Capítulo 65: O Lugar Onde Ele Precisa Estar (1/3)
Seol Jihu não se lembrava de como tinha voltado para o quarto. Cambaleou escada acima e abriu a porta da frente com o rosto inexpressivo.
Sob a janela tingida com um tom alaranjado, a luz do crepúsculo projetava uma longa sombra e lançava sua penumbra sobre o velho laptop.
Seol Jihu se encostou na parede e fechou o laptop. De repente, se sentiu um tolo ao se lembrar de quando ficava ocupado calculando todos aqueles valores.
“…Só um pouquinho.”
Seria mentira dizer que ele não estava nem um pouco esperançoso. Porém, a distância entre a realidade e suas imaginações se provou larga demais para ele atravessar. A realidade era fria e cruel, como se ocupasse a extremidade oposta da balança em relação à sua imaginação.
Um velho hábito voltou à tona; ele tirou um cigarro e começou a soprar fumaça azulada.
Cough, cough.
Sua garganta estava irritada. Seus olhos ardiam. Talvez por isso, as lágrimas que vinha segurando começaram a escorrer.
— Você acha que eu vou cair nas suas mentiras de novo?
Como ele poderia guardar ressentimento de alguém…
— …Corrida de cavalos? Ou apostas esportivas?
Ou, como ele poderia culpar alguém?
— Por favor, aceite, se estiver sendo realmente sincero.
A visão do mundo inteiro pareceu girar noventa graus. Sua têmpora bateu no chão, e Seol Jihu ficou encarando o quarto inclinado em um torpor silencioso.
Sua mente estava tão caótica que não sentiu dor. Sua respiração também estava irregular.
Tudo parecia errado. Era como se tudo estivesse lhe dizendo que ele não deveria estar ali.
“Eu não tenho mais lugar aqui.”
No momento em que esse pensamento surgiu, seus olhos turvos e desfocados recuperaram um pouco da nitidez perdida.
Ele tinha encontrado um lugar para onde podia ir, não fazia muito tempo, não tinha?
“Paraíso.”
De fato, se fosse aquele lugar…
Sua mão remexeu os bolsos até encontrar um pequeno pedaço de papel.
Por um tempo, ele ficou brincando com aquilo. Queria rasgá-lo imediatamente, mas… ainda estava esperando uma certa mulher ligar primeiro.
Agora que parava para se observar, sua condição também não estava das melhores. O corpo de Seol Jihu estremeceu com o súbito frio que penetrou em seus ossos. Imaginou que se sentiria melhor depois de dormir um pouco.
Sniff.
Ele fungou levemente enquanto rastejava pelo chão e se enfiava debaixo das cobertas gastas.
Dentro daquele quarto gelado, apenas a quietude sepulcral lhe fazia companhia.
— Estou… só.
Puxou a coberta sobre a cabeça e fechou os olhos em silêncio.
Enquanto isso…
— O número que você ligou está indisponível no momento. Por favor, deixe sua mensagem após o sinal…
— E por que esse cara não atende o maldito telefone?!
Kim Hannah desligou o celular com raiva e franziu a testa, descontente.
— Será que ele comeu e fugiu? Não, ele não parecia ser tão burro assim…
Ela mordeu o lábio e ponderou por mais alguns instantes antes de pegar a bolsa para sair de casa.
— Acha que não vou te encontrar só porque se escondeu?
Kim Hannah chegou do lado de fora da casa dele. Apertou a campainha e bateu na porta, mas o lugar inteiro estava estranhamente silencioso.
“Ele não tá em casa?”
Kim Hannah fechou os olhos e se concentrou. Então, sentiu claramente a aura dele vindo lá de dentro. Sua expressão se contorceu na mesma hora.
Knock, knock!!
— Ei! Abre essa porta! Eu sei que você tá aí dentro! Seol Jihu!
A voz de Kim Hannah se elevou enquanto ela batia na porta. Chegou até a morder o lábio inferior.
“Ah, então ele estava bancando o difícil, era isso?”
Fervendo de raiva, ela agarrou a maçaneta e girou com força.
— Será que eu não devia ter dado o dinheiro pra ele?
…Mas então, a porta se abriu sem oferecer qualquer resistência.
“…Tava aberta esse tempo todo?”
Em vez de surpresa, sentiu-se repentinamente uma idiota por ter desperdiçado cinco minutos do lado de fora fazendo papel de boba. Kim Hannah entrou olhando ao redor, mas logo tapou o nariz às pressas quando a náusea a atacou ferozmente.
Um fedor realmente repulsivo, formado pela combinação de cigarros velhos, comida estragada, roupas que não viam sabão há séculos e outros odores não identificáveis, agrediu seus sentidos.
Ao olhar em volta e ver o estado do quarto, deparou-se com uma visão realmente nojenta. As bitucas de cigarro amontoadas num prato, por exemplo, lhe lembraram um ouriço.
Kim Hannah sentiu a ânsia subir e correu até a pia da cozinha, só para arregalar ainda mais os olhos em choque.
— Blergh…
No fim, começou a vomitar. Para alguém como ela, que era obcecada por higiene até o nível da loucura, aquele quarto era um chiqueiro que causava nojo e desconforto.
— Blergh, bleeeergh…
Ela continuou engasgando várias vezes antes de lançar um olhar lacrimoso por cima do ombro. Só então avistou Seol Jihu dormindo no chão, com o corpo todo coberto por um cobertor.
— F-Filho da mãe maluco!
Kim Hannah marchou furiosa até onde ele estava.
— Ei, acorda!
Usou a ponta do pé para afastar o cobertor, mas logo ficou paralisada.
— Uuu… uuuuu…
Ouviu ele gemendo de dor. Respirava com dificuldade. Os cabelos estavam encharcados de suor e grudavam no couro cabeludo, e gotas grandes escorriam por seu pescoço.
— Mas o que diabos…
A raiva de Kim Hannah sumiu na mesma hora. Ela se agachou, colocou a palma da mão na testa dele e sentiu sua temperatura. Estava fervendo.
— …
Ela não fazia ideia de que ele estava doente, então se sentiu tola e arrependida por suspeitar dele.
— …Idiota. Como é que não vai ficar doente dormindo num lugar desses?
Resmungou em derrota e soltou um suspiro discreto. Lançou mais um olhar ao redor e depois balançou a cabeça.
— Ehew… Você tava bem lá no Paraíso, então por que tá assim aqui na Terra?
Falou consigo mesma como se não houvesse mais o que fazer, e se levantou.
— Mesmo com frio, aguenta aí por enquanto. Deixa eu começar abrindo as janelas, senão eu que vou acabar doente nesse quarto.
Ela então escancarou a janela o máximo que podia e arregaçou as mangas. Como se estivesse prestes a fazer esforço pela primeira vez em muito tempo, alongou as costas e girou o pescoço para soltar os músculos.
— Certo, vamos ver… por onde eu começo?
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