Capítulo 43
Com suas expressões semelhantes, os dois se pareciam tanto que um estranho teria pensado que eram irmão e irmã.
— Da última vez, você entrou na minha residência sem minha permissão, e isso nem sequer é uma residência privada. Por que está tão sensível?
— Estou sendo sensível porque você esteve perambulando por um escritório que não lhe pertence. Como se atreve… o escritório do príncipe herdeiro. — disse Damian, observando os papéis desorganizados sobre a mesa.
“Olhe para os flocos de neve.”
// Como uma “delicada flor do campo”, pessoa sensível.
Agnes se admirou interiormente, mas escondeu sua expressão.
— Eu esperava que me aconselhasse sobre algo.
— Um conselho? De mim? — perguntou Damian, surpreso.
— Sim, de meu irmão.
— Que conselho?
Damian desistiu de tentar repreender e caminhou até a frente da mesa e sentou-se.
Sinceramente, não tinha intenção de ter uma conversa cara a cara com Agnes. Não tinha tempo.
Mas… havia rumores de que ultimamente ela estava mais quieta.
E ele estava se sentindo bastante indulgente.
Sua irmã estava pedindo conselho, e ele pensou que poderia dedicar um pouco de tempo a ela.
Para ser honesto, não precisava ouvir o que ela tinha a dizer.
“Ela quer um encontro com Raymond Spencer”, disse para si mesmo.
Mas o que se seguiu não foi de modo algum o que esperava.
— Vou à festa de caridade da marquesa Melville, mas não tenho nada para doar.
— Algo para doar a uma festa de caridade? — perguntou Damian impacientemente, sem desviar os olhos da papelada.
— Eu pensei que a única coisa que você tinha em casa eram joias.
— Joias são muito óbvias e chatas.
Diante da resposta de Agnes, Damian a olhou surpreso.
Se fossem joias, ele teria gostado muito…
“Óbvias? Não interessantes?”
Mesmo quando criança, Agnes sempre foi o tipo de garota que chorava e sorria ao ver joias.
Olhando para Damian, que parecia um pouco surpreso, Agnes disse.
— É uma reunião de damas cultas, e vim pedir conselho porque estava me perguntando se você tem algum item de patrocínio formal…
— Você também não tem nada? — disse Agnes, desapontada, e as sobrancelhas de Damian se ergueram.
— Espere.
Ele se levantou e foi até a estante.
Agnes o observou com o cenho franzido.
O que ele trouxe foi um livro que, ao contrário dos outros, estava bem organizado na prateleira.
Ela o pegou.
— O que é isso?
— É o manuscrito de um poema de Grandel, um poeta de cem anos atrás.
— Uma coleção de poemas?
— Não há nada mais cobiçado do que isso para uma dama culta.
De fato, o livro que eu tinha nas mãos estava desbotado, com uma capa que parecia ter sido escrita há um século.
Mas tinha sido bem cuidado, então parecia valioso.
— … obrigada, irmão.
— A marquesa Melville é uma dama prestigiosa e fina, e é uma boa escolha se associar a ela.
Damian soava orgulhoso.
— Não acho que seja uma mojigata…
Agnes entendeu por que Damian estava sendo condescendente.
Ele gostava da ideia de ela estar na companhia de damas elegantes.
— Ouvi rumores de que você cresceu, e é verdade.
Damian olhou para Agnes com uma expressão que, na verdade era bastante indulgente.
— Sim, eu deveria, já cresci.
Ela murmurou uma resposta sem alma com os olhos bem abertos, e Damian pareceu gostar ainda mais.
— É uma boa ideia. Raymond Spencer adoraria.
— …?
Hein?
Por que esse nome surgiu… do nada? Agnes mal pôde evitar fazer uma careta.
Depois de soltar a estupidez, Damian entregou os papéis, com uma expressão de satisfação e orgulho.
Agnes nem se deu ao trabalho de apontar e saiu.
— Vou indo…
Damian a segurou pelo braço.
— Ah, já que está aqui, sente-se e tome um chá comigo. Estou esperando uma visita que acho que você vai gostar.
— …
De alguma forma, não soava como uma visita indesejada de forma alguma.
Agnes teve uma premonição sinistra e se desculpou para sair.
Toc, Toc.
Mas bateram à porta e a voz de um criado foi ouvida.
— Sua Alteza Real, Lorde Spencer está aqui para vê-lo.
— Entre!
Damian saltou da cadeira, com o rosto radiante.
Agnes, que estivera de pé encolhida sobre seu livro, teve sua expressão obscurecida instantaneamente.
Damian a olhou com um sorriso irônico.
— Que tímida você é.
Ele ficou feliz em ver sua irmã tão bem-educada.
Tinha ouvido que Agnes e Raymond não estavam se dando bem ultimamente.
Mas como seu irmão, ele sabia melhor do que ninguém o que ela queria dizer na realidade.
Desde pequena, Agnes chorava quando Raymond partia, e parava quando ele voltava.
Como quando ele lhe dava uma joia.
É claro que Raymond Spencer não gostava de Agnes quando criança, e ainda não gosta…
Ela sabia que, enquanto sua irmã tentasse, Raymond acabaria mudando de ideia.
Chirp-
A porta se abriu e entrou Raymond Spencer, impecavelmente vestido com seu uniforme.
Raymond cumprimentou levemente e levantou os olhos.
Diante dele estava uma mulher de costas, acompanhada pelo príncipe herdeiro.
A mulher com o vestido malva claro era sem dúvida a princesa Agnes.
Ela era a única mulher do Império com uma cor de cabelo tão incomum.
Mas era a luz do sol que entrava pela janela atrás dela.
O cabelo prateado da princesa, normalmente de um tom malva, agora parecia completamente prateado.
— Lorde Spencer, aqui está você, Agnes. Você também, venha e sente-se.
Diante das palavras do príncipe herdeiro, Agnes virou-se lentamente.
Naquele momento, a testa de Raymond franziu.
De alguma forma, aquele momento estaria gravado em sua mente como uma cena em câmera lenta.
Talvez fosse o brilho da luz solar que se filtrava pela janela. Agnes, incomumente vestida com simplicidade, lembrava-o de alguém.
Alguém que ele havia sentido falta a vida toda, alguém que partia seu coração só de pensar.
— Mano, estou muito ocupada me preparando para a festa de amanhã, então estou indo.
— O quê? Não, por que…
Damian não entendia.
Agnes recusando um convite para tomar chá com Raymond? Por quê? Eles se davam tão mal ou era só um ataque de birra dela?
Agnes soava completamente indiferente.
— Vou fazer bom uso da sua doação, obrigada, mano.
E ela saiu.
Por um breve instante, Agnes passou por Raymond.
Seus olhares se cruzaram no ar.
A expressão de Agnes era estranha.
Ela parecia ao mesmo tempo, desconfortável e magoada.
Então ela passou por ele e saiu do escritório.
Para Raymond, aquele breve momento pareceu muito longo.
— …
Como se estivesse vendo sua mãe em um sonho, ele não conseguia se mexer.
Só conseguia olhar para o vazio.
ZAS!
Ele ouviu a porta do escritório fechar atrás dele.
Ele podia sentir o olhar ferido de Agnes deixando uma marca arrepiante em seu peito. Era como se uma ponta de papel afiada o tivesse perfurado.
Houve um momento de silêncio.
Damian suspirou pesadamente e olhou para Raymond.
Raymond estava lá como se estivesse congelado.
Seu rosto estava inexpressivo, mas de alguma forma Damian podia perceber que ele estava profundamente ofendido.
Agnes devia tê-lo ofendido novamente.
Ou isso, ou estava fazendo birra de novo.
— Ei, Raymond. Agnes e você tiveram uma grande briga? — perguntou Damian, confuso.
Raymond também não entendia.
Ele estava muito confuso com seus próprios sentimentos de antes.
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