Índice de Capítulo

    Minhas mãos e pés estavam inchados por causa do frio. Eu suportava o gelo esfregando minhas bochechas avermelhadas com as mãos. Quando cheguei em casa, com o corpo encolhido, meu pai me cumprimentou. Aquele filho do diabo.

    Eu não sabia por que ele me batia. Acabei me acostumando a ser agredida sem saber a razão. Me encolher era a única forma de me defender. Houve vezes em que meus irmãos tentaram impedir que ele me batesse e acabaram levando a surra também.

    No entanto, Alicia olhou para Paula e virou-se. Alicia era a única entre os irmãos que não apanhava. Era a filha mimada e protegida por meu pai. Mas ele fazia isso apenas para poder vendê-la pelo maior preço algum dia. Mas Alicia não sabia disso. Era por isso que ela se mostrava tão arrogante.

    À medida que as pessoas que me seguravam foram desaparecendo uma a uma, consegui suportar a dor e a tristeza de forma mais calma. Eu nem precisava de lágrimas. No momento em que percebi isso por mim mesma, acordei de um pesadelo. E então não consegui mais dormir.

    Paula se encolheu em um canto e se sentou. Então, ao encostar a cabeça na parede, ouviu um gemido familiar. Fechou os olhos e ouviu o som fraco.

    Do outro lado da parede, ele também estava lutando. Ela se sentiu confortada com aquele som. Ele poderia estar bravo, mas, às vezes, ela acordava dos pesadelos e ouvia seus gemidos. Ela esfregou as bochechas vermelhas contra a parede fria e derramou lágrimas para afastar o medo. Percebeu que não estava sozinha.

    “Então, isso significa que a família de Sir Christopher fez você ficar assim?”

    “Sim.”

    “Sir Christopher sabe?”

    “Ethan não sabe. Deve ser bom que ele ainda não saiba.”

    Paula perguntou o que ele queria dizer com aquilo. Ela estava tão surpresa que gaguejou, mas a pessoa a quem ela perguntava parecia tão despreocupada.

    “Eu estou apenas supondo. Mas não tenho certeza. Por isso, ele quis me perguntar. Ele não sabe se foi a família dele que realmente me fez assim.”

    “E você deu uma resposta?”

    “Ele não perguntou. Ele não pode perguntar.”

    “Por quê?”

    “Porque não estou em boas condições.”

    Paula ficou sem palavras.

    “Mesmo parecendo assim, ele é uma pessoa boa para mim. Ele não poderia ter perfurado minhas feridas enquanto eu perdia a visão e estava aterrorizado.”

    Foi só então que Paula entendeu o motivo de Vincent evitar Ethan. Mas, ao mesmo tempo, ela ficou com dúvidas. Como ele sabia tudo isso?

    “Por que você não conta para Sir Christopher?”

    “Porque eu não tenho motivo para contar.”

    Vincent levantou as pálpebras. Os olhos esmeralda, ainda nublados, mas resolutos, olharam fixamente para o ar.

    “Às vezes, você tem que manter um segredo.”

    ‘…’

    A conversa terminou ali. Ele ficou em silêncio e Paula não fez mais perguntas. Por outro lado, algo dentro de seu coração a alertava para não perguntar mais. Desde então, ela não mencionou mais a conversa, nem ele acrescentou uma explicação.

    Mas isso não significava que não fosse assustador. Paula fechou os olhos e, todas as noites, sentia com o corpo todo o peso terrível que fora colocado sobre seus ombros encolhidos.

    Segredos devem ser guardados em segredo.

    Finja que não viu o que viu, finja que não ouviu o que ouviu e não diga nada.

    Recordando mais uma vez as condições que precisam ser cumpridas para que ela trabalhasse como empregada ali, ela se dedicava a servir seu mestre naquele dia.

    “Mestre, acorde.”

    A forma redonda na cama se mexeu, mas não saiu de lá. Mesmo sendo uma pessoa sensível, ele deveria ter notado que ela entrara antes. Paula franziu a testa e puxou o cobertor.

    “Você precisa comer.”

    Quando o rosto dele foi revelado, ele fez uma careta, expressando seu desagrado. No entanto, seu rosto estava coberto de suor. Parecia que ele tivera um pesadelo na noite anterior e deve ter trabalhado demais durante a noite toda.

    “Você suou muito a noite inteira, então é melhor tomar um banho primeiro.”

    Agora, o cheiro de mofo no quarto havia sumido, e o número de objetos espalhados pelo chão diminuíra um pouco. A luz que entrava no quarto escuro já se tornara uma cena familiar, como uma rotina diária. Ultimamente, ele estava comendo bem e levando sua vida do jeito dele. Mas ele ainda se mostrava arredio e cauteloso quando alguém tentava tocá-lo.

    “Saia.”

    Ele agarrou a ponta do cobertor que ela tinha tirado. Porém, Paula não recuou e segurou com mais força o pedaço de cobertor.

    “Eu enchi a banheira com água.”

    Quando ela chegou ali, não conseguia nem imaginar que teria que banhá-lo. Mas, devido aos estranhos jogos de poder entre eles e às mudanças que ocorreram desde então, agora ela já podia pedir que ele tomasse um banho.

    “Por favor, saia.”

    Vincent deu um suspiro profundo. Ele parecia irritado com a mão que segurava o cobertor. Ele parecia estar de mau-humor naquele dia.

    “Eu vou ajudar você.”

    “Como da última vez, certo?”

    “Bem, então… eu vou verificar a temperatura da água e volto já.”

    Paula se refugiou no banheiro. Ela não tinha nada a dizer sobre o incidente da última vez: quando ela o deixou cair na banheira.

    Ela verificou a temperatura mergulhando a mão na água e, após um tempo, saiu do banheiro e se aproximou de Vincent, que estava deitado na cama, olhando fixamente. Quando ela cuidadosamente colocou a mão sobre o corpo dele, ele virou o rosto. Ignorando isso, que já era uma reação familiar, ela levantou o braço dele, colocando-o sobre seu ombro. Assim que o puxou, ele se levantou e desceu da cama.

    No entanto, ao contrário das palavras ríspidas dele, Vincent parecia relaxado naquele dia. Então Paula conseguiu levá-lo até a banheira mais facilmente do que esperava.

    Paula colocou a mão dele na banheira e ele tateou, tocando-a. Ela tentou rapidamente desabotoar o casaco dele para poder lavá-lo confortavelmente, mas ele parou sua mão.

    “Eu cuido disso, então saia.”

    “Tem certeza?”

    Quando Paula perguntou, surpresa com a cooperação inesperada dele, ele assentiu e começou a tirar a roupa devagar. Ela ficou ali parada, até ver ele tirar a camisa e deixá-la cair no chão, antes de finalmente voltar a si.

    ‘O que está acontecendo?’

    Paula se agachou rapidamente e pegou a parte de cima do pijama que ele tinha tirado. Ele estava prestes a tirar a calça quando de repente parou.

    “Se você não sair, eu sei como não tomar banho.”

    “Tudo bem.”

    Tsk.

    Quando ela estalou a língua e se levantou, o rosto de Vincent ficou sério ao ouvir o som. Ela achou que ele iria falar algo, então deixou as roupas dele no chão e rapidamente saiu do banheiro.

    E então, ela fingiu caminhar em um lugar, fazendo o som de passos. Quando ela foi diminuindo o som e parou, logo depois ouviu o som da água. Ele entrou na banheira.

    Apesar de se surpreender com a atitude inocente dele, Paula decidiu focar nas coisas que precisava fazer logo. Enquanto ele tomava banho, o quarto precisava ser limpo.

    Como sempre, Paula arrumou as coisas bagunçadas no fundo do quarto e trocou as colchas, lençóis e fronhas por novos. Depois, passou um pano em todos os cantos, varreu o chão e limpou a poeira dos móveis. Quando o quarto estava mais ou menos limpo, ela foi até o banheiro, satisfeita.

    Depois do banho, Vincent estava trocando de roupa. Ela pegou uma toalha do armário próximo e secou o cabelo encharcado dele. Com rapidez, ela secou os fios e ele aceitou calmamente.

    “As roupas de cama foram trocadas. Pode ir agora.”

    Depois de um tempo, quando o cabelo dele já estava seco, ela segurou seus braços e o apoiou. Ele caminhou lentamente até a cama e se sentou. Foi quando ela notou que o botão da camisa dele estava fora do lugar.

    Ela achou que ele estava bem-vestido hoje.

    Paula deu uma risadinha e desabotoou o botão novamente, fechando a camisa de baixo para cima.

    “Refeição.”

    “Hã? Ah, sim, refeição. Vou preparar.”

    Paula voltou até a porta e trouxe a bandeja de prata. Ficou segurando por um momento e, hesitante, se ajoelhou diante de Vincent. Colocou a bandeja sobre o colo dele e levou uma colher de mingau até sua boca. Vincent, então, aceitou calmamente e começou a comer.

    Da última vez, ele teve dor de estômago, mas agora ele terminou a tigela inteira. A mudança a agradou, e Paula o observou feliz enquanto ele comia. Ele terminou o prato limpo novamente hoje. Agora, ela achava que já era seguro preparar uma comida com pedaços pequenos.

    Após tomar toda a medicação, Vincent se deitou na cama limpa. Ele puxou o lençol até o pescoço e se virou, de costas para a parede.

    “Vou dormir.”

    “Sim, vou te acordar para o almoço.”

    Paula saiu do quarto satisfeita com a roupa suja e os pratos vazios que tinha recolhido.

    “O mestre tem comido bem ultimamente.”

    “Sim, ele terminou a refeição inteirinha hoje.”

    Paula mostrou a tigela vazia para a cozinheira. A cozinheira ficou emocionada e derramou algumas lágrimas. A ajudante da cozinha, que estava junto, também se juntou à conversa, sorrindo.

    “Acho que podemos começar a servir grãos de arroz agora.”

    “Vou preparar tudo direitinho amanhã!”

    Paula balançou a cabeça e saiu da cozinha. Depois, saiu do anexo e esperou por Renica.

    Mas, hoje, Renica não estava sozinha. Ela estava acompanhada de Isabella.

    “O mestre parece estar bem melhor ultimamente.”

    “Sim, ele tem comido bem e, agora pouco, tomou banho sozinho. Ainda tem aqueles ataques e joga coisas, mas bem menos do que antes. Da última vez, ele desceu da cama e andou um pouco.”

    Paula falou em voz baixa, só para Isabella ouvir. Na última vez, ele havia dado apenas um passo, mas ela também contou que ele havia saído do quarto. Ao ouvir isso, o rosto surpreso de Isabella veio à mente. Ela não reagiu tão fortemente, mas o franzir da testa foi uma expressão clara de surpresa.

    “Isso é um grande avanço. Você tem se esforçado bastante. Espero que continue nos ajudando.”

    “Sim.”

    Depois de uma conversa rápida com Isabella, Paula se aproximou de Renica. Pegou o cesto de roupas dela e entregou o cesto com lençóis e roupas limpas. Depois disso, se despediu e voltou para o anexo.

    Hoje, Paula tinha mais tempo do que imaginava, porque Vincent estava mais tranquilo. Fazia tempo que eles não brigavam. Depois de passar o dia todo brigando com ele, ela estava exausta ao olhar para o anexo. Por isso, aquele foi o primeiro dia em que ela realmente teve tempo de explorar o interior do anexo.

    O lugar era bem-arrumado. Ela soubera que uma empregada vinha limpar o anexo em um horário determinado. Então, Paula não precisava se preocupar com mais nada, só com o mestre, como Isabella havia lhe dito logo após a chegada dela.

    Graças a isso, o único lugar que Paula precisava limpar era o quarto do mestre. Além disso, o quarto onde Paula ficava era o que ficava ao lado do de Vincent, e os únicos lugares que ela frequentava eram a cozinha, para pegar a refeição, e a porta dos fundos, para entregar a roupa suja.

    “Era assim que parecia.” Paula olhava em volta da mansão, maravilhada, observando o teto, que parecia distante mesmo quando ela virava o pescoço ao máximo, e o interior, tão amplo que ela não conseguia olhar tudo de uma vez, mesmo se caminhasse o dia inteiro. Era a primeira vez em um lugar assim, então tudo parecia novo e impressionante.

    Ela então subiu uma grande escada no centro e olhou um por um dos quadros na parede.

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