Capítulo 426 - Conclusão sombria.
Ghindrion e o velho Myvraid estavam caídos no chão, respirando com dificuldade após terem sido brutalmente atacados pelo rei.
Eles olhavam para a cena com medo, enquanto Morwyna, de olhos brancos e possuída por uma força desconhecida, enfrentava seu inimigo.
— Vovô… aquela é a Morwyna…?
— Eu… não sei…
Morwyna ergueu a mão, e uma corrente de água se materializou ao seu redor, girando e ondulando como uma serpente pronta para atacar.
O rei, com um sorriso cruel nos lábios, não se intimidou.
— Água? — desdenhou. — Isso é tudo que sabe usar?
Ele levantou as mãos e chamas intensas explodiram de seus punhos, iluminando a noite com um brilho infernal.
— Vou queimar você até as cinzas, garota!
Morwyna não respondeu, seus olhos brancos focados nele. Com um movimento fluido, ela lançou a corrente de água em direção ao rei.
Booom!
As chamas e a água colidiram no ar, criando uma explosão de vapor e uma onda de choque que sacudiu tudo ao redor.
— Isso é tudo que tem?
O rei se lançou para frente, seu corpo envolto em fogo. Ele desferiu um soco, e uma bola de fogo se formou em sua mão, disparando diretamente para Morwyna.
Ela desviou por pouco, a bola de fogo explodindo contra a choupana atrás dela e enviando fragmentos de madeira voando.
“Merda, é o corpo de uma criança que ainda não está com a magia desenvolvida”, pensou a entidade. “Não importa, contra ele deve ser o suficiente!”
Morwyna aproveitou a oportunidade e criou uma lança de água, que ela arremessou em direção ao peito do rei.
Splash!
Ele bloqueou o ataque cruzando os braços, mas o impacto o jogou para trás.
Com um rosnado de raiva, o Elfo se recuperou rapidamente e correu em direção a Morwyna, suas mãos transformadas em punhos de fogo.
— Não importa o poder que possui — rosnou. — Você ainda é só uma criança!
Ele desferiu uma série de socos, e cada um deles deixava um rastro de chamas no ar.
Morwyna defendeu-se com habilidade, criando escudos de água para amortecer os golpes e desviando-se agilmente dos ataques.
Em um movimento rápido, ela lançou um chute lateral que acertou o rei no estômago, fazendo-o recuar. Aproveitando a vantagem, ela girou e desferiu um soco que envolveu a cabeça do Elfo em uma bolha de água, sufocando temporariamente suas chamas.
Não havia como ele agarrar algo líquido. Mesmo que ele estivesse se debatendo, a bolha não desaparecia.
— Você gosta de bater em velhos e crianças, né? Não passa de um covarde! — disse a entidade.
Cruch!
Imbuindo o punho com mana, ela acertou as costelas do rei, deixando a bolha d’água vermelho sangue.
Ghindrion e Myvraid observavam boquiabertos Morwyna lutando com uma ferocidade e uma habilidade que nunca haviam testemunhado.
“Tsc! Mesmo imbuindo meus punhos com mana, ainda dói. É o corpo de uma criança, afinal.”
A majestade soltou um rugido de frustração, explodindo a bolha de água ao seu redor com uma explosão de fogo que fez tudo tremer.
— Foi um golpe de sorte!
Ele lançou-se para frente, agarrando Morwyna pelo braço e jogando-a contra as árvores.
Cof!
A pequena golfou sangue após bater as costas em um tronco.
“Merda! Não posso continuar sendo atingida assim, esse corpo não é resistente!”
Ela levantou a mão e uma onda de água irrompeu do chão, atingindo seu tio com força suficiente para empurrá-lo para trás.
— Você é forte, garota. — Ele sorriu, seus dentes brilhando à luz das chamas. — Mas sou bem mais!
Ele levantou as mãos, e chamas mais intensas começaram a envolver seu corpo, crescendo até formarem uma enorme figura de fogo ao seu redor.
— Você é só uma criança petulante — disse a entidade. — Aberração de orelhas pontudas!
Morwyna, seus olhos ainda brilhando com um brilho sobrenatural, ergueu ambos os braços e a água das plantas e do ar ganharam forma e se agitaram, formando um ciclone ao seu redor.
A batalha atingiu um novo nível de intensidade.
O tio lançou uma rajada de fogo imensa em direção a Morwyna, mas ela respondeu com um jato de água que colidiu com as chamas no meio do caminho.
Booom!
A explosão resultante lançou ambos para trás, mas nenhum dos dois hesitou. Eles se levantaram ao mesmo tempo, prontos para continuar a luta.
Morwyna se moveu com uma velocidade impressionante, saltando em direção ao rei e desferindo um soco que ele bloqueou com o antebraço. Ela seguiu com um chute giratório que o atingiu no rosto, fazendo-o cambalear.
— Desgraçada!
O elfo rugiu e tentou agarrá-la, mas Morwyna deslizou para fora de seu alcance, seus movimentos tão fluidos quanto a água que controlava.
Ela estendeu a mão criando um círculo mágico, e um jato de água em alta pressão disparou, atingindo o rei no peito e lançando-o contra as árvores. Ele se recuperou rapidamente, mas Morwyna já estava sobre ele, suas mãos brilhando com mana do pélago.
“Que rápida!”
— Peguei você, criança petulante de orelhas pontudas!
Bam! Bam! Bam! Bam!
Ela desferiu uma sequência de golpes rápidos, cada soco e chute carregado com a força de poderosas ondas.
Seu tio retaliou com um poderoso golpe de fogo que acertou Morwyna no ombro, queimando sua pele e fazendo-a gritar de dor. Mas a jovem, possuída por uma força desconhecida, ignorou a dor e continuou a pressionar o ataque.
— Criança petulante, eu? — Ele saltou para trás, seu corpo queimando como chama viva. — É você que pensa que consegue vencer!
Avançaram na direção do outro e a luta continuou, com ambos os combatentes trocando golpes físicos e ataques elementares. Explosões de fogo e água sacudiam a redondeza, enviando fragmentos de poeira e vapor em todas as direções.
Finalmente, Morwyna encontrou uma abertura.
Ela conjurou uma esfera de água que envolveu o rei, sufocando suas chamas e deixando-o vulnerável.
“Agora!”
Com um grito de guerra, ela desferiu um soco direto no rosto dele, seguido por um chute poderoso que o lançou contra uma árvore de tronco robusto. Antes que ele pudesse se recuperar, Morwyna ergueu ambas as mãos e uma onda massiva de água desabou sobre ele, esmagando-o contra o chão.
Splash!
Ele lutou para se levantar, suas chamas enfraquecidas e seu corpo exausto. Morwyna, ainda de olhos brancos e possuída pela entidade desconhecida, caminhou lentamente até ele, sua presença aterradora, mas algo estava saindo de controle.
Seus braços estavam erguidos, mas uma força invisível a impedia de continuar.
“Merda! A garota desse corpo… ela está assumindo o controle?”
— Você está fraquejando, garota — ele zombou, seu punho flamejante se chocando contra o rosto dela, lançando-a para trás.
Bam!
“Porcaria, agora não, garota!”
Morwyna tentou se erguer, mas sua visão estava turva.
— Eu disse que venceria, pirralha!
As chamas de seu tio a envolveram, queimando sua pele e roupas, enquanto ele desferia uma série de golpes devastadores.
Bam! Bam! Bam!
Cada soco e chute parecia penetrar diretamente em sua alma, e a entidade dentro dela começou a perder o controle, cedendo espaço à mente frágil e confusa da criança que habitava seu corpo.
— Não… pare… — Morwyna murmurou, suas palavras quase inaudíveis entre os gritos de dor.
O rei não mostrou piedade.
Ele a segurou pelo cabelo, erguendo-a do chão com facilidade e lançando-a contra uma pedra com um movimento brutal.
As árvores tremeram com o impacto, e Morwyna caiu ao chão, seu corpo contorcendo-se de dor. Seu tio aproximou-se lentamente, seus olhos cheios de malícia.
— Adeus, garota, te mandarei direto para sua mãe! — Ele levantou um pé, pronto para esmagar o crânio de Morwyna com um golpe final.
Ghindrion, observando impotente de longe, viu sua irmã sendo espancada de maneira brutal. Seu coração acelerou e ele sentiu uma onda de desespero crescer dentro de si.
Ele queria fazer algo, qualquer coisa, para salvar Morwyna, mas se sentia paralisado pelo medo e pela incerteza. Seu avô, Myvraid, olhou para ele com preocupação e, de repente, notou algo extraordinário.
— Ghindrion, olhe! — Myvraid exclamou, apontando para a quantidade esmagadora de mana que emanava do neto.
Os olhos de Ghindrion começaram a brilhar com uma luz branca intensa, e ele sentiu uma energia poderosa crescer dentro de si, uma força que ele nunca soubera possuir.
Sem pensar, ele se lançou para a frente, seus pés levantando poeira e pedras enquanto avançava para salvar sua irmã.
— Saia de perto dela!
Seu tio virou-se, surpreso pela intensidade da mana de Ghindrion. Antes que pudesse reagir, Ghindrion invocou um pilar massivo de terra que se ergueu do chão e colidiu com o rei, lançando-o para longe de Morwyna.
Braam!
As pedras e a terra formaram uma barreira ao redor da jovem, protegendo-a.
— Como você ousa ferir minha irmã!
Ghindrion avançou com uma determinação feroz. Ele ergueu os braços, e pilares de terra irromperam do chão, lançadas ao tio com uma força devastadora.
O rei lutou para se defender, suas chamas tentando dissipar os ataques de terra, mas Ghindrion estava implacável.
— Tsc, você também é outro estranho!
— Eu vou te matar!
A luta entre eles era feroz e intensa, com golpes sendo trocados em uma velocidade impressionante. Ghindrion, usando sua mana para controlar a terra, criou lanças e escudos que se moviam como se tivessem vida própria.
O tio retaliava com rajadas de fogo e ataques físicos, suas mãos em chamas tentando alcançar o sobrinho.
Enquanto isso, Morwyna, ainda cercada pela barreira de terra, começou a perder a consciência.
A dor e a exaustão finalmente a dominaram, e seus olhos brancos perderam o brilho, voltando ao normal. Ela caiu no chão.
— Ghin… drion… — sussurrou, antes de perder a consciência.
Furioso, Ghindrion lançou uma onda de terra que engoliu o tio, prendendo-o em um abraço mortal. Mas o rei, com um grito de raiva, explodiu em chamas, dissipando a terra ao seu redor e avançando sobre o garoto.
— Você vai pagar por isso! — ele rugiu, suas chamas se intensificando enquanto ele atacava com um soco poderoso que acertou Ghindrion no peito.
Bam!
— Arg!
Ghindrion sentiu o impacto como um golpe de martelo, e ele foi lançado para trás, caindo no chão com um gemido de dor. Ele tentou se levantar, mas o rei já estava sobre ele, suas mãos em chamas prontas para esmagar seu inimigo.
— Você vai queimar! — o tio gritou, levantando as mãos para o golpe final.
Ghindrion, vendo a morte se aproximar, reuniu suas últimas forças e invocou uma coluna de terra que irrompeu do chão e empurrou o tio para trás.
Bam!
Cansado após receber tantos golpes poderosos, o rei limpou o sangue que escorria do nariz.
“Essas crianças… são aberrações. Esse domínio de mana é de nível sete no mínimo. A garota parece estar fora de combate, mas se ela acordar… não conseguirei vencer os dois juntos. Merda, é agora ou nunca!”
— Quatro badaladas vespertinas acordam o que um dia já foi o governante — O rei começou o encantamento, uma lança colossal de fogo ganhando forma acima dele em um som ensurdecedor. — Quatro nomes tinha o usurpador, e de quatro maneiras ele se foi.
“Um dos quatro encantamentos do caos?” Myvraid ergueu-se rapidamente. “Não posso deixá-lo terminar!”
A visão do garoto ficou turva e Ghindrion caiu no chão, exausto, incapaz de continuar lutando.
— O primeiro deles era o filho do sol — O rei prosseguia. — O segundo o filho da lua, o terceiro o filho do mar e o quarto filho das cinza-
Swin!
Myvraid não perdeu tempo. Com uma velocidade surpreendente para sua idade, ele se lançou em direção ao rei, suas mãos envoltas em uma escuridão que segurava uma espada tão escura quanto.
O rei, surpreso pela rapidez do ataque, mal teve tempo de reagir antes que uma lâmina de sombras se materializasse nas mãos de Myvraid, cortando o ar em direção ao seu pescoço.
— Não vou deixar você terminar esse encantamento! — gritou Myvraid.
O rei retaliou, criando uma barreira de fogo que explodiu em chamas ao redor dele, tentando afastar Myvraid.
Boom!
O calor era intenso, mas Myvraid, usando sua magia das sombras para se proteger, deslizou através da escuridão, evitando as chamas.
— Você é velho demais para isso, pai! — rugiu o rei, suas mãos lançando bolas de fogo que explodiam ao redor da floresta, tentando atingir o velho.
Boom! Boom!
O velho elfo se movia como um espectro, aparecendo e desaparecendo nas sombras. Ele sabia que precisava agir rápido antes que o encantamento fosse concluído.
Com ágeis movimentos, ele lançou uma série de cortes sombrios, que cortaram através do fogo, forçando o rei a se defender.
Ting! Ting! Ting!
— Sua magia é forte, mas não suficiente! — gritou o rei, suas mãos agora formando uma lança de fogo que ele arremessou em direção ao pai.
Myvraid desviou por pouco, sentindo o calor do fogo queimar sua pele. Usando a primeira lança como distração, o rei avançou conjurando outra lança.
— Morra, velho tolo! — berrou o rei, preparando-se para um último ataque desesperado.
Mas Myvraid foi mais rápido.
Ele se materializou bem na frente do rei, sua lâmina de sombras brilhando com uma luz escura. Com um movimento preciso e letal, ele cortou através do pescoço do rei, a lâmina separando a cabeça do corpo em um golpe limpo.
Swin!
A cabeça do rei caiu no chão com um baque surdo, enquanto seu corpo ainda ardia em chamas antes de colapsar. Myvraid ficou parado, respirando pesadamente, observando o corpo do filho desmoronar.
Ele sentiu uma onda de alívio misturada com tristeza pelo que fora obrigado a fazer.
Sua sorte era que estavam em um lugar isolado, ninguém ficaria sabendo daquele confronto, por isso ele tinha que acelerar as coisas, apagar qualquer rastro de que aquilo aconteceu.
As sombras engoliram seu filho, fazendo seu corpo desaparecer. Então caminhou até os netos, tocando na testa de cada um, criando um círculo mágico que em segundos desapareceu.
Eles não se lembrariam daquele dia, e ainda teriam memórias falsas, porém felizes, com sua mãe.
— Vai ser bom para vocês… sinto muito…
Desenhando um círculo mágico onde estava sua choupana, Myvraid usou seu conhecimento para trazê-la ao normal, assim como trouxe as árvores destruídas e ajeitou a terra.
Quando terminou, colocou seus netos na cama e partiu para o castelo. Usando sua habilidade de se ocultar, ele colocou o corpo do rei na cama e desapareceu.
Horas mais tarde, ele foi encontrado e o caso abafado. Muitos pularam de alegria quando souberam das notícias, e sem o rei, seus filhos e esposas estavam vulneráveis.
Nenhum deles foi poupado.
Nem mesmo Milveg soube da verdade, então o conselho decidiu que seria ele quem assumiria. Também atribuíram a ele a morte do rei, mas ninguém confirmou os boatos.
As invasões terminaram, as fronteiras foram fechadas e os Elfos Negros tornaram-se párias, odiados pelos quatro cantos do plano da raiz.
Excluídos, odiados e temidos, esse foi o legado que o antigo rei havia deixado, um legado nem um pouco fácil de desfazer.
[Atualmente.]
Morwyna continuava parada, seu rosto chocado com tudo que havia descoberto, e Colin atrás dela com os braços cruzados.
Aquela não foi uma magia de memória comum.
Enquanto o pássaro de sangue falava, imagens vívidas se desenrolavam na mente de ambos como um filme. Após tudo esvanecer, veio a tontura.
— Desculpe, querida… por esconder isso esse tempo todo, mas eu não conseguiria encará-la depois de tudo. É um pouco egoísta da minha parte, mas confio em você, no seu irmão e no povo de Runyra. O projeto de poder do seu pai sempre foi elevar os Elfos Negros a outro patamar, mas esse não é o destino dele, é o seu e do seu irmão, tive certeza disso naquele dia. Boa sorte, Morwyna. Estarei sempre com você, zelando de onde estiver.
O corvo de sangue começou a se esfarelar, até virar poeira. Morwyna não aguentou e o peso de tantas revelações e sua lágrima escorreram por suas bochechas sem controle.
— Vovô… — sussurrou, sua voz quebrada.
Colin deu um passo para trás.
“Uma mulher com um poder oculto destrutivo… parece que tenho ímã pra esse tipo.”
Ele avançou alguns passos.
“Não deve ser fácil descobrir que parte de sua vida foi uma mentira… é, eu sei como é isso.”
Colin se aproximou, tocando o ombro dela. Morwyna ergueu-se e jogou-se nos braços dele, enterrando o rosto em seu peito enquanto chorava baixinho. Colin acolheu-a com gentileza, alisando suas costas.
— Seu avô estava protegendo você, não o culpe — disse ele, a voz suave. — Olhe para mim, Morwyna.
Ela ergueu os olhos, o olhar turvo de lágrimas. Colin tocou seu rosto.
— Às vezes temos que fazer escolhas que vão magoar outras pessoas, mas essas escolhas devem ter um propósito claro. Nem todos têm o poder que temos, Morwyna, e você sabe disso.
Com o dedão ele limpou as lágrimas dela.
— Minha mãe também me privou de certas coisas para o meu bem, e eu privo meus filhos de certas coisas para o bem deles. Seu avô morreu cheio de culpa, ele fez o necessário, mas não foi o suficiente.
Ela desviou o olhar e Colin apoiou a mão em seu queixo, fazendo-a encará-lo novamente.
— Seu avô queria que os netos fossem melhores que ele, que seu povo não fosse tão odiado, e eu posso garantir que isso aconteça.
Ele tocou a testa dela com o indicador.
— Você não é um erro, Morwyna, eu não vou deixar que seja.
— Senhor… — Ela o encarava com admiração.
Ele afastou uma mecha de cabelo dela para trás da orelha e segurou suas mãos.
— Preciso que jure lealdade a mim — continuou Colin, escolhendo suas palavras com cuidado. — Seu pai está em guerra com minhas esposas, e para que eu confie completamente em você, preciso que faça um pacto comigo.
Morwyna o encarou com olhos inocentes. — Um pacto?
— Sim — confirmou Colin. — Preciso que seja leal a mim até o fim.
Sugerir aquilo em um momento tão frágil poderia parecer insensível, mas Colin estava jogando o mesmo jogo que aprendeu com Ayla, o jogo dos regentes.
Porém, esse não era o único motivo. Ele estava se aproveitando dos sentimentos dela, e com entidades poderosas a habitando, ele poderia tirar alguma vantagem.
Brighid e Jane eram leais a ele, e poderiam ajudá-la a treinar essa habilidade. Ele não poderia jogar aquela oportunidade no lixo, ficar atrás de seus inimigos poderia significar a destruição de tudo que ele construiu.
Frágil como uma presa diante de um predador, Morwyna desviou o olhar. — Até o fim dos meus dias?
— O que foi? — Colin sorriu, mas havia tristeza em seus olhos, uma tristeza falsa. — Você não confia em mim?
Morwyna engoliu em seco. — Não é isso… Eu confio no senhor. Mas parece que é o senhor que não confia em mim…
Colin acariciou a bochecha de Morwyna com o polegar, mergulhando nos olhos carmesins dela. Aquele momento era crucial, e ele precisava que ela entendesse.
— Isso é precaução, Morwyna — disse ele, a voz firme. — Brighid, Ayla… confio nelas porque compartilhamos a alma. Há uma magia que nos conecta. Se eu morrer, elas também morrerão. Isso é confiança real, não apenas palavras ao vento. Se confia em mim, entregue-se por completo. Deixe-me cuidar da sua vida como se fosse minha.
Morwyna engoliu em seco, sentindo o peso da decisão. — A minha vida nas mãos do senhor…
Colin suspirou e se afastou um pouco. — Você não acredita em mim… vamos continuar, temos que chegar a Gheskou.
Desesperada, ela segurou a mão dele. — Não é isso, senhor! Só estou… pensando no depois.
— Depois? — Colin sorriu, mas havia seriedade em seus olhos. — Você será a Elfa Negra mais poderosa do continente. Seu povo fará finalmente as pazes com outras raças. Você será a guia para um futuro que seu avô sempre sonhou, não está satisfeita com esse depois?
As palavras de Colin despertaram algo quase lúdico em Morwyna, mas era mais do que isso. Era a confiança que ele irradiava, sua postura inabalável, seus olhos determinados.
Ele era um homem que não recuava diante de desafios, nem mesmo considerava o príncipe do abismo uma ameaça.
Era nele que ela confiaria sua vida, se fosse necessário.
Um rei grandioso, um bom marido, um pai dedicado e um homem poderoso.
— Eu aceito, senhor! — disse Morwyna, sem pestanejar, afinal, Colin não deu tempo para isso. — Entrego minha vida a você… Cuide bem dela… Cuide bem de mim…
Da mão dela, correntes etéreas surgiram, conectando-se às mãos de Colin antes de desaparecerem.
[ Novo contrato adquirido. ]
— Você agora é minha, Morwyna, e eu cuido do que é meu — afirmou Colin. — Vamos continuar. Precisamos chegar a Gheskou rapidamente, voltar à superfície, derrotar a mãe dos monstros e retornar a Runyra.
Morwyna assentiu, e Colin assumiu a dianteira. Ela o seguia, observando suas costas.
De soslaio, Colin a encarou, um sorriso de canto nos lábios. Morwyna não era mais uma preocupação; ela havia caído completamente em sua teia.
“Um oráculo… se o que aquele corvo disse for verdade, parece haver algo dormente nela e no irmão. Bom… pelo menos ela não é mais uma preocupação.”
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