Capítulo 8: Mágoas
Num instante, Mark disparou com uma velocidade tão impressionante que Takeshi mal teve tempo de reagir. Seus pés afundaram no chão, deixando pequenas marcas profundas onde antes ele estava.
O ar ao redor se distorceu, como se fosse comprimido pela força da velocidade dele. Era como se ele estivesse quebrando a barreira do som, o impacto da sua corrida sendo quase tangível.
Mark avançou rapidamente em direção ao monstro que estava à frente. O monstro, em um movimento brusco, abriu a boca, revelando seus dentes afiados, prontos para devorar.
Com um movimento ágil, Mark se lançou para o lado esquerdo, evitando ser engolido de imediato. Ao se desviar, ele brandiu sua adaga com precisão e, num corte rápido, atingiu os olhos do monstro. O golpe foi certeiro, acertando dois dos olhos do monstro, que se agitou violentamente, soltando um grito rouco.
Furioso, o monstro fechou a boca com força, gerando uma onda de ar tão intensa que Mark foi lançado contra a parede com brutalidade. O impacto foi brutal. Mark se curvou, um gemido escapando de sua garganta enquanto o sangue jorrava da ferida aberta.
Mark, após o impacto, largou a adaga, que caiu no chão com um som metálico.
Takeshi, vendo a situação, se agitou e correu em direção a Mark para ajudá-lo. Porém, sua corrida era muito mais lenta em comparação à velocidade de Mark. A cada passo, Takeshi sentia o peso da diferença de velocidade.
Layos, observando a reação de Takeshi, ficou paralisado por um momento. O medo tomou conta dele, e, sem saber o que fazer, soltou o braço de Takeshi, permitindo que ele seguisse sozinho.
Takeshi mal conseguia perceber os monstros ao redor, tudo parecia se mover em câmera lenta para ele. No entanto, de repente, um dos monstros à sua direita balançou o rabo, que rapidamente aumentou de tamanho, indo em direção a Takeshi.
O rabo do monstro se esticou como um chicote, atingindo o ar com uma força impressionante, quase tocando Takeshi. Ele precisou desviar o corpo para evitar o golpe, mas o ataque foi tão rápido que ele sentiu a pressão do rabo passando ao lado dele, deixando-o sem fôlego.
O rabo do monstro passou raspando ao lado de Takeshi, cortando o ar com uma força brutal. Ele conseguiu desviar a tempo, mas o rabo foi tão rápido que atingiu a parede com um estrondo, ficando preso nela.
Takeshi observou o impacto com atenção. Quando o rabo se prendeu na parede, a força do golpe causou uma rachadura profunda na superfície, espalhando pedaços de concreto por toda parte.
A carne do rabo, onde havia atingido a parede, parecia ter uma veia marrom pulsando, e o tom escuro da pele foi gradualmente se transformando em um branco opaco, como se o impacto estivesse alterando sua estrutura.
A parede, ao redor do buraco, parecia sofrer uma espécie de corrosão, como se algo naquele rabo tivesse reações químicas com a superfície.
Takeshi franziu a testa, tentando entender o que estava acontecendo. O fenômeno parecia misterioso e, ao mesmo tempo, perigoso. Ele sabia que não poderia perder tempo e precisava agir rápido.
Mark caiu no chão com tudo, seu corpo chocando-se contra a superfície fria e dura, levantando uma pequena nuvem de poeira. O impacto fez um som seco e pesado, como se seus ossos estivessem à beira de rachar.
O primeiro monstro que ele havia atacado não perdeu tempo. Sua garganta grotesca começou a se expandir, os músculos pulsando como se bombeassem algo dentro dele.
A carne esticada formava protuberâncias irregulares, e um som borbulhante ecoava pelo corredor. Com um movimento brusco, a criatura avançou, sua mandíbula se abrindo em uma fome violenta, pronta para devorar Mark.
No entanto, Mark continuava imóvel no chão, sem mexer um único músculo, como se seu corpo já tivesse desistido da luta.
Layos, que acompanhava tudo, começou a tremer incontrolavelmente. Seu corpo parecia não responder direito, os dentes batiam de forma descoordenada, e suas pernas fraquejavam sem parar. O suor frio escorria pelo rosto, enquanto seus olhos, arregalados de puro terror, mal conseguiam desviar da cena diante dele.
Takeshi, por outro lado, manteve a calma. Seu olhar correu pelo ambiente até encontrar uma pedra solta no chão — um dos destroços causados pelo impacto anterior do monstro. Sem hesitar, ele a pegou firmemente, sentindo a aspereza contra sua pele, e lançou com precisão em direção à criatura que estava prestes a devorar Mark.
A pedra cortou o ar velozmente, girando sobre si mesma antes de atingir o monstro com um som seco.
Takeshi ergueu o dedo esquerdo e gritou com firmeza:
— Seu merda! Vem brigar com alguém do seu tamanho!
Seu corpo inteiro se preparou para a investida. Ele firmou as pernas no chão, sentindo a tensão nos músculos, pronto para agir no momento certo.
O monstro virou a cabeça bruscamente em sua direção, produzindo um estalo sinistro, como se seus ossos estivessem se ajustando de forma antinatural.
Seus múltiplos olhos fixaram-se em Takeshi, e, num instante, ele avançou com uma velocidade assustadora, suas enormes patas esmagando o chão a cada passo.
— Hã?! — Takeshi arregalou os olhos, surpreso com a velocidade do monstro.
Antes que pudesse reagir, a criatura girou o corpo e lançou seu rabo com força. O impacto atingiu em cheio o abdômen de Takeshi, que foi lançado para trás como um boneco de pano. O ar escapou de seus pulmões em um baque seco, e ele sequer teve tempo de se proteger antes de colidir brutalmente contra uma porta de ferro.
O estrondo ecoou pelo corredor, e uma rajada de sangue saiu de sua boca no momento do impacto. Seu corpo deslizou pela superfície metálica antes de cair no chão, deixando uma marca avermelhada onde havia batido.
Takeshi lutava para respirar, sentindo uma dor intensa no peito. Cada tentativa de puxar o ar fazia sua visão embaçar por um instante. Seu corpo pesava, e seus músculos gritavam em protesto, mas ele não podia parar ali.
Layos, ainda tremendo, ficou ainda pior ao ver Takeshi naquela situação. Seu corpo encolheu, e ele cobriu a cabeça com as mãos, como se quisesse desaparecer.
— Eu não quero morrer… — sua voz saiu embargada, e as lágrimas escorreram sem controle. — Takeshi, por favor… me proteja…
O monstro virou sua atenção para Layos agora. Seus olhos brilharam em um tom faminto e cruel. Com passos pesados, ele avançou lentamente, seu corpo imponente bloqueando qualquer escapatória.
Enquanto isso, os outros monstros mantinham seus olhares fixos no corpo de Mark, que ainda estava imóvel no chão.
O monstro respirou fundo, expandindo sua garganta grotescamente antes de começar a abrir a boca, revelando fileiras de dentes afiados, prontos para dilacerar qualquer coisa em seu caminho.
Layos, tomado pelo medo, tropeçou desajeitadamente para trás. Seu corpo tremia sem controle, e ele tentava se afastar usando as pernas, arrastando-se pelo chão. Sua respiração ficou cada vez mais alta e irregular, como se estivesse prestes a sufocar pela própria ansiedade.
Foi então que, no meio de seu desespero, um brilho azul surgiu ao seu lado esquerdo, pulsando como se estivesse vivo.
『Você é como Takeshi… um complemento fraco.』
A voz fria e impessoal ecoou em sua mente, mas Layos não reagiu. Apenas olhou para aquele brilho sem compreender, seu corpo ainda paralisado pelo terror.
『Oh… você está completamente tomado pelo medo. Olha só para esses monstros… eles estão famintos.』
A luz azul tremeluzia, quase zombando dele. Layos sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ele não conseguia desviar o olhar dos monstros que se aproximavam, seus corpos enormes lançando sombras ameaçadoras sobre ele.
Em meio ao medo, uma memória escura e confusa começou a se formar na minha mente, como se fosse um pesadelo distante. Uma sensação de aperto no peito, algo que eu não queria lembrar, mas que, de alguma forma, estava ali, me consumindo lentamente.
— Filho, desculpa, você sabe que não temos dinheiro para viver… e nós precisamos ganhar dinheiro.
Era a voz da minha mãe. Eu adorava a minha mãe. Sua comida era a melhor do mundo, ela tinha esse jeito de cuidar de mim que me fazia sentir seguro, sempre. Eu amava tudo nela. Mas essa voz agora… algo estava estranho.
Eu estava dormindo numa noite qualquer, quando escutei barulhos vindo do quarto dos meus pais. Curioso, eu me levantei devagar, tentando não fazer barulho. Mas quando cheguei lá, ouvi algo que me fez congelar.
— Você sabe muito bem que precisamos de dinheiro! Você tem que dar um jeito ou eu venho com aquele moleque…
Eu não entendi direito o que estava acontecendo, mas algo dentro de mim dizia que não era bom.
Naquela noite, o papai bateu na mamãe. O barulho ecoou pelo corredor. Eu senti algo apertar no meu peito, algo que não fazia sentido na hora. E então, eu escutei os choro dela.
— Mamãe, a senhora está bem?
Ela estava caída no chão, chorando, mas quando me aproximei, ela se levantou rápido, tentando disfarçar o que tinha acontecido. Só que eu sabia, algo estava errado.
E depois, um dia, ela disse, com a voz chorosa:
— Filho, a mamãe… — ela falava entre soluços. — Desculpa, filho. Mas a mamãe vai levar você e seu irmão para um lugar…
Eu tinha um irmão mais novo, naquela época. Ele estava lá, sem entender nada, também assustado com as palavras da mamãe.
— Mamãe, que lugar é esse? — eu perguntei, sem entender.
— Verdade, o irmão tem razão, que lugar é esse? — ele também perguntou.
Era a cela. Onde passamos tanto tempo. Eu não sei quanto tempo. Só sei que tudo foi ficando cada vez mais quieto, até que… algo aconteceu.
A voz do além ressoou, fria e distante, como uma ordem imposta de algum lugar que não tinha explicação.
『Tarefa Principal #1 – Prove que você pode viver.』
Dificuldade: F.
Objetivo: Mate um ser humano ou mais.
Prazo: 30 minutos.
Recompensa: 500 moedas.
Falha: Morte.
Quando eu percebi, minhas mãos estavam cobertas de sangue. Minha garganta travou, meu corpo inteiro paralisado, como se o ar tivesse fugido de dentro de mim. Eu… eu não conseguia entender o que tinha acontecido, como as coisas tinham se desenrolado tão rápido, tão fora de controle. Não queria acreditar no que estava vendo, mas os sinais estavam lá.
O cheiro, o calor. E o silêncio que veio depois. Um silêncio denso e pesado, como se o mundo tivesse parado.
Eu não sabia o que tinha feito. Não queria saber.
Mas, no fundo, sabia que não tinha volta.
『Parabéns por passar na primeira tarefa.』
Depois da memória, Layos não conseguiu mais se controlar. Ele caiu no chão, o corpo tremendo e os olhos marejados de lágrimas.
— Eu não queria… eu queria ter feito isso com você… Me perdoe — ele soluçava, a voz fraca, cheia de dor, enquanto batia a cabeça no chão, como se tentasse punir a si mesmo pela culpa esmagadora que o consumia.
A janela azul brilhante apareceu de novo, mais intensa, e a voz fria e cruel reverberou em sua mente.
『Realmente você é fraco, não sei como conseguiu sobreviver até aqui.』
A janela começou a rodear Layos, sua presença insuportável e opressiva, como se estivesse se divertindo com seu sofrimento.
『HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAH! VOCÊ É UM FRACO!』
A risada cruel ressoava em sua mente, fazendo a dor em seu peito crescer ainda mais.
Layos queria se esconder, queria desaparecer daquele momento, mas não podia. Ele estava preso, cercado pela voz, pela memória, pela culpa.
O monstro à frente de Layos começou a esticar seu pescoço, avançando lentamente em direção a ele.
Layos, ainda no chão, estava sem forças, já perdido em seus pensamentos e memórias. Mas então, algo brilhante surgiu no canto de sua visão, iluminando a escuridão ao redor dele com uma luz suave e tímida.
『Eh… eh… eh… não fique assim, Layos.』
A voz da janela laranja soou baixa e hesitante, como se tentasse alcançar seu coração, mas sem saber bem como.
Layos levantou o olhar, ainda sem acreditar naquilo. A janela laranja brilhava levemente, como se estivesse com medo de ser ignorada.
『Layos, eu sei que aconteceu muitas coisas horríveis ali… mas… mas, se você não quer perder ele, então… então lute por ele.』
A voz parecia vacilante, mas havia um toque de esperança, algo suave que tentava acender dentro de Layos.
A janela laranja brilhou mais uma vez e, quando o monstro a frente deles a viu, paralisou instantaneamente, como se uma força invisível o impedisse de avançar.
『Sei que foi difícil enfrentar o primeiro… Mas não fique assim… você pode ter perdido ele, mas… mas você tem algo novo agora. Lute por eles. Lute!』
A voz, agora mais firme, mas ainda com um tom de hesitação, parecia encorajar Layos a seguir em frente, a não deixar a dor e o medo dominá-lo.
Layos, ainda de joelhos, olhou fixamente para a janela laranja. Algo dentro dele começou a se mover, uma sensação estranha, mas poderosa, como se ele tivesse sido chamado para lutar, mesmo contra tudo o que havia acontecido.
O monstro, com sua boca aberta e seus dentes afiados prontos para devorar Layos, avançou com um rugido aterrorizante. Mas antes que ele pudesse alcançar seu alvo, uma explosão de força cortou o ar.
Com uma velocidade impossível de acompanhar, um soco brutal atingiu o rosto do monstro, fazendo-o ser lançado contra a parede. O impacto foi tão esmagador que o rosto do monstro se desintegrou em uma chuva de carne e ossos, explodindo como se fosse uma bomba.
A parede atrás dele foi esmagada pela força, criando um enorme buraco, e as 10 portas de ferro próximas foram destruídas, retorcidas, como se nada mais fosse do que papel.
O sangue do monstro, de um tom roxo brilhante, começou a escorrer pela parede, cobrindo tudo ao redor em uma maré grotesca. As faíscas e fragmentos voaram pelo ar enquanto o monstro caía, finalmente silenciado.
Os outros monstros, vendo o que acabara de acontecer, pararam e ficaram imóveis, os olhos arregalados de incredulidade. A cena era de um impacto tão grande que nem mesmo eles, criaturas impiedosas, ousaram dar o próximo passo.
Layos, ofegante, ainda no chão, olhou para o local onde o soco tinha vindo. Seu corpo tremia, mas suas palavras saíram com uma determinação inesperada, como se um fogo tivesse se acendido dentro dele.
— Eu vou proteger Tikashi com as minhas mãos! — ele gritou, a coragem, ainda que fraca, se fazendo presente nas palavras.
O brilho da janela laranja piscou de repente, como uma confirmação, e a mensagem apareceu.
『A habilidade: Punho do fraco foi usada.』
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