Capítulo 116: Um Mistério (1/3)
Trazer Maria para o grupo foi uma excelente escolha em vários aspectos.
Existiam dois deuses que os Sacerdotes serviam. O primeiro era a Ordem da Luxuria, a deusa da luxúria, responsável por magias de cura, dissipação e suporte.
O segundo era a Ordem da Inveja, a deusa da inveja, que preferia repelir os inimigos com poderes sagrados e dominar as operações da magia de adivinhação.
Chohong era uma Terrestre que havia trilhado dois caminhos separados, o da Inveja e o da Ira. Maria, por outro lado, seguia sozinha o caminho que a Luxuria havia traçado desde que era Nível 1.
Um Sacerdote já era tratado como um aristocrata no Paraíso, mas um Sacerdote especializado em cura era valorizado quase no mesmo nível de um Mago.
Como os Terrestres tinham uma tendência a priorizar a própria vida acima de tudo, uma Alta Sacerdote Nível 4, capaz de curar ferimentos comuns com um mero estalar de dedos, fazia com que todos reagissem positivamente a um grupo que tivesse um Sacerdote assim como membro central. Eles até se esforçavam para agir da forma mais amigável possível.
Seol Jihu conseguiu recrutar uma Sacerdote, mas não parou por aí. Seu próximo destino foi a biblioteca da cidade, em vez de voltar para o escritório da Carpe Diem.
Não importava qual fosse a cidade, a biblioteca podia ser considerada o repositório de todas as informações acumuladas. O pedido de extermínio da Vila Ramman ocorria com frequência, então ele imaginou que devia haver registros anteriores da missão, assim como o relatório de Alex sobre o aparecimento da Toupeira foi parar no quadro de avisos da cidade logo em seguida.
Chohong, como sempre, estava cheia de confiança, declarando em voz alta que bastava parecerem competentes, pois ela sozinha seria suficiente para varrer todos os inimigos. No entanto, Seol Jihu não podia aceitar isso com tanta facilidade.
Ele havia desenvolvido um certo hábito desde que quase morreu durante o cerco dos esqueletos na Zona Neutra. E esse hábito era se preparar ao máximo possível em situações que envolviam risco à própria vida.
Assim, enquanto se aprofundava na busca por informações relevantes, acabou encontrando alguém bastante inesperado na biblioteca.
— Hoh? Não esperava te ver aqui, meu rapaz.
Um homem mais velho, com barba grisalha e usando um chapéu cônico típico de magos, estendeu a mão para um aperto.
— Ah, olá.
Seol Jihu apertou educadamente a mão oferecida.
— Também fiquei surpreso em ver o senhor aqui. O que o traz à biblioteca da cidade, Mestre Ian?
— Ehehe. Acho que você pode ser o único Terrestre da história a perguntar a um Mago o que ele está fazendo numa biblioteca.
Ian deu uma risadinha e devolveu a pergunta.
— E então, como tem passado?
— Bem, nada demais. Experimentei trabalhar como entregador e continuo treinando todos os dias também.
— Que bom saber que está levando uma vida tranquila até agora. Ah, certo. Você recebeu a lança?
— Ah, isso. Acabei esquecendo completamente de agradecer ao senhor e à Princesa Teresa por ela. Como ela está?
— Não se preocupe com ela. A Princesa Teresa continua toda rosada, se é que me entende.
Ian lhe lançou uma piscadela sugestiva. Em seguida, sorriu ao ver o jovem se atrapalhar um pouco com a insinuação de duplo sentido da palavra ‘rosa’, antes de se inclinar para sussurrar algo mais.
— Fufufu. Isso é um segredo que só eu sei, mas permita-me compartilhá-lo com você.
Antes que percebesse, Seol Jihu estava prestando atenção nas palavras do homem mais velho.
— A verdade é que existem muitas, muitas variações da cor rosa.
— …Hã?
— Por exemplo… A cor da Princesa Teresa é bem mais próxima de um ‘rosa bebê’. Sim, sim. Mm, mm.
— …Mestre Ian.
— Oopsie. Só estava te provocando. Uma piada de mau gosto de um velho. Com certeza eu não usei um feitiço de raio-x pra confirmar, então não me olhe desse jeito. Se fizer essa cara, parece que é um completo estranho e isso me assusta um pouco.
Ian agitava as mãos e gargalhava alto. Seol Jihu apenas soltou um suspiro. Tinha baixado a guarda e sido enganado de novo.
— Tenho certeza de que ela não se incomoda com brincadeiras normais, mas não é um pouco demais fazer insinuações sexuais com uma princesa?
— Você diz isso porque não sabe como ela é de verdade.
— ?
— Hoje mesmo, fiz uma piadinha com ela e ela respondeu ‘O seu nem levanta mais, então por que tá me perguntando isso?’ Pra ser sincero, fiquei meio magoado.
— …
A essa altura, Seol Jihu já tinha até esquecido o que queria dizer.
— Certo, chega de papo furado. O que te trouxe aqui?
— Bem, recebi uma missão, então estava procurando informações relacionadas.
Seol Jihu manteve um certo cuidado com o homem mais velho ao responder.
— Uma missão?
— Sim, é um pedido emitido pela Vila Ramman.
Um certo brilho passou pelos olhos de Ian.
— Dylan e Hugo não devem poder participar dessa. Isso quer dizer que é você e Chohong que vão formar a equipe?
— Basicamente, sim. Mestre Ian, o senhor também soube disso?
— Estou participando dessa missão, então sim, estou por dentro. Dylan te deu o papel de líder, então?
Hmm, hmm… Ian assumiu uma expressão um tanto contemplativa, mas então, de repente, formou um sorriso misterioso.
— Fufufu. Ah, Dylan, seu safado…
Murmurou consigo mesmo e voltou o olhar para o jovem.
— Meu rapaz. Pode me conceder um tempinho? Só preciso de uns cinco minutos.
— Claro.
— Certo. Já volto, então por favor me espere.
Com uma expressão séria agora estampada no rosto, Ian se apressou, indo de um lado para o outro dentro da biblioteca. E exatamente cinco minutos depois, ele retornou, carregando um monte de pergaminhos e diversos documentos nos braços.
— Pegue isso. Esses são todos os registros históricos relacionados à missão de extermínio que você vai realizar. E isso aqui…
O homem mais velho puxou um livro absurdamente grosso, justo quando Seol Jihu mal conseguia segurar tudo aquilo.
— Este aqui é o registro histórico da região. Não precisa ler tudo, é claro. Coloquei um marcador em algum ponto no meio, então só precisa dar uma olhada por ali.
— Colocou?
— Mm. Já faz muito tempo, mas veja bem, eu também participei da missão de extermínio antes. A questão é que o caso da Vila Ramman é um dos mistérios mais intrigantes de Haramark, então, em certa época, eu me interessei bastante por resolvê-lo, entende?
Ian soava filosófico.
— Bem, no fim das contas, deu tudo errado. Na época, achei que tinha encontrado uma pista bem sólida, e estava confiante das minhas suspeitas. Mas no fim, ainda assim, não consegui descobrir a origem.
— Até agora, todo mundo está me dizendo a mesma coisa. Provavelmente vou acabar igual ao senhor.
— Será mesmo? Vamos ter que esperar pra ver, né?
Seol Jihu sorriu, meio sem graça, enquanto Ian acariciava a barba em contemplação.
— A gente ter saído vivo da Floresta da Negação, aquela famosa zona proibida, e depois, termos recuperado milagrosamente a fortaleza que todos achavam estar perdida… ambos foram eventos que ultrapassaram em muito a imaginação comum.
— Agradeço pelas palavras gentis, mas acho que só tive sorte.
— Não, nada disso. Foi graças às suas ações que ambos aconteceram, não à sorte.
Ian exibiu uma expressão calorosa.
— Me desculpe por te sobrecarregar ainda mais com isso. Mas, se conseguir resolver esse mistério, será como ajudar a estabilizar toda a região de Haramark, então deve conseguir uma boa quantidade de pontos de conquista. E a família real talvez também te recompense com algo a mais.
— Eu me sentiria muito mais confiante se o senhor pudesse nos acompanhar, Mestre Ian.
— Eu adoraria fazer isso. Infelizmente, tenho um compromisso anterior que preciso cumprir. Até a Sicília está envolvida agora, então vai ser difícil me livrar dessa.
— Nesse caso, não tem jeito. Obrigado por esses registros. Vou estudá-los agora mesmo.
Seol Jihu sorriu com naturalidade.
— Vou rezar pelo seu sucesso.
Ian levantou o punho cerrado bem alto e o incentivou com entusiasmo.
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