Índice de Capítulo

    — Tsc! Esse cara não me dá uma brecha! — Noelle reclamou, se agarrando na cauda do gigante esquelético.

    Em seus olhos, enquanto era balançada de um lado para o outro, era possível ver uma ideia surgindo. A bruxa cravou suas garras elétricas na cauda ossada do demônio, se equilibrando no pouco espaço que tinha e disparou em direção ao topo da cauda.

    O demônio se balançava sem parar, mas Noelle, veloz como um raio, chegou facilmente em sua nuca. Ela bateu com a palma de sua bem no começo da cauda, criando um círculo com runas mágicas ao redor da circunferência. Logo em seguida, sem perder tempo, deslizou e saltou sobre os ossos do gigante, como um macaco descendo uma árvore, e pousou com elegância.

    Cessar! — A bruxa exclamou, invocando correntes elétricas que prendiam as pernas, tronco e cauda do gigante na areia.

    — GRRR! VOOOOOOR! — um rugido estridente fez a terra tremer, os correntes cediam pouco a pouco, até enfim se estilhaçarem em milhares de partículas de mana.

    — Isso já não funciona há um tempinho… — seu amigo, Akira, provocou brevemente.

    — Pois é, mas ele ainda é bem útil… — ela deu as costas para seu oponente, o ignorando completamente.

    Vor, denunciando seu nome através do grito, girou sua cauda como um chicote, fazendo o som do estalo ecoar por toda a praia.

    — … esse aí parece ter uma resistência mágica bem chata de lidar… — continuou, caminhando em direção a Akira.

    — Cê sabe que ele ainda tá vivo, não é?

    — … mas nada de mais — Noelle sorriu, com raios escapando de seu corpo e levantando seu cabelo.

    O demônio gigante desferiu um poderoso golpe em sua direção, empurrando a areia apenas com a força do impacto, enquanto uma enorme nuvem de raios se formava sobre sua cabeça.

    — Noelle, CUIDADO! — gritou Akira, prestes a saltar.

    Dança das Lanças Trovejantes.

    Uma chuva de raios em formato de lanças caiu do céu, atravessando o demônio e impedindo seu ataque. Cada lança era como uma bomba do corpo do gigante, explodindo seus ossos que se espalhavam pela praia.

    Ao redor da bruxa, tudo que restou foram cristais de vidro formados pela areia.

    — Hum! Exibida.

    — Se eu sou exibida, então o que ela é? — A bruxa apontou para trás com seu dedão.

    No fim da praia, próxima a uma das montanhas dos alpes, Saki se esquivava dos cortes de Ska com maestria.

    — Quem sabe? Parece um animal… — disse em um tom de zombaria.

    — Saki! Adianta aí! — sua amiga gritou.

    Saki olhou em sua direção, erguendo um sorriso diabólico. O gigante, percebendo sua distração, a cortou com sua lâmina rápida e precisa.

    — RAAAA! — Saki rugiu em uma explosão violeta, fazendo a onda de choque percorrer quilômetros através da praia.

    Em um piscar de olhos, para mim, tão rápida quanto a bruxa de raios, ela disparou como um borrão, planando frente a frente com os olhos vazios do esqueleto gigante. Eu nunca tinha vista um estilo de luta tão brutal, mesmo sendo pequena comparada ao demônio, Saki afundou seu crânio na montanha enquanto o agarrava pela testa.

    Ao cair novamente no chão, sem dar tempo para a criatura reagir, a guerreira púrpura arrancou a lâmina de Ska da sua mão. Ela agora portava uma Lâmina vinte vezes o seu tamanho.

    — Ela gosta mesmo disso, não é? — Akira comentou, estarrecido.

    — Isso que me preocupa — disse Noelle, em um suspiro.

    Voltando meus olhos novamente para a batalha, o gigante Ska se levantava, porém, Saki tinha outros planos para ele. Sua própria lâmina cortava seus braços e pernas enquanto Saki a balançava imprudentemente. E não satisfeita, Saki saltou novamente, estocando a lâmina de osso cerrado fundo na garganta de seu oponente.

    — Prontinho — ela limpava suas mãos com palmas, esbanjando uma confiança que nunca havia visto em alguém.

    — É difícil saber qual dos dois é o monstro…

    — O quê? Eu gosto de lutar!

    — Tô sabendo. Eu também gosto, mas você é a única que parece um demônio quando se solta.

    — Hmm… nem reparei.

    Enquanto eles conversavam, como se estivesse tudo acabado, eu via os ossos carbonizados de um dos gigantes deslizando pela areia.

    — Pessoal, cuidado! — eu gritei o mais alto que pude, apontando para os ossos se movimentando.

    — O quê? — todos olharam para o lado.

    Eu reparei no momento em que vi os ossos queimados no chão. Normalmente, ao matar um demônio, seu corpo se transforma em poeira negra e paira pelo ar por alguns segundos. A última vez que o vi acontecer, nosso capitão se sacrificava para derrotar o chefe da horda de demônios, mas agora, tudo que restou deles ainda estavam largados no chão.

    Os ossos de todos os gigantes se reuniam no centro da baía, em uma fusão macabra e grotesca de ossos e músculos deformados. Três crânios horrendos emergiram de um único torso, cada um com mandíbulas escancaradas em um grito eterno e olhos vazios que emanavam uma luz opaca e espectral. Cada uma das cabeças se moviam sem harmonia, por vontade própria, como se estivessem buscando presas em todas as direções possíveis.

    Os quatro braços da criatura eram longos e desproporcionalmente fortes, terminando em mãos cujos dedos eram garras alongadas e afiadas como lâminas. A cauda vinda de sua nuca, também compostas por ossos, se movia estranhamente flexível para o seu material. Seu torso era coberto por uma pele translúcida e rachada, que revelava o emaranhado de ossos sob a superfície, como se a criatura fosse um monumento vivo à dor e à morte. As pernas, musculosas e quase bestiais, terminavam em pés que mais parecem garras, capazes de esmagar o chão com seu peso.

    Cada parte de seu corpo parecia ser feita para matar, o ranger e estalar constante de seus membros, juntamente com sua pressão inigualável tirava o meu fôlego. Eu caía no chão, descrente, aceitando a derrota.

    — Parece que esse aí vai dar trabalho… — Saki comentou levianamente, encarando a besta retirada do inferno.

    — Quatro braços e três cabeças. Isso dá o quê? Dois pra cada? — seu amigo, sacando seu bastão, planejava.

    — Alguém vai ter que ficar com um a mais — A bruxa completou.

    — Relaxa, deixa pra mim!

    “E-Eles estão planejando lutar contra isso?” eu estava em choque, mal conseguia me levantar, e mesmo assim, aquelas pessoas conseguiam se manter de pé, frente a frente com aquela criatura.

    Eu não sabia se os admirava ou os temia.

    — ROOOOAAAR! — a besta esquelética rugiu, emanando uma onda de choque poderosa.

    — Ele parece ser bem forte… — Akira media sua altura com os olhos enquanto questionava — mas ainda não explica por que ele não morreu antes.

    — Seu nome é Skarelvor — o braço esquerdo da Saki… falou? — Ele era um dos grandes comandantes do inferno.

    — O quê? E você só diz isso agora? — Saki gritou com seu próprio braço.

    Mesmo já tendo visto seu braço antes, eu jurava que se tratava de algum tipo de armadura ou algo semelhante, mas agora não tinha mais certeza de nada.

    — Eu só o reconheci agora que está na sua forma original. Parece que ele se tornou um berserk.

    — Um berserk? — de repente, um corte transparente partiu a praia ao meio.

    — Depois explico! Se concentra na luta!

    Ambos esquivavam dos cortes enquanto discutiam o que fazer. Cada um possuía um pouco de informação, o que os levou a uma ideia.

    — Beleza, um gigante de osso que se regenera, como a gente derrota isso? — Akira perguntou.

    — Deve haver algum tipo de núcleo que precisa ser destruído! — a bruxa exclamou.

    — Pensei a mesma coisa! Consegue detectar alguma coisa?

    — Dentro dele! Parece ser uma esfera de mana bem densa.

    — É isso! — Saki parou subitamente, decidindo encarar o gigante — Akira e eu vamos segurar, encontra um jeito de acertar ele.

    — Beleza! — Noelle disparou como um raio.

    Akira olhava para cima, enfrentando o demônio em sua mente.

    — Acha que a gente dá conta? — perguntou brevemente.

    — Tá brincando? — Ela estendeu seu punho para o lado, esperando fazer o mesmo — Manda brasa!

    Seus punhos se chocaram frente a frente com a criatura ossada, com um sorriso no rosto, enquanto suas expressões o provocavam.

    — É melhor me acompanhar — Zombou.

    Uma torre de chamas envolveu seus corpos subitamente. Os punhos incandescidos de Saki brilhavam com o calor das chamas, enquanto seu amigo, afastando o fogo com o balançar de sua arma, emanava de seus ombros e calcanhares, labaredas de fogo.

    — Tá se achando só porque virou amiguinho do Deus Macaco — ela saltou rapidamente, agarrando com força uma pequena fenda na costela do gigante.

    Em um rugido furioso, Saki socou a costela da criatura com um poder descomunal, trincando todo o hemisfério direito do seu corpo. As rachaduras se fechavam gradativamente.

    Akira, por sua vez, não poupou esforços para acompanhá-la. Pelo visto, suas habilidades não eram ideais para uma criatura daquele tamanho, mas assim como uma mosca, ele irritava o demônio, fazendo o mesmo acertar seu próprio rosto com seus dois braços superiores.

    Ambos davam dificuldades para o gigante, acertando golpes e desviando ao mesmo tempo. Estava difícil entender quem era o verdadeiro monstro naquele campo de batalha.

    — Achei um jeito de entrar! — Noelle voltou de repente, correndo sobre a cauda mágica de Skarelvor.

    A cauda dispara feixes de mana que explodia em uma pequena área, mas com sua velocidade, os feixes pareciam não passar de um leve incômodo para a bruxa.

    — Só espero que eu não tenha que entrar nisso de novo! Esse bicho fede!

    — O interior dele é oco, só precisamos entrar e destruir seja lá o que estiver dentro dele!

    — Tá de sacanagem…

    — Deixa comigo! — Saki puxou seu punho, pronto para abrir um buraco na parede de ossos.

    — Não dá tempo! — seu corpo foi levado ao chão por Noelle, que disparou em um impulso — A regeneração é rápida demais pra isso.

    — E o que você sugere?

    — Eu vou abrir uma passagem, deve te dar pelo menos uns 2 segundos pra poder entrar.

    — Ele é bem resistente. Consegue fazer isso?

    — Só preciso de uma superfície menos robusta…

    — Posso cuidar disso — seu amigo, com os punhos flamejantes, assegurou.

    Seu plano estava montado. Noelle se preparava para saltar, até ser interrompida por sua companheira.

    — Pera aí! — encarando a expressão confusa da bruxa — Uma coisinha antes, só pra garantir.

    Em poucos segundos, todos estavam em suas posições. Akira distraía o gigante saltando entre seus cortes e disparos, enquanto Noelle brilhava com raios brincando sobre seu corpo.

    Akira parou repentinamente, cravando seu bastão em uma pequena rachadura na região da costela. Ele acendeu suas mãos com chamas ao acertar um tapa no gigante e passou aumentar a temperatura rapidamente.

    — Tá pronto! — afirmou aos gritos.

    — Pode vir! — Saki deu seu sinal.

    A bruxa prateada saltou agilmente, em uma pirueta desnecessariamente elegante, pousando perfeitamente sobre as mãos de sua amiga. Os braços de Saki brilharam em um tom violeta, arremessando Noelle para o alto com toda a sua força em direção à criatura.

    Espiral Trovejante! — O corpo de Noelle girou em seu próprio torso, coberto por raios, tomou uma forma de uma broca e atravessou a região aquecida por Akira.

    Dentro do interior oco da besta, se segurando com suas garras trovejantes, gritou.

    — Agora!

    Saki desapareceu. Confesso que em boa parte da luta, eu mal podia os ver, mas agora, aquilo era diferente. Não era como se estivessem se movendo rápido demais para acompanhar, ela apenas sumiu.

    Porém, em um simples piscar de olhos, Saki reapareceu, projetando seu corpo através do rombo na costela do demônio.

    Já estando dentro da criatura, ela o fez novamente, desapareceu e reapareceu um pouco mais abaixo, onde deveria estar seu núcleo, um amálgama de ossos e vísceras. Seu braço se aquecia, tomando uma cor alaranjada da ponta de seus dedos até mais ou menos seu ante-braço.

    PUNHO DAS CHAMAS CONCEDIDAS! — rugiu em um golpe certeiro, despedaçando todo o núcleo.

    O corpo do gigante se desmanchava rapidamente. Suas partes se espalhavam pela beira do mar, mas ainda assim, permanecia ali.

    — Não… ainda não… — eu comentava comigo mesma.

    O orbe fundido com ossos e vísceras flutuou no ar, reunindo mais uma vez cada pedaço do seu corpo. Skarelvor, em questão de segundos, voltou a sua forma original. Sua regeneração massiva parecia ter consumido bastante da sua energia, julgando pelos seus olhos sem vida e seu corpo parado como uma estátua de mármore.

    — Mas o quê? — Akira se espantava com o fracasso.

    — Nós destruímos o núcleo, não destruímos? — Saki perguntou.

    — Parece que aquilo era só uma distração… — Noelle rangia seus dentes, frustrada.

    — Distração… — uma lâmpada parecia acender na mente de Saki — É isso! Noelle, os casulos!

    — No que isso vai nos ajudar? — resmungou seu amigo.

    — O orbe de ossos mantém o corpo dele junto, mas também serviu pra me enganar. Provavelmente, o núcleo verdadeiro deve estar em um dos casulos! — a bruxa, entendeu rapidamente a situação.

    — Como a gente vai saber qual é o certo dessa vez?

    — Simples! — ela chocou seus punhos, em uma pequena explosão de suas labaredas púrpuras — vamos quebrá-los ao mesmo tempo!

    — Só me deixem confirmar antes, não vou errar de novo!

    — ROOOOOOOOOOOAR! — Skarelvor rugiu, criando um vórtice, ao redor da boca dos crânios laterais e central, e sugando toda e qualquer matéria ao redor.

    — Se puder ser rápida…

    Assim que ouviu suas palavras, Noelle partiu como um raio.

    — Seja lá o que esse cara for fazer, é melhor a gente impedir — disse, sacando seu bastão

    — Tá parecendo um raio atômico, eu é que não vou pagar pra ver— Saki disparou em direção a um dos casulos de Skarelvor, assim como Akira.

    O rugido de Skarelvor se tornava cada vez mais estridente, um agudo insuportável que fazia meus ouvidos clamarem por misericórdia.

    A expressão da Noelle dizia que preferia a morte do que passar mais um segundo naquela situação, e com um aceno de cabeça tortuoso, confirmou suas suspeitas.

    Em uma perfeita sincronia, num momento onde a frequência do rugido da besta se assemelhava ao fio de uma espada extremamente afiada, Saki estilhaçou o núcleo com um soco poderoso, Noelle o rasgou com suas garras trovejantes e Akira o incendiou com um ataque certeiro de seu bastão.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota