Capítulo 129: O Lamento de Maria (3/3)
O jovem voltou para a estalagem apenas para ser recebido com uma notícia bem desagradável: Mikhail não havia conseguido arrumar uma carruagem. Mas, considerando que aquela era uma vila pequena, não era de se surpreender que houvesse poucas carruagens indo e vindo de Haramark. No fim das contas, tiveram que se conformar em voltar a pé.
O grupo partiu de Ramman no meio da tarde. Seol Jihu queria esperar até que Chohong recobrasse a consciência, mas também precisava considerar o estado de Maria, que precisava voltar ao templo o quanto antes para se recuperar adequadamente.
Marcharam durante o entardecer e noite adentro até encontrarem um lugar adequado para montar acampamento.
A hora do jantar foi até bem animada. Chohong ainda não havia despertado, mas sua condição havia melhorado bastante. Ao ver que a cor do sangue havia retornado às bochechas antes pálidas dela, e que a respiração estava normalizada, Seol Jihu relaxou um pouco mais. Segundo o diagnóstico de Maria, ela deveria acordar antes do fim do dia.
Além disso, o grupo também havia resolvido o mistério. Como aquilo poderia ser considerado um retorno triunfante, o clima geral era de bastante leveza. Com exceção de Maria, que continuava claramente deprimida.
Quando Chohong finalmente recobrou a consciência, já fazia algum tempo desde que todos haviam jantado e se recolhido às tendas. Ela massageou a testa ao se levantar do saco de dormir e logo viu Seol Jihu de vigia, sozinho. Seus olhos se arregalaram.
Ao sentir o movimento atrás de si, ele olhou para trás, e seus olhos também se arregalaram. Pulou do chão e a chamou rapidamente, com uma expressão de alegria se espalhando em seu rosto.
— Chohong!
— O que… o que aconteceu?
Chohong tinha uma expressão confusa.
— Você estava…
Seol Jihu correu até ela, mas então, uma luz suspeita brilhou em seus olhos.
C-Cof!
Tossiu para limpar a garganta e falou como se nada estivesse fora do comum.
— Do que você tá falando?
— Onde estamos? A gente não tava numa caverna?
— Caverna?
Ele repetiu, como se não entendesse o que ela dizia.
— Que foi? Ainda tá dormindo? Estamos a caminho da Vila Ramman, lembra?
— O quêêê?!
Chohong gritou em puro choque.
— A gente decidiu aceitar o pedido da Vila Ramman, lembra? Pra eliminar os mutantes e, se possível, descobrir de onde eles estão vindo.
— Espera. Espera, eeespera.
Chohong franziu a testa com força e cobriu as têmporas com as mãos.
— Porra… o que tá acontecendo aqui? A gente ainda tá indo pra Vila Ramman?
Ela rapidamente analisou o ambiente ao redor e suas sobrancelhas se contorceram de forma bem visível. A expressão de confusão era clara.
Logo depois, seus olhos se arregalaram e ela prendeu uma respiração bem profunda. Os olhos antes confusos agora tremiam notavelmente.
— …Então foi isso…
Reversão do tempo? Ou teria sido um sonho? Ela começou a murmurar para si mesma como se tivesse tido uma epifania, e então…
— Ei, vamos voltar.
Ela deu um passo largo em direção a ele e falou com voz determinada.
— Se continuarmos assim, todo mundo vai morrer.
— O-O quê? Do que você tá falando, de repente?
— Só me escuta, tá? Eu sei que o que tô dizendo não faz muito sentido, sei que parece loucura, mas por enquanto… vamos voltar pra Haramark. A gente tem que voltar.
— O quê? Nem pensar. Eu ainda vou continuar. Você sabe o quanto esperei por esse pedido, né?
Chohong começou a bater no próprio peito, tomada pela frustração.
— Argh! Droga, você tá me deixando maluca aqui! Escuta, por favor!
Foi aí que Chohong congelou no meio da frase. Ela viu Seol Jihu se esforçando, sem sucesso, para conter o riso.
— Você…?!
Os olhos de Chohong se arregalaram ainda mais, e ela rapidamente levou as mãos ao cabelo para confirmar. E sim, ele estava prateado.
— Você…
O jovem saiu correndo dali o mais rápido que pôde.
— …Desgraçado! Eu vou te matar!
Chohong correu atrás dele como uma louca.
— Ahahahaha!!
— Para aí! Eu disse pra parar!
Logo, ele teve a nuca agarrada e foi puxado para o chão de costas. Chohong montou sobre a cintura dele como se estivesse montando um cavalo.
— Ei, você! Se divertiu me fazendo de idiota?!
— Tô aliviado.
Seol Jihu arfava intensamente antes de abrir um sorriso radiante para a mulher em cima dele, que rosnava de raiva. Chohong hesitou ao ver aquele sorriso sincero e feliz.
— Que bom que você acordou. Sabe o quanto eu fiquei preocupado?
— Bom, é que…
Os olhos dele eram tão sérios, e a voz carregava sentimentos tão honestos que ela só conseguiu piscar algumas vezes diante daquele olhar quente vindo de baixo. Virou os olhos de lado discretamente, com o pescoço ficando vermelho aos poucos. Mas isso durou apenas um breve momento. Sua expressão se contorceu, e ela gritou a plenos pulmões:
— Como você ousa me pregar uma peça dessas? Tá achando que vou te perdoar só por causa disso?!
— E-Esp… Espera…!!
Kuk!!
Ela agarrou a gola dele com força e começou a sacudi-lo como se fosse um boneco de pano.
Era óbvio que toda aquela confusão repentina acordaria os que estavam dormindo.
— Keuk! Para, paaara!
— É bom você ficar quietinho, ouviu?!
— S-Socorro!!
— Como você teve coragem de zombar de mim, hein??
— …Por que diabos tá esse barulho todo?
Mikhail acordou e, esfregando os olhos, se sentou no saco de dormir. Veronika já havia despertado antes e, apesar da cara sonolenta, seus olhos brilhavam enquanto espiava discretamente para fora da tenda.
— E-Ela vai me matar!
— Isso mesmo! Que tal a gente morrer juntinho, hein?! Fica tranquilo, porque hoje eu te mato de verdade!
— Hã? Essa não é a voz da Chohong?
Mikhail deu uma olhada para fora e engasgou em surpresa. Só conseguia ver Chohong de costas, mas, bom… também dava pra ver ela montada sobre Seol Jihu, balançando violentamente o corpo para frente e para trás.
— Brincadeira ao ar livre, é isso…? Keuh! Olha só os quadris dela se mexendo. Isso sim é coisa de outro mundo.
Mikhail encarou Seol Jihu com olhos cheios de inveja. Engoliu em seco e lançou um olhar furtivo para Veronika. Ela percebeu o olhar, mas respondeu com uma expressão rígida e controlada. No entanto, com o canto dos lábios discretamente curvado para cima, parecia que ela também estava bastante… envolvida na ocasião.
E, pouco depois… os sons que vinham de uma certa parte da natureza, junto com os que saíam de uma certa tenda, formaram uma harmonia que ecoava pelo acampamento.
E então, exatamente como um raio no meio da noite…
Maria, que estava sozinha em outra tenda, ficou tão chocada que simplesmente não conseguiu voltar a dormir. Na verdade, achou até que podia ver o próprio choque materializado no ar, dançando diante de seus olhos.
Eventualmente, se enfiou no saco de dormir com o rosto derrotado e tapou os ouvidos.
— …Merda…
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