— Eu quero te perguntar uma coisa.
Cayena desajeitadamente se afastou e disse: — Vá em frente.
— Se você tivesse que escolher entre uma doce mentira e uma triste verdade, qual você escolheria?
— A verdade, — Cayena respondeu sem hesitação.
— Afinal, a infelicidade é meu dever.
Ao dizer isso, ela teve um palpite.
— Parece que você tem más notícias para compartilhar.
— …
Cayena sorriu calorosamente. Ela estava grata por sua preocupação e consideração.
Novos infortúnios criariam novos cortes, mas tudo bem. Ela havia aceitado que isso fazia parte da vida.
— Estou bem, então me diga.
“Eu gostaria que ele já me soltasse e falasse.”
Um pequeno suspiro escapou.
Raphael recuou como se tivesse lido a mente de Cayena. Ele tirou um envelope do bolso do peito.
— Esta é a resposta que a Baronesa Clarence Elivan escreveu a Vossa Alteza.
Cayena aceitou passivamente a carta. Ela ficou confusa.
“Por que Raphael está entregando a resposta da minha babá?”
— Duque, como isso…?
Raphael desanimado abriu a boca.
— A Baronesa Elivan faleceu.
A mão que recebia o envelope parou. Raphael tinha falado a verdade.
— Eu mandei alguém para buscar a Baronesa Elivan quando soube que Vossa Alteza queria trazê-la de volta para a capital.
Cayena olhou para o exterior do envelope.
Havia uma foto de sua babá empurrando-a em um balanço, lembrando-a de memórias distantes.
— Foi disfarçado de suicídio, mas as circunstâncias, incluindo esta carta, mostram que foi homicídio. Peço desculpas por ler o conteúdo da carta sem permissão.
Cayena abriu o envelope e leu a carta.
[A minha saudosa princesa Cayena.
Lembro-me como se fosse ontem, como te empurrei no balanço com as mãos, mas você cresceu.
Obrigada por não esquecer uma velha como eu.
Deve ter sido difícil para Vossa Alteza me trazer de volta à capital. Em meu longo tempo lá, ouvi e vi coisas.
O palácio imperial que vi agia completamente contra Vossa Alteza.
Portanto, não sinto ressentimento.
Se Vossa Alteza precisa de mim, estou pronta para voltar para ele.
Espero que esta carta seja bem recebida.
Atenciosamente, Clarence Elivan.]
Não era uma carta sentimental.
Cayena lembrava que sua babá tinha modos muito retos. Ainda assim, sua forte vontade e afeto eram totalmente reconhecíveis na carta.
— A facção do príncipe também estava fazendo um movimento para nomear Relevance Dotty como a empregada doméstica principal.
Ao ouvir a explicação adicional, Cayena devolveu a carta ao envelope.
— Entendo.
Esse foi o fim de sua resposta.
— Se não fosse por você, duque, eu nunca teria recebido esta carta. Eu me sinto culpada por você sempre me ajudar assim.
Cayena parecia muito normal. Ela sorriu apropriadamente e fez uma expressão apropriadamente triste. Não houve excesso ou falta de qualquer componente de sua resposta.
— Achava que não receberia esse tipo de notícia triste sobre minha babá. Espero que o assassino seja pego.
— O ducado continuará perseguindo o criminoso.
Cayena acenou com a cabeça. — Suponho que o abraço anterior era para me confortar.
A intenção era consolá-la, mas não apenas por causa de Madame Elivan.
Raphael ficou quieto.
Com uma cara um pouco cansada, Cayena deu um pequeno sorriso e disse: — … acho que devemos terminar aqui hoje.
— Você está bem?
— Honestamente, estou um pouco chocada, mas minhas circunstâncias não são ideais para eu cair em desespero.
Mesmo assim, não era um problema com o qual alguém pudesse ficar tão calmo. Raphael estava ainda mais preocupado com o fato de que parecia não haver rachadura no comportamento da princesa.
Ele se virou e agarrou Cayena enquanto ela tentava sair da sala.
— De novo e de novo, vou estender minha mão para você.
— … vou falar com você novamente na próxima vez, Duque Kedrey.
Cayena fríamente disse adeus.
A bainha do vestido esvoaçava ligeiramente enquanto caminhava em um ritmo mais rápido do que o normal. Sua postura enquanto caminhava com as costas retas não demonstrava nenhum problema.
Olivia olhou para Cayena, que voltou sem expressão para seu quarto depois de terminar sua reunião com Raphael. Algo sobre sua aura era estranho.
Ao chegar ao quarto, Cayena mandou todas as criadas que estavam lá dentro saírem. Confusas, todos saíram da sala.
Então, Cayena gritou silenciosamente.
“Rezef-!”
Era muito óbvio quem era o culpado.
Madame Dotty tinha um relacionamento ruim com a família Evans. Eles estavam competindo pelos mesmos privilégios. Em outras palavras, não havia como a família Evans se mudar para torná-la a empregada doméstica chefe.
O sangue de Cayena gelou.
Fingir estar calma na frente de Raphael, fingir estar bem – isso fez seu interior queimar.
Foi sua culpa que sua babá morreu. Isso não teria acontecido se Cayena não tivesse estendido a mão para ela. Cayena ignorou sua situação e pagou o preço por seus desejos.
Isso foi um erro. Ela não foi cuidadosa o suficiente.
Ela sabia que tipo de criança Rezef era, mas porque ele ainda era jovem, porque ele não nasceu como uma pessoa má, porque ele era seu irmão mais novo, porque eles foram abusados juntos…
Os motivos foram muitos. Ela justificou suas ações. Ela tinha que agir como uma adulta. Ela tinha que cuidar daquela criança.
Aquela pobre criança que nunca recebeu carinho…
No entanto, Rezef destruiu todos os esforços de Cayena de uma vez.
Ele deve ter pensado que não havia problema em fazer isso.
Ele deve ter agido como desejava, tudo para dar uma lição em Cayena. Para Cayena conhecer seu lugar.
Era isso: uma mensagem para saber o lugar dela.
Que ela ainda era sua princesa de papel e marionete. O fio que ela pensou ter cortado se apertou ao redor de seu corpo.
Ela estava impotente. Ela não possuía força suficiente para suportar este mundo.
Nesse ritmo, ela pode morrer mais cedo do que em sua primeira vida.
“Quanto tempo eu originalmente vivi?”
Ela morreu antes dos trinta anos. Ela tinha vinte e cinco ou vinte e seis anos?
Uma sensação de impotência desesperada cobriu todo o seu corpo. Ela pensou que seria capaz de subir à superfície enquanto lutasse muito, mas a água era muito funda.
Cayena estava afundando.1
“Por que você fez isso?”
Um ressentimento silencioso fluiu por seus lábios, mas ninguém estava lá para ouvi-la.
“Eu sou sua única irmã…”
Foi por isso que ela tentou tanto parar de pensar no passado, esquecer, perdoar tudo.
Ela apenas desejava a liberdade de deixar este lugar silenciosamente e viver em paz.
Ela era estúpida.
Cayena agora estava bem ciente de seu erro.
Ah… ela nunca poderia se proteger agindo timidamente.
Cayena olhou para o envelope em sua mão com os olhos sombreados.
“Eu preciso de força.”
Ela precisava de uma vara para disciplinar seu irmão mais novo, que estava tão acostumado a tirar coisas dela.
“Se você continuar tentando tirar o que é meu, eu vou tirar o que você mais quer.”
Se ela o fizesse, Rezef perceberia que não deveria agir tão perversamente no futuro, não é?
- [1] A palavra coreana específica usada aqui tem vários significados: afundar, recuar e pensar profundamente[↩]
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