Capítulo 147: Companheiros Estranhos (1/5)
Seus olhos cor-de-rosa brilhantes começaram a emitir uma luz límpida.
Pisca, pisca.
Ela piscou algumas vezes, e um sorriso tênue se formou nos lábios dele.
— Bom dia~. Dormiu bem?
Ela apoiou a parte superior do corpo com o braço direito. Depois, esfregou os olhos enquanto bocejava suavemente. Seol Jihu ficou sem palavras ao ouvi-la perguntar se ele dormiu bem. Por um instante, achou que eram um casal felizmente casado acordando juntos na mesma cama para dar bom dia após uma manhã refrescante.
“Na realidade, estamos em sérios apuros…”
Ele zombou de si mesmo só um pouco, mas logo mudou de mentalidade. A situação deles certamente não se resolveria com ansiedade e desespero. Claro, manter a calma também não os colocava em posição melhor, mas ele pensava que, ao menos, precisavam ser realistas e encarar o destino com mais serenidade.
“Certo, meu corpo primeiro…”
Huu, huu…
Seol Jihu regulou a respiração e começou a colocar força no corpo, devagar.
— Euhk!
Uma dor cortante o perfurou. Ele quis desistir e deitar novamente, mas cerrou os dentes e forçou o tronco para cima mesmo assim. Encostar-se na parede próxima tornou tudo infinitamente melhor.
— Tem que mexer o corpo, mesmo que seja só um pouquinho.
Teresa Hussey o encarou em silêncio antes de oferecer sua opinião.
— Eu adoraria dizer que você pode descansar por um tempo, mas infelizmente, não temos esse luxo. Se estamos pensando em nos mover de novo, melhor se acostumar com a dor.
Ele se lembrou das marchas forçadas noturnas que teve que enfrentar na época do exército e assentiu inconscientemente. Se você criava bolhas nos pés, podia doer como o inferno no começo, mas andando continuamente, acabava se acostumando com a dor.
No entanto, não havia o que fazer quanto ao estado do ombro esquerdo. Havia um buraco do tamanho de uma tampinha de garrafa nos músculos, e ele mal sentia a conexão com o braço. Tentou fechar o punho e a dor foi tão aguda que quase desmaiou.
— Haa…
No fim, desistiu do ombro esquerdo e olhou ao redor. Ao lado, viu um altar com o círculo mágico de transferência na superfície, igual ao de outro esconderijo.
Só por precaução, ativou os Nove Olhos, mas o altar ficou vermelho rapidamente. De fato, era uma ilusão, ou melhor, uma armadilha mortal. Só uma mordida naquele bolo envenenado e seria morte imediata.
— Isso aqui é verdade? O que está escrito. Que não devemos usar isso. — Teresa Hussey falou enquanto olhava o mapa.
— Se estiver se referindo ao círculo mágico de transferência… Sim, ouvi dizer que ele está ligado ao centro do Império.
— Mas que merda? Então é melhor esquecer isso.
Teresa desistiu da ideia na hora.
— …
— …
Por muito tempo, não disseram nada. Também, não era como se qualquer um soubesse o que dizer.
Agradecer pelo resgate? Ficar feliz por terem sobrevivido? Já era demais esperar isso nas condições atuais.
Então, que tal: ‘Como você está se sentindo?’
Ambos sabiam que não estavam nem um pouco bem. O foco agora era escapar dali.
Eventualmente, Teresa Hussey quebrou esse clima meio constrangedor.
— Temos duas opções.
Sua voz fraca soava mais como ‘não temos escolha’ do que ‘pensei em algo brilhante’.
— A primeira é esperar 72 horas antes de voltar ao esconderijo.
Essa seria a melhor opção. Se fosse possível, claro.
— …Duvido que o esconderijo ainda esteja inteiro.
— Dado o tipo daquele desgraçado, sim, provavelmente foi destruído além de qualquer reparo.
Teresa suspirou, impotente, antes de continuar.
— A segunda é… De algum jeito, escapar daqui e voltar a pé até Haramark. É isso.
Seol Jihu quase riu seco, mas sua expressão ficou séria. Não era algo para se rir, se o esconderijo realmente tivesse sido destruído, essa era a única saída.
O problema era que as chances de sucesso eram baixíssimas. E além disso, ele estava gravemente ferido.
— Ficar aqui para sempre também não dá. Nossa estamina só vai cair. Melhor arriscar enquanto ainda conseguimos nos mover.
“De novo essa história de apostas?”
Ele ficou amargo, mas a realidade era cruel. Tirando o círculo mágico, tudo dentro do esconderijo estava verde, mas era só isso. Não havia nada para comer ou beber. Ficar parado só porque era seguro levaria à morte por inanição. Quando percebessem, já seria tarde demais.
“Também não é realista esperar outro resgate.”
Eles virem até aqui traria outro problema. O Parasita de alto rank não ficaria de braços cruzados depois de levar um golpe. No fim, todo raciocínio levava a uma conclusão inevitável: eles precisavam agir.
Seol Jihu desativou os Nove Olhos primeiro. Quanto mais tempo mantinha ativo, mais sua estamina era drenada.
— E então, o que você quer fazer?
Teresa Hussey o pressionou por uma resposta.
— Vai ficar aqui e passar um tempo romântico antes de morrer de fome comigo? Ou vai sair daqui, aconteça o que acontecer?
Antes que pudesse dizer que era a segunda opção, perguntou outra coisa:
— Quanto tempo você acha que passou desde que entramos no esconderijo?
— Uhm… Não sei.
Ela fez uma expressão aflita.
— Desculpa. Quando cheguei aqui e terminei o tratamento de emergência, fiquei tão sonolenta…
Ela esboçou um sorriso fraco antes de mostrar a língua rosada. Quem poderia culpá-la? Ela tinha passado por todo tipo de sofrimento antes de enfim ser libertada.
— Se essa criatura tiver pavio curto, talvez já tenha parado de nos procurar.
— Só podemos torcer pra que sim. Antes de eu dormir, ela ainda estava tendo um chilique daqueles.
— A gente deve ter irritado mesmo.
Ela devolveu o mapa para Seol Jihu. As escadas que levavam para cima ou para baixo estavam todas localizadas no bloco da prisão. A área de pesquisas ficava à esquerda do bloco, conectada por uma longa ponte suspensa no meio, como se fosse uma construção anexa. Em outras palavras, o formato do andar subterrâneo era como um ‘ㅓ’.
Contudo, o esconderijo falso, localizado no depósito da área de pesquisas, ficava de fora dessa estrutura. Segundo o chefe da vila, esse lugar era tão profundo que poderia ser considerado o terceiro andar subterrâneo.
“…Não consigo pensar em nada.”
Ele dobrou o mapa com cuidado e se levantou com dificuldade. Teresa Hussey estava certa, em vez de ficarem parados, precisavam se mover enquanto ainda podiam. Felizmente, suas pernas estavam funcionando perfeitamente.
“Quanto eu ainda tenho…?”
Restava um pouco de rudium, do tamanho da unha do dedo, mas já não tinha mais utilidade. A camisa e a calça haviam sido usadas como ataduras. Ele olhou para a armadura e só pôde lamber os lábios. O lado esquerdo da Armadura de Couro Fervido havia desaparecido completamente, e a parte inferior direita estava praticamente em pedaços. Aquilo parecia mais um trapo do que uma armadura.
“Ainda é melhor que nada…”
Ele gemeu de forma resignada, até que de repente lembrou que Teresa Hussey não estava vestindo nada.
— …Quer usar isso aqui, pelo menos?
Ele apontou para a cota de malha com um buraco, e ela sorriu de leve.
— Vestir isso sem nada por baixo vai beliscar minha pele, mas… Acho que não temos escolha agora.
Eles juntaram seus equipamentos e os vestiram. Teresa Hussey deu uma risadinha em seguida.
— A gente tá hilário assim, não tá?
Seol Jihu também riu suavemente. Um deles estava usando uma pequena cota de malha sobre o corpo nu que mal cobria até a barriga, enquanto o outro usava uma armadura quebrada por cima da cueca. Onde mais você encontraria uma cena mais cômica que essa?
— Bom, é refrescantemente fresco, então acho que isso conta como vantagem. Espero que eu não acabe desenvolvendo exibicionismo desse jeito.
Teresa Hussey pegou a lança de gelo. Seol Jihu naturalmente deixou que ela a levasse. De qualquer forma, era melhor que ela ficasse com as armas por enquanto.
— Antes de irmos, vamos fazer um acordo.
De repente, ela apontou a lança para o pescoço dele. Agora ela estava falando sério.
— No caso de uma em dez mil… Não, em nove mil novecentas e noventa e nove em dez mil chances de que algo dê errado, o que você quer que eu faça?
— ?
— Estou dizendo que posso encerrar sua vida antes que você seja capturado.
— Não precisa.
Seol Jihu respondeu na hora, como se nem precisasse pensar. Os olhos de Teresa Hussey se arregalaram em surpresa e confusão.
— Você sabe o que acontece quando alguém é capturado, né?
— Não sabemos o que vai acontecer no futuro. Além disso, mesmo que o céu desabe, sempre há uma saída.
— Mas você não volta pra Terra quando morre?
— Mesmo assim, quero fazer tudo que puder pra sobreviver.
— Heh… — a boca de Teresa Hussey se abriu um pouco mais.
— Isso é novo. Tem certeza de que você é um Terrestre?
Seol Jihu respondeu internamente: “Não quero desistir tão fácil da vida deste lado.”
Pouco depois.
Os dois tomaram sua decisão e deram os primeiros passos. A saída do esconderijo podia ser alcançada por uma longa escadaria.
Degrau por degrau, começaram a subir devagar. Teresa então falou de repente:
— Se a gente voltar lá e encontrar o círculo mágico intacto, vamos nos sentir muito idiotas, né?
— Mesmo assim, vale a pena voltar.
Seol Jihu respondeu.
— Mesmo que o círculo mágico esteja destruído, talvez haja algo que possamos recuperar.
— Se estiver falando de suprimentos, não teriam levado tudo embora?
— Nada disso. Existe um limite de peso por transferência, então eles não teriam levado nada de volta.
— Nesse caso, ótimo. Mais um motivo pra verificar.
“…Seria ótimo se for isso mesmo.”
O melhor cenário seria encontrar suprimentos abandonados, voltar ao segundo esconderijo e esperar as 72 horas para reativar o círculo mágico. Infelizmente, as chances disso acontecer eram praticamente nulas.
“Na verdade, só de estarmos saindo assim já é…”
Seol Jihu teve que se segurar para não suspirar em voz alta. Logo, chegaram ao final da escadaria. Uma parede de tijolos bloqueava a saída.
— Sabia que tive que me esforçar muito pra abrir isso aqui?
Teresa reclamou, insatisfeita, enquanto encostava o ouvido na parede.
Mesmo se estivessem apostando tudo aqui, ele não pensava em sair sem um plano. Então reativou os Nove Olhos. Achava que, no mínimo, conseguiria identificar o momento certo de sair. No entanto…
“…Hã?”
Assim que viu a cor, não pôde deixar de se surpreender. Assim como antes, Teresa não tinha cor. Isso não era inesperado, pois ela sempre havia sido assim.
— O estranho de verdade… era a parede de tijolos estar verde.
“Será que desistiram mesmo da caçada?”
— Não consigo ouvir nada do outro lado…
Teresa afastou o ouvido da parede e se agachou no chão. Ela removeu os tijolos de cima e de baixo e trocou suas posições.
Seol Jihu observou as costas dela sem expressão até que recuperou a atenção ao ouvir um clique distinto.
— Sim! Eu sou muito inteligente, né? Olha só, memorizei tudo depois de fazer só uma vez!
Teresa se gabou com orgulho antes de olhar para trás.
— Vamos?
Seol Jihu assentiu.
Ela empurrou levemente com a mão, e uma parte da parede girou como uma porta giratória. Ele espiou por entre a fresta e viu que o verde cobria tudo do lado de fora também. Inclinou a cabeça de um lado para o outro antes de dar passos largos para fora da porta.
— Uh, uh?
Teresa se apressou para ir atrás dele.
— Mesmo com pressa, o certo seria verificar os movimentos do inimigo primeiro…
Ela sussurrou o mais baixo que pôde. Ele, porém, não tinha o que dizer. Tudo ao redor estava tingido de verde. Parecia mesmo que os Parasitas haviam parado de procurar e recuado.
— Vamos até o primeiro esconderijo.
— E-Espere um pouco!
Teresa tentou detê-lo, mas Seol Jihu seguiu na frente.
Quanto mais andava, mais confuso ficava. Estava silencioso demais. E tudo ainda tingido com aquele mesmo tom de verde. Até Teresa agora exibia uma expressão confusa. Ele observou com atenção os arredores e então falou com ela:
— A propósito, você disse que ouviu uma grande comoção lá fora antes de dormir, certo?
— Hein? Ah, sim. Isso mesmo.
Ela admitiu sem demora.
— O esconderijo falso era muito profundo, não ouvi direito, mas achei que fosse um terremoto ou algo assim.
— E quanto tempo durou essa comoção?
— Não tenho certeza. Não me lembro direito. Mas não acho que tenha durado muito.
Eles chegaram ao cômodo do primeiro esconderijo enquanto conversavam. Estava bastante bagunçado, indicando que o lugar havia sido revirado. A estante também estava despedaçada em mil pedaços.
O mesmo valia para o esconderijo. Já esperavam por isso, e de fato, não apenas o círculo mágico estava destruído, como todo o altar havia virado pó. Felizmente, encontraram uma pequena bolsa descartada em um canto da sala, o que foi um alívio enorme.
— Tem algo pra comer aí?
Os olhos de Teresa brilharam de expectativa, mas infelizmente, a equipe de resgate não havia deixado comida. Os itens na bolsa eram quatro frascos de poção de cura, um cantil de água, uma corda enrolada e algumas adagas, levadas por precaução.
— Tsk.
Ela demonstrou frustração, mas…
— Fazer o quê. Ainda é melhor que nada, né?
…logo se recuperou e abriu um dos frascos. Ambos usaram uma poção para aplicar nas feridas externas. Depois, beberam outra para curar os ferimentos internos. A sede aliviada fez com que seus corpos se sentissem um pouco melhores.
— Ah! Agora sim me sinto viva.
Como se aproveitasse a chance para se limpar, Teresa começou a esfregar a pele molhada aqui e ali. Enquanto isso, Seol Jihu espiava de novo o corredor.
“Ali também tá assim?”
Não era engano. Estava verde por lá também. E até a saída ao fundo, visível ao longe, brilhava naquele tom esverdeado.
“Mas isso não faz o menor sentido.”
Meio convencido e meio confuso, ele saiu do cômodo. Quanto mais se aproximava da saída, mais crescia sua perplexidade. Só depois de cruzar completamente o corredor é que viu algo fora do lugar.
“…A ponte suspensa desapareceu?”
Não era só a ponte. Ele também não via o bloco da prisão do outro lado do abismo. Não, tudo o que seus olhos captavam era o vazio escuro. Tudo havia literalmente sumido.
“Q-Que…?”
Olhou ao redor, atônito, até erguer os olhos e ficar boquiaberto. Viu o céu noturno através de um buraco tão grande que não conseguia nem estimar o tamanho. Aquela coisa azulada e gélida flutuando lá em cima era, sem dúvida, a lua.
“Estou sonhando?”
Seol Jihu se virou e levou um susto. Teresa estava ali parada, com uma expressão chocada, olhando diagonalmente para o fundo do buraco. Ele seguiu seu olhar e arregalou os olhos.
— A-Aquilo não é…?
— …Sim, é a instalação de pesquisas.
Teresa murmurou com a voz abafada.
O fundo do buraco era puro caos. Embora não dessem para ver bem, havia escombros que pareciam pedaços de construção espalhados.
O bloco da prisão, a incubadora, a área experimental… tudo havia desabado direto para o chão.
A visão fez a pele de Seol Jihu se arrepiar. Ele se lembrou de uma notícia que lera uma vez sobre um ‘buraco de sumidouro’.
Teria sido no Japão? O chão no meio de uma cidade afundou, criando um buraco gigante. Ele se lembrava da sensação de náusea ao ver uma loja de conveniência pendurada na beirada do abismo. E o que via agora era exatamente essa cena. O antigo layout em formato de ‘ㅓ’ desaparecera, restando apenas um ‘ – ’.
— …Princesa?
— N-Não me pergunte. Eu também não sei.
Teresa Hussey parecia tão confusa quanto ele. O que, afinal, tinha acontecido enquanto os dois estavam desacordados dentro do esconderijo falso?
A primeira a recobrar os sentidos foi Teresa. Ela rapidamente estimou a distância entre a entrada do buraco e onde estavam. Do primeiro andar subterrâneo até a superfície, havia cerca de seis metros.
— Parece que recebemos a graça dos deuses com aquelas poções.
Teresa falou animada e concentrou sua mana. Uma aura azulada envolveu suas mãos.
Crack!
Seus cinco dedos curvados se cravaram no leito rochoso como se estivessem esmagando um bloco de tofu. Seol Jihu ficou surpreso por um instante antes de se lembrar de que ela era uma Alto Ranker.
— Perfeito. Com isso…
Ela abriu dois buracos na parede e cravou a lança logo abaixo deles. Subiu no cabo da arma e empurrou o braço com força contra a parede. Depois, apoiou o pé no buraco recém-criado e escalou.
Os pontos escavados viraram degraus; seus braços se moviam para cima e para baixo, e sua velocidade de escalada era impressionante.
Ele olhou para cima, maravilhado com a habilidade de alpinismo dela, mas logo abaixou o olhar, envergonhado. Mesmo na situação em que estavam, não parecia muito educado ‘olhar pra cima’.
Pouco depois, Teresa conseguiu sair do buraco. Mas Seol Jihu ficou paralisado. Ele só precisava escalar usando os apoios que ela fez, mas seu problema era o braço esquerdo inútil.
Foi então que uma corda grossa caiu bem diante dos olhos dele. Teresa acenava lá de cima.
— Não tente pegar com a mão, apenas amarre no corpo! Eu puxo você!
— …Ah.
Agora que pensava nisso, havia mesmo uma corda na bolsa. Ele retirou a lança de gelo da parede e amarrou a corda em volta do corpo. Teresa concentrou toda a mana que podia e começou a puxá-lo.
A certeza ficou ainda maior conforme ele se aproximava da superfície: não havia nada se movendo por ali. O cenário era decorado por ruínas desabadas, como se tudo tivesse cedido por má construção.
“O que diabos aconteceu aqui?”
Será que o Parasita de alto rank perdeu a cabeça e…? Não, isso não fazia o menor sentido. Talvez um sumidouro tenha se aberto bem na hora certa.
— Huuu!
Depois de puxá-lo para fora, Teresa soltou um longo suspiro e caiu no chão. Mesmo tendo bebido poção de cura, seu corpo ainda não havia se recuperado por completo. Vendo o quanto ela estava exausta, ele se sentiu mal. Parecia um fardo.
— Me desculpa.
Teresa estava recuperando o fôlego com um rosto aliviado e leve, mas seus olhos se arregalaram com as palavras dele.
— Pelo quê?
— Por minha causa, você…
Ele não terminou a frase, mas ela apenas bufou, indiferente.
— Que bobagem. Nem um baú cheio de tesouros seria suficiente pra pagar tudo que você fez por mim. Espera aí, você não disse isso só porque queria se desculpar de verdade, né?
Ela sorriu de forma brincalhona e o provocou enquanto o olhava diretamente. Nesse instante, Seol Jihu sentiu uma mistura estranha de emoções.
“Os lábios estão sorrindo, mas…”
Os olhos dela não estavam rindo. Suas íris, que ele sempre achou bonitas, agora brilhavam de maneira intensa sob a luz fria da lua.
— Não é isso? Você só falou aquilo por educação, não foi?
Ela perguntou de novo, dessa vez com um tom mais incisivo. Seol Jihu engoliu em seco. Ele definitivamente não tinha dito aquilo por cortesia.
Pensando bem, foi assim desde a primeira vez que se encontraram. Ele sentiu uma atração inexplicável por ela. Por algum motivo, queria protegê-la, cuidar dela. Era alguém que ele queria ajudar. Sem pedir nada em troca.
Mas ele não sabia o porquê. Se fosse forçar uma explicação, diria que era como pagar uma dívida. Algo assim.
— Então eu estava certa. Você disse isso só por educação.
Os olhos de Teresa agora estavam levemente melancólicos enquanto desviavam o olhar, mas então…
— Não, não mesmo.
…ele finalmente respondeu.
— Hein?
— Antes de vir pra cá, me avisaram sobre um possível franco-atirador. Mas eu esqueci completamente disso, e foi isso que levou à nossa situação.
— …
— Sinto muito por não ter conseguido te resgatar direito. Estou falando sério.
O sorriso desapareceu por completo do rosto de Teresa. Seu semblante, sempre leve e despreocupado, tornou-se assustadoramente neutro. Ele nunca a tinha visto reagir assim.
— …Por quê?
Ela finalmente abriu a boca.
— Por que você pensa assim? Você é um Terrestre, não é? Ficou assim por minha causa, certo? Não sente rancor?
— Por que você diz que foi por sua causa, Princesa?
Seol Jihu devolveu a pergunta com calma.
— Independente de quem fosse, a destruição do laboratório precisava acontecer. Estou errado?
— I-Isso, isso é verdade, mas…
Ela piscava rapidamente. À medida que o brilho em seus olhos aumentava, a expressão de incredulidade também crescia.
“O que deu nela?”
Ele ficou um pouco preocupado, achando que tinha falado algo que não devia, mas então…
— Uau, então realmente existe alguém assim nesse mundo…
Teresa murmurou para si. O brilho nos olhos também foi se acalmando pouco a pouco.
— Estou surpresa.
— Com o quê?
— Você estava falando a verdade.
Seol Jihu coçou a bochecha.
— Você não tá confiando em mim fácil demais?
— Bom, tem um motivo pra isso.
Ela falou com a voz levemente rouca.
— Sabe… Eu tenho a habilidade de ler pessoas.
— Hein?
— Ahh, não é nada demais, na verdade. Um dos meus ancestrais tinha o sangue de uma Fada do Céu, então…
Teresa Hussey hesitou um pouco antes de continuar, em voz baixa.
— Claro, isso foi há muito tempo. De vez em quando, porém, nasce uma criança com uma Habilidade Inata. Como eu.
— Uma Habilidade Inata?
Seol Jihu ficou chocado.
— Sim.
— Princesa, você não deveria revelar isso para…
— Hoje é a primeira vez que conto isso. Vamos manter entre nós dois, ok?
Teresa retrucou sem rodeios. Seol Jihu ativou os Nove Olhos e instintivamente conferiu a Janela de Status dela.
【Janela de Status de Teresa Hussey】
【4. Habilidades】
1. Habilidades Inatas (1)
2. Habilidades Relacionadas à Classe (6)
3. Outras Habilidades (4)
“Ela realmente tem uma… M-Mas o que é isso agora?”
Outra mudança havia ocorrido.
A cor dela mudou. Um tom dourado começou a surgir na anteriormente Teresa ‘sem cor’. A cor deslumbrante que agora o saudava era ouro.
O Mandamento Dourado.
Ela lançou alguns olhares furtivos ao jovem parado feito um espantalho antes de tentar se levantar, apoiando a palma da mão no chão. Mas então…
— De qualquer forma, nós… Ai?!
Ela fez uma careta e puxou a mão rapidamente.
— Está tudo bem?
Algo pontiagudo tinha perfurado sua palma. O objeto negro e queimado parecia um fragmento de estilhaço.
— Argh, qual é… Que coisa é essa… Hm?
Teresa inclinou a cabeça e estreitou os olhos.
— Isso não é… Trovão?
— Trovão?
Ela assentiu.
— Sim. É uma pedra que contém o poder condensado do Espírito da Terra. Também possui um poder explosivo incrível.
— Um explosivo? Vocês têm explosivos neste mundo?
— Não explosivos. É chamado de ‘Trovão’ porque faz um estrondo quando detona.
Ela corrigiu a fala dele com uma explicação simples.
— De qualquer forma, nunca ouvi falar disso antes.
— Eii, nós não somos o Império. Os sete reinos obviamente não têm tecnologia pra fabricar algo assim. Eu já disse, não disse? O poder do Espírito da Terra é condensado para criá-lo.
Teresa gesticulou, como se dissesse que era impossível.
— Se a mana pertence exclusivamente à humanidade, os Espíritos pertencem exclusivamente às Fadas do Céu. Além disso, o Trovão é resultado do refinamento extremo da técnica de um mestre artesão Anão. Pode-se dizer que é a arma secreta da Federação.
— Uau… Não, peraí, se eles têm algo assim, como estão perdendo pros Parasitas?
Teresa deu um leve sorriso.
— É justamente o contrário. É só por causa disso que a Federação ainda consegue manter esse frágil equilíbrio. As forças principais dos Parasitas estão muito além do que você imagina.
— E as Medusas…?
— Medusas são uma evolução máxima entre os Parasitas de nível médio, mas honestamente, são mais como chefes de gangues locais. Só quando aparecem coisas como os Nosferatus que você pode dizer ‘Ok, os Parasitas estão levando a sério’.
— Nosferatus?
— São os guardas de elite pessoais da Rainha. Enfim…
Teresa respondeu brevemente e olhou ao redor. Fragmentos similares estavam espalhados por toda parte. Ela parecia completamente desconcertada.
— Estranho… Por que essas coisas estão aqui?
— Já pensamos nisso. A informação veio da Federação, então talvez estejam operando seus próprios esquadrões de infiltração, mas…
Seol Jihu se lembrou do que Ian lhe dissera e falou:
— Será que alguém da Federação veio até aqui e destruiu tudo? Com esse tal de Trovão?
— As circunstâncias apontam pra isso…
Teresa cruzou os braços. Essa possibilidade fazia sentido, especialmente se fosse aquela ‘raça alienígena’ que invadiu o Paraíso e depois formou a nação unificada chamada Federação.
Como já nasciam com a capacidade de voar, seria relativamente mais fácil se aproximarem.
— Mas… não parece muito convincente.
— Em que sentido?
— Na primeira missão, percebi a importância que os Parasitas davam a esse lugar. Se não fosse pela Agnes, a gente nem teria chegado perto.
Teresa continuou:
— E por mais que o Trovão seja poderoso, seria preciso soltar dezenas deles no mesmo ponto, ao mesmo tempo, para causar uma destruição dessa magnitude. Não sei como fariam isso com os Parasitas vigiando este lugar dia e noite, sem descanso…
Ela não terminou a frase, mas ele já entendia o que queria dizer. O tal Trovão podia ser devastador, mas para usá-lo, era preciso estar perto do laboratório.
— O problema é que o perímetro de defesa montado pelos Parasitas aqui era perfeito em todos os sentidos. Não importava se fosse pelo ar ou pelo chão, eles monitoravam tudo de perto.
Além disso, a segurança teria sido reforçada depois da primeira tentativa de infiltração ter falhado. Quanto mais pensava, mais parecia estar se afundando num pântano.
— Também não sei o que te dizer. — Ele deu de ombros e soltou um grito abafado de dor. Ela riu ao vê-lo sofrendo e tentou se levantar, mas…
— Ai! Isso beliscou! — Ela recuou com a cabeça e gritou. As correntes tinham pinçado sua pele.
— Urgh… De qualquer forma, isso não importa pra gente agora.
E era verdade. Eles não sabiam o que tinha acontecido ali, mas o importante era que o laboratório tinha sido destruído. E o fato de terem saído de lá não significava o fim do teste.
Conseguiram superar o primeiro obstáculo graças à sorte inesperada, mas ainda estavam no meio do território inimigo.
— Vamos, meu príncipe.
Teresa subitamente estendeu a mão. Meu príncipe, ela disse. Embora as bochechas de Seol Jihu tivessem coçado na hora, aquilo não soou tão ruim assim. Ele estendeu a mão timidamente.
Os dois entrelaçaram os dedos e voltaram o olhar para a mesma direção. Era o caminho para Haramark.
— Vamos voltar pra casa. Vivos.
Ela sussurrou, e ele respondeu com um firme aceno de cabeça.
A fuga estava apenas começando.
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