Capítulo 132: Eu Não Quero Viver Assim (3/10)
Chohong parecia estar subitamente muito ocupada. Quando ele acordava de manhã, ela já tinha saído, e passou a ser bem comum vê-la voltando só tarde da noite. Mais do que isso, ela nem aparecia mais na sala de treino e, quando a situação piorou de vez, ele chegou a não vê-la por um dia inteiro.
Mas, quando ela finalmente voltava para o escritório, era difícil se aproximar. Chohong sempre se sentava sozinha, quieta, às vezes com o queixo apoiado nas mãos, mergulhada em pensamentos, ou demonstrando, mesmo que de forma sutil, o quão ansiosa e pressionada estava mentalmente.
Ele perguntava várias vezes o que havia acontecido, mas a resposta era sempre a mesma: — Não é nada. Não se preocupa com isso.
“Mas alguma coisa aconteceu.”
Apesar de se sentir um pouco magoado por ela não confiar nele, também entendia que certas coisas cada pessoa precisava resolver por si. Então Seol decidiu esperar pacientemente até que ela estivesse pronta para falar e mergulhou de volta na sua rotina diária. Pela manhã, treino físico. À tarde, treino de habilidades e de mana. Depois, dormir. Como um esquilo girando numa roda, ele repetia o mesmo ciclo sem parar.
Só que o tempo seguia em frente. Um dia, dois dias, depois três, quatro… Uma semana se passou, e Chohong sequer aparecia mais no escritório. Ele nunca tinha visto ela sumir por mais de dois dias seguidos, então era inevitável que a preocupação começasse a tomar conta.
E não era só isso. Ele também não fazia ideia de que tipo de missão Dylan e Hugo tinham recebido, mas os dois ainda não haviam retornado. O que, afinal, estava acontecendo?
Agora que a situação tinha chegado a esse ponto, era natural que Seol Jihu começasse a suspeitar que havia algo de muito errado. Com certeza tinha algo acontecendo, algo de que ele não fazia parte. Convencido disso, ele decidiu não dormir naquela noite e ficou esperando no sofá.
Chohong retornou ao escritório na madrugada do quarto dia de sua vigília. Ela abriu a porta com cautela e entrou andando devagar, mas seus olhos se arregalaram na hora ao vê-lo.
— Você ainda tá acordado?
— …
— Estava me esperando? Desculpa, desculpa. Tive umas coisas pra resolver.
— …
Chohong não era boba. Enquanto ele permanecia sentado em silêncio no sofá, apenas encarando, ela desviava o olhar e o observava de canto. Dava pra perceber com facilidade que estava se sentindo culpada com alguma coisa.
— Huaam~, tô tão cansada…
Ela fez de tudo para fingir que não havia nada de errado e passou direto por ele, mas…
— …Chohong.
A voz baixa e contida dele a fez parar no mesmo instante.
— Senta aqui comigo, por favor.
Tap!
Seol Jihu pousou a mão sobre a mesinha de centro.
— A gente precisa conversar.
Uma cena até que interessante se desenrolava no terceiro andar do escritório da Carpe Diem. Seol Jihu, com suas perguntas afiadas como faca, sondava a verdade sem parar, enquanto Chohong, tomada de pânico, se atrapalhava completamente, negando com as mãos agitadas. Se qualquer Terrestre que conhecesse sua verdadeira personalidade, a mesma que a fez ser eleita como uma das três principais do grupo conhecido como as Seis Malucas, visse esse espetáculo, provavelmente desabaria sob o peso do choque mental.
Algum tempo depois, Seol Jihu finalmente interrompeu o interrogatório, e suas sobrancelhas arqueadas relaxaram um pouco.
— Então, você tá dizendo mesmo que não é nada sério, né?
— Éééé isso mesmo!! Já falei, não é nada fácil subir para os Altos Ranks!
— Mesmo assim, eu me sinto meio excluído, sabia? Digo, pelo menos a gente podia bater cabeça juntos e tentar resolver isso. Dois cérebros pensam melhor do que um.
— Ah, mas eu também tenho meu orgulho, né. É meio vergonhoso ficar pedindo ajuda só porque não consigo resolver um quebra-cabeça de jogo, fala sério. Afinal, sou uma Nível 4, né?
Chohong soltou uma risadinha e se apressou em completar:
— E além disso, eu queria muito conquistar isso com meu próprio esforço. Assim eu posso andar de cabeça erguida e me sentir orgulhosa quando virar uma Alto Ranker. Então não fica assim e tenta me entender, tá?
Ela riu e deu uns tapinhas nas costas dele. A palavra ‘jogo’ incomodou Seol Jihu por algum motivo, mas ele preferiu não comentar. Ele não acreditava nela completamente, mas, já que ela estava sendo aberta daquele jeito, não tinha muito o que dizer.
— …Entendi.
No fim das contas, Seol Jihu escolheu recuar um passo. Chohong pareceu visivelmente aliviada.
— Mas se estiver difícil demais, me conta, tá bom? Vai que tem algo que eu possa ajudar.
— Deixa eu tentar mais um pouco. Se eu realmente não conseguir resolver, aí eu peço tua ajuda. Bom, igual você disse, é mais fácil resolver um problema com dois… ah, como era mesmo?
— É mais fácil resolver um problema com duas cabeças do que com uma.
Seol Jihu esboçou um sorriso amargo.
— Isso mesmo… Ah.
Chohong coçou a lateral da cabeça e, do nada, soltou uma pergunta totalmente fora de contexto.
— Ei, você não vai pra casa, não?
— Casa? Por que tá falando da minha casa assim do nada?
— Sei lá, só… Não tá na hora de dar uma olhada em como as coisas estão por lá?
— De jeito nenhum. Não quero. Nem pensar.
Seol Jihu balançou a cabeça como se nem valesse a pena cogitar o assunto. Chohong o encarou por um momento e suspirou suavemente.
— …Tá bom.
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