CAPÍTULO 3: Esse é o Dono da Selva
Yzael junto ao seu parceiro fizeram grandes distâncias até chegar no local destinado onde o dragão foi visto. O terreno era lamacento onde eles estavam, e as árvores tampavam a visão do sol.
As sombras que cobriam Yzael, mantinham ele em alerta. As pegadas do cavalo era uma tática que muitos dragões inteligentes usavam para caçar sua presa.
Não existia nenhuma trilha que guiasse ele até a vila, ele só poderia contar com a sorte de achar sua caça. Em estado de alerta, ele deu uma leve puxada do bridão para o cavalo ir mais devagar.
— Vai com calma garoto. Não sei o quê tem por aqui — alertou o cavalo.
Eles caminharam por um longo tempo, e nada aconteceu, apenas leves sustos de coelhos. Yzael até encontrou alguns Caçadores de Dragões pelo caminho.
Era quase fim da tarde, e Yzael não teve nada de produtivo naquele dia. Mas, por sorte, ele conseguiu encontrar a vila na qual ele estava mais focado em procurar.
Um dos moradores locais da vila, um padre, o cumprimentou, como se já estivesse à espera do caçador. — Você é o herói que vai acabar com a nossa desgraça, não é? — perguntou o padre.
— Se o tal Demônio não aparecer até o fim da tarde de amanhã, talvez não serei tão heroico — falou ele.
— Ah… entendo — respondeu o padre, que se apresentou. — Meu nome é Mickeyas, sou o padre, dono da igreja desta vila e também dono dela.
— O prazer é meu, padre.
Yzael desceu de seu cavalo. — Por onde irei ficar esta noite, e onde tem um lugar para comer? — perguntou olhando os arredores do local.
— O senhor vai ter que me perdoar, mas não possuímos nenhum bar ou taverna. Isso vai contra as leis religiosas que temos aqui neste local. Mas temos uma amável garota que cozinha muito bem.
— Hum, e ela sabe fazer carne de dragão? — perguntou.
— Perdão… carne de dragão? — indagou o padre.
— Esquece, eu como o quê ela fizer. Onde posso deixar meu cavalo?
— Você pode deixá-lo em minha igreja, temos um pequeno estábulo por lá, acredito que tenha espaço para o seu.
Yzael acompanhou o padre até o estábulo para seu cavalo descansar. Enquanto eles estavam indo, o rapaz analisou a vila. Não era um local grande, e havia pequenas casas simples de madeiras junto a pequenas plantações de milho e um poço.
A igreja, surpreendentemente ficava no centro da vila, feito com um material mais robusto, feito de pedra e calcário com uma porta de madeira e ferro, e aos fundos o estábulo como o padre havia mencionado.
— Onde estão todos os moradores desse lugar? — perguntou Yzael.
— Eles estão dentro de suas casas, assustados com o dragão que assombrou a vila.
Yzael acomodou o cavalo no pequeno espaço aparentemente simples e trancou a porta de madeira gasta.
— Entendo padre. Me mostre onde eu irei ficar, por favor.
— Sim senhor. — O padre o levou até uma casa próxima da igreja, que ficava em frente ao milharal.
Era uma casa aparentemente simples, de madeira, e possuía dois andares. Ao abrir a porta da casa, Yzael se deparou com um bando de crianças fazendo a faxina. — Boa noite — cumprimentou Yzael.
As crianças acenaram, elas pareciam estar cabisbaixas e também estavam com algumas tremedeiras e nervosismo. — Não se preocupe, elas só estão com medo do dragão — cochichou no ouvido do Caçador.
Ele caminhou para mais ao centro da casa, onde viu uma garota limpando o chão da sala, de joelhos. — Ah, boa noite senhor .
A garota o cumprimentou, se levantando e limpando suas mãos no avental. — Eu me chamo Emília, prazer — estendeu a mão.
— Muito prazer, me chamo Yzael — cumprimentou o caçador.
O padre interveio na conversa dos dois imediatamente, — Escuta Emília, o Sr Yzael está com fome, você poderia fazer um jantar especial para ele, como aquele que a gente conversou hoje de manhã.
— Ah claro, consigo sim. Com licença.
A garota se retirou, indo até a cozinha. — Que jantar seria esse? — perguntou Yzael.
— Ah não se preocupe, eu garanto que você irá gostar.
O jantar estava pronto. Todos reunidos na mesa, exceto o padre. Os quatro garotos que aparentavam ter entre seis e sete anos, e Emília no fim da mesa, que aparentava ter entre dezesseis.
Yzael provou aquela comida que estava servida em sua tigela, ele não estranhou sua aparência, já que o cheiro estava bom e todos estavam comendo sem reclamar.
A mesa estava quieta, apenas o fungar e o engolir das crianças. Yzael provou e sentiu um leve arder, mas ignorou e comeu tudo o que tinha naquele tigela.
Ele se levantou da mesa, assustando todas as crianças, e Emília também. — O que houve Yzael, a comida não está boa? — perguntou.
— Não é isso, só estou cansado. A comida estava boa sim, você é uma ótima cozinheira Emília, meus parabéns.
Yzael caminhou até a escada do segundo andar, indo para seu quarto. Emília ficou corada e envergonhada, e todas as crianças ficaram curiosas.
Yzael abriu a porta de seu quarto, apenas uma cama, nada mais, e sua espada ao lado dela, junto a um balde que apoiava uma tigela de vela.
— Vou tentar ficar acordado até onde eu conseguir — murmurou.
Ele se deitou na cama. Se passaram quinze, vinte e quarenta minutos, mas nada aconteceu ou fugiu do padrão. Quando se passou uma hora, todos foram até seus respectivos quartos.
A casa inteira ficou escura. Mas, onde estaria o padre? Se perguntou Yzael, que ao se levantar da cama, sentiu um enorme desconforto em sua barriga.
Ela estava muito dolorida, e uma enorme ânsia de vômito se ergueu até seu pescoço. Sem se segurar, ele vomitou uma grande quantidade de sangue, se assustando. — Porra, o quê é que colocaram naquela comida?
Ele tentou ficar em pé, mas estava fraco e lento, ele tentou se equilibrar e ir até o quarto de Emília para pedir ajuda. Caminhando pelo corredor escuro, enquanto cuspia sangue a todo momento, junto a uma dor insuportável.
Emília ouviu um bater na porta de seu quarto e imediatamente se levantou para ver quem era. Ao abrir, se deparou com Yzael, sujo de sangue e muito fraco. — Emília, o quê você fez? — perguntou ele, agarrando a garota pelo pescoço erguendo ela.
— Me… desculpa… — tentou falar, mas sem sucesso.
— O quê você fez? O quê você colocou na minha comida? — perguntou irritado.
— Des…culpa, o mestre me ordenou… — falou sem fôlego.
Yzael a soltou por falta de força e caiu em frente a ela de cara no chão. Desesperada, ela o levou até seu quarto.
Enquanto isso, o padre estava descendo as escadas da igreja, para o que parecia uma prisão de uma cela só. Ele acendeu as tochas que o levavam até lá embaixo.
A cela de ferro aparentou estar trancada, ele abriu ela e caminhou até uma sala onde havia uma porta no chão do mesmo material de ferro.
Lá embaixo, pode-se ouvir o barulho estranho como um grunhido. — Fique tranquila menina, hoje você terá um banquete especial.
A tocha iluminou o ser estranho lá de baixo, escamoso e com asas que pareciam ter quase dois metros de largura de uma ponta a outra.
No quarto de Emília, Yzael estava deitado, com um pano sob sua testa enquanto ela estava fazendo um ritual de magia simples junto com um livro para lhe acompanhar.
— Zaltharim, luz do firmamento, Orraveth, brisa dos antigos tempos, Eldrasil, raízes que sustentam a vida, Vorthuun, chama que queima a enfermidade. Que o véu da dor se parta, Que as sombras recuem diante do ciclo eterno, pelas forças ocultas e sagradas, Nilzeth, Thyrael, tragam-me a cura!
Com a mão sobre o peito do rapaz, a palma brilhou com uma luz branca. Yzael voltou a respirar sem ter dificuldades.
Ele abriu os olhos e percebeu Emília. — Emília, o quê está fazendo? — perguntou ainda sonolento.
— Eu estou tentando curá-lo, você precisa ficar bem para matar o Dragão.
— Não há nenhum dragão por aqui Emília, só bons mentirosos como vocês — Ele fechou os olhos.
— Não é mentira Yzael, eu fui forçada a fazer isso, senão o padre iria matar todos os meus irmãos — falou com os olhos lacrimejando.
Yzael abriu novamente os olhos, e tentou se levantar, mas ainda com dores. — Lamento garota, você é culpada de muita coisa. Mas entendo sua inocência.
— E pelo visto, não é só o dragão que é o único monstro aqui. Mas infelizmente eu acabei esquecendo minha espada no outro quarto, poderia pegá-la por favor?
— Sim! — ela saiu correndo rapidamente.
Na igreja, Mickeyas ainda estava conversando com o dragão. — Garotinha, apenas não bagunce nada ok?
Ele enfiou a chave no cadeado, e abriu a porta de ferro. No mesmo instante, o monstro voou para cima, destruindo o teto da igreja, morto de fome, com um rugido agressivo. ROOOAAAR!
Emília trouxe sua espada, entregando ao caçador. — Droga, ele libertou o monstro — alertou desesperada.
Yzael analisou as janelas sob o teto, e percebeu rapidamente uma silhueta voando sob a luz da lua. — Ele viu a gente.
O dragão rugiu novamente, mas agora lançando uma baforada de fogo, que queimou o teto da casa, até o chão do segundo andar. A madeira da casa estalava pelo fogo incandescente.
O dragão finalmente entrou dentro da casa, indo até a porta do quarto onde os dois estavam, com seu olho sensorial, não percebeu ninguém no cômodo. Mas, foi surpreendido com um golpe da lâmina de Yzael.
A espada perfurou o chão, empunhalando a pata do monstro, que rugiu de dor. O dragão subiu aos ares novamente.
— Todos vocês, se abaixem e fiquem aqui — Ordenou.
Ele caminhou até a porta da casa, mas foi repreendido com um rugido e uma batelada de asa poderosa — Merda!
Um estrondo sob a porta jogou Yzael para longe, batendo contra a parede. A poeira alta se transformou em um enorme incêndio. O dragão, sem piedade, baforou suas chamas na direção dos irmãos de Emília. Eles agonizaram de dor.
— EMÍLIA! — gritou desesperado, ele olhou para o lado de uma bancada, e percebeu um pequeno escudo circular.
A poeira se abaixava, e o dragão estava procurando o caçador, ele fungou sob o chão e as cinzas, procurando seu cheiro. Novamente surpreendido, Yzael apareceu em sua frente desferindo um golpe horizontal com sua espada. O corte acertou a boca do monstro.
O dragão com uma de suas patas, desferiu um golpe contra o peito desprotegido do caçador. O rapaz atento, colocou o escudo em sua frente, protegendo de ser acertado. O escudo foi bastante afetado e destruído e Yzael foi obrigado a se distanciar.
O dragão aproveitando a distância se virou de costas, e com sua cauda tentou acertá-lo diretamente. Yzael colocou novamente o escudo na sua frente, mas não foi o suficiente para protegê-lo do impacto que o lançou para trás.
— Bicho chato, então esse é o dragão de Verniz.
Yzael se posicionou, e alocou seus pés com força no chão. Com sua espada ele a estendeu para trás. O dragão por outro lado começou a preparar sua próxima baforada. E sem perder tempo, Yzael lançou sua espada com tremenda força e velocidade, acertando e arrancando a cabeça do dragão antes que ele o acertasse.
O rapaz se aproximou do corpo do dragão, verificando se estava morto. — Parece que está sim. — De repente ele ativou sua habilidade ocular e percebeu uma flecha em sua direção. Por sorte, ele a segurou a tempo.
— Maldito padre.
O cavalo do caçador inquieto, deu um coice quebrando as portas do estábulo, e marchou rapidamente, e em meio a sua corrida, atropelou o padre que estava atrás de um pequeno pilar.
O homem tentou correr para dentro da igreja, fugindo do equino inquieto. Mas logo foi surpreendido por uma faca acertando seu pescoço. Splash!
Agonizando de dor, ele caiu no chão, sem chances de se defender. Yzael apareceu na porta da igreja, e caminhou até ele, com sangue nos olhos.
— Seu… miserável — falou o padre.
Ele foi agarrado pelo cabelo, e a faca presa em seu pescoço foi retirada violentamente, sendo jogado no chão de novo.
— Pelo visto o único demônio aqui era você, desgraçado.
O padre riu, com as mãos no pescoço. — Foi aquela garota quem falou pra você? Aquela puta, pode levá-la, abusá-la, faça o que quiser, ela cresceu assim mesmo.
Mickeyas levou um forte chute em sua boca. — Fecha essa matraca. A garota está morta. Mas não se preocupe, o mesmo inferno em que ela foi incinerada, será aonde você irá, seu fútil.
— O quê?
No dia seguinte, alguns cavaleiros apareceram na vila, procurando vestígios das chamas do dia passado. Junto a isso, encontraram um homem pendurado por uma corda em seu pescoço, no topo da igreja, com o corpo queimado da cabeça aos pés.
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