Capítulo 81

Cayena percebeu como suas mãos estavam doloridas. Parecia que ela estava exercendo muita força; ela viu uma marca de mão vermelha na mão de Raphael.

— Eu sinto muito. Eu fiquei muito surpresa…

Raphael gentilmente passou a mão em seus dedos. Ele a consolava, como se dissesse que tudo ficaria bem. Suas mãos a aqueceram. Gradualmente, sua razão voltou.

— Vou preparar a carruagem.

— Obrigada.

Cayena estava prestes a puxar suas mãos, mas Raphael não a soltou.

— Eu vou com você.

Ela ergueu a cabeça surpresa.

Ela não podia dizer que ele não precisava ir com ela. Para dizer a verdade, ela estava aliviada por ele estar por perto.

No final, Cayena se dirigiu ao palácio com Raphael ao seu lado. Eles não falaram um com o outro no passeio de carruagem para o castelo.

Perdida em pensamentos, ela olhou pela janela.

O que ela poderia fazer agora.

O que ela poderia fazer no futuro.

O que ela tinha que proteger.

Cayena definitivamente organizou seus pensamentos.

As damas da corte a receberam assim que a carruagem parou. Vera não conseguiu dormir depois de ouvir sobre a segunda tentativa de sequestro na noite anterior.

— Como está seu corpo? Como uma coisa tão desagradável pode acontecer de novo…?

Vera, à beira das lágrimas, olhou para Cayena.

— Estou bem. Eu estava pronta para algo assim.

Ao lado delas estava Olivia, cujo rosto também não parecia bom. Cayena tranquilizou-as: — Estou muito bem. Vocês não têm nada com o que se preocupar. Em vez disso, ouvi dizer que o imperador tossiu sangue – o que aconteceu?

— O médico está com Sua Majestade agora.

— E Rezef?

— Ele saiu para investigar o seu incidente. Ele provavelmente ouvirá a notícia em breve e voltará ao palácio.

Cayena sentiu sua cabeça latejar.

“Realmente não é fácil.”

Ela já havia experimentado a perda de seu pai. Ela pensou que com suas duas vidas anteriores, ela havia se tornado insensível a isso. Mas, ao contrário da mente objetiva, o corpo reage à morte.

“Henverton Gillian também morreu e se foi. Eu só tenho que me livrar das coisas que me ameaçam.”

Cayena disse às senhoras: — Olivia, ajude-me. Todos os outros podem seguir a liderança de Vera para manter o forte.

— Nós atendemos ao seu comando.

— Eu irei ver Sua Majestade.

Cayena correu para os aposentos do imperador. Raphael silenciosamente seguiu seus passos.

Quando Cayena chegou na frente do quarto, um médico estava saindo. Cayena perguntou imediatamente: — Como está Sua Majestade?

O médico curvou-se para a princesa e respondeu: — Depois de tomar sua medicação, Sua Majestade expectorou sangue enquanto enxaguava a boca com chá. Sua condição não é crítica, mas ele deve descansar.

Cayena sabia que os sintomas do imperador por ter sido envenenado haviam piorado.

“Isso também é obra de Rezef.”

Ela respondeu que entendia e mandou o médico embora.

Cayena olhou para Raphael antes de entrar no quarto do imperador. Raphael abriu a boca assim que seus olhos se encontraram.

— Estarei aqui, esperando por você.

Cayena acenou com a cabeça e entrou no quarto. Dentro estavam os dois principais pilares da família imperial: Chanceler Debussy e Comandante Jed, líder dos cavaleiros.

Eles se curvaram bruscamente para Cayena.

O imperador estava consciente. Quando ele viu que a princesa havia chegado ao quarto, ele disse repreendendo: — Todo mundo está fazendo barulho por nada. Fui informado de que você estava na mansão do duque Kedrey.

— Vim assim que soube. Peço desculpas por não estar ao seu lado.

O imperador balançou a cabeça. 

— O que você poderia ter feito? É minha culpa ter deixado você sair, embora um dos cúmplices não tenha sido capturado.

Não que Cayena tivesse levado um pequeno número de escoltas. Foi a arrogância de Yester que resultou no ataque ao anexo do templo.

A igreja, que estava obviamente zangada com o incidente, com certeza faria uma busca em toda a capital em busca dos perpetradores. Os paladinos, os cavaleiros do templo, agora tinham um motivo para agir. Seria muito barulhento por um tempo.

Isso poderia intimidar Rezef e outros nobres que poderiam ser suspeitos de atacar Cayena. Eles estariam se movendo com cuidado e silenciosamente por um tempo.

— Sinto muito, Majestade. Eu não pensei que eles ousariam entrar no templo.

O imperador Esteban encostou-se na almofada. Apoiado por Chamberlain Luden, ele parecia ter envelhecido muito.

O chanceler leu o clima e disse: — Sua Alteza, o Príncipe Rezef vai expor aquele que ousou prejudicar Sua Alteza e minar a autoridade do templo. Você não precisa se preocupar, Sua Majestade.

O imperador assentiu e perguntou: — Rezef está investigando novamente o incidente?

— Sim.

Cayena foi para o lado do pai e segurou sua mão.

Ela tentou se lembrar de como o imperador era nessa época de sua vida original. Suas memórias não eram muito claras. Ela não sabia como ele parecia antes de morrer, o quão enrugado ele estava, ou quão áspero seu cabelo prateado tinha se tornado.

Era compreensível, já que ela não o visitava com frequência. Ela tinha visto seu rosto quando colocou flores em seu cadáver bem tratado no templo?

Naquela época, ela derramou algumas lágrimas, varridas pela atmosfera. Mas o cadáver a deixou inquieta e ela saiu quase imediatamente. Ela não sabia o quanto foi criticada por ser uma filha má. Ela nem se importou.

Foi porque ela voltou depois de viver uma vida difícil? Seu pai, que se apoiava fracamente na cama, não era nem tão assustador nem odioso como antes.

“Como as coisas acabaram assim?”

Então, um servo silenciosamente tentou remover a xícara de chá. Cayena olhou para aquele movimento e viu que a xícara de chá ainda estava quase cheia.

Havia veneno ali.

Ela perguntou ao servo: — Houve algum problema com o medicamento?

— Não, Alteza. O medicamento foi devidamente misturado.

— E o chá? Não houve descoloração na colher de prata?

— Sim, Sua Alteza.

Cayena riu por dentro. Foi uma mentira descarada.

— Como você sabe disso? E se for um veneno que não pode ser detectado pela colher?

Mas, neste caso, o problema não era o veneno que não reagia à prata, mas sim a colher que não era prata.

Cayena tirou a xícara das mãos da criada.

— Você não pode dizer com apenas uma pessoa.

Ela bebeu metade do chá restante. O servo ficou surpreso e chocado.

— V-Vossa Alteza?

Cayena verificou o resto do chá. Ela estendeu a xícara para a criada, cujos olhos estavam semicerrados de apreensão.

— Por precaução, você deveria tentar isso também.

— …

— Eu disse para você beber! — O criado estava paralisado.

Ele sabia que o chá continha veneno.

“Ele não tem como saber.”

Ela o encarou de frente, como se nunca fosse desviar o olhar até que ele terminasse de beber.

O criado finalmente bebeu o resto do chá. Seu rosto ficou sombrio, como uma pessoa prestes a cair e morrer. Quando ele esvaziou a xícara de chá completamente, ele tinha uma expressão que parecia que queria vomitar.

Cayena olhou para ele severamente e então se virou.

— Você parece bem, então provavelmente está tudo bem.

Claro que o servo estava bem. O veneno que Rezef usou não era um veneno que matava pessoas imediatamente. Era algo que matava, deixando gradualmente o corpo doente.

— Verifique novamente como o remédio é feito, só para garantir. E certifique-se de que não haja anormalidades no chá.

O imperador Esteban silenciosamente assistiu a tudo isso acontecer. Ele fracamente deu um tapinha nas costas da mão de sua filha.

— Eu pensei que seu temperamento tinha morrido.

Apesar de suas palavras, ele não parecia estar encontrando defeitos nela.

— É nessas horas que devemos regular o ambiente de Vossa Majestade.

— O fato de você saber pensar assim mostra que se tornou uma adulta adequada da família imperial.

— Por favor, não diga isso. Ainda tenho muitas coisas que preciso aprender com você, pai.

— Isso mesmo. Você gostou de cuidar dos assuntos internos por dez dias?

“… por que ele está me perguntando isso?”

É claro que, assim que teve o poder, ela inspecionou os vários departamentos, erradicou a corrupção e consertou o vazamento do tesouro.

Embora isso certamente tenha ajudado a colocar a casa imperial no caminho certo, ela não estava mais sob a jurisdição de Cayena. Não era algo a ser discutido nesta situação.

— Foi a primeira vez que fiz um trabalho como este, então não tinha corrido bem, — ela respondeu humildemente.

— Não precisa ser tão modesta. Cuidar do vazamento de tesouraria não é um trabalho fácil.

— Você me lisonjeia.

— Estou muito velho agora. Todos os dias, sinto que meu corpo não é o mesmo de antes.

— Vossa Majestade…

— Mas agora que a princesa está crescida e indo bem como parte da linhagem imperial, estou aliviado.

Cayena ficava cada vez mais confusa enquanto ele continuava a falar. O imperador falava como quem tem algo a dar.

— Lembro-me de que não lhe dei uma compensação pelo seu trabalho como princesa.

Cayena olhou para o imperador com uma expressão ligeiramente surpresa.

Ela já havia recebido a carta para nomear Raphael como governante militar do oeste em troca de sua governança dos assuntos internos.

Era verdade que poucas pessoas sabiam disso, mas o imperador parecia estar presenteando algo a ela oficialmente, com o chanceler e o cavaleiro comandante como testemunhas.

O imperador abriu a boca.

— A partir de hoje, concedo à Princesa Cayena Hill a mesma autoridade que o chanceler para trabalhar como minha regente.

Todos no quarto ficaram estupefatos.