Capítulo 24 - Hora do Chá com o Conde (6)
“Violet, não estamos sozinhas aqui.”
“Oh, meu Deus!”
Com as palavras de Ethan, Violet rapidamente endireitou o rosto e cobriu a boca com a mão. Ela ficou vermelha e sorriu como se estivesse envergonhada. A mudança nela foi tão surpreendente.
“Eu devo ter ficado parecendo uma tola, ho, ho”
“… não.”
“O que eu faço? O buquê está destruído.”
Ela tentou ajeitar o buquê amassado, mas flores não são algo que se conserte facilmente depois de quebradas. Violet, que estava mexendo no buquê, o colocou de lado e pegou outras flores.
“Ainda sobrou algumas flores que eu peguei. Posso fazer um novo com elas?”
“Sim, quer tentar?”
Paula tentou esquecer o que tinha acabado de ver e olhou as flores que Violet lhe entregava. Havia várias variedades, mas todas eram frescas e com cores bonitas. Paula podia sentir a sinceridade de Violet.
Paula colocou as flores no chão e pensou em como organizá-las para ficarem bonitas. Violet também sugeriu algumas coisas de lado. Ethan, de vez em quando, dava sua opinião, mas sem muito sucesso. Paula começou a montar o buquê, reunindo as boas ideias deles. O centro do buquê era uma flor roxa que lembrava Violet.
“Mas quantos anos Paula tem? Você parece jovem.”
“Eu tenho dezoito.”
“Ah!”
Violet bateu as mãos.
“Temos a mesma idade!”
Ela riu feliz, como se a coincidência de terem a mesma idade fosse algo importante.
‘Isso é algo para se alegrar?’
“Sempre quis ter uma amiga da minha idade. Estou muito feliz.”
‘Para ela, deve ter tido várias amigas da mesma idade por perto.’
À primeira vista, Violet mostrava sinais de ter sido bem amada e empregada. Além disso, seu rosto era bonito, ela era educada e sua personalidade… Então Paula se lembrou de quando ela destruiu o buquê, pouco antes.
Paula se concentrou em fazer o buquê em silêncio.
“Oh, Violet. Que tal mudar para um lugar mais confortável e fazer o buquê lá?”
“Hã? Por quê?”
Enquanto seguiam Paula para fazer um pequeno buquê misturando gipsofila entre flores cor-de-rosa e amarelas, Violet a olhou com uma expressão curiosa. Ao lado delas, Ethan estava montando flores com bastante destreza.
“Você está se sentindo muito desconfortável?”
“Não. Estou bem. Só fico preocupada de deixar a senhorita Violet sentada nesse chão sujo.”
“Eu estou bem. As flores são tão bonitas, e nem acho que isso está sujo. Pelo contrário, me sinto bem aqui.”
Violet sorriu como se estivesse realmente feliz e continuou trabalhando com as mãos para terminar o buquê. Ela misturou flores cor-de-rosa, amarelas e brancas ao redor de uma flor roxa e colocou gipsofila entre elas. Cortando os talos das flores, ela deu forma ao buquê.
“Você acha que o Vincent vai gostar?”
Nos olhos dela havia muito carinho ao olhar para o buquê que estava em seus braços. Logo depois, seu olhar se voltou para Paula, e ela assentiu com a cabeça.
Vincent não saberia como as flores eram bonitas de qualquer forma.
“Você pode entregar o buquê para ele? Quero que coloque ao lado da cama dele.”
“Eu vou.”
Paula pegou o buquê terminado de Violet. Ele estava bem grande, então parecia que poderia desmoronar se fosse segurado errado. Então Paula soltou o laço que prendia seu cabelo e usou para amarrar o buquê.
“Oh, meu Deus, eu deveria ter trazido algo para amarrar.”
“Tudo bem.”
Paula amarrou o buquê com firmeza para que não se destruísse e o segurou de volta nos braços. Depois olhou para outro pequeno buquê que havia feito e perguntou.
“Você gostaria de ficar com esse?”
“Oh, este…”
Violet estendeu um pequeno buquê para Paula.
“Eu vou dar para você. Não é grande coisa, mas é uma recompensa por me ajudar a fazer um buquê bonito.”
‘Isso é para mim?’
Quando Paula olhou surpresa, Violet sorriu e acenou com o buquê, indicando para ela aceitar logo. Paula abriu a boca, a fechou novamente e olhou o pequeno buquê. De algum jeito, não conseguiu aceitar. Violet pegou sua mão e lhe entregou o buquê de flores, agradecendo repetidamente.
Era estranho ver um rosto sorridente e amigável, e também era estranho receber tal gesto de carinho.
A primeira vez.
Algo assim…
Então Paula mexeu os dedos, que seguravam o buquê, sem saber o que fazer.
“… obrigada.”
“Eu é que sou mais grata. Obrigada, Paula.”
“…”
Paula olhou para o pequeno buquê em suas mãos.
O pequeno buquê tinha uma forma irregular. Violet realmente não era muito habilidosa. Todas as flores tinham grandes botões, e as cores estavam misturadas de maneira inconsistente. Estava mais chamativo do que bonito. Ainda assim, Paula não conseguia desviar os olhos do buquê.
Ela não sabia como segurá-lo, porque ter a sinceridade de alguém em suas mãos era algo que ela nunca tinha experimentado. Depois de hesitar, ela segurou o buquê com um pouco de força, para não danificá-lo.
“Vamos lá, senhora. Eu também quero dar um presente.”
“Oh, obrigada.”
Ethan colocou abruptamente o grande e vistoso buquê que ele havia feito nos braços de Paula. Ela lhe agradeceu formalmente em troca. Então Ethan reclamou que ela estava sendo muito fria em suas emoções.
Os braços de Paula estavam cheios de flores. Especialmente o buquê de Ethan, que era grande demais. Ela se atrapalhou e quase deixou cair o que ele lhe deu. Olhou rapidamente para ele. Felizmente, ele estava olhando para outro lado. Ela puxou o buquê com o pé e o colocou em algum lugar ao lado.
“Quando eu vou poder encontrar o Vincent? Estou cansada de só esperar.”
A voz melancólica de Violet fez Paula virar a cabeça. Ela viu Violet agachada novamente, olhando para o céu. Ela colocou os braços no colo e descansou o queixo sobre eles, absorvendo a dor no peito. Uma sombra escura caiu sobre ela.
“Será que o Vincent passou a me odiar?”
“Isso não pode ser verdade.”
“Ainda assim… ele só fica me evitando…”
“Se o Vincent sentisse isso, ele não estaria te evitando assim. Ele teria te afastado logo de cara.”
“É, você tem razão.”
Os ombros caídos de Violet chamaram a atenção de Paula. Mas a tristeza de Violet logo se transformou em raiva. Ela esmagou e arrancou os botões da floricultura.
“É como se ele estivesse me pedindo para terminar o noivado fazendo isso. Mas eu não vou deixar ele me largar.”
“…”
O barulho dos dentes rangendo era audível. Paula ficou sem palavras por um momento, mas logo voltou à realidade.
“Ele nunca faria isso.”
O olhar intenso de Violet se fixou em Paula. Paula engoliu seco.
“Sério?”
“Sim. Ele me disse que está muito arrependido por te fazer preocupar.”
Os olhos roxos e furiosos de Violet se voltaram rapidamente. Paula desviou o olhar. Claro, ele nunca disse isso. Mas, para proteger seu mestre, ela podia contar uma mentirinha, seria melhor do que falar a verdade. Era algo estranho comparado ao que ela tinha nas mãos.
Além disso, agora era a oportunidade perfeita para amenizar a situação.
“Que tal se mimar um pouco?”
“Mimar?”
“Sim. Às vezes, acho que é necessário ignorar um pouco os sentimentos do outro.”
“Eu… posso?”
“Claro. Você é a noiva dele. Vocês vão se casar algum dia, então pode ser mimada.”
‘Me pedindo para escrever uma resposta à carta, não seria errado agir assim?’
Parece que isso também começou com Vincent ignorando suas cartas, então Paula pensou que ela poderia fazer isso por ele. Claro, ele não escreveria por si mesmo.
Paula iria escrever por ele. Ela conseguia escrever um pouco, afinal. Na verdade, isso dava um pouco de trabalho, mas ela queria fazer isso em retribuição pelo buquê que Violet lhe deu. Violet havia dito que era uma recompensa por ajudá-la a fazer um buquê de flores para Vincent, mas Paula se sentia mais grata por ela ter elogiado e sido gentil com ela quando ela não fez nada de especial.
Então, quando Paula estava prestes a sugerir algumas maneiras de se mimar, pedindo para ela exigir uma resposta à carta, Violet se levantou rapidamente. Ela apertou os punhos, determinada a fazer algo.
“Paula está certa. Eu decidi!”
“O quê?”
Ela lançou um olhar intenso para Paula, que ficou confusa.
Quando Paula olhou para o rosto dela, sentiu um pressentimento ruim.
‘Não me diga que…’
“Eu, até me encontrar com Vincent, não vou voltar!”
‘Oh, fiz uma besteira.’
Violet disse que escrevia uma carta toda vez que vinha aqui e deu a Paula uma de suas cartas. As cartas estavam cheias de palavras dizendo que, se Vincent continuasse evitando-a, ela continuaria esperando aqui para sempre.
“Paula, me apoie!”
Quando Paula viu o peso nas palavras dela, ficou tonta ao imaginar o que aconteceria no futuro. Olhou para Ethan em busca de ajuda, mas, ao invés de responder, ele balançou a cabeça.
Ela estava perdida.
Paula choramingou e voltou para o quarto de Vincent. Ele raramente ficava na cama. Como se estivesse esperando por Paula, ele seguiu seus passos e imediatamente virou a cabeça.
“Como foi? Ela vai voltar?”
“Ah, isso… antes de mais nada, a senhorita Violet pediu que eu entregasse a carta.”
Como sempre, ela lhe entregou uma carta grossa cheia de sinceridade. Os olhos dele se abriram por um momento, depois se relaxaram novamente. Ele estendeu a mão. Paula colocou a carta na mão dele. Depois, cuidadosamente, colocou o vaso que trouxe na mesa de cabeceira.
Mas, dessa vez, ele nem abriu a carta.
“Posso ler para você?”
“Está tudo bem. Sei do que se trata.”
“Parece que a senhorita Violet gosta muito de você.”
“Eu disse isso da última vez. Não é esse tipo de sentimento. Nós crescemos como irmãos.”
“Vocês se conhecem há muito tempo?”
“Desde que nasci.”
Ah, ele disse que os três eram amigos. Eram mesmo amigos de longa data. Se fosse assim, a atitude amigável entre eles era compreensível.
Mas, por outro lado, começaram a surgir dúvidas. Para além de Vincent, Paula sentia que os sentimentos de Violet por ele não eram… bem… não eram de amor fraternal. Era algo mais apaixonado, algo que se sente por alguém do sexo oposto.
“Eu acho que a senhorita Violet é uma pessoa muito legal e gentil. Ela trata pessoas como eu com muito carinho. Vai ser muito bom, mestre.”
“O que você está dizendo de repente?”
“Eu acho que vocês dois ficam muito bem juntos.”
“…”
Vincent parou de falar. Os olhos finos e caídos tinham uma luz bastante penetrante. Era como se ele estivesse tentando adivinhar as intenções dela. Paula engoliu em seco.
“Sim, sim, mestre.”
Paula estava tão nervosa que gaguejou sem nem perceber. Apertou as mãos com força. Ela estava hesitante sobre como se salvar, mas Vincent inclinou a cabeça, como se sentisse algo estranho.
“Por que você parou de falar?”
“Você sabe… eu quero dizer… a senhorita Violet escreveu…”
“E o que ela escreveu?”
“A senhorita Violet…”
Paula lambeu os lábios, abertos e irregulares, e começou a dizer algo que jamais queria dizer, mas a porta se abriu com um estrondo e outra voz entrou rapidamente.
“Violet disse que não vai voltar até te encontrar.”
“O quê?”
Vincent virou a cabeça na direção do som surpreso. Paula também se virou surpresa para olhar Ethan. Ao ver o rosto chocado de Paula, Ethan sorriu de forma travessa.
“A senhorita fez uma besteira.”
O rosto de Vincent se voltou para Paula novamente. Ela fechou os olhos com força. Houve um silêncio por um momento. Logo depois, o buquê cheio de sinceridade foi jogado no chão mais rápido do que se esperava.
Crack!
‘Oh, eu tenho certeza de que ouvi isso. O som de todos os esforços que fiz até agora sendo quebrados em pedaços.’
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