Era quase meio-dia e os Caçadores de Dragões estavam famintos. Alguns ateavam fogo nas tochas do restaurante que ficava abaixo do solo. Esse momento era especial e nenhum caçador se ousava a perder seus míseros quarenta e cinco minutos de descanso.

    O sino tocou, e todos os Caçadores próximos correram até a taverna. Os que estavam fora do instituto da guilda, analisando as placas de missões, também saíram depressa até o local.

    Eram mais de quarenta Caçadores ativos naquele dia. O Sr. Byron, o dono da taverna, cozinheiro, garçom e também pianista, já estava varrendo o chão do lugar. Ele retirou as teias de aranha sob as cadeiras, tirou poeira e colocou para assar um enorme peito de dragão negro.

    A fumaça da fornalha subiu até a chaminé da guilda, mostrando que já era hora do almoço. — Vamos logo — falou um dos Caçadores, que saiu em direção à taverna.

    Logo aquele lugar vazio ficou lotado. Os Caçadores estavam aconchegados em suas mesas, uns estavam jogando xadrez, outros jogando jogos de cartas, e alguns estavam apenas cochilando.

    Os que estavam no balcão queriam apenas saber de tomar uma boa dose de cachaça ou qualquer outra bebida alcoólica. — Ei Sr. Byron manda uma dose de Vermillion branco.

    — Tem certeza, Max? A gente tem missão hoje à tarde, não podemos beber tanto. Além disso, essa bebida te deixa com muito sono — alertou seu amigo, Noro.

    Sr Byron se intrometeu, e falou. — Não tem problema, Noro. Um pequeno gole não irá fazer mal, apenas irá dar uma ânsia de vômito danada. Não sei quem foi que caçou esse dragão, mas acho que a saliva dele estava misturada com vômito — debochou o dono do bar.

    — Tá dizendo que essa bebida é feita de saliva de dragão? Que coisa mais nojenta.

    — Tem razão, eu também acho nojento, mas existe quem goste.

    A fornalha perdeu a sua brasa, e finalmente o peito de dragão negro estava pronto, no ponto. Uma carne macia e deliciosa. Zero gordura, apenas carne.

    Todos comemoravam animados. Sr. Byron colocou a grande carne sob uma mesa junto a outros vários pratos. Nenhum caçador perdeu tempo, aquele grande peito delicioso virou apenas pedaços de pequenos ossos que ainda restavam.

    Restavam apenas quinze minutos de descanso, todos estavam fartos de tanto comer, apenas conversavam sobre as missões do dia. De repente, se ouviu um passo forte descendo as escadas.

    Todos pararam de conversar e olharam alertas para a porta de entrada da Taverna. Um passo de cada, pesado e muito barulhento. TOC-TOC-TOC… NHEC-NHEC-NHEC rangeu as escadas com os passos.

    Um dos Caçadores se levantou da cadeira e retirou a espada de sua bainha. — Quem tá aí? — perguntou.

    De repente, uma silhueta em meio a escuridão da escadaria apareceu, um corpo dentro de uma armadura de cavaleiro com mais de dois metros de altura, contra um homem valente de um metro e setenta. 

    A armadura estava arranhada profundamente no peitoral do guerreiro, com manchas de sangue aparentes. Seu rosto não era visível graças ao capacete, mas foi possível ouvir o respirar dele e seu murmurar. — Ufff… ele vai voltar.

    O cavaleiro se desequilibrou e caiu no chão de joelho, ele cuspiu sangue no chão e caiu de costas para o teto. Aqueles que estavam perto presenciaram uma das cenas mais nojentas naquele dia.

    O cavaleiro estava com suas costas com uma enorme mordida, tão profunda que era visível ver seus órgãos e sua espinha. — Como ele conseguiu vir até aqui? — perguntou um dos Caçadores. 

    De repente um outro guerreiro desceu as escadarias, passos pesados, mas desta vez não eram de uma armadura pesada. O guerreiro estava apenas com uma calça e uma camisa regata de couro e uma espada em sua cintura, guardada em sua bainha. Cabelos longos até a linha do pescoço, da cor preta, olhos amarelados e uma cicatriz em sua boca.

    — O quê,  você tá vivo? — perguntou o caçador que estava em pé, cético. 

    — Quem é esse cara? — perguntou Laurencio, líder de um grupo de Caçadores. 

    O mesmo integrante do grupo que estava impressionado, respondeu com um cochicho:

    — É o Yzael, o maior caçador de dragões da geração.  Dizem que ele foi até o topo de um vulcão para matar o Dragão Diabo, que causava muitas erupções pela região. Ele é uma lenda.

    Yzael encarava todo mundo, alguns desacreditados, outros com olhares de inveja, mas nenhum com coragem de debater.

    — F-foi você quem trouxe esse rapaz? — perguntou o caçador à sua frente.

    Yzael olhou para ele. — Sim, ele estava desacordado. Eu estava voltando de uma missão ao Sul, e encontrei ele em meio aos arbustos sendo devorado por filhotes de dragão menores. Trouxe ele em meu cavalo, e parece que o teimoso quis descer até aqui embaixo.

    — O quê você estava fazendo sozinho na região Sul? — indagou um dos Caçadores do fundo da taverna, aparentemente inquieto. Ele se levantou imediatamente da mesa.

    Ele era Lazio, um nobre e mesquinho caçador de cabelos loiros. Ele usava vestes esmeradas da cor azul e vermelha tecidas em algodão e seda sobrepostas. Ele encarou nos olhos de Yzael por um longo tempo.

    Yzael riu e debochou.  — Não pense que sua habilidade vai me fazer curvar a você seu mesquinho filhinho de papai.

    Os olhos de Lazio sangraram profundamente, fazendo ele fechar eles por motivos de grande ardência.  — Porra! Que merda cara.

    Yzael caminhou até Lazio, tirando de seu caminho aqueles que estavam à sua frente. — Você também estava ao Sul, sua equipe possuía um guerreiro de ataque. Você e seus membros abandonaram ele no meio daquela floresta para morrer sozinho. Seu filho da puta.

    Yzael próximo a Lazio levantou sua mão pronto para desferir um soco em sua cara, mas um dos integrantes da equipe segurou seu braço. Era Mirai, um dos magos com habilidade de tecer raios a partir do nada. — Não pense errado sobre a gente. Não estávamos a cavalo, era impossível trazer aquele homem até aqui. 

    Yzael soltou seu braço da mão do mago e o segurou pelo pescoço. — Seu mago egoísta, vocês são do tipinho que tem dinheiro, se um de vocês morrer, podem contratar outro do mesmo tipo por menos moedas. Isso me dá nojo.

    Mirai começou a se sentir sufocado, se debatendo contra o homem. O terceiro integrante do grupo, Marcela, puxou de seu bolso uma adaga e pulou da cadeira em busca de atingir o pescoço. Porém, acabou levando um belo soco em seu queixo com o outro braço de Yzael.

    — Não pense que só porque é uma mulher, que eu não posso acabar com você, piranha.

    Marcela se sentiu fragilizada, sem conseguir mexer suas pernas, e com o rosto ensanguentado. Lazio, temendo as ameaças de Yzael, se curvou pedindo perdão. 

    — Por favor, desculpe-me pela minha indecência como capitão, o quê posso fazer para acabarmos com isso de maneira pacífica?

    Yzael largou Mirai no chão e se virou de costas. — Se entreguem aos oficiais locais, que vocês quebraram a terceira Lei da guilda: Nunca abandonar um membro ou colaborador para trás, mesmo que custe a sua vida.

    Lazio rangeu os dentes e no momento em que Yzael caminhou em direção a saída, Mirai ativou sua habilidade ocular de raios.

    Uma linha elétrica se alastrou até a direção do rapaz. CABRUM! E uma nuvem de poeira subiu. Yzael não estava mais lá, apenas Mirai empalado no peito preso no balcão pela espada de Lazio, que também estava com a adaga de Marcela em um corte profundo em sua garganta, preso a madeira de carvalho do balcão.

    Todos ficaram incrédulos, exceto Byron. “Garoto problema, ainda bem que estou acostumado”, pensou enquanto lavava os copos.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (4 votos)

    Nota