Capítulo 44

A mãe de Raymond conseguiu se casar com seu pai por sua semelhança com a princesa.

E a princesa Agnes era conhecida por sua beleza.

Em teoria, a mãe de Raymond e a princesa deveriam se parecer.

Mas Raymond nunca sentiu que a princesa se parecesse com minha mãe.

“Ela fez…”

Só hoje ele percebeu pela primeira vez.

Será que era porque, por um momento, o cabelo de Agnes parecia da mesma cor que o de sua mãe, uma cabeça cheia de prata?

Ou porque ela usava o mesmo vestido malva e modesto que costumava usar sua mãe?

Ou porque sua pele estava incomumente sem maquiagem?

Ele não conseguia encontrar todas as razões, mas sabia qual era a mais importante.

“Aquela olhada.”

O olhar de minha mãe quando se sentia magoada e triste por meu pai.

Por um momento, aquele olhar se sobrepôs ao de Agnes.

Talvez fosse a semelhança de suas roupas, mas a semelhança era arrepiante.

Lembrou-o de todas às vezes que viu sua mãe se lamentar sozinha, sempre às suas costas…

— Raymond Spencer?

Damian o chamou pelo nome mais uma vez, e Raymond voltou à realidade.

Mas naquele momento de realidade, uma estranha sensação de ódio por si mesmo começou a envolvê-lo.

De alguma forma, viu uma imagem sobreposta de seu pai, o homem que havia machucado sua mãe, e de si mesmo.

Jurou que seria diferente de seu pai…

Era desagradável, como estar coberto de sujeira.

Era a sensação mais suja que já teve.

Agnes sentia o mesmo, embora de uma maneira ligeiramente diferente.

Eles sempre são tão desatentos?

Quanto mais pensava sobre isso, mais ridículo parecia.

Rumores circulavam de que Agnes havia sido maltratada por Raymond Spencer.

— Você deve ter sabido que sua irmã estava nessa situação…

“Você é uma convidada bem-vinda, e você está dizendo: ‘Tome um chá e vá embora…’ É uma bagunça.”

Aparentemente, o príncipe herdeiro pensou que Agnes nunca deixaria Raymond.

“Ridículo.”

E do ponto de vista de Damian, seria politicamente conveniente que Agnes e Raymond se casassem.

Bem… ele tinha que admitir que Raymond Spencer era um bom sujeito.

Costumava pensar que ele era seu mundo.

Ainda tinha todas aquelas lembranças de quando era criança, e às vezes sentia uma pontada no peito ao se lembrar do que sentia.

Mas então dava um soco no coração e passava.

Um soco é a resposta a um coração que não ouve.

Agora seu coração batia apenas pelo seu personagem favorito.

— Vamos escolher um vestido.

Agnes foi direto para seu quarto.

Enquanto isso, no escritório do príncipe herdeiro.

Damian olhava fixamente para Raymond do outro lado da mesa com uma expressão de incerteza no rosto.

Raymond estava com a testa franzida e absorto.

Não conseguia dizer o que passava por sua mente.

— Parece que Agnes está te olhando feio.

Damian suspirou e murmurou.

Na verdade, desde que começaram a circular rumores de que Agnes havia crescido, Damian se encheu de um pequeno sentimento de esperança.

Se ela se esforçasse muito, talvez Raymond mudasse de ideia.

Se ao menos Raymond Spencer se casasse com sua irmã e formassem uma família…

Damian não poderia ter pedido um cunhado melhor.

Raymond e ele já eram amigos há muito tempo, mas um vínculo familiar os uniria ainda mais.

Enquanto fosse pelo bem do Império, faria o que fosse preciso para conter a oposição do Imperador.

O problema era ele.

Damian virou-se para Raymond, ainda perdido em seus pensamentos.

— Raymond, te pergunto como amigo. Você realmente odeia tanto minha irmã?

— …

Sim, eu odeio.

Normalmente, ele teria dito com firmeza, sem a menor hesitação.

Mas a boca de Raymond não se abriu tão facilmente.

“Por quê?”

Não conseguia dizer a si mesmo por quê.

Pensar na princesa Agnes ainda o deixava desconfortável.

Quando perdeu sua mãe, Raymond não teve tempo de organizar seus pensamentos.

O que mais precisava era de tempo sozinho.

Tempo para assimilar a morte de sua mãe, para se despedir, para deixar levar.

Mas graças à implacável recusa de Agnes em deixá-lo sozinho, viu-se obrigado a passar um tempo infernal.

Sua mãe morreu.

Por sua culpa, nunca a vi pela última vez.

Cada vez que tinha que se forçar a sorrir para a princesa, que não parava de rir na frente dele, a culpava em seu íntimo.

Sentia-se miserável e amargurado.

As feridas não cicatrizadas continuavam a supurar depois de tantos anos.

Não era de se estranhar que ele odiasse a princesa Agnes.

— Raymond?

Mas… por que…

Por que não consigo responder…?

— Raymond Spencer, você não parece bem.

O rosto de Damian ficou sério.

Raymond saiu de seu devaneio e encarou o homem diante dele.

— Você tem certeza de que está bem?

— … sim, estou bem, Majestade.

— Hmm, se você odeia tanto a Agnes, acho que devo desistir da esperança… mesmo que nos damos bem, não quero que minha irmã seja odiada por seu marido depois de se casar.

— …

— Terei que descobrir quem será o noivo de Agnes, já que o Imperador continua escolhendo minha noiva aleatoriamente. — murmurou Damian.

Uma das maiores preocupações do Imperador Alexandre ultimamente era o casamento de Damian.

Há muito tempo, Damian não se decidia por uma parceira, depois que sua noiva morreu de uma doença há vários anos.

Ele fez isso em respeito à sua noiva, que só tinha visto uma ou duas vezes quando criança.

Mas o assunto do casamento não podia ser adiado para sempre.

O Imperador queria que Damian se casasse o mais rápido possível.

Quanto mais forte e segura fosse a posição imperial de Damian, menos Agnes teria que sofrer.

Mas não podia deixar seu pai decidir com quem se casaria.

Se escolhesse sua própria parceira, tomaria Agnes, a fraqueza de seu pai, e a usaria. Perdido em seus pensamentos por um momento, Damian não levantou os olhos.

— …

As comissuras dos olhos de Raymond se contraíram ligeiramente ao ouvir as palavras “noivo de Agnes”.

A mente de Raymond era um turbilhão, e ele não conseguia ordená-la facilmente.

A manhã da festa amanheceu.

Agnes estava vestida com um traje pré-selecionado e adornada pelas habilidosas mãos de suas donzelas.

Ela escolheu um vestido amarelo pálido.

A cor era um tanto infantil, mas o design não era.

O vestido mostrava suas elegantes curvas e lhe conferia uma aparência alegre, mas sofisticada.

Com o cabelo penteado em um elegante coque, ela poderia ter comparecido a um jantar formal.

Mas em vez disso, Agnes fez uma trança lateral com um laço amarelo vivo.

O resultado foi um visual bonito, divertido e elegante.

Exatamente o que um adulto precisa.

As damas presentes hoje, com exceção da marquesa, eram principalmente mães com filhas que haviam sido enviadas para longe para se casarem.

No império, era o sonho de toda nobre com uma filha.

O momento em que você apresenta sua adorável filha à sociedade pela primeira vez.

Agnes usava o cabelo no estilo de uma jovem de sua idade que estava se apresentando à sociedade pela primeira vez.

Era um símbolo de sua idade: inocente e encantador.

As damas que estavam ali hoje se lembrariam disso ao ver Agnes.

O nervosismo da primeira apresentação social de sua filha, seu sorriso adorável.

Todas as lembranças emocionantes daquele dia.

Mas não funcionou apenas com as damas.

— Hah… ela é tão linda.

— Awww… como…

Emma e Chloe estavam igualmente animadas.

Olhavam para Agnes como se tivessem uma irmã mais nova fazendo sua estreia no mundo social.

Normalmente, as jovens nobres celebravam seu baile de debutantes aos dezoito anos, a maioridade.

Mas Agnes era uma princesa, então tinha vantagem.

Além disso, Agnes sempre teve bom gosto, e esta era a primeira vez que experimentava esse tipo de estilo.

— Você está muito bonita.

— Sério?

— Se minha mãe visse, seus olhos se transformariam em corações.

— É verdade, minha mãe ainda não consegue tirar os olhos das garotas que passam com o cabelo assim, não é?

Disseram Emma e Chloe, cujos olhos se transformaram em corações.