Capítulo 14 - O Estranho Hóspede do Conde (4)
Não.
Ela era a pessoa com menos poder ali. Em termos de classe, também estava na base.
“Devo falar com Isabella?”
“Ela está do lado do Vincent. Já pedi várias vezes, mas ela sempre recusou meu pedido.”
“Vou falar com o mestre de novo.”
“Não, não faça isso.”
Ethan acenou com a mão.
Ele suspirou, mas seu rosto parecia mais energético do que antes.
“Se você bater na porta cem vezes, ele vai abrir pelo menos uma.”
“Você está tentando.”
“Eu tenho que tentar. É assim que meu amigo é.”
Então, ele de repente sorriu. Paula sentiu arrepios com o sorriso dele, que era mais fresco que um dia de primavera.
Os olhos dele pareciam um pouco estranhos também.
O quê?
O que há de errado com ele?
Paula se esfregou no braço sem motivo.
“Eu acho que seria conveniente se você se apaixonasse por ele.”
“Posso te avisar antes? Eu recuso.”
‘E mesmo que você batesse cem vezes ou mil, a porta fechada nunca abriria.’
“Não me diga que você dormiu aqui.”
Paula ficou horrorizada ao encontrar uma figura agachada na frente da porta do Vincent. O visitante que chegou ontem estava certo.
‘Não, eu te mostrei o quarto para você ficar, mas por que você está aqui?’
“Hum, já é de manhã?”
“Sim. Por que você está fazendo isso?”
“Eu pensei que, se eu batesse a noite toda, ele ficaria bravo e abriria a porta, mas eu estava errado.”
Paula ficou pasma ao ver Ethan se alongando e bocejando calmamente.
‘Você está dizendo que passou a noite toda acordado para abrir a porta do Vincent agora?’
Seria mais rápido pegar o chaveiro comigo e forçar a porta.
“Posso abrir para você?”
Ela vasculhou os bolsos do seu avental e perguntou. Ethan arregalou os olhos.
“Eu disse que não ia funcionar.”
“Ele vai me odiar, mas ele não gosta de mim de qualquer jeito. Não vai mudar nada só porque ele vai me odiar mais.”
“Eu não posso deixar você passar por isso.”
Ethan recusou novamente. Parecia que ele dizia isso por consideração a ela, mas bem…
“Mas você não pode ficar parado na frente da porta assim, pode? Você não sabe quantos dias ou meses vai demorar até a porta abrir. Como você sabe, o mestre é teimoso.”
Diante disso, Ethan pareceu pensar por um momento, então balançou a cabeça.
“Vou precisar tentar mais.”
“Se você diz…”
Ela tirou a mão do bolso e virou-se. Atrás dela, houve uma batida na porta. Ela balançou a cabeça, animada. O cavalheiro só vai voltar a si quando seus punhos estiverem inchados. Essa porta não vai abrir só porque você está tentando.
Mas Ethan deve ter percebido isso depois de um curto período de tempo.
Quando Paula subiu para levar o almoço de Vincent, Ethan falou com uma expressão confusa,
“Posso perguntar?”
“Sim?”
Paula passou por ele e colocou a chave na fechadura.
“Ele vai ficar muito bravo?”
“Fique perto da porta. Não entre.”
Ele não podia dizer não.
Com um clique, a porta se abriu. Em um instante, um fedor tomou conta de suas narinas.
É estranho, por que o fedor está tão terrível hoje…?
Paula franziu a testa e foi direto para a janela, abrindo as cortinas. Um feixe de luz iluminou o quarto escuro. Quando ela abriu a janela, uma brisa suave entrou, levando o fedor embora.
Como ela havia instruído, Ethan ficou quieto na porta.
Paula se aproximou de Vincent.
“Mestre, é hora do almoço.”
“… vai embora.”
A voz estava rouca.
Talvez ele tivesse descansado muito porque estava dormindo há muito tempo.
“Mestre?”
“…”
Ele normalmente não respondia bem, mas algo estava estranho. Quando ela se aproximou, puxou o lençol e viu o rosto suado. O travesseiro estava coberto de vômito.
“Mestre!”
Paula deu tapinhas na bochecha de Vincent para acordá-lo, mas ele não abriu os olhos. Sua condição estava estranha. Quando ela se virou surpresa em direção à porta, Ethan imediatamente se virou. O som de seus passos correndo pelo corredor ecoou apressado.
Logo depois, o médico apareceu. Ele estava usando uma camisa aberta e calças amassadas, e seus sapatos não estavam bem calçados. Os óculos tortos mostravam o quanto ele foi chamado com urgência.
“Ele está com o estômago ruim.”
“O quê?”
“Você disse que ele tem comido alguns alimentos ultimamente, então acho que ele exagerou. Comer mais do que o normal faz mal ao corpo. Parece que ele esteve doente a noite toda.”
Não, quanto ele comeu?
Não, quanto eu dei para ele comer?
Ele não tomou café da manhã hoje. Disse que não queria comer, então pulou porque não queria sair da cama, mas foi por causa do estômago ruim? Ele não conseguiu comer metade da refeição de ontem à noite, então eu forcei ele a comer mais e ele deve ter ficado mal depois de comer demais.
“Ele está tão… fraco.”
“Ele ficou muito fraco. Você tem que tomar cuidado.”
“… sim.”
No final, Paula foi repreendida pelo médico. Ela suspirou secretamente enquanto se curvava para ele quando ele saiu após o tratamento.
Mesmo quando você alimenta bem alguém, acaba sendo repreendido.
Quando ela voltou para o quarto após vê-lo sair, Ethan estava sentado na frente da cama. Seu olhar estava fixo em Vincent e não se desviou nem por um momento. Mas Vincent não disse nada. Mesmo sabendo quem estava ao lado dele, ele não olhou para Ethan.
“Por que você está tão magro?”
No fim do silêncio, Ethan soltou um suspiro.
“Mais do que da última vez que eu te vi… você parece tão seco. Cuide da sua saúde…”
Ethan enterrou o rosto nas mãos e abaixou a cabeça.
Parecia que ele estava olhando para o Conde falecido.
Enquanto murmurava, ele parecia triste e não sabia o que fazer.
Mas Vincent estava calmo.
“Volte.”
Ethan, que parecia estar respirando fundo por um momento, levantou o rosto novamente. Os olhos de Vincent ainda estavam focados no teto.
“Vincent. Não faça isso, saia. Eu vou te ajudar.”
“Como você vai me ajudar?”
“Eu farei o que for possível. Qualquer coisa.”
“Então, você pode me devolver os meus olhos?”
“…”
“Não pode? Então pare de falar besteira e saia.”
Ele era tão frio.
Foi uma conversa que revelou hostilidade de forma tão direta quanto uma faca. Paula, que estava atrás deles, segurando a respiração enquanto ouvia a conversa, não pôde deixar de estalar a língua. Apesar da preocupação de Ethan, a atitude de Vincent em relação a ele era muito afiada. Com espinhos por todo o corpo, a única coisa que restava fazer era cravar a lâmina no oponente.
No entanto, Ethan não recuou facilmente.
“Por quanto tempo você vai aguentar assim? O mundo todo está falando sobre isso. Não é que o Conde Bellunita tenha se machucado em uma festa e esteja se recuperando, mas sim que ele está escondendo algo de errado usando o corpo dele.”
“…”
“Você não pode viver assim para sempre.”
“O que você vai fazer?”
“Agora você tem que se mostrar.”
“Você está me dizendo para morrer.”
“Vincent.”
“Se o Conde Bellunita disser que não pode ver porque está cego, desta vez, não será o assassino, mas a pessoa que me fez assim quem vai vir com uma faca e me matar.”
Vincent fez um som de desdém. Ethan balançou a cabeça.
“A pessoa que te fez assim provavelmente já sabe da sua condição.”
“…”
O rosto de Vincent, que estava zombando da fala cortante, se endureceu. Seus olhos afiados ainda estavam voltados para o teto.
Mas não houve resposta. Parecia que ele concordava com aquela afirmação, até certo ponto.
O silêncio voltou. Seus olhares desalinhados não se encontravam facilmente. Vincent fechou a boca. Isso significava que ele não queria falar mais.
Era um tempo desperdiçado e sem sentido.
Ethan soltou um suspiro profundo, talvez percebendo isso.
“Vincent. Eu quero dizer… se você continuar assim, pretendo divulgar sua condição.”
Na fala chocante, Vincent virou a cabeça. Seus olhos se arregalaram rapidamente, cheios de choque. Paula também ficou surpresa. Ela esqueceu que estava fingindo não ouvir e olhou para Ethan, surpresa.
“Você está louco?”
“Talvez.”
“Ethan!”
Vincent gritou ferozmente. Mesmo assim, Ethan não perdeu o controle. Sua voz, horrivelmente calma, continuou.
“Vincent. Você é meu amigo mais querido, e eu não quero manter um amigo assim. Isso não é algo que possa ser escondido para sempre, e precisamos nos preparar para o que está por vir. Você não sabe disso também? Saber que você está fazendo isso é pura tolice.”
“…”
“Eu vou te tirar daqui de qualquer jeito, mesmo que te coloque em perigo. Viver assim é como veneno para você. Claro que seu médico não vai se importar com o processo.”
“Não fale bobagem.”
“Vamos ver se eu estou falando bobagem ou não.”
Ethan se levantou de repente. Vincent não se mexeu nem um pouco. Ele parecia tão chocado que mal conseguia respirar direito. Sua mão, que segurava o lençol, tremia. Paula ficou preocupada que ele pudesse ter uma convulsão.
“Escolha. Me convença ou não.”
“…”
O silêncio seguiu as palavras firmes. Vincent não respondeu facilmente. Ele apenas olhou para Ethan com fúria, e Ethan o encarou da mesma maneira. Por um momento, parecia que uma luz piscava entre os dois.
Uma visita chegou, e o trabalho dobrou. Depois de cuidar de Vincent, Paula foi para o quarto de hóspedes. Trocar as fronhas, as colchas, os lençóis e limpar o quarto. Normalmente, todas as salas da mansão eram limpas pelas empregadas em determinado tempo para mantê-las limpas, mas como não eram usadas há muito tempo, havia bastante poeira em lugares que você não via.
Ela limpou primeiro as janelas empoeiradas. Ethan a observava enquanto ela fazia isso.
“Como o Vincent está?”
Paula esfregou a janela com um pano seco, deu uma olhada nele e respondeu.
“Se você está curioso, por que não vai ver ele você mesmo?”
“Eu apreciaria se você me contasse.”
O sorriso dele era repulsivo.
Paula suspirou.
No dia em que os conselhos foram inúteis, Ethan finalmente saiu do quarto depois de virá-lo de cabeça para baixo. Dessa vez, ao vê-lo sair com uma atitude decidida de que nunca iria recuar, Paula ficou sem palavras.
“Me mostre. Do jeito que você quer tentar. Tudo bem em deixar assim, por favor, me faça sentir seguro.”
“Você é teimoso, mas eu sou impaciente. Vou te dar dois dias.”
O punho de Vincent tremia. Cego, ele nem conseguia sair da cama para tentar parar seu amigo. Em vez disso, teve uma crise. Paula correu até ele e colocou um respirador na boca dele. O rosto dele, respirando o ar ofegante, estava manchado de sofrimento.
Provavelmente, aquilo machucou muito seu orgulho.
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