Capítulo 155: Seol Jihu vs Teresa Hussey (2/3)
Seol Jihu abriu os olhos cerca de uma hora depois. O estado de seu corpo era realmente grave, e dormir o dia inteiro não teria sido nada surpreendente. No entanto, o hábito de dormir por curtos períodos havia se enraizado em seu corpo depois de tantas tentativas de permanecer acordado o máximo possível para vigiar os perseguidores. Isso o fez despertar bem antes do que seria considerado normal.
Mesmo assim, sentia um conforto aconchegante envolvendo seus sentidos. Não sabia explicar por quê, mas começou a pensar que agora estava seguro. Claro, ainda tinha consciência de que seus problemas não haviam sido resolvidos.
Seu corpo ainda parecia pesar uma tonelada. A fome e a sede ainda o atormentavam. Gemeu e choramingou de dor antes de, por hábito, estender a mão para pegar sua lança e mordê-la. Sugou com pressa o ar frio que se espalhava pela boca.
— Você está péssimo.
Nesse momento, sentiu uma mão acariciar sua cabeça com delicadeza. Seol Jihu se assustou bastante e abriu os olhos de imediato, olhando ao redor. Num movimento apressado, ergueu o tronco e percebeu que estava num lugar bastante familiar. Sua mandíbula quase caiu ao ver o sarcófago ali também.
Como poderia esquecer aquele lugar? Além disso, o fato de estar ali significava que…
— Santa?
— Sim.
Ouviu a voz que tanto desejava ouvir. Mesmo assim, sentia uma certa incerteza. Agora que realmente estava ali, parecia inacreditável.
— Hã, bem, ah…
— Eu matei todos eles. Despedaçei cada criatura que ameaçava você, então não precisa mais se preocupar.
Embora sua voz fosse graciosa, o conteúdo das palavras era um tanto horrível. Ainda assim, ele se sentiu profundamente aliviado.
Seol Jihu não conseguiu dizer mais nada e apenas fechou os olhos. As lembranças dos últimos oito dias começaram a se desenrolar em sua mente, uma após a outra. Desde o momento em que entrou no laboratório, resgatou a Princesa, foi alvejado, aprisionado, escapou, retornou pelo mesmo caminho, foi cercado, fugiu e fugiu novamente, até que…
— …
Se fosse ser honesto consigo mesmo… nunca esperou sair vivo dessa provação. Tentava se auto-hipnotizar, dizendo a si mesmo que ainda havia esperança de sobrevivência, mas o conhecimento de que a morte estava à espreita o acompanhava o tempo todo. Especialmente quando ele e a Fada Celeste foram atingidos no ar e caíram… ali, pensou realmente que era o fim.
O quanto se sentia frustrado, à mercê do desespero? Mais de uma vez, pensou que enlouquecer seria melhor do que continuar naquela miséria. No entanto, ali estava ele, vivo.
…De fato, ele sobreviveu. Saiu vivo. Não morreu e conseguiu chegar até ali, cambaleando.
— Deve ter sido muito difícil.
No momento em que ouviu essas palavras…
— Agora vai ficar tudo bem.
Lágrimas começaram a jorrar de seus olhos fechados.
— …Keuk!
E pensar que achava que já não restava umidade em seu corpo… Mesmo assim, lágrimas quentes e incontroláveis escorreram por seu rosto.
— E-Eh??
Uma voz nervosa entrou em seus ouvidos. Ainda chorando, Seol Jihu abriu os olhos. A única razão pela qual estava vivo era graças à Santa. Se não fosse por aquela alma, teria morrido umas dez vezes.
Não conseguiu conter a gratidão que explodia em seu coração e se ajoelhou no chão. Colocou as mãos no solo e se curvou até que a testa tocasse o chão.
— Obrigado…!
— Hã? Hã??
— Muito obrigado…!
— P-Por que está fazendo isso? P-Pare com isso.
Tug, tug…
Ela começou a puxar seu braço. No entanto, Seol Jihu não se moveu. Sua testa continuava colada ao chão, o corpo tremendo enquanto chorava baixinho.
Parecia que a Santa estava completamente em pânico. A fumaça negra que flutuava tranquilamente pelo ar até um momento atrás começou a girar de forma inquieta ao redor da figura prostrada dele.
Pouco depois, a fumaça claramente nervosa e confusa subitamente parou. Era como se tivesse tido uma ótima ideia. Contornou o sarcófago rapidamente e voltou para perto dele. E, como quem tenta consolar uma criança chorando, começou a empurrar algo para debaixo de seu rosto.
— Pronto, pronto.
— …?
Seol Jihu viu uma linda pulseira feita de ouro e piscou várias vezes.
— Deixe-me te dar isso, então pare de chorar.
— N-Não, espera. Por favor, não precisa. O que você nos deu da outra vez já foi mais do que suficiente.
— M-Mas, pensei que vocês gostassem dessas coisas? Tá tudo bem, contanto que você se sinta melhor.
— Eu… eu já estou bem. Além disso, como posso aceitar algo de você de novo? Você até salvou minha vida.
– Eeeek.
‘Aceite.’ & ‘Eu não posso.’ Os dois discutiram por um tempo, cada um tentando convencer o outro a desistir, até que pararam ao ouvir uma risada vazia vindo do lado. Alguém parecia ter presenciado toda aquela cena estranha. Seol Jihu aproveitou a brecha para forçar a devolução da pulseira e, só então, notou a Anja Caída agachada num canto do túmulo.
— Por que você simplesmente não aceita logo? Esse artefato tem bastante mana, sabia?
— Até uma sanguessuga sabe o que é vergonha, sabia? Eu nem vim aqui por tesouro algum, e… Ah.
Seol Jihu respondeu por reflexo, depois soltou um ‘Oops!’ e olhou apressado ao redor. A Anja Caída respondeu à sua pergunta silenciosa.
— Não se preocupe. Eles estão esperando lá fora.
— Lá fora?
— Não me pergunte. Eu também fui arrastada pra cá contra a minha vontade por sua causa.
A Anja Caída falou com a voz neutra e, silenciosamente, se ergueu do chão. Lançou um olhar fulminante para o sarcófago e perguntou:
— De qualquer forma, ele recobrou a consciência, então… posso ir agora, certo?
— Como está seu corpo?
Por algum motivo, Seol Jihu sentiu uma leve coceira no topo da cabeça, mas ignorou e olhou primeiro para a coxa. Estava habilmente enfaixada. A dor havia diminuído consideravelmente também. Enquanto isso, a Anja Caída bufou, insatisfeita.
— Eu fiz o tratamento de emergência, mas o ideal é você voltar para casa o mais rápido possível e receber cuidados médicos adequados. O ferimento causado pelo Fantasma Maligno é realmente perverso e não cicatriza com facilidade.
Nunca antes na vida as palavras ‘voltar para casa’ o haviam tocado tão profundamente. Seol Jihu assentiu com a cabeça.
— Obrigado.
— Não precisa agradecer. Graças a você, quatro de nós conseguiram sobreviver também.
A Anja Caída expressou sua opinião com clareza e se virou para sair sem hesitação. Seol Jihu quase perguntou: ‘Já vai embora?’, mas se conteve. Era natural que ela partisse agora. A tentativa de fuga havia sido bem-sucedida e, com isso, a relação de cooperação entre eles também chegava ao fim.
— …Ah.
A Anja Caída, que se apressava para sair, parou de repente.
— Qual é o seu nome?
— Meu nome?
— Você ouviu, então por que está perguntando de volta?
A Anja Caída fez um biquinho e resmungou suavemente. Seol Jihu coçou a bochecha, envergonhado, e respondeu:
— É… Seol.
— Seol, é isso? Obrigada pela informação. Vou me lembrar de você.
— E o seu, senhorita Anja Caída?
Ela ainda assentia com sabedoria, mas ao ouvir a pergunta, deu um leve sobressalto. Parecia estar ponderando algo, da mesma forma que o jovem à sua frente havia feito antes, então deu de ombros.
— É Mikael.
Mikael, ela disse. Ele já ouvira esse nome algumas vezes antes na vida.
“Ela é mesmo um anjo…”
Seol Jihu a observou com olhos intrigados.
“Por que ela veio para o Paraíso?”
E ainda por cima em um estado ‘corrompido’, segundo ela própria.
Ele tinha mais de uma ou duas perguntas que gostaria de fazer, mas como a Anja Caída, agora identificada como ‘Mikael’, deixava claro que queria ir embora o quanto antes, ele não quis forçá-la a ficar mais do que o necessário.
— Também vou me lembrar do seu nome.
Mikael sorriu suavemente antes de se virar mais uma vez. Logo, ele ouviu o som da porta se fechando. Vendo que a Santa também permanecia em silêncio, devia ter desistido de fazê-lo aceitar a pulseira. Seol Jihu observou mais uma vez o interior do túmulo e estalou os lábios.
— Hã, Santa?
— Hm?
— Por acaso, você tem água?
— Como você pode pedir água num lugar como esse?
“Mas é claro. Obviamente, não haveria água aqui dentro.”
Seol Jihu apenas soltou uma risada amarga diante da resposta.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.