Capítulo 85: Pode Ser Feito, Não Pode Ser Feito (1/3)

A atmosfera geral não era nada boa.

Já havia passado bastante tempo desde que a expedição parou, mas Dylan continuava em silêncio. Uma expressão de desagrado estava estampada no rosto de Samuel. Ambos apenas encaravam o chão, que nada tinha a ver com a situação. Considerando que dois Arqueiros experientes e respeitados estavam com expressões tão sombrias, era bastante provável que algo estivesse seriamente errado.

Com a espera se prolongando ainda mais, Ian não teve escolha a não ser intervir, embora originalmente não quisesse.

— Tem algum problema?

— …Encontramos vestígios de pegadas que definitivamente não são humanas, mas ainda não conseguimos identificar a que pertencem.

Dylan respondeu de forma direta. Samuel também balançou a cabeça lentamente. Agora que o pior cenário havia se concretizado, até Ian assumiu uma expressão preocupada.

— Hmm… Se ambos não conseguem identificar, poderiam pelo menos me dizer os detalhes? Não posso garantir, mas passei tanto tempo vivendo na biblioteca real que acabei memorizando as características de quase todas as espécies de monstros.

Samuel achou a sugestão razoável e voltou a olhar para o chão.

— Primeiro… O comprimento e a largura de cada pegada são bem grandes. A menor é cerca de 1,2 vez maior que a de um humano adulto, e a maior, cerca de 1,5 vez.

— Boa chance de ser uma espécie de grande porte, então. Algo mais?

— A profundidade das marcas também é considerável. E o solo aqui não é tão macio quanto era na entrada da floresta… Ah, e encontramos alguns fios de pelo de cor terrosa.

— Pelo de cor terrosa, é?

As sobrancelhas de Ian tremeram.

— São de cor clara ou escura?

— Clara.

Samuel passou o dedo indicador no chão e assentiu, como se tivesse certeza.

— E também…

— Por acaso há seis dedos, quer dizer, seis marcas de garras?

A pergunta de Ian saiu apressada. A pessoa que dizia para manterem a calma claramente estava ansiosa.

— Hein? Ah, sim, correto. Eu ia mencionar isso agora.

— E existem sulcos pequenos, mas profundos, nas pegadas? Como se algo pontiagudo tivesse perfurado o chão e sido puxado depois?

Samuel olhou para Ian, atônito. Seu rosto parecia dizer ‘Como você sabia disso?’

Ian mordeu o lábio.

— Droga, são Lioners!

— O quê?

Dylan, normalmente calmo, estremeceu fortemente ao ouvir isso.

— Lioners… AQUELES Lioners?!

Samuel também começou a franzir a testa, embora tardiamente.

— Mas, mas… Isso não faz sentido. Por que Lioners estariam na Floresta da Negação…?

— Também sei que eles vivem nas cadeias montanhosas do outro lado, e não aqui. Mas isso não importa, certo? Todas as pistas que vocês encontraram correspondem às descrições de um Lioner. E vocês acharam rastros deles bem aqui!

— Parece que essa expedição chegou ao fim.

Dylan virou-se, como se já não houvesse sentido seguir em frente, mas Samuel ainda hesitava.

— Samuel, deixa pra lá. Esses bastardos são caçadores astutos, especialistas em camuflar a presença. Tentar enfrentá-los dentro da Floresta da Negação é suicídio.

Mesmo com Ian insistindo de maneira desesperada, Samuel continuava relutante. Seol Jihu se perguntou por que ele estava perdendo tempo, já que o perigo era tão claro. Então, lembrou-se da conversa da noite anterior e do sorriso amargo de Samuel no final dela.

Seol Jihu pensou em ativar os ‘Nove Olhos’, mas se conteve. Precisava manter suas emoções sob controle. Não tinha confiança de manter a calma se visse cores profundas de vermelho ou preto absoluto. Já que Ian estava tentando convencer Samuel, Seol decidiu esperar um pouco mais.

— Mas… já estamos quase lá. Definitivamente passamos pela entrada da floresta. Me dêem uma hora. Não, trinta minutos. Tenho confiança que posso localizar a tumba. E além disso, deveríamos conseguir lidar com três ou quatro Lioners se for o caso.

Samuel não conseguia simplesmente desistir. Ian, frustrado, manteve a calma e prosseguiu.

— Meu amigo. De fato, pode haver casos em que um Lioner aja sozinho, mas na maioria das vezes, eles caçam em grandes bandos. E mais importante: um Lioner macho adulto é capaz de dominar um Guerreiro de Nível 3, e lutar de igual para igual com um Guerreiro de Nível 4.

— …

— E não é só isso. A fêmea do grupo, embora geralmente não lute, é ainda mais forte que um Guerreiro de Nível 4. E o líder da matilha é um verdadeiro monstro, capaz de enfrentar um Guerreiro de Nível 5 de igual para igual. Kahn provavelmente morreu por causa dessa coisa!

Ao ouvir o nome de Kahn, Samuel recobrou a consciência. Seu conflito interno durou apenas um instante. Cerrando os dentes, Samuel anunciou:

— …Esta expedição está oficialmente encerrada. Vamos deixar a Floresta da Negação imediatamente, todos.

Ian assentiu, aliviado com a decisão. Seol Jihu também soltou um suspiro de alívio. Agora que a decisão estava tomada, todos se moveram rapidamente.

— Aumentem o ritmo! Vamos manter essa velocidade até sairmos da floresta. Não fiquem para trás!

Apesar da expressão sombria, Samuel gritou energicamente e se virou. Mas, foi então que aconteceu.

THUD!

Um som pesado invadiu os ouvidos de todos. Logo em seguida, ouviram-se também os ruídos das altas gramíneas se agitando ao redor. Toda a expedição congelou no lugar.

— Eles já estavam nos esperando?!

Ian soltou um gemido amargo ao perceber que era tarde demais. Seol Jihu instintivamente ativou seus Nove Olhos.

Vermelho. Retirada Imediata Recomendada.

Algo que estava deitado no chão à frente começou a se levantar lentamente. A linha de visão de Seol Jihu subiu para acompanhar a criatura antes mesmo que percebesse.

O gigante que se ergueu silenciosamente era um monstro com olhos de fera predadora e uma juba selvagem semelhante à de um leão. Sua altura ultrapassava facilmente os três metros, com pelos de cor terrosa cobrindo todo o corpo. A musculatura do torso superior era desenvolvida de maneira uniforme, como a de um humano, mas a parte inferior lembrava mais a de um animal, enxuta, mas forte e firme.

Um detalhe chamativo era uma longa cicatriz que se estendia do peito até o abdômen. Apesar de estar mais ou menos cicatrizada, ainda parecia recente.

— É o… líder dos Lioners!

Ian soltou um longo suspiro.

O primeiro Lioner a se revelar chutou o chão. Correu como se estivesse voando e, num piscar de olhos, aterrissou com um estrondo diante da expedição.

Só pela aura que exalava, era possível sentir que o Lioner diante deles estava em um nível completamente diferente de todos os monstros enfrentados até então.

Logo em seguida…

Hrrrrr…

Os olhos amarelos e vívidos do Lioner brilharam de maneira perigosa antes de seu peito inflar e sua boca se abrir escancaradamente.

Huaaaaawr…!

Um poderoso rugido, tão agudo que faria um espectro estremecer, reverberou pela floresta.

— Aaak!!

Seol Jihu caiu de joelhos depois de ter seus sentidos atacados pelo rugido que parecia querer rasgar sua carne. E não foi só ele. Não era preciso mencionar os dois carregadores; até Clara, Grace e Alex desabaram. Até mesmo Samuel e Chohong vacilaram.

“N-Não…”

Seus tímpanos estavam dormentes. Sua visão embaçou e sua consciência ficou turva. E o que mais o enlouquecia era o desejo desesperado de negar ‘algo’.

— Motus Stabilitatem!!

Foi então, ao som do grito de Ian, a visão turva de Seol clareou instantaneamente. Sua mente ficou mais leve e a consciência, mais afiada.

— Isso foi…?

Seol Jihu murmurou para si mesmo e levantou as mãos. Um pó brilhante caiu do alto, pousou em suas palmas e se infiltrou sob sua pele.

— Tsk. Devia ter ‘memorizado’ pelo menos um feitiço de ataque.

Ian baixou o cajado e, sem aviso, ajoelhou-se. Desenrolou um pergaminho no chão, abriu sua túnica e puxou um pequeno frasco de poção. Rapidamente, espalhou um pó azul semelhante a sal sobre o papel.

Alex também havia se recuperado e, rapidamente, puxou seu crucifixo e começou a murmurar um cântico.

— Ei, aquilo, não é a arma do Kahn?

Dylan falou enquanto apontava com sua besta carregada.

Como ele disse, o líder dos Lioners segurava uma alabarda negra em uma das mãos. Nas mãos do gigante, parecia quase um brinquedo, mas para os humanos, era assustadora o suficiente.

Ta-tang!!

Com o som de uma explosão, o líder Lioner recuou enquanto erguia o braço. Dois virotes estavam cravados em seu antebraço, mas nenhum deles penetrou profundamente.

As pupilas negras dentro dos olhos semicerrados baixaram ligeiramente. O líder Lioner encarava fixamente o Mago ajoelhado no chão, não Dylan à sua frente.

Como era uma criatura que não possuía inteligência elevada e se guiava fielmente pelos instintos, pôde perceber, que quem havia revivido as presas à beira do colapso fora aquele humano.

Hrrrrrr…

Assim que soltou um rosnado, outros Lioners escondidos à esquerda e à direita revelaram-se um por um. Três à esquerda e quatro à direita. Todos empunhavam armas humanas enquanto se aproximavam lentamente da expedição. Eram menores que o líder, mas ainda assim, nenhum deles tinha menos de dois metros de altura.

— Puta merda. Nove Lioners… Que diabos há de errado com essa floresta?

O lamento foi mantido ao mínimo. Seol Jihu percebeu que os combatentes da expedição já haviam formado um círculo ao seu redor.

— Eu cuido do da frente. Hugo, Clara, esquerda. Samuel e Grace, direita. Temos que aguentar até o Mestre Ian terminar o feitiço.

Dylan deu ordens simples e avançou lentamente.

E assim que os outros quatro também avançaram, o contra-ataque da equipe começou de verdade. Com gritos de batalha estrondosos, humanos e monstros colidiram.

Dylan disparou sua besta, e o líder dos Lioners, com uma velocidade explosiva, encurtou a distância e desferiu a alabarda negra para baixo. Parecia que Dylan seria partido ao meio, mas, no fim, o golpe apenas acertou o chão. Enquanto isso, Dylan já havia circulado para trás do Lioner, puxou uma adaga presa ao cinto e cortou a coxa musculosa da criatura.

Hrrrrrr!

O monstro, surpreso, tentou atingi-lo com um golpe, mas Dylan novamente desapareceu do local, surgindo ao lado da criatura.

Ta-tang!! Ta-ta-tang!!

Ele disparou rapidamente cinco virotes em sucessão. Todos mirados em pontos vitais, mas o Lioner, com reflexos rápidos, se agachou e se protegeu. Ainda assim, não conseguiu evitar de ser atingido nos braços e nas pernas.

Como se enfurecido, o líder Lioner começou a brandir a alabarda de maneira indiscriminada.

Kwang! Kwang! Kwang! Kwang!

Cada golpe era forte o bastante para fazer o chão tremer, mas nenhum acertava o alvo. Dylan esquivava-se com facilidade, recuava e continuava a disparar seus virotes.

“Talvez a gente consiga…”

Seol Jihu começou a criar esperanças. Embora Dylan não conseguisse causar dano crítico ao Lioner, achava que poderiam vencer se a luta continuasse daquele jeito. No entanto, no momento seguinte, acabou se assustando.

Percebeu que o líder dos Lioners lançava olhares em sua direção. Era como se estivesse prestando atenção em algo.

“Espera aí.”

E se aquele monstro simplesmente ignorasse Dylan e avançasse direto para cá?

Como se lesse seus pensamentos, o líder dos Lioners virou o corpo na direção de Seol Jihu. Porém, sua expressão se contorceu ao ver Chohong surgindo em seu caminho.

Seol Jihu soltou um suspiro de alívio. Estava se perguntando por que Chohong não havia entrado na luta antes, mas, no fim, ela era a ‘Guardiã’ deles. Dylan só podia se concentrar livremente porque ela estava protegendo aquela área.

— Ei.

Chohong de repente falou com ele.

— Não tenha medo e fique bem perto de mim. Esta noona vai te proteger.

Seol Jihu pensou em discutir a lógica por trás daquela afirmação, mas desviou o olhar ao perceber Chohong alternando rapidamente o olhar para a direita e para a esquerda.

Hugo brandia seu machado com tudo que tinha. Estava atacando loucamente os Lioners, mas, cercado por quatro deles, seus ferimentos só aumentavam.

Clara disparava flechas continuamente, mas nenhuma conseguia penetrar a grossa pele dos inimigos; apenas ricocheteavam, tornando sua ajuda quase inútil.

A situação à direita era ainda pior.

A batalha mal tinha começado, mas o escudo de Grace já estava destruído no chão. Ela se defendia precariamente apenas com uma espada longa. Se não fosse por Samuel, que lançava adagas feito um louco, ela já teria virado carne moída há tempos.

O fluxo da batalha parecia muito desfavorável naquele momento. Dylan ainda mantinha a vantagem contra o líder dos Lioners, mas os flancos estavam desmoronando. Se um dos lados cedesse, o resultado seria óbvio.

— Aaaaaaahk!!

Um grito súbito vindo do lado fez Seol Jihu instintivamente circular seu mana.

A crise finalmente aconteceu. Grace inexplicavelmente largou sua espada, segurou a cabeça e gritou. Era difícil controlar as emoções numa luta de vida ou morte. E, por isso, os efeitos da Floresta da Negação dominaram sua mente.

Por outro lado, aquilo era a oportunidade perfeita para os Lioners. Assim que estenderam suas armas em direção a Grace, que rolava no chão, Alex gritou algo e estendeu a mão esquerda.

Wuoong!!

Uma barreira fina e translúcida formou-se ao redor dela. Surgiu bem a tempo. Todas as armas que atacavam foram repelidas.

— Droga!! E eu aqui, hein?! Não vai me ajudar também?!

Hugo gritou insatisfeito. Alex, mantendo a calma, estendeu novamente a mão esquerda.

— Luxu… Lu… Luxuria!!

Os quatro Lioners que atacavam Hugo de repente pararam. Aproveitando a chance, Hugo desferiu um golpe no pescoço de um deles, e uma linha de sangue voou pelo ar.

Finalmente, um caiu, mas Hugo já estava coberto de ferimentos. Sua armadura, antes reluzente, estava amassada e rasgada, e o sangue escorria de inúmeros cortes.

Por um breve momento, Alex hesitou. Mas então entoou outro feitiço, e o corpo de Hugo passou a emitir uma luz brilhante. Seus movimentos, antes lentos, recuperaram parte da agilidade. No entanto, o crucifixo de Alex virou pó imediatamente.

Sem tempo para lamentar a perda de seu item precioso, Alex voltou o olhar para a direita. A barreira protetora estava prestes a se quebrar.

— Chohong!!

Dylan chamou Chohong enquanto se posicionava entre o líder dos Lioners e a expedição. O monstro parecia um ouriço, cheio de virotes cravados no corpo, mas ainda se mantinha firme.

Enquanto isso, Chohong já se movia. Seus longos cabelos chicoteavam o ar enquanto ela corria como um raio, balançando sua maça contra a cabeça de um dos Lioners focados em destruir a barreira.

Pow!!

Um jorro de sangue explodiu e mais um Lioner caiu. Os três restantes se viraram para encará-la e, como se tivessem combinado, atacaram simultaneamente. Chohong adotou uma posição defensiva e ergueu o braço esquerdo.

Thud! Thud! Thud!!

Uma espada longa, um machado e uma lança foram desviados, um após o outro.

No ar, ou melhor, sobre seu braço esquerdo, podia-se ver um escudo branco.

“Uma magia divina?”

Os pés de Chohong arrastaram dois longos sulcos no chão enquanto era empurrada para trás, mas não sofreu ferimentos.

— Samuel! Afaste eles e volte para formação!

Ela demonstrou passos ágeis e se aproximou dos inimigos em um padrão de zigue-zague, antes de girar em uma órbita de meia-lua e balançar sua maça. Ela não simplesmente saltou no meio deles, mas se certificou de contorná-los e ganhar o máximo de tempo possível.

Enquanto Chohong atraía o aggro dos três monstros, Samuel arrastou Grace para longe. O fluxo da batalha, que poderia ter se inclinado para o lado errado, estabilizou-se novamente com a participação de Chohong.

“O que eu devo fazer agora?”

Depois de circular dezenas de vezes, tanto a mana quanto o Circuito de Seol Jihu já haviam sido devidamente aquecidos, e agora pareciam estar fervendo. Seus Nove Olhos ainda retornavam a cor vermelha.

Ele queria lutar junto com eles. Não queria ser protegido o tempo todo.

No entanto, ele não estava em posição de agir de forma descuidada. Ele não havia concordado em não pular cegamente para a batalha antes de vir para cá?

E não era só isso. Com Chohong substituindo Grace, não havia mais Guardiã. Ela não teve escolha no assunto, mas, a esse ritmo, tanto o Mago quanto o Sacerdote nem conseguiriam resistir e acabariam morrendo se houvesse um ataque furtivo.

“Por enquanto…”

Seol Jihu tomou uma decisão. Ele pôs a pesada bolsa no chão e puxou sua lança.

Tanto Dylan, ainda ocupado lutando contra o líder Lioner, quanto Alex, ainda recitando desesperadamente o próximo feitiço, lançaram um olhar para Seol Jihu. Eles não disseram nada. Afinal, a situação atual era perigosa o suficiente para pedir até mesmo para um Nível 1 fazer algo.

Foi então.

Ian terminou o que estava fazendo e finalmente se levantou de seu lugar. Seu rosto inteiro estava encharcado de suor, tanto que até sua longa barba pingava.

No chão, havia cinco pergaminhos desenrolados. Neles, formas geométricas intricadas haviam sido desenhadas com um pó azul semelhante a sal.

— Huuueep!!

Os olhos de Ian se abriram amplamente. Todos os cinco pergaminhos subitamente queimaram, e os grãos azuis emitiram feixes de luz brilhante. Eles então subiram ao ar em uma espiral, começando do lado esquerdo, antes de a rotação acelerar e as formas se formarem a partir das cinco espirais.

Seus formatos finais eram cinco lanças feitas de gelo. Parecendo estalactites encontradas em cavernas calcárias, as lanças azuis afiadas começaram a girar loucamente como uma furadeira elétrica.

Ian ergueu seu cajado e gritou em alta voz:

— Ark Ce Acedia!

As lanças de gelo explodiram para frente como se tivessem sido lançadas de uma atiradeira puxada ao máximo. Duas lanças para a direita, duas para a esquerda, e a última para a frente.

Assim que essas lanças de gelo voaram em direção aos alvos, gritos patéticos ecoaram de todos os lados. O monstro que teve sua cabeça perfurada morreu instantaneamente. Houve um que conseguiu proteger suas áreas vitais, mas mesmo assim seus braços e parte inferior do torso foram perfurados.

Infelizmente para eles, a penetração não foi o fim, mas apenas o começo de seus problemas.

As lanças de gelo que penetravam na carne gradualmente desapareceram como se estivessem sendo absorvidas por seus hospedeiros. À medida que encolhiam, camadas de gelo cobriam cada vez mais a carne dos Lioners.

No fim, até o líder Lioner caiu de joelhos. Ele também não foi poupado, já que uma de suas canelas, com a lança de gelo cravada nela, estava sendo gradualmente tomada pelo gelo azul naquele momento.

Ele vinha prestando muita atenção ao Mago, mas não conseguiu despistar o Arqueiro e acabou sendo atingido assim.

O fluxo da batalha havia mudado drasticamente agora. Dois monstros morreram instantaneamente, enquanto outros três receberam ferimentos mortais. Isso incluía também o líder Lioner.

Dylan jamais deixaria escapar uma chance como essa.

— Não deixem que eles descansem. Matem todos!

Ele rapidamente se afastou mais enquanto retirava a besta presa em seu braço. Então, puxou seu enorme arco longo. Sua classe principal era o Atirador Arcano, um franco-atirador.

“Então, é isso que é um Mago..;”

Seol Jihu estava assistindo ansiosamente, mas, ao ver esse novo desenvolvimento, soltou um grito de admiração em seu coração.

Com bom timing, Alex também terminou seu feitiço divino, permitindo que Hugo, que estava perigosamente cambaleante, recuperasse o equilíbrio. Seol Jihu cerrou o punho com força.

“Nós conseguimos.”

A melhor prova disso era a cor de seus Nove Olhos mudando de vermelho para laranja…

Huaaaar!

“O quê?!”

Os olhos de Seol Jihu se arregalaram. No momento em que o líder Lioner rugiu, a floresta, que havia brevemente mudado para laranja, voltou a ficar vermelho-carmesim.

“Mas por quê?”

Claro, a situação ainda não era totalmente vantajosa, mas, comparada a antes, estava definitivamente melhor. Chohong e Samuel estavam trabalhando juntos para suprimir os inimigos, e com o apoio de Alex, Hugo deveria conseguir aguentar até o fim da batalha também. Mais importante ainda, Dylan havia puxado a corda de seu arco longo até o limite e mirava no líder Lioner.

Bastava olhar para os arcos de eletricidade crepitando ao redor da ponta da flecha para perceber o quão perigoso aquele ataque seria. Se atingido, o melhor que se poderia esperar seria uma ferida fatal. No entanto, os olhos do líder Lioner, mesmo encarando a flecha, desenhavam um sorriso confiante e zombeteiro.

“Está rindo?”

No instante em que Dylan soltou a corda, Seol Jihu franziu a testa. O líder Lioner se agachou e mostrou suas presas. Ao mesmo tempo, o jovem sentiu um arrepio gelado percorrer seu pescoço.

Pzzzt!!

Seol Jihu testemunhou a flecha elétrica penetrar o líder Lioner e se virou apressadamente para olhar para trás.

Foi então que ele avistou outro Lioner, sem juba, saltando de seu esconderijo e rapidamente encurtando a distância.

— O maior trunfo da matilha, a fêmea Lioner, pode não necessariamente participar da batalha, mas…

As palavras de Ian surgiram rapidamente em sua mente.

— Acima de você!!

Seol Jihu gritou como se tivesse perdido a cabeça.

Dylan virou ligeiramente a cabeça, apenas para sua mandíbula cair. Hugo, que resistia com todas as suas forças, começou a franzir ainda mais a testa; Samuel e Chohong, que conseguiram matar mais um Lioner juntos, também começaram a entrar em pânico.

O desespero preencheu os rostos de Ian e Alex.

Como se estivesse esperando precisamente por esse momento, os olhos do Lioner que cruzava o ar brilharam friamente. Enquanto o monstro puxava para trás o machado em suas mãos, preparando-se para desferir o golpe, Seol Jihu se viu subitamente preso em uma sensação estranha.

Durante esse breve momento, tudo o que ele via parecia desacelerar até parar.

“O que eu estou fazendo?”

Ele se sentia tonto agora, como se estivesse bêbado.

“Eu deveria desviar.”

Seu estômago revirou dolorosamente.

“Deveria? Mesmo?”

Todos os tipos de emoções passaram por seu coração.

As mechas frontais de seu cabelo dançavam no ar. Só então Seol Jihu percebeu que estava correndo para a frente.

Ele sabia que não deveria ter feito isso.

Ainda assim, seu corpo se moveu por conta própria.

— Seol!!

A voz chocada de Alex se distanciou.

A mana fervente dentro dele circulava ferozmente, colidindo por todo o seu corpo como ondas de uma tempestade violenta.

— !!

O mundo, que se movia lentamente, subitamente voltou ao normal. E, nesse momento, sua respiração parou devido ao medo intenso.

“Eu quero viver…”

O suor escorreu para seus olhos e os fez arder.

“Eu não quero morrer…!”

Seus músculos se congelavam com as lâminas de vento que cortavam sua carne. Esse era o terror da morte que ele sentia pela segunda vez na vida.

Seol Jihu agarrou com força o cabo da lança. Cerrou os dentes e encarou o monstro que descia.

Ele havia simulado isso milhares de vezes e praticado dezenas de milhares de vezes mais na Zona Neutra.

“Eu posso…”

Tudo isso, exatamente para momentos como esse!

“…Fazer isso!”

No momento seguinte…

— Uwaaahhh!!

Seol Jihu finalmente conseguiu esticar seus braços que queriam se retrair.

E assim…

O machado que caía rápido e pesado como se quisesse dividir o mundo, e a lança que deslizava suavemente para cima, colidiram no meio do caminho.