Capítulo 19 — profecia
Kael abriu um sorriso confiante, seus olhos brilhando como se tivesse esperado por esse momento a vida inteira. Sua mão firme guardou a espada na bainha com um movimento calmo, mas cheio de significado.
— Sempre soube que você ia conseguir, Lucas. Agora o verdadeiro treino começa — disse ele, com um orgulho sincero estampado no rosto. Pela primeira vez, não havia sarcasmo, nem raiva… apenas reconhecimento.
Eu senti.
Senti de verdade.
Era diferente de tudo que já havia experimentado.
Agora… eu sabia.
Eu podia.
Eu conseguiria.Não por causa do Kael. Não por causa das palavras dele. Mas por mim mesmo. Pela primeira vez, sentia que podia seguir em frente sem depender de ninguém. A força que havia brotado dentro de mim não era emprestada. Era minha. E isso mudava tudo.
Me levantei lentamente, cada músculo do meu corpo ainda protestando com a dor do impacto anterior. Mas meus olhos não deixavam os de Kael. Fitei ele com firmeza, com um olhar que dizia: “Eu estou aqui. De verdade.”
Foi nesse momento que percebi algo diferente. Algo… novo.
Eu conseguia sentir Kael. Não apenas vê-lo ou ouvir sua voz — eu podia sentir sua presença, como se ele fosse um farol de energia bruta irradiando ao meu redor. Era como olhar para uma montanha viva de poder.
A aura dele era pesada. Espessa. Intimidante.
Não era mais apenas medo da força física.
Era a mana.
Agora eu podia senti-la, fluindo por ele como rios dourados e violentos. Era quase como se o mundo inteiro ao redor dele estivesse sendo pressionado. Ele exalava poder. Um poder tão absurdo que meu corpo começou a tremer involuntariamente.
“Então… é isso que se sente quando se está diante de alguém forte de verdade?”, pensei.
Kael não era só forte. Ele era um monstro. Um gigante escondido sob pele humana. E agora eu podia ver isso.
Mas então… algo mudou.
Uma pontada.
Meus olhos começaram a pesar.
Meus ombros afrouxaram.
Minhas pernas ameaçaram falhar.
— Ugh… o que está… — murmurei, cambaleando.
O cansaço veio como uma maré repentina, me engolindo por completo. Era a mesma sensação da última vez em que usei mana — quando salvei a garota ruiva. Meu corpo inteiro estava drenado. Era como se cada gota de energia tivesse sido arrancada de mim em troca daquele momento de força.
“Não… agora não…” pensei desesperado, tentando resistir.
Minhas pálpebras ficaram pesadas. Meu coração batia devagar, como se o mundo estivesse ficando distante, embaçado, lento. Era como se a realidade estivesse sendo sugada por um redemoinho silencioso.
— Droga… acho que… vou cair… — murmurei, sem forças.
E antes que pudesse dizer mais alguma coisa, meus joelhos cederam. Meu corpo caiu no chão com um baque leve. Tudo foi ficando escuro, como se uma cortina se fechasse ao meu redor.
E então… silêncio.
De repente, abri meus olhos.
O mundo ao meu redor tinha mudado completamente,não era mais a floresta — eu estava no céu, sobre uma nuvem macia que flutuava suavemente. O ar era calmo, um azul infinito se estendia em todas as direções. Olhei assustado para os lados, perdido.
Mas então… lembrei.
Esse lugar…
Eu já estive aqui antes.
Foi aqui que conheci Galvata.
Só que agora… algo estava diferente. O lugar parecia vazio. Ela não estava aqui.
O silêncio era desconfortável, quase pesado, até que uma voz conhecida ecoou pelo espaço.
— Como vai, Lucas? Já faz um tempinho, não é? — disse Galvata, surgindo do absoluto nada, como se sempre estivesse ali, apenas invisível aos meus olhos.
Ela sorria de forma enigmática, como se soubesse mais do que dizia.
— Você está conseguindo usar a mana até que bem — continuou ela. — Conseguiu curar a menina… e até se defender do ataque do Kael. Você está evoluindo mais rápido do que eu imaginei.
Eu me levantei rápido, irritado.
— O que eu tô fazendo aqui de novo?! — perguntei com a voz carregada de frustração, querendo sair dali o quanto antes.
Galvata apenas riu baixinho, como quem acha graça da impaciência de uma criança.
— Calma, Lucas… Por que tanta pressa? — disse ela, cruzando os braços. — As coisas ainda nem começaram a piorar para você ficar assim…
Suas palavras cortaram o ar como uma lâmina invisível.
— Como assim “nem começaram a piorar”? O que você quer dizer com isso?! — gritei, o medo se misturando à raiva.
Galvata sorriu com os olhos fechados, misteriosa.
— Não posso dizer… ainda. Mas saiba que em breve, coisas terríveis vão acontecer. E quando chegar a hora, você terá que fazer uma escolha. — Sua voz soou como o eco de uma profecia.
Meu coração disparou.
— Para de tentar me assustar! — rebati, cerrando os punhos. — Fala logo o que vai acontecer!
— AHAHAHAH! — ela gargalhou como se estivesse se divertindo. — Você é mesmo teimoso. Tudo bem, vou te dar uma dica: daqui a sete anos, sua vida vai virar de cabeça pra baixo. Se eu fosse você, começaria a ficar mais forte agora.
Sete anos…?
Que merda essa maluca tava falando? O que diabos aconteceria em sete anos? Eu tinha mil perguntas, mas sabia que não adiantava insistir. Ela não ia me contar.
Antes que eu pudesse explodir de irritação, ela falou mais uma vez:
— Ah, e antes que você continue gastando a mana que eu te emprestei à toa, lembre-se: ela não é infinita. — disse, apontando para mim com um sorriso zombeteiro. — Seu corpo está cheio de mana, mas é só uma pequena fração da minha. Uma hora ela vai acabar… e é melhor você começar a juntar sua própria mana.
A verdade me atingiu como um balde de água fria.
Era verdade.
Antes de ir embora da última vez, Galvata falou algo sobre me emprestar mana.
Era por isso… era por isso que eu estava tão forte.
Era por isso que eu tinha conseguido despertar tão cedo.
Que droga…
Logo agora que eu pensei que estava ficando forte pelas minhas próprias mãos, descobri que ainda estava dependendo da força dos outros.
Ainda estava sendo carregado pelos fortes.
Que droga…!
— Tá… se for só isso, me manda embora logo. — disse, me levantando e cruzando os braços, irritado, sem querer mais ouvir enigmas.
Galvata apenas caminhou até mim, enquanto eu a observava de baixo, sentado no chão macio da nuvem.
— Muito bem. — disse ela suavemente. — Mas, antes, Lucas… não se esqueça de uma coisa:
Ela se aproximou, ajoelhou-se na minha frente e colocou sua mão no meu peito.
— Não é sua culpa.
Seus olhos brilharam como estrelas.
Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer com aquilo, senti seu toque me empurrar gentilmente para trás — e de repente, a nuvem sumiu sob meus pés.
Eu estava caindo.
Caindo de volta para o mundo real.
Caindo para o que quer que fosse me esperar lá embaixo.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.