Capítulo 38: Stripper Virtual
A mulher era muito proativa e parecia ter boa desenvoltura social. Apesar de estar encontrando completos desconhecidos em um local novo, não demonstrava o menor constrangimento.
— O valor inicial é 80 mil. Apenas os casos sem risco e de resolução simples custam esse valor — Kim Hee-cho naturalmente se saía melhor do que Adam e seus amigos quando o assunto era negociar. Manteve um sorriso cortês enquanto continuava: — Posso confirmar que o serviço oferecido envolve três adaptadores. As três pessoas à sua frente agora são psicoterapeutas com ampla experiência.
— É mesmo? — A mulher deu uma tragada em seu cigarro eletrônico do Metaverso enquanto examinava o trio de Adam. — Eles parecem bem jovens. Compraram skins no Metaverso pra parecerem mais novos?
— Você acertou em cheio. Se não fôssemos tão jovens, não estaríamos cobrando tão pouco — disse Adam. — Se estivesse lidando com psicoterapeutas adaptadores experientes, talvez nem conseguiria contratá-los por 800 mil, quem dirá por 80 mil.
A mulher hesitou um pouco ao ouvir isso, então assentiu em aprovação.
— Isso é bem razoável, e vocês estão sendo muito sinceros comigo. Gosto disso. Vamos discutir os termos.
A mulher começou a se apresentar.
— Meu nome é Karen, e no Metaverso as pessoas me chamam de Twerking Karen. Sim, eu sou uma stripper virtual — disse Karen, dando mais uma tragada no cigarro. — Não estou contando isso pra fazer cena nem nada, então não pensem demais. É só que a condição da minha filha pode ter algo a ver com minha ocupação, e estou aqui por causa dela.
— Entendo. É uma profissão perfeitamente legal.
Kim Hee-cho assentiu, indicando que não tinha preconceito quanto à profissão.
Desde a criação do Metaverso, o mercado para strippers virtuais havia explodido.
A tecnologia háptica permitia tocar e sentir as strippers pela internet, e além disso, havia muitos efeitos especiais de pele e diferentes tipos de movimentos que podiam ser realizados no ambiente virtual. Diante dessas vantagens, muitas pessoas preferiam a prostituição online à versão do mundo real.
No entanto, nos últimos anos, os negócios haviam começado a declinar. À medida que os ídolos virtuais se tornavam mais populares, strippers totalmente virtuais, perfeitas em todos os sentidos, começaram a substituir gradualmente suas contrapartes humanas, consideradas imperfeitas. Se não fosse pelo diferencial do ‘realismo’, a indústria já teria sido completamente dominada pelos virtuais.
— Vou ser bem sincera. Sou uma pessoa tranquila e descontraída, e não ligo pra orgulho ou reputação. Nessa indústria, já vi todo tipo de cliente e ouvi mais insultos do que consigo contar, mas não me importo. Se estou feliz e ganhando dinheiro, que se dane o que os outros pensam. O problema é que minha filha é diferente. — Karen pegou um cinzeiro e apagou o cigarro enquanto falava. — Ela é uma garota inteligente, sensível e frágil. Me despreza, e acha que minha profissão faz dela motivo de piada entre os colegas de escola.
Kim Hee-cho assentiu em silêncio.
— Entendo, mas será que isso é um problema sério o bastante pra recorrer a adaptadores?
— Você tem razão. No começo, ela só era um pouco rebelde, mas nos últimos seis meses as coisas pioraram bastante, e às vezes ela tem surtos de raiva incontrolável. Uma vez, vi ela espancando um cachorro de rua, e parecia que tinha enlouquecido. Depois disso, levei-a a um terapeuta, e ele disse que talvez ela tenha sofrido algum tipo de trauma na escola, mas não conseguiu convencê-la a contar o que aconteceu. Por isso decidi recorrer a vocês. Quero que descubram o motivo do agravamento do estado mental dela. Isso é uma tarefa bem simples, que pode ser coberta com os 80 mil, certo?
Karen fazia questão de enfatizar o preço-base de 80 mil, o que deixava claro que ela não era muito rica.
Strippers virtuais ganhavam muito mais que trabalhadores comuns, mas mesmo assim, acumular uma grande fortuna ainda era um sonho distante.
— Vamos dar uma olhada. Se tudo que você quer é que descubramos o motivo do comportamento dela, acho que 80 mil devem ser suficientes.
Kim Hee-cho lançou um olhar questionador para Adam enquanto falava, e Adam assentiu em concordância.
De fato, descobrir o motivo não era uma tarefa difícil.
Mesmo que a garota não quisesse contar a ninguém, ou mesmo que já tivesse esquecido o que aconteceu, ainda assim era uma missão simples.
O difícil era resolver o problema e enfrentar a anomalia.
— Atuamos principalmente na área da Cidade de Sandrise. Posso perguntar de onde você é?
— Sou da Cidade de Sandrise. Se não fosse, nem teria vindo até vocês.
— Entendo. Tudo bem, então vamos definir um horário. Acho que amanhã…
— Pode ser agora. Minha filha está em casa neste momento.
Karen era uma mulher impaciente e não queria nenhum tipo de atraso desnecessário. Adam e os outros conversaram rapidamente e decidiram que, como não tinham mais nada pra fazer naquele momento, não havia por que adiar a sessão para o dia seguinte.
Assim, ambas as partes chegaram a um acordo e todos deixaram o Metaverso após trocarem endereços e contatos.
Ao remover o capacete e retornar ao mundo real, Adam se viu de volta em seu quarto no dormitório.
Era a primeira vez que ele entrava no Metaverso, e a sensação desconcertante de atravessar a realidade e o ciberespaço deixou um desconforto residual que durou alguns segundos.
Em contraste, Gancho e Nie Yiyi estavam se saindo muito melhor. Eles não eram quadros em branco e já haviam entrado no Metaverso incontáveis vezes no passado.
— Eu não esperava que a gente fosse conseguir um trabalho assim que lançássemos o anúncio. Parece que ganhar dinheiro nessa área é ainda mais fácil do que eu imaginava — comentou Gancho. — Já temos 80 mil garantidos. O Bar do Suor que minha família administra talvez nem consiga esse valor em meio ano.
— Esses 80 mil não vão todos pra você. Trinta por cento vão pro proprietário, e o restante ainda tem que ser dividido entre os três, então na real não é tanto assim — disse Nie Yiyi, balançando a cabeça. — Eu entrei nessa não só pra ganhar dinheiro, mas também pra treinar. Anomalias emocionais são alguns dos melhores oponentes para se treinar. Se for só pra investigar a causa do estado da paciente, deixo esse trabalho com vocês dois. Assim, vocês nem precisam dividir a grana em três partes.
Depois de expressar seu desejo de não participar do trabalho, Nie Yiyi se retirou imediatamente, e Adam não tentou convencê-la a ficar.
Eles já haviam combinado que ela seria uma funcionária externa, então tinha liberdade total.
Além disso, Gancho claramente era mais habilidoso quando se tratava de investigação.
No entanto, Adam também não estava particularmente interessado naquele trabalho. Seu objetivo era o mesmo de Nie Yiyi, e para ele, as anomalias emocionais em si tinham mais valor do que a compensação financeira. No entanto, aquele era o primeiro dia do novo negócio, e era necessário que ele passasse pelo processo e se familiarizasse com os procedimentos para aceitar missões, então não recusou o serviço.
Depois de sair da academia com Gancho, os dois pegaram o trilho do vazio para deixar a área onde ficava a Academia Layton.
O trilho do vazio era extremamente rápido e, apesar de a Cidade de Sandrise ser uma metrópole gigantesca, capaz de abrigar centenas de milhões de habitantes, o sistema permitia chegar a qualquer ponto da cidade em até duas horas.
Ao chegar a uma área residencial comum, encontraram Karen em frente a um prédio com mais de cem andares. Kim Hee-cho já havia chegado antes deles, então também estava presente.
Com exceção das roupas, os dois se pareciam bastante com suas versões no Metaverso, então Adam e Gancho os reconheceram imediatamente.
— Olá.
— E a garota de antes?
Karen pareceu um tanto desapontada ao ver que apenas dois adaptadores haviam aparecido.
— Ela é pessoal de combate, então só estará presente se o combate for necessário. — Adam já havia pensado numa desculpa antes de vir. — Pode ficar tranquila, se não conseguirmos resolver o problema, não vamos cobrar nada.
Karen assentiu com uma expressão aliviada ao ouvir aquilo.
— Certifiquem-se de incluir essa cláusula no contrato.
Depois disso, ela se dirigiu ao prédio e destravou um elevador voador com sua impressão digital.
Todos entraram no elevador voador, que havia sido projetado para se assemelhar a um pequeno dirigível, e logo chegaram à varanda do apartamento de Karen, localizado em um andar acima do oitenta.
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