Índice de Capítulo

    Muitas cartas chegavam para a família da Condessa Bellunita. O remetente era desconhecido, mas, na maioria das vezes, eram cartas perguntando sobre o bem-estar de Vincent. Convites para jantares e festas também pareciam frequentes.

    No entanto, o mestre nunca respondia a nenhuma delas. Mesmo quando lhe eram entregues, ele não se dava ao trabalho de abri-las. Assim, a maior parte era resolvida pelos empregados antes mesmo de chegar às mãos dele.

    Havia um nome que aparecia com insistência nas cartas que chegavam.

    [Violet]

    “É um nome feminino…?”

    As cartas vinham dia sim, dia não, mas essa também não foi entregue a Vincent.

    Isabella ordenou que Paula a guardasse separadamente.

    “É alguém com quem eu preciso me preocupar?”

    “Então por que não conta a ele?”

    Já que Vincent não lia as cartas, era óbvio que também não respondia. Mesmo assim, as cartas dessa tal ‘Violet’ se acumulavam, uma a uma, na gaveta do quarto de Isabella.

    E então algo chamou ainda mais atenção.

    [Você está aí?]

    “…?”

    Paula encontrou por acaso, enquanto recolhia as cinzas da lareira. Um pedaço de papel queimado trazia letras douradas. Sob a luz do sol, brilhavam de maneira elegante.

    Logo depois, havia outra carta, com a mesma caligrafia.

    [Como você está?]

    Estava escrita diretamente no envelope, de textura rígida e de alta qualidade. O estranho era que, dentro dele, o papel estava completamente em branco.

    A pessoa escreveu diretamente no envelope porque sabia que Vincent nunca abriria as cartas?

    Ainda assim, cartas com essas letras douradas continuaram chegando todos os dias. E, como sempre, não havia resposta. Vincent sequer olhava para elas.

    Até que, um dia, por ordem de Isabella, Paula escreveu e enviou uma resposta. Disseram-lhe apenas para escrever algo simples, mas, antes de pegar a pena, ela refletiu um pouco.

    [Estou bem.]

    No entanto, depois de enviar essa resposta, as cartas pararam de chegar. Por um instante, Paula se preocupou em ter escrito algo errado, mas logo esqueceu, ocupada com suas tarefas. Só lembrou disso quando recebeu uma resposta inesperada.

    As mesmas letras douradas e refinadas. Só que, dessa vez, a escrita estava no papel dentro do envelope, não do lado de fora.

    [O tempo está bonito por aqui.]

    E…?

    Paula se perguntava qual era a intenção por trás disso, mas algo chamou ainda mais sua atenção. A última carta tinha manchas de tinta espalhadas. Ao olhar de perto, percebeu marcas de água no envelope.

    Como se fossem lágrimas.

    A pessoa chorou enquanto escrevia, feliz por ter recebido uma resposta?

    Não podia ser.

    Paula ficou curiosa, mas Isabella decidiu que não era necessário responder dessa vez. Mesmo assim, as cartas voltaram a chegar todos os dias, sempre com o mesmo conteúdo. Como se estivessem insistindo por uma resposta.

    Eventualmente, sob nova ordem de Isabella, Paula teve que escrever outra resposta. Pensou em escrever algo simples, como da última vez, mas hesitou por um momento. As manchas d’água na carta vieram à sua mente. Por alguma razão, sentiu que não deveria escrever da mesma forma.

    Olhando pela janela, viu que as árvores estavam brotando. E então, escreveu.

    [Aqui, os galhos secos começaram a criar brotos.]

    Após enviar, recebeu outra resposta. E quando mandou outra carta, recebeu outra em retorno. Em algum momento, passou a trocar correspondências com alguém que não conhecia.

    O conteúdo continuava simples. Desde a primeira resposta, não havia mais sinais de lágrimas.

    [Hoje também estou bem.]

    Isso virou uma rotina inusitada.

    Certa manhã, Paula se espreguiçou ao acordar e saudou o dia fresco. Imaginou que logo ficaria cansada por causa do temperamento irritante do mestre. Vestiu-se como sempre, prendeu bem o cabelo bagunçado e abriu a porta.

    “Vincent!”

    Mas ouviu uma voz estranha.

    Bem ali, na frente do quarto do mestre, estava um homem que ela nunca tinha visto antes. Alto, vestia um chapéu de aba alta e batia na porta repetidamente, chamando por Vincent em um tom melancólico.

    “Vincent! Abra a porta!”

    Enquanto Paula olhava para o homem, que insistia em bater sem obter resposta, ele virou a cabeça, como se tivesse sentido o olhar dela. Quando seus olhos se encontraram, os de Paula se arregalaram.

    Foi um momento de reconhecimento mútuo. Ambos se estudaram abertamente, tentando entender quem era o outro.

    O homem foi o primeiro a falar.

    “Ah, a nova empregada?”

    Ao ouvir aquilo, Paula automaticamente se curvou. Era um reflexo adquirido recentemente.

    “Prazer em conhecê-lo. Sou Paula.”

    Devia permanecer curvada até que a outra pessoa aceitasse o cumprimento.

    Se a pessoa não fosse de sua mesma posição social, não deveria se endireitar antes de receber uma resposta.

    Lembrando-se dessa regra, Paula esperou.

    “Ah.”

    O homem suspirou brevemente e se aproximou. Em seu campo de visão, voltado para o chão, apareceram sapatos brilhantes. Então, ele pegou a mão dela.

    Paula ergueu o rosto, surpresa. O homem se inclinou levemente, mantendo uma das mãos nas costas, e depositou um beijo suave no dorso da mão dela.

    “Prazer em conhecê-la, madame.”

    Sua voz era agradável.

    Quando ele ergueu ligeiramente o rosto e seus olhares se encontraram, seus olhos se estreitaram em um sorriso sutil.

    “Meu nome é Ethan Christopher.”

    “Ah… sim…”

    Paula respondeu meio atordoada.

    O jeito como ele se endireitou e soltou sua mão foi de uma elegância impecável. Mesmo sem a tocar mais, sua mão ainda parecia suspensa no ar. O lugar onde ele a segurou estava quente.

    “Vincent trancou a porta. Você pode abrir?”

    “Ah…”

    Isso a trouxe de volta à realidade. Baixou a mão e coçou o dorso dela antes de se dirigir à porta.

    Havia ocasiões, embora raras, em que Vincent trancava a porta. Paula nunca entendeu exatamente como ele fazia isso, mas sabia que bastava puxar um dos muitos cordões pendurados na parede ao lado da cama dele.

    Os fios serpenteavam por toda a parede. No início, o quarto era tão escuro, e ela estava tão ocupada servindo Vincent, que não havia notado. Mas, ultimamente, observando melhor o ambiente, percebeu que o cordão usado para trancar a porta era longo e ia da parede até a entrada.

    Quando ela presenciou a cena pela primeira vez, não acreditou e duvidou dos próprios olhos. Vincent lhe disse que tinha instalado aquilo caso algo perigoso acontecesse quando ele estivesse sozinho. Quando ela viu ele usando, ficou tão impressionada que fez várias perguntas, mas Vincent não respondeu. Logo, ela perdeu o interesse. Talvez as outras correias penduradas na parede tivessem o mesmo propósito, mas ele as usava para fechar a porta, ao invés de abri-la.

    Para o caso de emergência, Isabella lhe deu um conjunto de chaves extras. Como Paula era responsável pelo anexo, Isabella pediu que ela guardasse bem. Então, ela usava a chave sempre que a porta dele estava trancada.

    Ela remexeu no bolso do avental e tirou a chave de emergência. No momento em que destrancou a porta e girou a maçaneta, percebeu que não podia perguntar ao homem chamado Ethan Christopher qual era a relação dele com Vincent.

    “Oh, com o mestre ali…”

    Foi quando algo passou rapidamente por uma fresta aberta.

    Logo, iria explodir!

    O som do vidro quebrando ecoou. As palavras que saíram apressadas se espalharam, mas não conseguiram ser terminadas.

    Ethan seguiu o som e virou a cabeça, surpreso. Paula também olhou ao redor. Era uma garrafa de vidro que atingira a parede e se despedaçara. A pessoa que jogou aquilo podia ser adivinhada pelas experiências anteriores de Paula.

    Como esperado, uma voz sangrenta saiu da sala escura.

    “Feche a porta.”

    ‘Estou te avisando, é perigoso.’

    Paula franziu a testa e olhou para Ethan. Ele ainda estava com os olhos fixos na garrafa quebrada. Ela pôde ver mil pensamentos cruzando seu rosto vazio.

    ‘Será que essa é a primeira vez que ele está lidando com essa personalidade insuportável?’

    ‘Isso com certeza deve ser surpreendente.’

    Ela balançou a cabeça e entrou na sala. De repente, algo voou novamente e atingiu a parede. Desta vez, era um copo de vidro. Ela tinha dito para ele beber água, e ele estava bravo com isso.

    Ela fechou a porta por enquanto. Tinha medo de que o homem estivesse em perigo.

    “Tem um jovem senhor na porta.”

    “Diga a ele para ir embora.”

    “Quem é ele?”

    Agora que ela parou para pensar, como esse homem sabia que Vincent estava em um prédio separado? Normalmente, os convidados que vinham vê-lo se dirigiam à mansão principal. Claro, pensariam que ele estaria lá.

    Por conta das circunstâncias, era o mordomo quem recebia os convidados na mansão, já que Vincent estava no anexo. Na ausência do mordomo, Isabella assumia essa função.

    Mas o homem de fora estava parado em frente à porta dele, a porta do anexo.

    “Não é da sua conta. Mande ele embora.”

    “Mestre.”

    “Você também saia.”

    ‘Por que você é tão rude?’

    Então, ela ouviu uma batida na porta.

    “Vincent.”

    Era a voz do homem chamado Ethan. Parecia que ele estava mais calmo agora.

    Paula olhou diretamente para Vincent. Ele estava com os olhos fechados sem que ela tivesse notado.

    ‘Você está tentando fingir que está dormindo?’

    “Deixe-me ver seu rosto, Vincent. Já faz tempo que não nos vemos. Você não sente minha falta?”

    “…”

    “Eu quero te ver.”

    Que atmosfera era essa?

    Havia algo estranho entre os dois homens…

    “Não pense em nada de estranho.”

    “Não pensei.”

    “Eu consigo saber o que você está pensando só pelo som da sua respiração.”

    “Não pensei.”

    Paula estava tentando se virar para preparar a refeição, mas percebeu que não havia trazido o café da manhã. Pensando bem, também estava sem água para lavar e roupas novas… ela se esqueceu disso por causa da confusão inesperada.

    “Vou trazer sua refeição.”

    “Não estou com fome.”

    “Por favor, espere.”

    “Eu não estou com fome!”

    Paula ignorou os gritos de Vincent e abriu a porta. Ela se deparou com o homem que estava batendo na porta ansiosamente desde antes. O homem imediatamente olhou para dentro da sala. Ela rapidamente fechou a porta, bloqueando sua visão.

    “Desculpe. O mestre disse que não queria te ver.”

    “Ah não, eu realmente preciso vê-lo. Tenho algo para dizer a ele!”

    As palavras de Ethan não eram para ela. Mesmo assim, a resposta não veio dela.

    Ethan abaixou os ombros, impotente. Tentando sorrir através de seu rosto desapontado, continuou a falar.

    “Vou cuidar de você por alguns dias.”

    Um convidado chegou à casa do Conde.

    “Há quanto tempo, Isabella.”

    “Há quanto tempo, Ethan.”

    Ethan entrou na sala de estar e cumprimentou Isabella. Ele foi recebido de forma familiar por Isabella, que lhe entregou seu chapéu alto.

    Vendo a proximidade entre os dois, parecia que o homem não era apenas um simples convidado.

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