Capítulo 12 - O Estranho Hóspede do Conde (2)
“Isabella continua bonita. Não mudou nada.”
“Senhor Ethan, você ficou mais maduro desde a última vez que o encontrei.”
“Ah, não precisa me elogiar. Só envelheci.”
Ethan esfregou o queixo e se sentou no sofá. Isabella piscou para Paula, que estava com um prato nas mãos e rapidamente colocou a bebida diante dele.
“Obrigado.”
Ele sorriu gentilmente por algo que não parecia ser grande coisa. À primeira vista, era estranho que um homem aparentemente de alta classe, vestido de maneira elegante, fosse tão gentil com ela, que era apenas uma empregada.
“O estado do Vincent piorou bastante desde a última vez que o vi. Não estava tão mal da última vez que o encontrei. Quanto tempo ele está trancado naquela sala?”
“Já faz cerca de seis meses.”
“Seis meses… entendi.”
Ethan sorriu amargamente.
Havia preocupação em seu sorriso.
Evidentemente, Ethan sabia da condição do Vincent.
Que ele era cego.
Se ele soubesse onde Vincent estava escondido, algo que nem os empregados sabiam, isso indicava que tinham uma relação bem profunda.
“Sou amigo do Vincent. Um amigo muito próximo.”
Ethan explicou gentilmente, pois Paula estava o observando sem perceber. Ela imediatamente abaixou o olhar e fez uma reverência.
“Desculpe.”
“Haha, não precisa se desculpar. Ouvi dizer que você é nova aqui.”
“Sim.”
“Bem, parece diferente da empregada que vi antes…”
Ele olhou para Paula como se estivesse a examinando.
Ela estava tão tensa que seu corpo ficou rígido.
Felizmente, o assunto logo mudou.
“O Vincent ainda está sozinho na sala?”
“Sim.”
“A situação… a situação de antes é reveladora. Ouvi as notícias. Mesmo depois que eu saí, algumas coisas ruins aconteceram. Fiquei fora por um tempo por questões de trabalho, mas sou complacente.”
“Você fez o que pôde, senhor Ethan.”
Ethan sorriu amargamente enquanto tocava a xícara de chá.
“Isabella. Eu escolhi a família em vez dos amigos. Isso é verdade. Foi uma questão de tempo, mas no fim das contas, foi uma desculpa. Cheguei à conclusão de que o Vincent ficaria bem sozinho e fui embora. Mas nunca quis que ele ficasse assim…”
“Ethan.”
“Eu nunca vi o Vincent assim. Quando o Conde Bellunita e a Condessa morreram no acidente, ele não estava tão mal.”
O rosto de Ethan se fechou.
O que estava em sua expressão era preocupação e tristeza por um amigo.
Isso parecia muito estranho aos olhos de Paula.
Como ele sentia a dor dos outros como se fosse sua.
‘É assim que é ser amigo?’
‘O quê? Você fingiu ser o único no mundo, e estava com medo. Você tinha um amigo tão bom.’
Paula ficou um pouco surpresa ao perceber que seu mestre, tão horrível, tinha um amigo assim.
“Isabella, eu preciso ver o rosto do Vincent dessa vez. Se eu voltar assim, acho que não vou conseguir dormir direito todas as noites.”
“Vou preparar um quarto para você ficar.”
Isabella olhou para Paula.
Paula assentiu e saiu da sala de estar.
“Gostou?”
“Mais ou menos.”
Vincent suspirou e colocou a comida na boca. A elegância única dos nobres era evidente na maneira como ele mastigava devagar, sem fazer barulho.
Recentemente, Vincent começou a comer suas próprias refeições. Foi uma mudança realmente surpreendente. No dia seguinte àquela noite assustadora, como de costume, ela segurou a colher em sua mão como uma cortesia, e ele começou a comer o arroz devagar. Paula ficou assustada ao ver isso.
“Uau, o que é isso? Coma com moderação.”
“Você aperta a maçã do Adão até quase esmagá-la. Não está cansado? Se comer assim, vai acabar se engasgando e morrendo um dia.”
“Você é boa em fazer piada.”
“Não estou brincando.”
Bem, não a esse ponto. Paula resmungava por dentro, mas não podia deixar de se emocionar ao vê-lo comendo arroz. Era parecido com quando ela domesticou um gato de rua que aparecia na frente da padaria do tio Mark.
“Está doente em algum lugar?”
“Fique quieta antes que eu jogue isso fora.”
Embora o temperamento dele fosse o mesmo.
Ainda assim, era uma mudança emocionante. No entanto, a quantidade de comida que ele comia era decepcionante. Paula sugeriu cuidadosamente, olhando para a tigela de arroz, que nem estava pela metade.
“Que tal mais um pouco?”
“Estou cheio.”
“Mais um pouquinho.”
“Estou cheio.”
Vincent franziu a testa. Paula lambeu os lábios com arrependimento e pegou a tigela.
“Você precisa tomar o remédio, Mestre.”
Ele pegou calmamente a tigela de remédio quando ela puxou e colocou na palma de sua mão.
Ela o observou com prazer. Quando ele terminou a tigela, ela tirou algo redondo do bolso. Depois de tirar o embrulho de um doce, ela colocou na boca dele.
“O que é isso?”
“É doce. Você sempre diz que é amargo, então eu trouxe para que fosse bom lavar a boca depois de tomar o remédio.”
“Eu sou uma criança?”
‘Para mim, o corpo até cresceu, mas por dentro ele ainda é uma criança.’
Mesmo assim, Paula não disse essas palavras…
“O que aconteceu com ele?”
“De quem você está falando?”
“Do que veio de manhã.”
“Ah, o Ethan Christopher disse que vai ficar aqui alguns dias. Ele falou que queria ver o rosto do mestre.”
Então Vincent fechou os olhos com força. Era um rosto que tinha visto o inferno. Além disso, ele suspirou várias vezes e até esfregava o rosto com as duas mãos. Vendo ele assim, Paula se lembrou do homem de antes. Ele parecia genuinamente preocupado com o Ethan, mas não entendia por que ele o odiava tanto.
“Você gostaria de vê-lo?”
“Não. Nunca deixe ele entrar no quarto.”
Vincent balançou a mão e deitou-se na cama. Olhando para ele, Paula trouxe à tona algo que já pensava há muito tempo.
“Mestre, você precisa se lavar.”
“…”
Mas ele se virou sem responder. Ele parecia completamente relutante em se lavar, já que se encolhia contra a parede. Ela olhou para suas costas e, discretamente, se aproximou dele, tocando seu nariz. Então ele franziu a testa.
Ela pegou seu braço e colocou ao redor de seu ombro, ajudando-o a sair da cama. Vincent, que foi arrastado por um impulso, logo virou o corpo. Até poucos dias atrás, ele gritava e se irritava, mas dessa vez falou com uma voz que parecia já ter desistido.
“O que você está fazendo?”
“Você está fedendo.”
Ela apertou o braço dele. Não podia soltar dessa vez. Era o cheiro que ela sentia desde a primeira vez que entrou no quarto. No começo, era estranho, mas ela ignorou para agradá-lo, e depois se acostumou. Pelo menos ela trouxe uma toalha molhada e limpou as partes expostas, como o rosto, pescoço e mãos, mas não adiantou. Até hoje, o fedor que saía dele fazia sua cabeça doer.
“Quando foi a última vez que você se lavou? O cheiro está me incomodando. Se você não pode ver, por que não se lava com a ajuda de um empregado?”
“Para de falar besteira, tira a mão de cima de mim.”
“Só se você se lavar.”
Assim que entrou no quarto, ela foi para o banheiro e encheu a banheira com água. Ela definitivamente o lavaria hoje. Vincent bateu o braço que estava em seu ombro, mas não foi difícil dominar o homem fraco. Ela segurou o braço dele e colocou a outra mão por trás de suas costas, segurando-o pela cintura e o levando para o banheiro. Como se fosse um cavalo sendo conduzido, ele estava quase sendo arrastado como uma carruagem. Mesmo no momento em que entrou no banheiro e se dirigiu para a banheira, ele continuou resistindo teimosamente.
Quando chegaram à banheira, ela levou a mão dele até ela. Ele tropeçou na banheira e se agarrou nela com força. Surpresa, ela segurou seu pulso e não o deixou soltar.
Ele tentou sair da banheira, e uma luta de forças aconteceu enquanto ela tentava segurá-lo. A luta continuou por um tempo até que ela perdeu o equilíbrio. Em vez disso, com um braço ainda ao redor de seu ombro, ela caiu para frente também.
Com um alto splash!
Ela caiu sentada no chão do banheiro com um som. Quando se virou surpresa, Vincent estava preso na banheira. Encharcada, ela fez uma expressão de espanto e depois tremeu. De raiva.
“… você está bem?”
“Vo-você…”
Vendo que ele não conseguia falar, ela também ficou sem palavras. Ele agarrou seu braço e o apertou com força. Depois, tentou se levantar sozinho da banheira. No entanto, por causa da água, ele não conseguiu se levantar e caiu novamente na banheira. Cada vez que a água subia, ele a molhava. Ela não achava mais que ele precisasse de um banho.
“…”
De repente, seus movimentos pararam. Foi nessa hora que ela o observava nervosa sem perceber. De repente, ouviu-se o som da porta se abrindo. Logo, passos foram ouvidos e Isabella entrou no banheiro. Ela parou ao ver Paula e Vincent na banheira.
O rosto dela mostrava que estava um pouco surpresa, mas manteve a calma.
“Acho que da próxima vez você devia tirar a roupa.”
“…”
“Eu tenho algo a te dizer. Eu cuido do resto.”
Então, ela olhou para Paula. Paula se curvou e rapidamente se virou. Pegou a roupa suja que havia recolhido e saiu do quarto.
Ela sobreviveu!
“Ouvi dizer que o Sir Ethan veio?”
Renica, que tinha vindo buscar a roupa suja, perguntou. Como se viam uma vez por dia, tiveram uma conversa simples. Paula respondeu, olhando as coisas que trouxe.
“Você o conhece?”
“Ele é amigo do Mestre. Também é o segundo filho da família Christopher.”
“Ele deve ser uma pessoa famosa.”
“Ele é famoso. Eles são de uma família de alto escalão comparado a nós, empregados, mas ele é bom.”
Renica colocou a mão na frente do rosto e abanou.
Ele era bonito? Bem, ele acabou sendo deslumbrante.
E ela viu que ele era educado com empregados como ela.
“Ele parecia gentil.”
“Sim, ele é gentil. Por que pessoas como a gente sempre são ignoradas pelos superiores? Mas o Sir Ethan? Ele nunca nos ignora e trata a gente com bondade. Por isso, ele é conhecido como uma pessoa muito boa entre as empregadas.”
“Entendi…”
“Eu só vi ele de longe. Não seria ótimo se você pudesse se aproximar de uma pessoa assim ao menos uma vez?”
Renica riu, segurando as bochechas com as mãos. Ela imaginava Ethan falando com ela, seu rosto corado de êxtase.
“Ethan Christopher está no quarto de hóspedes no anexo. Se você quiser vê-lo, não poderia ir até lá e dar uma olhada? Pode até dizer um oi casualmente.”
“Ah, não. Não podemos entrar no anexo.”
Renica fez um gesto com a mão, como se dissesse para ela não falar de coisas tão assustadoras.
Paula arregalou os olhos.
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