Capítulo 06 - Mestre Maluco (6)
No início, ele ainda saía para dar uma volta no vilarejo e respirar ar puro, mas foi atacado por um garoto que veio vender mercadorias. Vincent estava alerta por ser jovem — desviou rapidamente da faca que quase perfurou seu peito e cortou sua cintura. O guarda-costas que o acompanhava prendeu o menino, mas ele se suicidou logo em seguida, sem hesitar, como se tivesse sido treinado para isso. Por causa disso, nunca descobriram quem estava por trás do ataque.
Desde então, Vincent relutava em sair. Caminhar no jardim da mansão era o mais longe que ele se permitia ir.
Até que um dia, sozinho no jardim, foi atacado novamente. Dizem que quando um empregado chegou correndo ao ouvir seus gritos, trazendo um casaco por causa do vento frio, encontrou um estranho morto com uma barra de ferro cravada no peito. Vincent estava sentado no chão, ofegante, todo sujo de terra. O empregado chamou ajuda imediatamente.
O atacante era um desconhecido. Investigaram, mas ninguém o reconheceu. Durante a luta, Vincent acertou a cabeça do homem com uma pedra e o esfaqueou com a barra de ferro que encontrou por perto.
Bem, pode-se dizer que ele teve sorte.
Mesmo depois de reforçarem a segurança e restringirem a entrada de estranhos na mansão, Vincent parou de sair completamente.
Outra vez, durante uma refeição, ele sentiu uma dor súbita e desmaiou. Felizmente, vomitou tudo o que comeu, então não foi grave, mas descobriram depois que a comida estava envenenada.
Pouco depois, uma cozinheira foi encontrada morta na floresta. Acharam que foi assassinada ao tentar fugir. Descobriram quem era a culpada, mas nunca souberam o motivo ou quem a matou.
Depois de sobreviver a isso, Vincent passou a ter medo de comer. No início, só desconfiava das refeições, mas com o tempo, recusou-se a comer completamente.
Sua condição piorou dia após dia. Ele até tentou sair do quarto, mas havia muita gente na mansão, e sua presença chamava atenção. Uma vez, conseguiu ficar um tempo fora sem ser notado, e nada aconteceu, mas a experiência marcou Vincent tanto que ele se mudou para o anexo e trancou-se no quarto.
Desconfiado de tudo ao redor, definhando pouco a pouco, disseram que ele desenvolveu uma depressão severa.
O medo constante de alguém tentar matá-lo.
O terror de não saber quem seria o próximo…
Se descobrissem que ele estava cego, questionariam sua capacidade de liderar a família. Então ele se isolou sob o pretexto de se recuperar, sem contato com o mundo exterior, definhando em solidão.
Ao ouvir essa história, Paula sentiu pena dele pela primeira vez. Doenças físicas levam a doenças da mente. Ela sabia bem como a pobreza extrema esgota o corpo e corrói a sanidade.
Vincent estava doente.
Por isso, ela tentava entender e tolerar seu temperamento.
Mas desperdiçar comida assim era inaceitável. Aquilo a enfurecia. Comida era preciosa — ela chegou a apanhar até ficar roxa só para conseguir um pedaço de pão.
E esse homem…
“Comportamento errado precisa ser repreendido. Criança ou adulto, não importa. Nunca te ensinaram a valorizar a comida? Ou acha que pode desperdiçar só porque tem muito?”
“…”
Enquanto falava, a raiva a consumia. Ela sofrera tanto só para conseguir migalhas, e ali estava ele, jogando comida no chão.
Foi doloroso a ponto de quase chorar.
Mas não podia chorar — não na frente dele, mesmo que ele não visse.
Seria humilhante.
Apertou os dentes para conter as lágrimas.
‘Não faça isso.’
Comparar sofrimentos era algo deplorável.
Felizmente, conseguiu se controlar. Paula limpou o chão com o avental, recolhendo os grãos de arroz.
“Vou trazer mais. Se estiver com medo, eu como primeiro. Posso fazer isso pelo meu mestre covarde. Se não conseguir comer tudo, pode deixar o resto para mim. Espero que isso o satisfaça.”
“Não vou comer.”
“Não vai recusar, vai? Eu me ofereci para ser sua cobaia, provando que a comida não tem veneno, e o senhor não ignoraria minha sinceridade assim, né?”
Ela achou que ele não seria tão cruel.
Paula sacudiu as roupas e saiu do quarto, pisando forte.
Desceu direto à cozinha e pediu outra refeição. O cozinheiro olhou para ela com pena e encheu outra tigela. Paula voltou correndo para o quarto.
Ajoelhou-se novamente diante da cama.
O rosto dele virou-se na direção de sua voz.
Seus olhos ainda vagavam, sem foco.
Ela fez questão de mastigar alto, para ele ouvir. Depois, encheu a colher e estendeu-a a Vincent.
“Abra a boquinha.”
Mas, mais uma vez, a tigela caiu no chão.
“Está sujo.”
Com um baque, o arroz se espalhou pelo chão, e sua paciência se esgotou.
Metade da comida ainda estava na tigela. Ela a pegou e voltou para a cama.
Vincent ainda olhava para baixo, como se acompanhasse seus movimentos.
Paula pegou outra colherada de arroz e colocou a tigela ao lado da cama. Então empurrou Vincent pelo ombro.
Sem tempo de reagir, ele caiu sobre os lençóis. Ela subiu na cama rapidamente, surpreendendo-o. Segurou seu pescoço para imobilizá-lo e forçou seu polegar entre seus lábios, abrindo sua boca. Em seguida, enfiou a colher cheia de arroz.
“Afff—cof!”
Vincent se debateu. Paula usou todo o peso do corpo para mantê-lo no lugar enquanto o alimentava à força. Seu equilíbrio quase falhou várias vezes, e uma das mãos dele agarrou suas costas, puxando seus cabelos. A dor fez lacrimejar seus olhos, mas ela cerrou os dentes.
Ele virou o rosto, tentando fugir da colher. Mas seu polegar ainda estava em sua boca, impedindo-o de fechá-la.
Ela abaixou os olhos e continuou enfiando colheradas, rápida e precisa. Pegou a tigela novamente para facilitar, e sua mão tremia.
“Que alegria, senhor! Está comendo tão bem!”
“Cala—cof!—a boca!”
“Sim, aproveite sua refeição!”
Uma colher, duas, três… até a tigela ficar vazia. Metade foi para sua boca, o resto caiu, mas ela não ligou.
Quando acabou, seu corpo caiu para trás. Vincent a empurrou assim que sentiu sua força diminuir.
Ela saiu da cama com a tigela vazia, ainda tocando o cabelo que ele quase arrancou. Ao se virar, viu Vincent segurando o próprio pescoço, o rosto vermelho de raiva.
“Você está demitida!”
“Só cumpri meu dever, mestre.”
“Ah, é piada! Sabe o que fez? Tocou em mim! Quer morrer mesmo!”
“Quem viu?”
“O quê?”
Ela respondeu com calma.
“Só estamos nós dois aqui. Como alguém saberia que enfiei meu dedo na boca do senhor para alimentá-lo?”
Claro que mereço morrer por isso.
Se houvesse testemunhas, ela já estaria morta. Mas não havia ninguém por perto. Nem mesmo fora do quarto — ninguém passava por aquele andar porque ele era sensível a qualquer barulho.
Além disso, todos sabiam do temperamento horrível dele antes mesmo de ela chegar. Ele até podia demiti-la, mas duvidava que alguém acreditasse nele cegamente.
“Ah, tem a arma. Podia ter me matado. Mas, mestre… ela está carregada?”
“…”
Ele calou-se. Por um instante, pareceu constrangido. Ela se perguntou por que não atirou quando teve chance. Continuou, segurando o riso.
“Ah, e recentemente correm rumores de que o senhor é insuportável, e ninguém quer trabalhar aqui. Se me demitir, vai ficar sem empregada até arrumarem outra. E pode demorar… pra sempre!”
Paula respirou fundo. Sua franja despenteada balançou levemente. Enquanto isso, Vincent rangia os dentes.
Esse rosto furioso…
Vendo aquilo, Paula sorriu.
“Desejo tudo de melhor ao senhor.”
Desde aquele dia, Vincent e Paula travaram uma guerra silenciosa.
Ela o alimentava à força, ele resistia. Toda vez que trocava suas roupas ou lençóis, era uma batalha. Certa vez, tentou levá-lo ao banho, mas ele a acertou com o cotovelo, fazendo seu nariz sangrar.
Paula encontrou Isabella ao sair do quarto, segurando o nariz com o avental. Seu corpo ficou tenso. Isabella a observou impassível, mas Paula apenas se virou e seguiu sem dizer nada.
Desde quando ela estava ali?
Será que ouviu o barulho?
Não… pelo olhar de Isabella, ela já sabia de tudo.
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