Índice de Capítulo

    “Senhor.”

    “…”

    Paula olhou para Vincent, que estava encostado na porta. Ele podia sentir as batidas contínuas na porta, mas não se mexia.

    No momento em que a voz aflita de Violet fez seu rosto corar, ele imediatamente se levantou para sair da sala. Mas, ao se levantar, bateu o joelho no sofá novamente, tentou andar como se nada tivesse acontecido, mas acabou batendo o rosto na parede. Foi quando o sangramento no nariz começou. Porém, ele não se importou, virou-se e bateu as costas contra o armário à sua frente. Só depois que os enfeites caíram no chão e se quebraram foi que ele conseguiu sair da sala. E, como combinado, Paula o pegou pela mão e o conduziu até o quarto.

    Assim que entrou no quarto, ele trancou a porta. Violet, que o havia seguido, bateu na porta, mas ele não a abriu. Paula se sentou à sua frente, sem saber o que fazer. A temperatura do corpo da mão que ela ainda segurava estava tão fria que ela podia sentir vagamente o seu coração.

    “Vincent! Vincent!”

    Violet o chamava com tanta força que parecia que sua garganta ia estourar. Paula já havia visto uma situação parecida antes. E, como da última vez, ele não abriria a porta.

    “Senhor. A senhorita Violet continua chamando.”

    “… eu sei.”

    “Talvez eu devesse abrir a porta.”

    Vincent balançou a cabeça.

    “A prática não ajudou. É errado para um cego fingir que vê. Então aconteceu. Foi um fim predestinado. Já acabou. Tudo terminou…”

    “Vincent! Abra a porta! Por favor!”

    A voz de desespero se chocou contra a porta e desapareceu. Paula não sabia o que dizer para ele.

    Depois de um tempo, passos se aproximaram. Pareciam ser de Ethan. Paula o ouviu acalmando Violet. Logo, o som das duas duplas de passos se afastou.

    O silêncio tomou conta do lugar. Mesmo sabendo que os dois haviam ido embora, Vincent ainda mantinha a cabeça baixa. Paula olhou ao redor para checar a condição de Vincent e, então, suavemente envolveu seu rosto com as mãos. Seu rosto, marcado pela vergonha, estava agora pálido, seus olhos perdidos em desespero. Havia manchas de sangue ao redor de seu nariz. Ele nem teve tempo de limpar o sangramento direito.

    Ela soltou sua mão, se levantou e foi até o banheiro. Pegou uma toalha limpa, a molhou com água e voltou. Então, suavemente, limpou o sangue do rosto dele com a toalha molhada.

    “Ainda não… não acabou ainda. Não pode desistir agora…”

    “A senhorita Violet vai entender.”

    “Por enquanto, é assim que tem que ser.”

    O que ele queria dizer com isso? Paula inclinou a cabeça. Ele não disse nada de novo. Apenas um ar pesado pairava na sala, onde até seus próprios pensamentos tinham parado.

    Ela encontrou Ethan no caminho de volta depois de colocar Vincent para dormir, pois ele estava cansado. O sorriso no rosto de Ethan estava cheio de cansaço.

    “Desculpe.”

    “Por que a senhorita está pedindo desculpas? Para ser precisa, não é sua culpa.”

    Ainda assim, era verdade que esses quatro meses haviam sido causados pelo que ela disse. Ela supunha que fosse por isso que Isabella a tinha avisado para ter mais cuidado com suas palavras. O momento sem volta agora ficava marcado com arrependimento.

    “Tudo vai ficar bem.”

    Ethan deu um tapinha no ombro de Paula. Seu jeito leve, como sempre, de algum modo a confortou.

    No dia seguinte, a mansão estava silenciosa. Ethan não apareceu em lugar nenhum, e Violet, que havia batido na porta até a noite anterior, também não apareceu. Paula achou que ela voltaria, mas talvez Ethan a tivesse acalmado.

    Como sempre, Paula arrumou o quarto e verificou como Vincent estava. Ele tinha comido bem ultimamente, saía da cama e andava, e não teve mais convulsões. Mas era um segredo que só Paula sabia: ele sofria de pesadelos a noite inteira.

    Paula estava entregando a roupa suja para Renica e pegando uma nova quando alguém a chamou.

    “Paula.”

    Era Violet.

    Ao se aproximar do chamado, Paula viu que os olhos de Violet estavam vermelhos e inchados. Ela parecia ter chorado a noite toda.

    “Como o Vincent está? Ele ainda está muito bravo?”

    “Por favor, não se engane. O senhor não está bravo.”

    “Então estou aliviada.”

    Violet sorriu fracamente. Era uma pena ver seus ombros caídos.

    “Eu ouvi de Ethan. Você sabia disso, não é?”

    “Desculpe.”

    “Ah, querida. Paula não precisa pedir desculpas.”

    Violet fez um gesto com a mão. No entanto, seu rosto pálido não parecia bom. Ela parecia ter ficado acordada a noite toda. Bateu na porta e o chamou, e parecia ter exagerado. Paula se preocupou que ela fosse desmaiar ali. Ela tirou o avental e o deixou na sombra próxima, sentando Violet sobre ele. Depois, Paula sentou-se ao lado de Violet também.

    “Eu acho que seria melhor você descansar aqui.”

    “Obrigada.”

    Violet sorriu com dificuldade. Quando apoiou a cabeça na parede, o vento entrou e refrescou o calor.

    “Paula, você vai me ouvir?”

    “Sim. Pode falar.”

    Violet lambeu os lábios lentamente.

    “Quer dizer, desde criança, eu fui uma noiva que faltava muito nas aulas. Eu odiava o conhecimento e as boas maneiras que uma dama tinha que aprender. Porque eu era uma preguiçosa. Preferia levantar minha saia longa e correr por aí do que ficar parada.”

    Perdida nas suas memórias de infância, Violet sorriu feliz. Sua melancolia passou por um momento.

    “Então minha mãe ficava muito irritada. ‘Uma dama não pode fazer isso, então nenhum homem vai gostar de você.’ Sempre que eu estava preocupada assim, Vincent me confortava. Ele dizia que gostava de mim porque eu mostrava meu charme verdadeiro sem o esconder. Ele me disse que era mais divertido se combinar com a pessoa do que se sacrificar por ela.”

    “Que coisa admirável o senhor disse, né?” Paula, honestamente, não conseguia imaginar. Então, sem querer, olhou para Violet com desconfiança. Felizmente, Violet estava tão imersa nas memórias calorosas de seu passado que não percebeu o olhar de Paula sobre ela.

    “Eu gostava daquele Vincent. Eu queria estar ao lado dele, ele era alguém que olhava para dentro da pessoa, não para fora. Então, quando eu era jovem e meu noivado com Vincent foi decidido, eu fiquei feliz por dentro. Porque Violet iria ficar com ele para o resto da vida.”

    “…”

    “Eu não me importava se Vincent me tratasse como amiga ou como família. Eu vou amá-lo, meu marido, de todo o coração. Até que meu amor me consuma, mesmo que todos se afastem dele, eu estarei ao seu lado, foi isso que eu prometi.”

    Suas convicções eram evidentes em sua voz determinada. Não havia sequer a menor hesitação em seu rosto erguido com firmeza. Ela estava sussurrando sua própria história de amor de maneira tão linda. A mulher que expressava seu amor havia chegado. Ela era tão encantadora que só de observá-la qualquer um se perderia.

    “Então… eu pensei que poderia aceitá-lo, não importando como ele fosse… na verdade, Paula. Quando descobri a verdadeira condição do Vincent, eu pensei nisso por um momento, mas eu odiei.”

    A luz se apagou e a escuridão caiu novamente. Violet sorriu como se estivesse chorando e deixou seus ombros caírem.

    “Eu sou uma pessoa tão feia. Se eu tivesse sido mais perspicaz, teria percebido as dificuldades de Vincent. Eu estava feliz em encontrá-lo, não sabia que ele estava passando por problemas. Deve ter sido muito difícil para ele vir me encontrar. Ele devia estar com medo… eu não sabia disso e ficava fazendo perguntas sobre por que ele não estava me encontrando. Eu não mereço ser esposa dele.”

    “Isso não é verdade.”

    “Uma boa esposa deveria tê-lo abraçado calmamente, sem se assustar com sua aparência. Eu deveria ter sussurrado que estava tudo bem e que ainda o amava.”

    Paula imediatamente balançou a cabeça. Aquilo era algo que não podia ser facilmente julgado como certo ou errado. A atitude de Violet era natural, e Paula sabia que, mesmo sendo inexperiente, ela também sabia disso.

    “Senhorita Violet, se me permite, acho que essa não é uma questão sobre quem tem razão ou quem errou. Como a senhorita poderia saber o que o mestre e o senhor Ethan estavam escondendo? Seria bom se a senhorita tivesse percebido antes e fingido não saber, mas não acho que isso seja algo para se culpar por não ter feito. E acho que a reação da senhorita Violet foi natural.”

    “Sério?”

    “Sim. Para ser sincera, eu acho mais impressionante quando alguém percebe algo que está sendo escondido com tanto esforço. Como alguém que estava observando de fora, o mestre estava escondendo isso muito bem. Se eu não soubesse da condição dele, também não teria percebido.”

    Quando Paula acrescentou que ele até havia praticado, Violet sorriu naturalmente. Ela perguntou que tipo de prática eles tinham feito, e quando Paula contou que ele preparou tudo, desde caminhar até levantar uma xícara de chá e falar, Violet sorriu tristemente, dizendo que isso devia ter sido muito esforço para ele.

    E a tristeza dela se dissipou.

    “O que quero dizer é que a senhorita Violet não precisa se culpar. Honestamente, é pior esconder algo de alguém que vai ser sua esposa um dia. Então, você pode agir como uma criança. Como eu disse antes, às vezes ignorar os sentimentos do outro traz bons resultados.”

    “Será mesmo? Haverá bons resultados?”

    Paula acenou com a cabeça firmemente. Claro, nem sempre os resultados seriam bons, mas agora os dois precisavam de uma oportunidade para se enfrentarem. E aquele era o momento. Se fosse pelo bem do outro, Paula acreditava que o esforço com certeza levaria a bons resultados.

    “Faça o que a senhorita Violet quiser.”

    “Fazer o que eu quero…”

    Violet sussurrou em voz baixa, inclinando a cabeça e olhando para o céu. Seus olhos roxos brilharam. Como se estivesse ponderando por um momento, um sorriso decidido apareceu em seu rosto.

    “Sim. Quero ser mais infantil. Tudo bem ser egoísta. Se for assim que eu posso encontrar o Vincent, vou fazer isso. Quero estar ao lado dele.”

    Ela olhou de volta para Paula com o rosto iluminado. Seu cabelo fino se movia com o vento.

    “Paula, torça por mim.”

    Seus olhos determinados brilhavam intensamente. Não, ela mesma estava radiante. Paula não conseguia tirar os olhos de Violet, que temia queimar seu próprio amor.

    Linda. Violet era bonita, mas o coração de tentar enfrentar o outro sem desistir desde o início era ainda mais belo.

    ‘Se eu amar alguém, vou ser assim?’

    Paula sorriu tristemente.

    ‘Eu nunca terei uma pessoa assim ao meu lado.’

    ‘As mãos da dama nobre da minha idade continuarão lisas e finas, mas as minhas mãos continuarão rudes e gastas. Minha aparência também não vai mudar. Nunca vou ter um momento marcante na minha vida.’

    “Sim.”

    ‘Mas desta vez, eu estava disposta a responder.’


    A partir daquele dia, Violet persistiu na frente da porta de Vincent. Ela o chamava pela porta. Mas ele não abriu. A porta não estava trancada. Mas Violet insistia em esperar que ele abrisse por si mesmo.

    Ethan contou a Paula que, novamente, estava suando para acalmar Violet, que estava prestes a pular as refeições e correr para o quarto de Vincent. Ethan também tentou persuadir Vincent falando com ele depois daquele dia, mas falhou todas as vezes. Esse não era um problema que poderia ser resolvido com coação, como na última vez.

    ‘Por que você não fala pela primeira vez?’

    Paula não pôde recusar devido ao sorriso fraco dele.

    Olhando para Vincent, que estava comendo, ela falou devagar e hesitante.

    “Mestre, por que você não se encontra com a senhorita Violet?”

    “Pare.”

    Ele cortou suas palavras de imediato. Colocou a tigela que estava segurando na mesa de cabeceira. Não tinha comido nem metade dela.

    “Estou sem apetite, então pegue isso.”

    Paula o impediu de se deitar na cama.

    “A senhorita Violet disse que aceitaria o mestre de qualquer jeito.”

    “Pare com isso.”

    “Ela vai continuar esperando na porta. Vai acabar desmaiando lá.”

    “Pare! Não diga mais nada. É uma ordem.”

    Vincent agarrou o pulso de Paula. A voz determinada dele era diferente da de antes.

    Não ultrapasse essa linha. Havia um aviso claro.

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