Índice de Capítulo

    Na manhã seguinte.

    Como prometido, Seol Jihu se encontrou com Maria. Se havia algo com o qual ele não havia contado completamente, era o traje dela: aparentemente, usava apenas uma camisa branca larga, provavelmente muito, muito fácil de se mover com ela. E, em segundo lugar, o fato de que ela também era uma velha conhecida de Chohong. Não de um jeito positivo, diga-se de passagem.

    Hiya… então era verdade. O que será que deu na senhorita ‘Amo Dinheiro’ pra aceitar participar da nossa missãozinha?

    Essas palavras foram o primeiro disparo verbal de Chohong assim que viu Maria. Esta apenas arqueou levemente a sobrancelha ao ouvir aquelas palavras carregadas de sarcasmo, antes de formar um sorriso refrescante.

    — Oh? Eu tava esperando alguém decente, já que disseram que um membro da Carpe Diem ia se juntar. Acontece que era só a idiota sem cérebro famosa por ser cabeça-dura.

    — Essa sua boca solta continua igualzinha. Fico curiosa: será que ainda vai conseguir tagarelar feito passarinho se eu abrir essa sua boca à força?

    — Bom, com certeza minha boca não é tão solta quanto aquela tua outra boca. Não quer abrir essa cabeça vazia e provar pro mundo que não tem nada dentro?

    Veias saltaram na testa de Chohong. Um sorriso ameaçador de fera surgiu em seus lábios, com os dentes à mostra.

    — Tá vendo? Eu disse. Ela é uma vaca. A boca dela é um lixão.

    — Ah, sim, meus lábios são meio sujos. Mas não são tão frouxos quanto os seus lábios de baixo.

    — Chega, por favor, chega! Chohong, você também!

    Seol Jihu se apressou em se enfiar entre as duas mulheres ‘sorridentes’ e suas metralhadoras verbais. Chohong já tinha puxado sua maça, enquanto Maria ‘acariciava’ com ternura um crucifixo nas mãos. Se as deixasse sozinhas, com certeza ia começar uma briga.

    — Heng.

    — Hmph!

    As duas viraram o rosto para lados opostos, e os ombros de Seol Jihu afundaram cada vez mais. Sentia que tudo estava indo pelo caminho errado desde o começo.

    Mas seu estado de desânimo durou pouco. Quando entrou na taverna com as duas mulheres ao lado, Seol Jihu percebeu que, num instante, toda a atenção dos clientes se voltou para ele. Era parecido com quando saía com Yoo Seonhwa.

    Na verdade, ele teve que se posicionar entre as duas para evitar uma briga. Mas isso também significava que, pelo menos por fora, estava acompanhado de duas beldades, uma de cada lado. Afinal, ambas eram muito bonitas.

    “…Hm, hm.”

    Seol Jihu não conseguiu evitar se endireitar um pouco mais, os ombros se abrindo. Até sua expressão relaxou bastante. Se esforçava ao máximo para não parecer convencido. Claro, ele nem imaginava o que os outros realmente estavam pensando.

    — Olha só aquele cara. Que combinação mais esquisita.

    — Pois é. Ele se meteu com duas das Seis Malucas.

    — Ei, pera. Aquele ali não apareceu aqui com a Agnes um tempo atrás?

    — É, é ele mesmo. Três das Seis Malucas? Caraca, esse aí tem um gosto bem peculiar.

    Ele jamais teria sonhado que estavam falando assim sobre ele naquele exato momento.

    Maria e Chohong se acomodaram em uma mesa vazia e, como se tivessem combinado antes, começaram a gritar ao mesmo tempo:

    — Bebiiiida! Bebiiiida!!

    — Álcool! Álcool! Álcool!

    Eram como dois pintinhos famintos piando por comida. Seol Jihu lentamente cobriu o rosto com a mão.

    — …Peçam o que quiserem.

    Kyaha! Ei, aqui! Traz todo o rum e vodka que tiver!

    Chohong tinha uma habilidade incomparável quando o assunto era misturar bebidas. Com destreza, ela combinou rum e vodka como uma profissional e serviu várias doses ao redor da mesa. Obviamente, Seol Jihu nem encostou na dele, mas Maria virou o copo de uma vez e estremeceu de prazer.

    Keo-heuh! Essa sim pra acordar alguém de verdade!

    — Tudo bem quererem se divertir, mas por favor não esqueçam que estamos aqui pra recrutar o resto da equipe.

    — Relaxa. Senhor Líder, se afasta e só observa. Eu cuido de tudo.

    Chohong declarou com confiança e serviu outra dose. Seol Jihu só podia apoiar o queixo nas mãos e observar as duas mulheres agindo como se fossem melhores amigas de infância.

    Passou-se um bom tempo assim. Cada vez mais garrafas vazias se empilhavam na mesa e, ao tomar mais um gole generoso, Chohong de repente parou.

    — Ei.

    Ela sinalizou, e Maria olhou para a entrada. Dois homens e uma mulher estavam entrando na taverna. Maria soltou um ‘Hnng…’ interessado, assentiu com a cabeça e deu de ombros.

    — Não são lixo completo. Faz o que quiser.

    — Beleza. Ei, Mikhail!

    Chohong acenou, e o homem à frente do grupo retribuiu com um aceno, os olhos parecendo dois pontinhos redondos. Era um sujeito magro, com cabelo curto e bem aparado.

    — Você ainda tá viva??

    — Tá querendo me zicar, é?

    Mikhail deu uma risadinha e pediu aos dois atrás dele que esperassem um pouco. Caminhou até mais perto, e Chohong começou a conversar com ele.

    — Como tem passado? Ouvi dizer que você tá quase chegando no Nível 4.

    — E isso tem me matado ultimamente. Só falta um pouco de experiência, mas o problema é o dinheiro. O custo dos equipamentos tá um absurdo.

    — É, o preço sobe tipo dez vezes mesmo.

    Chohong riu e concordou com ele.

    — Por isso que queria te perguntar uma coisa. Quer ir numa missão com a gente?

    — Missão?

    Mikhail repetiu, olhando a mesa, e então formou uma expressão surpresa.

    — Maria? O que você tá fazendo aqui?

    — Obviamente, tô trabalhando. Nada grande, só o suficiente pra um troquinho.

    Mikhail assobiou, nitidamente impressionado agora.

    — Parece bom. Tá certo, manda ver.

    Ele olhou para trás e chamou os companheiros para se juntarem também. E assim, mais três pessoas se sentaram ao redor da mesa cheia de garrafas.

    — Então tá. Que missão é essa?

    — Calma aí. Aceita uma bebida por nossa conta.

    — Recuso com respeito. Nem que fosse de graça eu encostava numa bebida feita por você.

    — Che. Nada demais, só aquele pedido de extermínio de monstros da Vila Ramman.

    — Vila Ramman?

    Mikhail imediatamente pareceu decepcionado.

    — Pô, era só isso mesmo…

    Ele então olhou para as duas mulheres como se não entendesse nada.

    — Por que vocês duas tão se mexendo por uma missãozinha dessas? Não é exagero demais?

    Argh, por que você tá enrolando tanto? É simples. Vai ou não vai?

    Maria expressou sua irritação. Mikhail pareceu pensar por um momento antes de lançar um olhar para o lado. A mulher que estava com ele tinha os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas num nó apertado, dando-lhe um ar meio temperamental. Quando ela balançou a cabeça, seus cabelos negros, como uma cascata, balançaram levemente. Mikhail falou em seguida:

    — Mm, foi mal, mas parece que vamos ter que recusar.

    — Pensa melhor, vai. A distância é curta, né? Encara isso como uns pontinhos de experiência em troca de matar uns dias.

    — Eiii. Eu já participei disso uma vez, sabia? Além do mais, matar uns mutantes não vai fazer muita diferença no nosso nível, né?

    Chohong mordeu levemente o lábio inferior. Lançou um olhar para Seol Jihu, e ele abriu a boca depois de entender o sinal dela.

    — Talvez não seja exatamente esse o caso, dessa vez.

    — Mm?

    Mikhail se virou para ele. Chohong fez as apresentações.

    — Desculpa a demora. Esse é o Seol, o mais novo recruta da Carpe Diem. Também é o líder dessa missão.

    — Seol?

    Mikhail o encarou por um momento antes de bater as palmas.

    — Ah!! Você, do Vale Arden!! É você, né? Do Vale Arden!

    — Oh, você ouviu falar disso?

    — Como assim ‘ouviu falar’? A gente tava lá também! Hyah, não imaginei que ia topar com uma celebridade hoje.

    Mikhail estendeu a mão para um aperto, o rosto estampado com um largo sorriso.

    Hiya. Prazer em te conhecer. De verdade. Sou Mikhailov, Lâmina Ágil Nível 3. E essa aqui é…

    — Veronika. Arqueira Precisa Nível 3.

    Veronika finalmente falou. Também parecia um pouco mais interessada agora.

    — E esse aqui é o Gierszal. Ele é um Guarda Nível 3.

    O último apenas levantou brevemente a mão, ainda sem dizer uma palavra.

    — Ainda não consigo esquecer a cena de você atraindo todos aqueles insetos, sabia? Achei que você era um maluco na hora, mas olha, você me surpreendeu mesmo.

    Mikhail deu uma risadinha leve e puxou a cadeira para mais perto.

    — Tá, então, o que você quis dizer agora há pouco? Algo sobre não ser o mesmo caso?

    Seol Jihu pensou bem no que ia dizer. Como tanto Maria quanto Chohong concordaram, então isso só podia significar que esse trio era razoavelmente competente em suas funções. De certo modo, essa conversa só estava acontecendo por causa da intervenção das duas. Agora que haviam preparado o palco, era hora dele cumprir o papel de líder.

    — Por acaso vocês conhecem as características especiais do pedido da Vila Ramman?

    — Características especiais? Que tipo?

    — Primeiro, mutantes aparecem.

    — É, isso a gente já sabe.

    — Segundo, espécies diferentes aparecem a cada nova missão emitida.

    — Sério? Mas… eles não pareciam tão fortes assim?

    Mikhail inclinou a cabeça, confuso.

    — E terceiro, a escala da equipe de extermínio só aumenta com o passar do tempo.

    — …Como assim?

    Pressentindo que havia algo estranho, o tom de Mikhail baixou.

    — Senhor Mikhail, o senhor disse que participou dessa missão antes, certo?

    — Sim. Foi há mais ou menos um ano. Não tenho certeza absoluta, mas foi por aí.

    — Reparou que a escala e a qualidade das equipes que assumem a missão só aumentam a cada ano?

    Mikhail piscou várias vezes.

    — Dá uma olhada nisso aqui.

    Seol Jihu puxou uma folha de papel.

    — Ignora as forças de subjugação do reino e olha mais de perto desde a primeira missão até a última. Como pode ver, essa missão costumava ser assumida por pessoal Nível 1 no começo, depois passou pros Nível 2 e, antes que percebesse, virou coisa de Nível 3. E agora, o pedido veio parar nas mãos da Carpe Diem.

    Os olhos de Mikhail se estreitaram.

    — Espera um pouco. Isso quer dizer…?

    — Que os mutantes que vão aparecer dessa vez serão bem diferentes daqueles que você enfrentou da última vez.

    — Hmm… Então é por isso. Por isso que Maria e Chohong…

    Mikhail coçou o queixo.

    — Você usou registros da biblioteca da cidade, então isso não pode ser só invenção. É, acho que entendi seu ponto. Ah, agora faz sentido o motivo da recompensa estar subindo um pouquinho a cada ano.

    Os companheiros dele pareceram concordar com a análise. Foi nesse momento que Seol Jihu sentiu que era hora de soltar a isca final.

    — E não é só isso. Se for possível, pretendo resolver esse mistério de uma vez por todas.

    Nesse exato instante, os olhos de Mikhail brilharam com mais intensidade. Ele também era um Terrestre com certa experiência em Haramark. Então, sabia o que Seol Jihu queria dizer com aquilo.

    Resolver esse mistério era algo em outra escala, muito além de simplesmente completar uma missão de extermínio. Inúmeras pessoas haviam fracassado nessa investigação, então sua fama teria um belo impulso só de participar do grupo que revelasse a verdade. Em outras palavras, isso podia se tornar um avanço enorme na carreira. Se dissesse que não estava tentado, seria um mentiroso.

    — Oiii. Não acho que você esteja brincando com essas duas ao seu lado, mas ainda assim tenho que perguntar. Tem certeza disso?

    — Na verdade, não. Se for pra ser sincero, não tenho como garantir 100%. Mas alguém bem respeitável me deu uma peça importante do quebra-cabeça.

    — Alguém respeitável? Quem?

    — Ian Denzel.

    Foi a cartada final.

    — Mestre Ian? Sério??

    — Se quiser confirmar, é só perguntar diretamente a ele. Por que eu mentiria?

    Mikhail soltou um suspiro pesado e começou a morder o lábio. Dava pra ver o quanto estava em dúvida. Veronika cutucou levemente o lado dele, e Gierszal pigarreou enquanto mexia no copo.

    — Não tem com o que se preocupar. A vila fica a meio dia de viagem, no máximo. No mínimo, a gente ganha uns pontinhos de experiência. Mas se der sorte…

    Seol Jihu deixou as palavras no ar de propósito. Estava deixando claro que, se quisessem ouvir o resto, teriam que se posicionar com mais clareza.

    — Então, que tal?

    Ele entrelaçou os dedos e sorriu com naturalidade.

    — …Bom, bom. Você realmente sabe como provocar o interesse da plateia, hein.

    Mikhail resmungou.

    — Se fosse só pela lábia, eu até acreditaria que você é um Alto Ranker, cara.

    No fim, ele levantou as mãos em rendição.

    — Beleza. Vamos pra um lugar mais reservado e conversar sobre os… detalhes delicados, que tal?


    No começo da manhã seguinte.

    A expedição, não, a equipe de extermínio, se reuniu na saída sul de Haramark. Seol Jihu e Chohong, de mãos dadas, chegaram primeiro e encontraram os dois cocheiros e dois carregadores já à espera.

    Eles esperaram por mais um tempo e, logo depois, Maria apareceu usando a mesma veste branca de Sacerdote que usava na Zona Neutra. Veronika e Gierszal, liderados por Mikhail, chegaram em seguida.

    Quatro guerreiros, uma Arqueira e, por fim, uma Sacerdote. O nível médio do grupo era 3.2. Considerando que a missão em si não era, em teoria, difícil, essa era uma composição de equipe bastante sólida.

    Pouco depois…

    Duas carruagens, com três membros em cada uma, deixaram energicamente a saída sul da cidade.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota