Índice de Capítulo

    O som de uma fogueira assaltou os tímpanos de Theo. Estava uma calmaria perfeita, um clima amigável, mas tenso, e uma energia limpa. Theo suspirou virando o rosto de lado e forçando os olhos.

    Ele abriu os olhos lentamente, querendo se adaptar à luz que as chamas da fogueira geravam.

    Quando despertou, seus olhos cor de âmbar encontram-se com fios de cabelos ruivos e um lábio que se movia educadamente enquanto era contornado por um batom vermelho.

    O tempo pareceu desacelerar.

    Um choque de memórias veio à tona e ele saltou do colo confortável de Jeanne.

    — Arcduth! — exclamou desorientado.

    Jeanne largou os cabelos do rapaz assustada com o grito. Ela ficou imóvel, vendo Theo se levantar com pressa.

    A visão do Jovem Mestre Lawrence estava tomada por um deserto de areia fina e um céu turquesa; um trono que alcançava as nuvens estava diante seus olhos e uma entidade que distorcia o próprio espaço sorria.

    Rapidamente, Selina apareceu em seu campo de visão. O dia clareou suavemente como um túnel.

    Serach estava confusa, mas foi a primeira a se aproximar de Theo para ver se ele estava bem. Quando viu que o vulto preto em sua frente era Selina, Theo se acalmou.

    — Selie… — murmurou.

    — Você está bem?

    Subitamente, uma dor de cabeça atacou o cérebro de Theo como um alfinete. Ele gemeu de dor e colocou a mão na testa.

    Theo parou por um momento e começou a encarar o chão de olhos arregalados, ainda tentando processar tudo. Seus olhos vagaram pelo ambiente, onde se encontrou com os olhos de Selina novamente.

    — Hael… — disse, desnorteado.

    Ele só conseguia pensar na ameaça em potencial.

    — Relaxa. Ele não está mais aqui — disse Nihaya.

    — Não sei o que o general Nietsz fez, mas devo aplaudir — comentou Carl, de olhos fechados e assentindo.

    Todos da Legião de Jane já haviam chegado.

    Theo olhou para trás após lembrar que estava no colo de alguém e se deparou com Jeanne, que quando notou a expressão confuso do rapaz, tentou confortá-lo com um sorriso genuíno.

    O coração dele se esquentou.

    — O que aconteceu? — indagou se arrastando até se escorar na carruagem que estava ao lado.

    Sentado no chão, escorou as costas no pneu e respirou. Jeanne se levantou para pegar algo na carruagem enquanto o respondiam.

    — Depois do idiota usar a zona? — Zemynder cutucou o ego de Malcolm, que estava isolado no outro lado da carruagem. — O general Nietsz conseguiu lhe tirar, de onde quer que estivessem. E a elfa negra desapareceu após isso, sem deixar nenhum rastro.

    — Como estamos vivos?

    — Eu limitei a zona de impacto. — Nihaya respondeu fazendo a fogueira incinerar ainda mais.

    A chama subiu mais do que o habitual. Um minuto de silêncio se deu por conta, tendo apenas o som do vento espalhando o fogo.

    — Você está bem? — perguntou Nihaya, olhando para Theo.

    Confuso e se lembrando do que viu ao lado do arconte, ele abraçou suas pernas e respondeu:

    — Sim.

    Jeanne saiu da carruagem com um galão d’água e ofereceu a todos.

    — Obrigado. — Agradeceu com um sorriso que cutucou Nihaya. — O que sabemos de Hael?

    — Além de que ele é filho de Bvoyna e pode ver o futuro? Nada — retrucou Sara.

    — E sobre essa… Elfa negra? — Theo disse com dúvida olhando para Zemynder, que afirmou a identidade.

    — Nada também. Só que ela é meia-irmã de todos os Emissários — disse Bastien.

    O arauto de Hades caminhou gradualmente até Theo e estendeu o braço para cumprimentar.

    — Oficialmente, você é nosso líder. 

    Theo o encarou perplexo, sem entender as palavras de Bastien. Somente quando olhou para cada agente que estava contigo, foi que entendeu realmente do que se tratava.

    Era verdade. Todos eles conseguiam enxergar um líder em Theo agora.

    Não apenas pelo fato de assumir uma responsabilidade que ninguém quis, mas também por manter Nik’Hael longe deles, por proteger a princesa tentando evitar a fuga e longevidade do confronto, e por se preocupar com eles quando estavam todos exaustos.

    A verdade é que Sara estava certa: Theo não fez aquilo pelo coletivo, apenas por si próprio. Ele era um gênio, afinal. Mas, no fundo ele se sentiu deprimido por aquele comportamento amargo.

    Aceitando o gesto de Bastien, ele apertou a mão do antigo líder e usou como apoio para se levantar e o abraçar.

    — Cuidado, a elfa negra pode ficar com ciumes, Bastien… — Jack zombou.

    Sara suspirou, Jess e Aidna não conseguiram conter a gargalhada. Theo, por fim, ficou sem entender nada.

    Theo ficou confuso, mas abriu um sorriso curioso.

    — Eu vou querer saber a piada interna.

    — Não… — Bastien repudiou.

    — Meia-noite eu te conto — disse Jack.

    Eles gargalharam juntos, inclusive Selina. Estavam se comportando como uma família.

    — Vamos! — chamou Nihaya. — A cerimônia irá começar.

    Antes de tudo, Theo chamou Zemynder para tomar espaço e conseguir conversar a sós. Malcolm, ao ouvir o chamado de Nihaya, se juntou a Selina e se escorou na carruagem para olhar a fogueira.

    — Que foi? — perguntou Zemynder.

    De costas, Theo respirou fundo e olhou para o horizonte.

    — O que você… quis dizer com “Você matou o primeiro da sua raça”?

    Zemynder cruzou os braços e ficou incrédulo por Theo ainda não ter descoberto.

    O jovem se virou de lado e mostrou que era fato; ele não fazia ideia. Indignado, mas ainda esperançoso, Zemynder respondeu:

    — Moonchild. Já foi chamado disso?

    “Criança da lua?” pensou o jovem, levando a mão ao queixo e buscando se lembrar do termo. 

    Ele já havia ouvido falar, muito provavelmente foi chamado por isso, mas não consegue se lembrar.

    — Receio que sim…

    — Ótimo — concluiu Zemynder. — Desde que os mortais entendem de suas existências, deuses existem. Seres que moram num local intocável, são desastres naturais ou o sentido da existência de algo; reis, autodenominados, Senhores de algo. Desde que a relação carnal se tornou comum entre os humanos, os deuses acharam de por seus dedos no meio.

    Theo manteve-se atento às palavras do carrasco.

    — Mudando a genética de um homem, seja para qual for o fim, mas com um único objetivo: criar crianças protegidas pela lua. Os antigos acreditam que deuses cujo conhecimento é pouco, utilizavam dos demônios íncubos e súcubos para alterar os genes de uma criança. Entretanto, a maioria preferia deitar com humanas e ter o momento de prazer.

    Notando que o Jovem Mestre não estava se importando muito com a história, Zemynder estalou a língua. Puxando seu traje com a mão esquerda, ele mostrou uma marca de nascença, em sua clavícula, que se assemelhava com a asa de um anjo.

    — Existem, a meu ver, quatro tipos de Moonchild: Os nefilins, os semideuses, os heróis e os profetas… Os nefilins não há o que comentar; filhos de anjos caídos com mulheres humanas, portadores de uma força descomunal e irracionais. Os semideuses, no entanto, tornam o assunto interessante. Mas, já falamos sobre. Existem os heróis, a casta ao qual eu faço parte.

    Theo ficou surpreso, mas a curiosidade o fez quebrar o silêncio.

    — E o que define um herói?

    — Heróis são seres predestinados; antes de seu nascimento, existem profecias sobre seus feitos. Eu não sou diferente. Existe um poema de quase três mil anos que profetiza meu nascimento, minha espada que cria ferimentos incuráveis e meus feitos em matar tantos nefilins. Os profetas são portadores do dom divino, eles dizem o futuro através do que veem. Porém, eu os vejo como mensageiros dos deuses para anunciar a chegada dos heróis.

    — E os semideuses? — Theo pressionou aquela tecla. Zemynder havia o encarado de cima para baixo quando mencionou esta casta.

    — Bom… Você. Após te analisar, e observar a Selina, notei que ambos são seguidores da Celestial da lua. Nós dois possuímos uma ressonância entre nossas almas, quase como um vínculo espiritual, é assim que eu consigo afirmar: você é um Moonchild, e pertence à casta dos semideuses. Simbolicamente, naquela luta contra o nefilim Metgeray, éramos três crianças da lua batalhando.

    Theo se manteve calado, ligando os pontos e chegando a uma única conclusão. O interesse de Alunne por ele estava esclarecido; para suportar o que Araav desejava, a Celestial da lua gerou um semideus, com o sangue de duas famílias reais para ser o portador de algo.

    Aquele destino o incomodava, ao mesmo tempo que o interessava. Após sua conversa com Arcduth, sua mente ficou iluminada.

    Não fujas do que tens de fazer. Aceite a tua vida como ela deverá ser. Pode não crer no destino de meu irmão, Araav, mas isso não o impede de ser predestinado. Todos estamos predestinados a algo, por ventura, esta história conta sobre uma criança iluminada e harmônica. Você encontrará a si, e quando isso acontecer, entenderá o motivo de tudo o que está acontecendo.’ As palavras ditas pelo Arconte da Harmonia voltaram como uma analepse momentânea.

    Aquele fato também explicava o porquê Alunne visitou Theo no dia de seu nascimento: ela queria saber se, além do corpo semi divino, Liam Mason teria transmigrado parara o corpo certo. Ele escolheu não acreditar antes, mas, como a própria harmonia disse, todos estão destinados a algo. 

    Basta, aos predestinados, escolher se vão acreditar e seguir ou ignorar e, ainda assim, seguir este destino.

    Noutras ocasiões, Theo ficaria com ódio por ser manipulado durante toda sua vida; ele pensou ser uma ajuda, mas entrar na ordem de Alunne fazia parte do destino dele. Entrar em contato e ceder à rainha da lua também fazia parte do plano, porém, Theo não sentia nada negativo com aquilo.

    O tempo perdido na quarta dimensão o fez amadurecer a paciência e harmonia: ele estava em paz.

    — Bom, já que é bastante informação pra uma criança, vou deixar você processar — disse Zemynder, se virando e acenando para o garoto.

    — Tô de boa — retrucou suspirando. — Onde está minha espada?

    Theo e Zemynder voltaram para o grupo.

    — Malcolm disse que o anjinho a quebrou.

    O coração do jovem congelou.

    [Intempérie do Firmamento!]

    Theo olhou para sua mão, mas nada aconteceu. A zweihänder não apareceu. O laço havia sido quebrado.

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