Capítulo 111: Um Líder de Nível 2 (1/5)
— Isso não pode continuar.
Essas foram as primeiras palavras que Kim Hannah disse em um bom tempo. Ela enfiou a mão na bolsa.
— Eu realmente, honestamente, não queria interferir na sua vida aqui no Paraíso. Fiquei em dúvida sobre te entregar isso ou não. Mas agora, não posso deixar você continuar desse jeito.
Ela falou com firmeza, como se estivesse fazendo um anúncio final, e colocou algo sobre a mesa. Era um cristal de comunicação redondo, do tamanho da palma da mão, completamente transparente.
— É um cristal de comunicação. É feito com cristal-base de altíssima qualidade, então vai funcionar mesmo quando você estiver em Haramark. Da próxima vez que for a algum lugar, qualquer lugar, você me liga antes. Entendeu?!
Seol Jihu quase soltou um ‘Você não é minha mãe’, mas, ao ver o olhar assassino no rosto dela, preferiu não reclamar. Infelizmente para ele, Kim Hannah não era do tipo que aceitava silêncio como resposta.
— Por que ainda não pegou o cristal?!
Chacoalha, chacoalha.
— Hã? Hãã?? Como ousa balançar a cabeça pra mim?? Acha que tem moral pra isso??
— Bom, isso é um pouco demais, né? Você não é minha mãe, então ter que pedir permissão toda vez que eu quiser fazer algo… é meio demais…
Seol Jihu expressou sua insatisfação com cuidado, mas então…
— Não, espera aí. Não tô dizendo que não vou aceitar, viu.
Ele se apressou em enfiar o cristal de comunicação no bolso no instante em que o rosto furioso de Kim Hannah começou a se inclinar pro lado.
— …Não pense que estou sendo injusta. Foi você quem quebrou a promessa primeiro.
Seol Jihu não soube o que responder.
— Você quase me matou de susto, sabia?! Eu nem teria ficado tão irritada se você tivesse ido pra ‘Ramman’, mas Floresta da Negação? Vale de Arden?!
O rosto de Kim Hannah oscilava entre vermelho e azulado, como se ela ainda não acreditasse no que tinha acontecido quanto mais pensava no assunto.
— Não só foi pro ponto mais ao sul, como foi pra região de fronteira! É um milagre você ter voltado vivo, seu idiota!!
Seo Yuhui assentia o tempo todo, trazendo o copo de água gelada.
“O quê… você também?”
Ele achava que ela estava irritada por estarem fazendo escândalo ali. Sentindo-se como no ditado ‘quem apanha da sogra e odeia mais a cunhada que tenta apartar’, Seol Jihu começou a fazer bico.
— É bom guardar esse beiço aí, entendeuuu?
Kim Hannah rosnou de forma ameaçadora. Em seguida, começou a beber a água gelada para tentar esfriar a raiva que queimava como metal derretido em seu peito.
O que o jovem não conseguia entender naquele momento era, deixando de lado o temperamento de Kim Hannah, por que diabos Seo Yuhui também estava bebendo água gelada?
Ela engolia e engolia, e então…
— …Ha-ah…
Suspirava suavemente, e…
Gulp, gulp!!
— …Fuu-woo…
Suspirava de novo.
As duas pareciam estar se esforçando ao máximo para engolir algo e suprimir o que fosse. Então, tudo o que ele podia fazer agora era ficar calado e esperar.
O ambiente passou a ser preenchido apenas pelos suspiros e arfadas de duas mulheres tentando se acalmar.
Provavelmente tentando se encher de água gelada, Kim Hannah chegou a esvaziar seis copos. Só então voltou a falar.
— …Certo, então. Por que você veio me procurar?
Finalmente chegaram ao assunto principal. Com medo de ser massacrado com mais sermão, Seol Jihu tirou rapidamente o enfeite em forma de árvore do bolso.
— Dá uma olhada nisso. O que acha?
Os olhos de Kim Hannah se arregalaram.
— É bem grande e… bonito.
Ela o analisou de vários ângulos antes de assentir com a cabeça, claramente achando o objeto de seu agrado.
— É bem grande, mas mais do que isso, não consigo ver nenhuma impureza. Em termos de pureza, é de primeira. E com esse nível de artesanato, qualquer entusiasta vai surtar assim que botar os olhos nisso.
— Quanto acha que vale?
— Se for em moeda do Paraíso, no mínimo 300 moedas de prata, fácil. Com sorte, pode até mirar nas 500.
— E em dinheiro da Terra?
— Seria uma quantia enorme, sem dúvida. Mas pra levar isso pra lá, teria que gastar uma quantidade absurda de pontos de conquista, então não recomendo.
Kim Hannah voltou o olhar pra ele.
— Foi por isso que veio me ver?
— Foi.
— Muito bem. Me dá isso aqui. Vou cuidar pessoalmente.
Kim Hannah enfiou rapidamente a joia no bolso.
— Um item desses, se for vender pelo valor de mercado, na verdade você sai no prejuízo.
— Quer dizer que dá pra usar isso de outra forma?
— Exatamente. Mas não se preocupe. Vou garantir que você não saia perdendo.
Ele realmente não se preocupava com isso. Ela era alguém que entregava centenas de milhões de won como trocados, então não ia simplesmente fugir com a joia. Além disso, a Kim Hannah que ele conhecia era esperta pra caramba.
— Parece que posso transformar uma situação perigosa numa oportunidade. Certo, isso fica resolvido. E sobre passar no templo?
— Eu sou Nível 2 agora.
Como se estivesse esperando por esse momento, ele fez um ‘V’ com os dedos, orgulhoso.
— Aham. Super legal, né.
O tom nada impressionado de Kim Hannah o derrubou na hora.
— Depois de tudo isso que você fez, é claro que ia subir de nível. Já gastou os pontos?
— Ainda não. Quero usar todos mais tarde.
— Ótimo. Ah, e qual é o novo título da sua classe?
— Guerreiro da Lança de Mana.
— Sabia que era guerreiro da lança… Como é que é?
Kim Hannah franziu levemente a testa.
— É pra ser uma classe única.
— Uma classe única? Então, que habilidades você aprendeu?
— Nenhuma. Achei que seria melhor entender tudo por conta própria do que gastar meus pontos pra aprender alguma coisa artificialmente.
Kim Hannah mordeu o lábio inferior devagar. Sua expressão deixava claro o quanto ela estava duvidando daquilo.
— Uma classe única, é…
Ela tamborilou levemente a mesa com o dedo indicador antes de abrir a boca.
— Não consigo imaginar que tipo de classe seria a sua. Olha, tudo bem se for depois, mas você devia passar no templo de novo e ver quais habilidades pode aprender.
— Mas…
— Eu sei o que vai dizer. Mas escuta: você devia pelo menos olhar as habilidades disponíveis pra usar como referência. Essas habilidades são feitas pra acompanhar seu nível, então com certeza você pode tirar alguma inspiração disso.
O que ela dizia fazia sentido.
— Eu entendo o motivo de querer guardar seus pontos, mas habilidades são outro assunto. Quero dizer, se você não gasta os pontos e nem aprende uma única habilidade, qual o sentido de subir de nível, então?
Kim Hannah apontou algo que Seol Jihu nem tinha parado pra pensar. Em seguida, ela enfiou a mão na bolsa novamente. O cristal de comunicação dela estava emitindo luz mais uma vez.
— Estão completamente loucos por lá. Sério.
Ela estalou a língua com irritação antes de continuar.
— Tem mais alguma coisa que queria me dizer?
— Não, não tenho. Se você tá tão ocupada, pode ir.
— Não precisa de mais dinheiro?
— Nah, tô tranquilo.
— Quanto ainda tem?
— As 100 pratas que você me deu, mais 270 pratas que ganhei como recompensa da missão. Então, 370 moedas de prata no total.
— Heh-eh.
Kim Hannah demonstrou surpresa.
— Pra recompensa de uma única missão de reconhecimento e uma escaramuça menor, te deram bastante, hein?
— Você acha? Eu nem consigo entender direito isso.
— Vamos ver. A cotação atual tá por volta de 505 won por moeda de cobre. Vamos arredondar pra 500 won e…1
Kim Hannah fez as contas por alguns segundos e então voltou a falar.
— 135 milhões de won.2
O queixo de Seol Jihu quase caiu no chão.
— Era tudo isso?!
— Bom, você tava arriscando a vida, então claro que tinha que receber pelo menos isso. Um time como Carpe Diem, com um Alto Ranker, deve ganhar fácil de 100 a 200 milhões por missão.
Só então ele entendeu por que Chohong estava tão animada.
— Mesmo assim, não vá sair gastando à toa, entendeu? Conforme você sobe de nível, o preço dos equipamentos adequados pro seu nível também sobe. Sem contar que o Paraíso está em guerra há bastante tempo, então a inflação de certos itens tá absurda.
Depois de Seol Jihu assentir, mostrando que entendeu a explicação, Kim Hannah também se levantou devagar.
— Obrigada pelo chá delicioso, Senhorita Seo Yuhui. E peço desculpas por aquele escândalo mais cedo, mesmo você tendo sido tão gentil em nos receber.
— Ah, não foi nada. Você se saiu bem. Parece que já sofreu o bastante.
— Ah, de jeito nenhum.
Seol Jihu semicerrava os olhos ao observar Kim Hannah e seu risinho educado e delicado. Agora ele entendia por que algumas pessoas a chamavam de ‘Senhorita Raposa’.
Algum tempo depois…
Kim Hannah deu uma última bronca, algo como ‘Tô indo. Melhor sairmos separados. Se você não me ligar com frequência, pode apostar que eu mesma vou te caçar e te dar uns tapas’, e saiu do prédio com passos firmes.
Depois que ela foi embora, só restaram os dois na casa de chá vazia. Seol Jihu também se levantou devagar para sair, mas então sentiu um olhar cravado nele. Era tão intenso que ele teve que parar completamente de se mover.
Seu pescoço emitiu um rangido enferrujado ao se virar de lado. Seo Yuhui o encarava em silêncio com um par de olhos ligeiramente marejados, carregando um toque de tristeza. Como se uma brisa gelada tivesse passado por ele, um arrepio percorreu todo o seu corpo. Aquela sensação de irmã mais velha gentil e compreensiva havia sumido por completo, a ponto de ele sentir medo dela de repente.
“Ela tá com raiva de mim?”
Mas, quem fez todo aquele escândalo foi a Kim Hannah, não foi? E ela mesma não disse que estava tudo bem há poucos segundos? Apesar de se sentir um pouco injustiçado, Seol Jihu decidiu pedir desculpas.
— Desculpa pela confusão de antes.
— …
Seo Yuhui fechou os olhos com força. Sua mão pálida subiu lentamente até cobrir o rosto.
Pouco depois, ela pegou uma toalha de chá limpa e deu a volta pelo balcão. Seus passos a levaram até bem na frente do jovem.
Acontece que ela era até alta. Seol Jihu já era um cara alto por natureza, e mesmo assim, o topo da cabeça dela alcançava até a base do pescoço dele.
Ao ver a toalha na mão dela, ele finalmente se lembrou de que ainda estava com o rosto todo molhado pelo chá que Kim Hannah tinha cuspido.
— N-Não, espera. Eu posso…
— …Fique quieto.
Ela ordenou suavemente, e então levantou lentamente a mão para limpar o rosto dele com cuidado. A pele dele encostava de leve na dela de tempos em tempos; sua mão era fria ao toque. Curiosamente, embora fosse fria, a sensação parecia quente, fazendo com que ele gradualmente entrasse em um estado de completo relaxamento. Seol Jihu fechou levemente os olhos.
— …Tô um pouco irritada, sim.
Do nada, ele ouviu sua voz suave, como se ela estivesse falando consigo mesma. Por um instante, ele duvidou do que ouvira. Será que ela estava tão irritada com o que houve? Tinham feito tanto barulho assim?
Ele queria se desculpar de novo, mas ela começou a limpar cuidadosamente os cantos da boca naquele exato momento, então ele não conseguiu abrir a boca pra falar.
— Você fez alguma coisa contra a Sinyoung?
Ela de repente fez essa pergunta.
— Não, de forma alguma. Na verdade, ajudei eles. Não fiz nada de ruim pra eles.
— Se é assim, então por quê?
— É porque a Sinyoung me vê como o substituto de um Terrestre chamado Sung Shihyun… Mas, pra ser sincero, nem eu sei direito os detalhes.
As mãos dela hesitaram por um breve instante, mas logo voltaram a se mover.
— Parece que você tá trabalhando em Haramark?
— Ah. Sim. Me disseram que a capital é praticamente a sala de estar da Sinyoung, então não era bom eu ficar mais aqui.
— Entendo. Mas imagino que a vida em Haramark não seja fácil. Estou curiosa… tem algum motivo especial pra você continuar voltando ao Paraíso?
Seol Jihu também ficou curioso com o porquê de ela estar o interrogando daquele jeito logo no primeiro encontro. Ainda assim, decidiu ser honesto nessa parte.
— É porque eu gosto desse lugar.
— Gosta? Aqui é divertido?
— Bem, não é exatamente ‘divertido’… Mas o Paraíso é um lugar onde eu sinto que pertenço.
— Um lugar pra você?
Seo Yuhui inclinou a cabeça. Parecia não ter entendido.
— Sim. Aqui tem pessoas que me aceitam como eu sou e precisam da minha ajuda.
Seol Jihu sorriu, radiante. A testa impecável de Seo Yuhui foi lentamente se franzindo. Ela retirou as mãos com delicadeza e o observou em silêncio. Havia até um leve indício de que ela estava ficando irritada.
— E com isso, está dizendo que não existe mais um lugar pra você na Terra?
— Sim, bem…
Seol Jihu sorriu sem jeito e coçou a parte de trás da cabeça. Seo Yuhui balançou a cabeça, com a expressão pesada.
— Isso não é verdade.
Ela falou como se estivesse o repreendendo.
— Sua família e seus amigos não estão aqui no Paraíso.
— …
— Por favor, pense em como sua família e seus conhecidos vão ficar preocupados quando você desaparecer de repente.
O tom da voz de Seo Yuhui deixou de ser persuasivo e passou a soar mais como um apelo. No entanto, a resposta de Seol Jihu foi bem morna.
Quando ela mencionou sua família, ele sentiu o peito apertar, como se tivesse engolido uma pedra. Ficou tão pesado que ele simplesmente quis sair correndo dali.
“E eu tinha acabado de conseguir esquecer deles.”
Ele honestamente acreditava que eles provavelmente prefeririam nunca mais vê-lo.
— Bom, sei lá. Não acho que eles se preocupariam tanto assim comigo.
— Mas por que você…
— …É, essa é uma conversa bem estranha pra dois desconhecidos, né? Haha.
Ele deu uma risada amarga e deu alguns passos para trás.
— Obrigado pela hospitalidade. Acho que ficar mais tempo aqui vai acabar sendo um incômodo pra você, então já vou indo.
Seol Jihu se curvou levemente em despedida e, como se estivesse fugindo, se virou de costas. Seo Yuhui esticou a mão por reflexo, mas…
— …Ah.
Ela parou pouco antes de tocá-lo. No fim, só pôde ficar parada ali, observando o jovem sair pela porta aberta.
Pouco depois…
Ainda encarando na direção por onde o jovem havia saído, uma luz misteriosa de determinação brilhou nos olhos de Seo Yuhui.
— …Haramark.
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