Índice de Capítulo

    O interior da sede da Farmacêutica Sinyoung era ainda mais luxuoso que o exterior do prédio. Somado ao fato de haver um verdadeiro fluxo de pessoas entrando e saindo, Seol Jihu não conseguiu dizer de imediato se havia colocado os pés em uma loja de departamentos de alto padrão ou no saguão de uma grande corporação.

    Ele ficou parado, olhando ao redor, até que algum tempo depois avistou a recepção. Quando se aproximou, uma jovem com um uniforme impecável o cumprimentou com um sorriso.

    — Em que posso ajudá-lo?

    — Gostaria de falar com alguém que trabalha aqui.

    — Por favor, forneça o nome da pessoa com quem marcou um horário.

    — Ah, não. Eu não tenho horário. Pode chamar a senhorita Kim Hannah para mim, por favor?

    Ao ouvir esse pedido bastante direto, os olhos da recepcionista se arregalaram.

    — Quer dizer, a gerente Kim?

    — Isso, ela mesma. Diga que é o Seol. Ela vai saber na hora.

    A recepcionista não disse nada, apenas piscou algumas vezes. Olhou para a roupa do jovem, inclinou a cabeça por um ou dois segundos, e então seu olhar se voltou para a lança de tonalidade gélida que exalava um ar congelante em suas costas. Por fim, acenou levemente com a cabeça.

    — Por favor, aguarde um momento.

    Ele estava preocupado em não conseguir encontrar Kim Hannah sem um agendamento, mas soltou um suspiro de alívio por dentro quando viu a recepcionista pegar um cristal de comunicação.

    — Aqui é a Park Ahrah da recepção. Por acaso a gerente Kim está em seu escritório hoje? Ah, na verdade, tem um…

    A recepcionista lançou um olhar furtivo para Seol Jihu e, então…

    — Ele disse que é o senhor Seol… Como?

    …Ela claramente se surpreendeu com algo, pois rapidamente desviou o olhar para as escadas ao fundo. Seol Jihu seguiu o olhar dela e olhou na mesma direção, e não demorou muito para avistar uma mulher vestida com um elegante terno social descendo apressadamente as escadas com uma pequena bolsa na mão. Era, claro, Kim Hannah.

    “Que rapidez!”

    De qualquer forma, Seol Jihu acenou com a mão, feliz em vê-la.

    — Ei, Kim Hannah!

    — Ei, você. Quanto tempo.

    Ela respondeu com um sorriso revigorante.

    — O que te traz aqui? Aparecendo assim do nada pra me ver.

    — Bem, eu queria te ver.

    — Seu louc… Enfim, vamos sair daqui pra conversar? Como pode ver, isso aqui tá uma loucura.

    Kim Hannah falou bem rápido. Ela chegou a agarrar o braço de Seol Jihu e puxá-lo antes mesmo que ele tivesse tempo de responder. Assim que virou de costas para a recepção, o sorriso sumiu de seu rosto no mesmo instante.

    — Vem comigo.

    Ela sussurrou e o puxou pelo braço. Seol Jihu apenas abriu e fechou a boca feito um peixinho dourado, sendo arrastado para fora por ela, sem poder resistir.

    Quando Kim Hannah finalmente parou de andar feito uma possuída, eles estavam numa ruela relativamente deserta.

    Ela descruzou os braços e colocou as mãos na cintura. Ficou encarando o céu em completo silêncio antes de soltar um longo, longo suspiro.

    Enquanto isso, Seol Jihu apenas ficou ali, observando. Não tinha certeza, mas parecia que havia feito algo errado de alguma forma.

    — Muito bem, então.

    Kim Hannah se virou, estreitando os olhos para encará-lo.

    — Já que apareceu na capital e ainda teve a audácia de enfiar a cabeça direto na boca do tigre, imagino que tenha algum tipo de rede de proteção por trás.

    Com os músculos do rosto se contraindo daquele jeito, se ele dissesse ‘Não’ de brincadeira agora, ela poderia muito bem agredi-lo de verdade.

    — É, acho que estou bem respaldado.

    — …Mesmo?

    A contenção de Kim Hannah, que parecia prestes a explodir, pareceu ceder um pouco. Seol Jihu aproveitou a abertura e se apressou em completar.

    — Entrei para um time.

    — Um time? Qual?

    — Carpe Diem.

    Os olhos de Kim Hannah se tornaram pontinhos, como os de um coelho. Ela o encarou em silêncio por alguns segundos antes de abrir levemente os lábios.

    Heh-eh. Essa foi uma surpresa. Achei que os requisitos pra entrar na Carpe Diem fossem bem rígidos. Como conseguiu entrar num grupo famoso por ser tão fechado?

    — Você conhece eles?

    — Se eu conheço? Poxa, o time tem o Edward Dylan, um Alto Ranker. Ele é um Arqueiro de Nível 5, pra você ter uma ideia. E tanto a Chung Chohong quanto o Richard Hugo são conhecidos como combatentes habilidosos também.

    Dessa vez, foi a vez de Seol Jihu se surpreender.

    — O sobrenome da Chohong é ‘Chung’?

    — É. Ela é da Área 7, a chamada Liga Independente. É de Hong Kong e é famosa por seguir o caminho de um Guerreiro, mesmo sendo uma Sacerdote. As pessoas veem nela um caso de sucesso de quem tem uma classe dupla.

    Kim Hannah recitou a informação de cabeça antes de perguntar novamente.

    — Deixando isso de lado. Então você apareceu sem medo na Sinyoung por causa da Carpe Diem?

    — Bem, tem outros motivos.

    — ?

    — Consegui criar alguns vínculos com a Família Real de Haramark. Também fiquei próximo do Mago da realeza, o Mestre Ian.

    Uma das sobrancelhas de Kim Hannah se ergueu.

    — Está falando do Ian Denzel, por acaso?

    — Uau, você realmente sabe de tudo.

    Seol Jihu estava genuinamente impressionado.

    — Você, você só está dizendo isso porquê…

    Kim Hannah estava prestes a terminar aquela frase com um ‘…Porquê não quer levar uma bronca minha, né?’, mas fechou a boca na hora em que o jovem sorriu animado e girou a lança enquanto dizia:

    — Olha, olha! A Princesa me deu isso aqui.

    Mesmo com um olhar casual, dava pra perceber que aquela lança não era uma arma qualquer. No mínimo, não era algo com o qual um Guerreiro novato deveria estar andando por aí.

    — E então, o que acha?

    Seol Jihu endireitou as costas com orgulho. Kim Hannah o encarou com os olhos semicerrados e avaliativos antes de cruzar os braços lentamente, com um sorriso de canto.

    Hmph. Tá querendo se exibir. Tudo bem. Vou dizer que pelo menos você conseguiu um capacete.

    — Só isso?

    — Não é ‘só isso’, tá?

    A voz de Kim Hannah de repente ficou mais baixa. Mesmo sem ninguém por perto, ela estava sendo ainda mais cuidadosa.

    — Sério, você tinha que aparecer justo no dia em que a Primeira Dama resolveu voltar…

    “Primeira Dama?”

    Seol Jihu perguntou.

    — Você tá falando da senhorita Yun Seora?

    — Não.

    Kim Hannah balançou a cabeça imediatamente.

    — A senhorita Yun Seora é alguém que podemos considerar do seu lado, nesse caso. Se a Primeira Dama demonstrar interesse total em você e tentar se aproximar, então a Jovem Senhorita Yun Seora é a única pessoa atualmente na Sinyoung que pode te proteger dela. Ela tem motivação suficiente pra isso, e isso sem contar as habilidades dela.

    Seol Jihu não fazia ideia do que estava acontecendo. Mas mesmo assim, sentia que havia algum tipo de intriga política acontecendo por trás dos panos.

    Foi nesse momento que Kim Hannah deu um leve sobressalto e puxou um cristal de comunicação de sua bolsa. Em seguida, franziu o cenho profundamente.

    — Olha só. Já estão me chamando.

    — Fiz algo errado?

    — Bom, não exatamente, mas…

    Kim Hannah massageou a testa como se estivesse com enxaqueca. Depois, mandou que ele esperasse ali e se afastou apressadamente.

    Mas não parecia que ela voltaria tão cedo. Seol Jihu pegou um maço de cigarros e observou os arredores por um tempo. Em Haramark, ele não tinha problemas pra fumar em qualquer lugar, mas, tendo visto como as ruas de Scheherazade eram limpas e organizadas, achou que fumar em público talvez não fosse algo bem-visto naquela cidade.

    Seol Jihu continuou procurando um lugar adequado até se decidir por um beco ao lado de um prédio com uma placa onde se lia ‘Casa de Chá dos Ventos e Fadas’. Quando chegou lá, encontrou um canteiro cheio de flores pequenas, mas belíssimas.

    “…Droga.”

    Ele sentia isso com frequência, mas sua situação atual parecia ser um baita tapa na cara. Sério, ele tinha ajudado a Sinyoung, não feito nada contra eles, então por que estavam tão empenhados em engoli-lo como predadores gananciosos?

    “Na moral, preciso ficar mais forte logo e fazer eles pararem com essa palhaçada…”

    Ele imaginava que as coisas mudariam no momento em que alcançasse o patamar dos Altos Rankers. Para isso, consumiria seus Elixires Divinos, usaria todos os pontos acumulados e, acima de tudo, utilizaria o Estigma Divino.

    Claro, tudo isso ainda estava bem, bem distante…

    Seol Jihu tragou o cigarro e soltou a fumaça com desgosto.

    — …Com licença.

    Foi então que ouviu uma voz cálida e reconfortante.

    — Me desculpe, mas é proibido fumar aqui.

    As sobrancelhas de Seol Jihu se ergueram, e ele olhou rapidamente para os lados. De onde veio essa voz?!

    — Aqui é uma propriedade privada, mas, ao mesmo tempo, as flores do jardim são especialmente sensíveis à fumaça de cigarro, entende?

    Uma voz amigável, que soava como se acalentasse uma criança chorando, continuava a ecoar em seus ouvidos. Seol Jihu se apressou em apagar o cigarro.

    — D-Desculpa. Eu não sabia.

    Ele então se virou e viu o rosto da mulher que havia saído por uma porta lateral do prédio. Ao mesmo tempo…

    — Ah, tudo bem. Não precisava apagar o cigarro. Se você andar só um pouco pra lá, vai encontrar um luga…?!

    …A mulher parou de falar no meio da frase, mais ou menos ao mesmo tempo em que ele também parou.

    — Ai, meu Deus.

    A mulher cobriu a boca com sua mão delicada.

    Do nada, ele sentiu um aroma familiar. Quando olhou nos olhos dela, olhos elegantes e puros que iam se arregalando aos poucos…

    — …

    Seol Jihu foi tomado por uma sensação de estar diante de um oceano calmo e infinitamente vasto.

    “…Yoo Seonhwa?!”

    Não, não era ela. A aura silenciosa e reconfortante era assustadoramente parecida, mas, ao observar com mais atenção, também era um pouco diferente. Talvez pudesse dizer que a aura dessa mulher parecia um pouco mais madura?

    Dos cílios longos e suavemente curvados; do cabelo que descia até a cintura como uma cascata; dos lábios escarlates com o tom convidativo de uma fruta bem madura; dos ombros esguios e clavículas bem definidas; e até da pele resplandecente nos tons pálidos de um damasco maduro, além do vestido branco que combinava perfeitamente com ela…

    Mais importante ainda, uma fragrância maravilhosa vinha da direção dela. Era como os raios cálidos da primavera que faziam alguém fechar os olhos e saborear profundamente o momento.

    No exato instante em que esse pensamento surgiu…

    — Vamos nos encontrar de novo, pequeno príncipe.

    …Ele esqueceu de respirar.

    — …Ah.

    Instintivamente, deixou o cigarro cair da mão. As memórias de infância que ele havia esquecido completamente voltaram à tona.

    Mas por quê? Por que ele se lembrava, de repente, daquele dia?

    Com o desconhecido estimulando seu cérebro, Seol Jihu seguiu seus instintos e ativou os Nove Olhos. E então, levou outro susto.

    “P-Por quê?”

    Quando não viu nenhum espectro visível de cor emanando dela, ele assumiu que era mais um daqueles casos de alguém ‘sem cor’. No entanto, nem mesmo a habilidade especial da cor verde, a Observação Geral, foi ativada. Por mais que tentasse, a Janela de Status daquela mulher simplesmente não aparecia. Era a primeira vez que isso acontecia.

    Foi então que…

    — Se não se importar…

    A mulher abaixou lentamente a mão do rosto e apontou para a entrada lateral do prédio.

    — Temos uma área reservada para fumantes lá dentro. Gostaria de usá-la?

    A sugestão, feita com aquela voz elegante e gentil, fez Seol Jihu acenar afirmativamente quase que por puro instinto. Mas aí…

    — Ei, você! O que pensa que está fa…??

    Kim Hannah encerrou a ligação e entrou no beco à procura de Seol Jihu, apenas para seus olhos se arregalarem como lâmpadas de poste.

    — Você, você é…

    A mulher virou suavemente a cabeça em sua direção, e Kim Hannah se apressou em abrir a boca.

    — M-Me desculpe.

    Pela primeira vez, Seol Jihu viu Kim Hannah abaixar a cabeça daquela forma.

    — Esse garoto entrou no Paraíso só em março deste ano, então… Ele ainda não sabe de nada…

    Uma certa luz cintilou nos olhos da mulher.

    — Entendo.

    Ela então formou um sorriso gentil e acolhedor.

    — Se quiserem um lugar tranquilo para conversar, podem entrar.

    — …C-Como é?

    Kim Hannah respondeu de imediato, com o rosto atônito.

    — M-Mas, e a ordem de restrição?

    — Estarei sempre de braços abertos se quiserem me visitar como clientes.

    A mulher respondeu com um sorriso suave, juntou educadamente as mãos à frente do corpo e se virou. Em seguida, entrou pela entrada lateral sem dizer mais nada. Seu vestido branco era decotado nas costas e revelava quase tudo, mas em vez de parecer vulgar ou ousado demais, ela passava um ar refinado e digno pelo jeito como andava e se portava.

    — Puha!

    Seol Jihu ficou olhando para aquele dorso como um homem enfeitiçado, mas recobrou os sentidos no momento em que Kim Hannah soltou o ar com força.

    — Você… O que exatamente aconteceu aqui?

    Na verdade, era isso que ele queria perguntar a ela. Não… ele tinha uma porção de outras perguntas também.

    — Quem é ela?

    Quando respondeu com uma pergunta, Kim Hannah soltou um longo e pesado suspiro, como se dissesse: ‘Eu já imaginava’.

    — É, não tinha como vocês se conhecerem.

    — E também… o que era aquilo sobre uma ordem de restrição?

    — Não precisa saber.

    Kim Hannah cortou o assunto ali mesmo, lambendo o lábio inferior. Seu rosto parecia não saber se estava sonhando ou acordada.

    — Certo, por enquanto, vamos entrar.

    — Quer mesmo entrar?

    — Ora, ela nos convidou. Acha que aparece uma chance dessas todo dia?

    Slap!

    Ela deu um tapa no próprio rosto e retomou a postura de sempre imediatamente.

    — E além disso, lá dentro a gente vai poder conversar com calma.

    — …Isso tem a ver com essa tal ordem de restrição?

    — Tem sim. Que reviravolta, hein. E pensar que eu tô entrando nesse lugar graças a você.

    Ela disse isso enquanto entrava com cautela pela porta lateral. Seol Jihu também se apressou atrás dela.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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