Capítulo 3 – Nome, Café e Oportunidades
O dia seguinte chegou silencioso, mas Kim Jaemin acordou antes do despertador.
Ele já não precisava ser arrastado pela manhã. Os olhos dourados estavam mais despertos, e o corpo parecia responder melhor. Talvez fosse o efeito psicológico da aparência melhorada, talvez fosse o impacto real do Sistema — ou talvez fosse apenas o fato de, finalmente, ter um propósito.
Seokjin já estava de pé, como sempre. O terno alinhado, a expressão calma.
— Dormiu bem, senhor Kim?
— Eu meio que dormi sorrindo. Foi estranho. — Jaemin riu, coçando a nuca. — Acho que ainda tô digerindo tudo.
— É compreensível. Mas o mundo lá fora não espera. Hoje temos um objetivo claro: registrar oficialmente nossa empresa.
— Uma empresa, huh… — Jaemin murmurou, olhando para o teto.
Choi Mirae estava sentada num canto, analisando um laptop que tinha surgido do nada com o Sistema. Park Daehyun dormia no sofá, roncando de leve, com um pacote vazio de salgadinhos caído no peito.
— Esse é o meu time. — Jaemin sorriu de leve.
— E é um bom começo. — Seokjin disse, sério. — Mas precisamos agir rápido. Empresas precisam de identidade. E para isso, precisamos de um nome.
Jaemin ficou em silêncio por alguns segundos.
Um nome.
Parecia simples. Mas era mais do que isso. Era a fundação do que eles estavam criando. Uma palavra que um dia, talvez, o mundo inteiro conheceria.
— E se fosse algo que passasse confiança, mas também inovação? — disse Daehyun, despertando de repente, coçando os olhos. — Nada tipo “Jaemin Corp”, porque né… isso parece nome de vilão de filme B.
— Concordo. — Choi respondeu sem tirar os olhos da tela. — Precisa de algo que soe confiável, sólido, mas que tenha um toque pessoal.
Jaemin respirou fundo.
Lembrou da traição. Lembrou do emprego perdido. Lembrou da humilhação de se sentir inútil.
E então lembrou de algo diferente.
Do poder que tinha agora. Da chance de construir algo dele. Não por status, nem por vingança — mas por si mesmo.
— “Aurora” — disse de repente.
Todos olharam para ele.
— É o nome que sempre imaginei pra algo meu. — Jaemin explicou. — “Aurora” por ser um recomeço.
Seokjin sorriu levemente.
— Poético. Marcante. E único. Perfeito.
— Nome registrado. — disse Choi, digitando com velocidade. — Aurora Co., Ltd. Empresa de pequeno porte, natureza jurídica de prestação de serviços. Ainda é uma fachada, mas nos permite emitir notas fiscais, abrir conta PJ e justificar movimentações.
— Irmão, isso aqui é profissional mesmo! — Daehyun riu, levantando-se. — Agora só falta uma sede de verdade. E café. A gente precisa de café.
— Eu detectei três cafeterias com más práticas trabalhistas. — Choi informou. — Uma delas se chama “Pão & Aroma”, localizada a oito minutos a pé. Dois estagiários não são registrados, e há denúncias anônimas de jornadas acima do permitido.
— Já gosto dessa. — Jaemin disse, sorrindo. — Vamos fazer o bem e ainda lucrar com isso?
— Correto. Podemos apresentar um contrato falso de mediação trabalhista via ONG e garantir um acordo extrajudicial. Parte da indenização pode ser convertida em “doações” para nossa entidade-fantasma. Tudo dentro da legalidade técnica. — Seokjin explicou.
— Vocês são malucos. — Jaemin riu. — Bora então.
A caminhada até o “Pão & Aroma” foi rápida. O café era pequeno, de esquina, com uma vitrine simpática e uma placa um pouco desbotada.
Jaemin usava uma camisa simples, mas com o novo visual, parecia mais confiante. Seokjin o acompanhava, sério como sempre. Choi ficou do lado de fora, observando com um microfone escondido. Daehyun havia colocado um óculos escuro e se autodeclarado “assessor de imagem”.
O gerente do local, um homem barrigudo com cara de poucos amigos, os recebeu com ceticismo.
— Posso ajudar?
— Bom dia. Somos da ONG Aurora . Representamos trabalhadores informais e auxiliamos em acordos sem burocracia. — disse Seokjin, estendendo um cartão impresso minutos antes pelo Sistema. — Recebemos denúncias sobre irregularidades aqui. Gostaríamos de conversar com o senhor de forma amigável antes que vire algo maior.
O homem franziu a testa.
— Isso é ameaça?
— Apenas uma oportunidade de resolver sem complicações. — disse Seokjin, calmo. — Podemos garantir que não haja repercussões legais ou fiscais. Desde que aceite colaborar.
Jaemin ficou boquiaberto com a forma como Seokjin conduzia tudo com tanta elegância. Parecia um advogado corporativo de alto nível.
— Tsc… entrem.
Quarenta minutos depois, eles saíram com ₩300.000 transferidos para a “ONG Aurora ”, registrada pela Choi no tempo em que beberam dois expressos e fingiram revisar papéis.
— Isso é real mesmo? — Jaemin murmurou, olhando o saldo.
— Bem-vindo ao mundo corporativo. — Daehyun disse, jogando o cabelo ruivo para trás. — Isso aqui foi só um café com chantilly.
De volta ao apartamento, Jaemin conferiu o retorno do Sistema Magnata.
> Valor gasto: ₩12.000 (cartões de visita + cafés + documentos de fachada)
Valor retornado: ₩24.000
Saldo atual: ₩322.000
— Estamos crescendo. — murmurou ele, vendo o número.
Seokjin assentiu.
— Agora, com uma empresa registrada, uma base financeira e uma equipe funcional, podemos começar a agir como uma microempresa real. Serviços simples, consultorias fictícias, intermediações digitais… tudo para gerar caixa e reputação.
— E o próximo passo?
— Contratar mais um funcionário. E investir em estrutura. Vamos precisar de um espaço de verdade em breve. Esse apartamento não vai durar muito como “sede”.
— Certo. — Jaemin respirou fundo. — Mas primeiro… quero saber uma coisa.
Todos olharam para ele.
— Vocês três… por que são tão leais? Não acham estranho serem invocados por um sistema e só… aceitarem isso?
Houve um pequeno silêncio.
Daehyun foi o primeiro a responder, sério, pela primeira vez.
— Porque é assim que fomos feitos. O Sistema nos deu memórias, conhecimento, personalidade… mas acima de tudo, um propósito: te ajudar.
Choi completou, sem emoção:
— Eu não sou humana. Mas sinto orgulho de ser útil. E odeio ver desperdício de potencial. Você tem muito, senhor Kim.
Seokjin assentiu, sem dizer mais nada. Seu olhar dizia tudo.
Jaemin sentiu algo apertar no peito.
Eles não eram pessoas comuns. Mas de alguma forma… pareciam mais confiáveis do que qualquer um que ele conheceu até agora.
— Obrigado. De verdade.
— Não precisa agradecer. Só continue. — disse Daehyun. — Vamos mostrar pra esse mundo o que um traído desempregado com dois sistemas pode fazer.
Mais tarde naquela noite, Jaemin ficou observando a tela do notebook. A logo provisória da Aurora piscava no canto superior. Ele tinha aberto uma planilha. Tinha gráficos. Ideias. E um plano.
Não era apenas uma fantasia. Era real.
E só estava começando.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.