Índice de Capítulo

    O interior do escritório do Carpe Diem ficou mortalmente silencioso num instante. Era como se o tempo tivesse parado. Todos pararam de se mover e encararam uma única pessoa.

    De incredulidade a suspeita, de suspeita a olhares fulminantes…

    A atmosfera no cômodo ficou cada vez mais fria.

    Seol Jihu sentiu seu coração pesar sob a pressão não dita que emanava daquele silêncio desconfortável. Esperava que houvesse algum tipo de reação, mas não imaginava que seria tão ruim assim.

    — U-Uhahahaha!

    De repente, Hugo começou a rir descontroladamente.

    Hiya… Não sabia que você tinha senso de humor! Acho que preciso mudar minha opinião sobre você, hein?

    Ele gargalhou e deu leves tapinhas no ombro de Seol. No entanto, todos ali podiam ver que aquela risada exagerada e os movimentos grandiosos do grandalhão eram uma tentativa desesperada de aliviar a situação e tratar aquilo como uma brincadeira tola de um novato.

    — Ei.

    A voz dela soou ameaçadora.

    Chohong endireitou lentamente a postura. Juntou as mãos, afastou ligeiramente as pernas e inclinou-se um pouco para frente.

    — Deixa eu te dizer uma coisa. Você aparecer aqui hoje, isso não é problema, de verdade.

    Era como se ela estivesse tentando não soar irritada, mas o tom estava baixo demais para uma voz feminina. E o timbre permanecia assustadoramente neutro.

    — Anúncio de vaga. É, você pode ter visto e vindo falar com a gente. Como o Dylan disse, não há restrições, afinal. Tudo certo até aí.

    Seus olhos, visíveis por entre os cabelos negros, brilhavam friamente.

    — O problema é…

    Seus olhos, fixos no chão, emanavam uma luz tão gélida que fazia qualquer um desviar o olhar instintivamente.

    — Se você apareceu aqui, no escritório do Carpe Diem, só para fazer piada sem graça, então… Então, como pessoa que tem que te ouvir, minha posição vai ter que mudar um pouco, entendeu?

    — Chohong!

    — Cala a boca, Hugo.

    Chohong respondeu secamente, tirou o cigarro dos lábios e soltou lentamente a fumaça azulada. Depois, encarou diretamente Seol Jihu e falou:

    — Vou te dar outra chance. Por enquanto, estou disposta a encarar isso como uma mentirinha fofa de um novato querendo entrar no time.

    Hugo soltou um suspiro de alívio.

    — Então. Desta vez, sem besteiras: fale a verdade.

    Chohong se calou. Seol Jihu assentiu e abriu a boca:

    — Excluindo os pontos que recebi como bônus inicial e o multiplicador, a quantidade original de pontos que obtive no final do Tutorial foi 2.150.

    O rosto de Hugo ficou sério.

    — As missões de maior dificuldade que consegui concluir com minhas próprias habilidades na Zona Neutra foram classificadas como Muito Difícil. Consegui completar a missão Impossível, mas foi por sorte, não por habilidade.

    As sobrancelhas de Chohong começaram a tremer.

    — Ohhh. Então está dizendo que realmente tinha 26.500 pontos e que de alguma forma conseguiu passar a missão Impossível?

    Um sorriso estranho se formou em seu rosto enquanto ela se levantava levemente do sofá.

    — Isso mesmo.

    — Ahh, é mesmo?

    Foi então que…

    POW!

    Assim que piscou, Seol Jihu viu as costas da mão de Dylan, do tamanho de uma tampa de panela, bem diante do nariz. E junto a ela, o punho de Chohong bloqueado por aquela mão.

    “Mas quando?!”

    Ele nem sequer percebeu que ela havia lançado um soco, muito menos o movimento do braço. O frio que percorreu suas costas não veio do fato de quase ter sido acertado, mas sim de não ter sequer visto o golpe chegando.

    — Dylan!!

    — Violência não é a resposta, Chohong. O velhote te disse várias vezes para controlar esse seu temperamento, não disse?

    — Mas esse desgraçado…!

    — Seol.

    Dylan conseguiu acalmar Chohong por ora e chamou Seol Jihu. Não, o jovem pensou que estava sendo chamado, mas logo percebeu que não era isso.

    — Seol. Seol… Ah.

    Dylan, na verdade, murmurava o nome como se tentasse se lembrar de algo. Então deu um leve tapa na própria cabeça raspada.

    — Estava me perguntando por que esse nome soava tão familiar… Hao Win… Certo. Então era você.

    — Do que está falando?

    Dessa vez, quem perguntou foi Hugo.

    — Hao Win mencionou um certo cara. Aparentemente, entre os convocados da seleção de março deste ano, apareceu um Super Novato. Ouvi o nome de passagem, mas acho que era Seol. Droga, por que não pensei nisso assim que o vi?

    — O quê?!

    Chohong virou a cabeça para Dylan.

    Ela começou a rir nervosamente, com o pescoço tremendo ligeiramente. Seu rosto expressava incredulidade enquanto ela elevava a voz:

    — D-Dylan? O que está dizendo? Se continuar assim, vai parecer que tudo isso é verdade, então para.

    Sua voz tremia nitidamente agora.

    — Eu entendo. Também achei que era uma baboseira quando ouvi pela primeira vez.

    Dylan deu uma risada, achando tudo aquilo bastante interessante, e se levantou do sofá.

    — Acho melhor eu confirmar por mim mesmo.

    Ele saiu calmamente e voltou carregando uma grande bola de cristal transparente. Colocou-a sobre a mesa de centro e apoiou a mão no topo, e então, a bola começou a emitir luz.

    “O que é isso?”

    A curiosidade de Seol Jihu despertou ao ver um objeto que nunca tinha visto antes.

    Pouco depois, toda a superfície da bola foi envolvida por um brilho suave. E, ao mesmo tempo…

    — Oh? O Dylan me chamando primeiro, que surpresa agradável.

    …Uma voz feminina fluiu da bola. Um tom mezzo-soprano, arrogante e familiar para Seol Jihu.

    — Ouvi dizer que voltou para Haramark recentemente. Liguei para parabenizá-la por concluir a Zona Neutra.

    — Parabenizar, hein. De fato, é uma boa intenção. Sabe o quanto senti falta do ar do Paraíso?

    — Também fiquei surpreso ao saber que você foi encarregada da Zona Neutra, Cinzia.

    — Tirando o tédio de morrer, não foi tão ruim. Algumas coisas interessantes aconteceram e me mantiveram entretida.

    — Coisas interessantes, é?

    — Oh? Ligou porque também estava curioso?

    Uma risada ecoou da bola de cristal.

    Seol Jihu olhava atordoado para a esfera. Desde sua chegada a Haramark, tudo parecia constantemente lhe trazer surpresas.

    Era Cinzia do outro lado. Quando a viu pela primeira vez na Zona Neutra, ela já parecia ser uma figura poderosa. Mas vendo Dylan conversar tão facilmente com alguém que até Kim Hannah chamava de figurão no Paraíso, Seol Jihu não pôde deixar de enxergá-lo com novos olhos.

    — Você não é o único que me perguntou sobre isso. Estou repetindo a mesma história tantas vezes que já devo ter decorado um roteiro. Parece que virei atendente de call center.

    — Também gostaria de ouvir a história, se não se importar.

    — Não me importo. É algo que vai se espalhar de qualquer maneira. E também devo alguns favores ao Carpe Diem.

    Chohong se aproximou rapidamente da bola de cristal.

    — Oh? Chohong? É você?

    — Ei. Quanto tempo.

    — De fato. Parece que faz uma eternidade.

    — Tá bom, tá bom. Eu sei. Então conta logo essa história!

    Chohong instou Cinzia a seguir em frente.

    — Tá bom, tá bom. Primeiro lugar com um total de 26.500 pontos. Concluiu sozinho as missões da Zona Neutra até a dificuldade Difícil. Depois formou uma equipe com mais cinco pessoas e conseguiu completar todas as missões de dificuldade Muito Difícil. E, confiando num método totalmente fora do comum, também conseguiu completar sozinho a missão Impossível. Finalmente, um dos únicos dois Selos de Ouro da história. Satisfeitos agora?

    Quando o Selo de Ouro foi mencionado, o som de saliva sendo engolida pôde ser ouvido dentro do escritório.

    — …Obrigado por nos contar. Vou retribuir o favor em breve.

    — Sem problema. De qualquer forma, muita gente já sabe disso. Ah, provavelmente vamos nos ver em breve. Vou mandar alguém aí daqui a pouco.

    A bola de cristal parou de brilhar depois disso.

    A gerente da Zona Neutra da seleção de março havia confirmado a história.

    Seria difícil para alguém sugerir que uma líder de organização como Cinzia estivesse inventando algo assim por diversão. Ainda mais se soubessem como era sua personalidade.

    Não importava o quanto pensassem a respeito, era impossível.

    E, no entanto, a impossibilidade havia se tornado realidade.

    — Filho da…

    Chohong finalmente voltou a respirar e despencou no sofá com a expressão de quem acabara de ver um verdadeiro monstro.

    Enquanto isso, Hugo só conseguia murmurar para si mesmo — Uau, uau — com a voz baixa.

    — Um Selo de Ouro… é?

    Dylan bebeu um gole de chá e organizou seus pensamentos por um tempo antes de abrir a boca lentamente.

    — Parece que vamos ter que mudar a maneira como fazemos as coisas.

    — ?

    — Seol.

    Dylan colocou a xícara de chá na mesa e falou com uma expressão séria.

    — Agora eu sei que tipo de pessoa você é. Há muitas coisas que queremos saber, e como essa história é inacreditável desde o começo, espero que consiga entender nosso lado, certo?

    A voz calma de Dylan parecia possuir uma habilidade mística de acalmar todos os que o ouviam.

    — Tudo bem.

    — Obrigado. Mm, certo. Sobre o anúncio de vaga.

    Dylan parou ali e encarou Seol em silêncio. O jovem ficou um pouco tenso com o olhar do grandalhão que examinava cada centímetro de seu rosto.

    Após um breve momento de silêncio, Dylan prosseguiu.

    — Gostaria de ouvir sua resposta sincera a uma pergunta.

    — Claro.

    — Certo. Qual foi o motivo de você nos escolher?

    Essa pergunta pegou Seol de surpresa.

    — Com esse tipo de histórico, você poderia ter escolhido qualquer uma das grandes organizações do Paraíso, e elas o receberiam de braços abertos. Estou me perguntando por que veio a Haramark e bateu na porta do Carpe Diem em vez disso.

    Seol Jihu ficou sem palavras.

    O que Kim Hannah lhe dissera não era algo que pudesse sair contando para qualquer um. E, claro, não podia simplesmente dizer: ‘Ativei meus Nove Olhos em frente ao quadro de avisos e o pergaminho que vocês deixaram estava brilhando em dourado, indicando um Mandamento Dourado.’

    — Uhm…

    Seol Jihu hesitou por muito tempo antes de responder com um sorriso meio constrangido no rosto.

    — Bem, eu gostei da instalação de treinamento de vocês…

    Dylan fechou lentamente os olhos.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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