Índice de Capítulo

    Tendo se despedido de Agnes, Seol Jihu arrastou seu corpo espancado até uma forja. O dono quase teve um troço ao ver o estado do rosto do jovem, mas mesmo assim, o serviço foi rapidamente resolvido. Ao retornar ao escritório da Carpe Diem, encontrou Dylan e Hugo à sua espera.

    — Onde você estava? E isso aí?

    — Lanças de arremesso.

    — Ah. Você tá tentando praticar arremesso de lança… Espera aí. O que aconteceu com o seu rosto?! Alguém te bateu?

    Dylan perguntou, apressado. Seol Jihu tentou disfarçar com uma risadinha constrangida, mas Hugo ficou revoltado.

    — Seol! Quem foi o filho da puta?! Como alguém ousa encostar a mão num membro da Carpe Diem?!

    — Não, tá tudo bem. Não se preocupa.

    — Tá, mas me fala quem foi! Prometo que quebro as duas pernas dele!

    — F-Foi a senhorita Agnes.

    Hugo estava pronto para a guerra, com as mãos enormes apertando o cabo da alabarda, mas então ficou completamente paralisado.

    — Q-Quem?

    — A senhorita Agnes.

    — Você tá falando da Agnes Claire?

    — Isso, ela mesma. Mas não faz nada, tá? A culpa foi minha, afinal.

    — É-é mesmo? Se você tá dizendo, então não tem jeito, né!

    Hugo tossiu alto e discretamente largou a alabarda antes de desaparecer rapidamente da vista. Dylan sorriu calmamente, saboreando o chá.

    — Estou bem surpreso. Além de conhecer a Agnes, você ainda sobreviveu aos golpes dela.

    — Ahaha. Deixa isso pra lá. Você não queria falar comigo sobre alguma coisa?

    Seol Jihu quis mudar de assunto de qualquer jeito, então colocou as lanças no chão e perguntou.

    — Hm. Quer uma xícara?

    — Tô de boa.

    Seol Jihu recusou com educação e se acomodou no sofá. Dylan deu outro gole no chá e começou:

    — Recebemos uma missão.

    — Da Sicília?

    — Isso é pra mim e pro Hugo. Veja bem, há pouco tempo, a realeza emitiu uma missão de alto sigilo. Eles contataram a Sicília, mas estavam com pessoal insuficiente, então pediram nossa ajuda.

    — Se até a Sicília tá com falta de gente pra essa missão, então…

    — Só pode ser uma missão pra Altos Rankers e acima. Na verdade, foi difícil convencerem a aceitarem o Hugo. Só deixaram porque eu disse que, como sou um Arqueiro, precisava de um Guerreiro de confiança pra me dar cobertura.

    Ou seja, Seol Jihu e Chohong não podiam participar, mesmo que quisessem.

    — Então acho que eu e a Chohong ganhamos férias inesperadas.

    — Bom, na verdade, temos outro trabalho em mãos. É uma missão da vila de Ramman.

    Os olhos de Seol Jihu se arregalaram só de ouvir ‘missão’. Se fosse só uma entrega, não haveria necessidade de uma conversa dessas.

    — O quanto você sabe sobre a vila de Ramman?

    — Fica ao sudeste de Haramark, a meio dia de viagem. Uma vila com algumas centenas de Paraisianos. É tudo que sei.

    Dylan assentiu.

    — Parece que você já sabe o básico. Então vou direto ao ponto. É um pedido de extermínio de monstros.

    — Extermínio, é?

    — Veja, Ramman sofre com surtos periódicos de monstros. Por causa disso, essas missões acabam sendo bem comuns.

    Seol Jihu inclinou a cabeça.

    — Quando você diz que é algo periódico, isso não quer dizer que existe uma colônia ou ninho por perto?

    — Exatamente.

    Dylan deu um tapa leve no joelho, sinalizando que o jovem acertou em cheio o ponto-chave.

    — Os monstros já foram repelidos dezenas de vezes. O reino até formou forças de subjugação várias vezes. A gente consegue vencer as hordas, mas só isso. Procuramos por todo lado e nunca encontramos de onde eles vêm. Mesmo considerando que a região de Haramark não é a mais estável, isso simplesmente não faz sentido.

    — Isso quer dizer que, mesmo exterminando eles agora, eles vão voltar no futuro?

    — Ainda assim, precisamos eliminar os que estão aparecendo agora. Na verdade, a vila de Ramman quer que resgatemos os moradores desaparecidos e descubramos a origem do surto de monstros. Mas isso não é estritamente necessário. Então, o que me diz?

    — E a Chohong? O que ela achou?

    — Seol, tô perguntando pra você.

    Dylan baixou ligeiramente a voz.

    — Se topar, estou pensando em te deixar no comando dessa missão.

    — Mas eu nem sou um Arqueiro.

    — O Arqueiro assume o papel de ‘guia’. Claro, muitos acabam sendo guia e líder ao mesmo tempo. Mas também é normal essas duas funções ficarem com pessoas diferentes.

    O papel do guia era liderar a equipe na direção correta durante uma expedição. Já o líder era quem cuidava de todos os aspectos do grupo, desde o planejamento até os preparativos.

    — Achei que só dava pra formar um grupo de expedição a partir do Nível 4? E também precisava da permissão da família real, não era?

    — Isso não é uma expedição, é uma exploração. Você está mais do que qualificado pra liderar isso.

    Quando Seol Jihu demonstrou uma surpreendente falta de confiança, Dylan abriu um sorriso largo e continuou:

    — Achei que você queria montar seu próprio time no futuro? Tô errado?

    — Ah?! Você descobriu?

    — Hehe. Nesse caso, acho que essa missão é a chance perfeita pra você ‘estrear’. Pode parecer um trabalho simples, mas quando você estiver no comando, vai aprender muita coisa. Foi assim comigo também.

    Dylan pousou a xícara na mesa.

    — Então, e aí? Vai encarar?

    Seol Jihu respondeu na hora:

    — Com certeza.


    Ele iria liderar sua primeira missão.

    A missão em si não era tão difícil quanto a expedição de reconhecimento na Floresta da Negação, tampouco tão intensa quanto a defesa da Fortaleza de Arden, mas ainda assim, Seol Jihu estava mais do que motivado pelo simples fato de que, pela primeira vez, ele estaria no comando.

    Como não se tratava de uma ‘expedição’ e sim de uma ‘exploração’, as coisas não deveriam ser tão complicadas. Para começar, não precisariam se preocupar com suprimentos, já que poderiam montar uma base diretamente na própria vila de Ramman. Carregadores e carroças também poderiam ser contratados localmente.

    O verdadeiro problema estava na formação da equipe. Já tinham dois Guerreiros, então só precisavam de mais um membro. Conseguir um Arqueiro disposto não era difícil. Já um Mago… isso era impossível desde o início, então essa parte da busca nem foi considerada.

    Não, o verdadeiro desafio era recrutar um Sacerdote. Não importava se era uma expedição oficial ou um grupo improvisado, ter um Sacerdote era indispensável.

    — Caramba, o que ele espera da gente, afinal?

    Chohong resmungava com um cigarro pendurado nos lábios. Ela tinha acabado ficando como parceira de Seol Jihu, o que significava que também compartilhava da frustração com a situação.

    — Ei, será que a gente precisa mesmo de um Sacerdote? Tipo, não dá só pra dar uma disfarçada e aparecer por lá? Eu consigo cuidar daqueles monstros sozinha.

    Os resmungos impacientes de Chohong arrancaram um sorriso amargo de Seol Jihu. Se estivessem com pressa, talvez até pudessem fazer isso. Mas a qualidade da equipe cairia muito.

    A não ser que fosse um Terrestre desesperado vivendo de pagamento em pagamento, nenhum Guerreiro ou Arqueiro habilidoso se juntaria a um grupo que não tivesse um Sacerdote. Num mundo onde um momento de descuido podia significar a morte, ninguém queria arriscar.

    Mais importante ainda, esta era a primeira vez que Seol Jihu liderava algo. Queria garantir que fosse um sucesso. Não queria improvisar demais nem ser inconsequente se pudesse evitar.

    “Só um grupo com Sacerdote atrai membros de qualidade.”

    Foi onde seus pensamentos o levaram, e ele se levantou do sofá.

    — Onde você vai?

    — Recrutar um Sacerdote.

    — Vai? Como?

    — Vou tentar. Ainda temos tempo, né? Se não der certo, a gente faz como você sugeriu.

    Deixando Chohong com os olhos arregalados, Seol Jihu entrou no quarto. Pegou o cristal de comunicação pensando que também podia aproveitar para cumprir a promessa e pedir conselhos ‘a ela’.

    Pouco depois…

    — Vila de Ramman, é?

    — É. Chegou uma missão.

    — Oooh. Então você tá com tanta vontade de ir pro sul assim.

    — Para de se preocupar tanto. Não é na região de fronteira. E, além do mais, não dá pra viver sempre fazendo só o que a gente quer.

    Seol Jihu juntou as mãos e implorou para Kim Hannah. Ela bufou, descontente, mas não disse que ele estava proibido de ir.

    — Hmm. Então você tá procurando um Sacerdote… Vai ser difícil encontrar, com certeza. Se fosse a Carpe Diem inteiro participando, seria outra história. Mas se é só você e a Chung Chohong, vai ser difícil depender da fama do grupo.

    — Por isso tô pedindo seu conselho. Não tem um jeito de resolver isso?

    — Bom, até tem um.

    — Sério? Tem mesmo?

    O rosto de Seol Jihu se iluminou ao ouvir as palavras de Kim Hannah. Mas, quando ela explicou os detalhes, ele logo franziu a testa.

    — Ela tava na cidade?

    — Não te falei antes? A base dela é em Haramark.

    — Falou? Enfim, não sei se ela vai querer ajudar. Ainda tem aquela dívida antiga, lembra?

    — Você já lidou com ela antes, então deve saber bem: ela é extremamente calculista e materialista.

    Seol Jihu concordou na hora.

    — É verdade, mas gastar moedas de prata por uma exploração desse porte é meio…

    — Não pense nisso como gastar dinheiro à toa. O único ponto fraco da Carpe Diem é não ter um Sacerdote. Sabe quanto sofrimento os outros grupos enfrentam pra encontrar um Sacerdote adequado quando planejam expedições?

    Ela continuou, enfática:

    — E não esqueça: é difícil achar uma Sacerdote tão habilidosa quanto ela. Aproveite essa oportunidade pra construir uma relação pessoal. Tenho certeza de que, assim que ela perceber que trabalhar com você é vantajoso, vai topar na hora.

    Seol Jihu entendeu a lógica. Um Sacerdote era quase tão raro quanto um Mago, e ela estava dizendo que valia a pena investir desde já pensando no futuro. Ele assentiu lentamente.

    — Tá certo, entendi. Vou falar com ela, então. Mal não vai fazer, de qualquer forma.

    — Isso mesmo. Aposto que ela vai dizer sim, a menos que tenha algum problema. Afinal, é uma das poucas que conhecem seu verdadeiro valor. No mínimo, ela não vai bater a porta na sua cara.

    — Já é um começo, e ajuda. Valeu, mãe.

    — Não esquenta com isso. Se mais alg… Ei, como é que é?!

    Seol Jihu rapidamente encerrou a comunicação. O brilho do cristal se apagou… mas, um segundo depois, começou a brilhar de novo. Ele apenas riu para si mesmo e saiu do escritório da Carpe Diem.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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