Índice de Capítulo

    Enquanto a sala de tratamento fervilhava de visitantes, Ayase Kazuki permanecia em silêncio, encostado na parede.

    “Está bem barulhento aqui, hein…”

    Achou a situação bastante tumultuada, mas também ficou surpreso.

    “Ouvi dizer que ele era um Guerreiro de Nível 2.”

    Quase todos na sala eram Terrestres bem conhecidos. Vendo que todos haviam vindo desejar uma rápida recuperação ao jovem, Ayase Kazuki pôde deduzir facilmente que tinham algum tipo de ligação com ele. Em outras palavras, essas pessoas eram amigas ou, ao menos, conhecidas do Terrestre chamado Seol.

    “Hm?”

    Justo quando se virou, achando que era hora de ir embora, avistou uma mulher espiando pela fresta da porta entreaberta.

    “Aquela é…!”

    Kazuki ficou chocado por dentro, mas ao mesmo tempo inclinou a cabeça, confuso. A mulher estava olhando fixamente para um homem em específico dentro da sala. Seus olhos estavam presos nele de forma um tanto desconfortável. Em vez de triste, ela parecia mais preocupada.

    “Quem ela está olhando?”

    Seguindo a linha de visão da mulher, Kazuki voltou os olhos para o jovem sentado na cama. O jovem conversava com um sorriso radiante, soltando de vez em quando uma risada calorosa. Disse que estava completamente recuperado, e mentalmente também parecia bem.

    “Parece que não houve efeitos colaterais…”

    Kazuki voltou o olhar para a porta e seus olhos encontraram os da mulher. Rapidamente descruzou os braços e fez uma reverência respeitosa. A mulher sorriu gentilmente e retribuiu a reverência antes de se virar.


    Ayase Kazuki foi o primeiro a sair. Depois dele, os visitantes começaram a se retirar um por um. O retorno seguro de Seol Jihu era algo a ser comemorado, mas era difícil considerar aquilo um final verdadeiramente feliz. A perda do Atirador Arcano de Nível 5, Edward Dylan, era uma realidade fria e cruel.

    Perder o líder de um time era algo de sérias consequências, especialmente se esse líder fosse um Alto Ranker. Não era diferente de perder o capitão de um navio em meio à viagem.

    Era um fato inegável que a Carpe Diem não ocuparia mais a mesma posição de antes. Afinal, ninguém em sã consciência confiaria uma missão importante a um time com apenas três Guerreiros.

    Com os visitantes se retirando de propósito, a sala de tratamento acabou ficando apenas com três pessoas. Quando o alvoroço cessou e o silêncio desceu sobre o ambiente, Seol Jihu ficou com um gosto amargo. Não pôde deixar de pensar em como estaria mais feliz se Dylan estivesse ali com eles.

    — Por que tá com essa cara de velório?

    Chohong parecia não gostar da expressão dele e gritou com um olhar irritado.

    — Levanta os ombros! Abre o peito! A missão foi um sucesso. Resgatamos três pessoas e salvamos outras três. Você ainda estragou os planos dos Parasitas pra valer. Sabe o tamanho da onda que você causou em Paraíso?

    — Ela tá certa, Seol. Não tem motivo pra se culpar. Na verdade, você devia estar orgulhoso. Dylan com certeza diria a mesma coisa.

    Hugo também se pronunciou.

    — …Dylan.

    Seol Jihu falou com cautela após ouvir em silêncio por um tempo.

    — Ele está bem… certo?

    — Se você tá falando da penalidade… bem…

    Hugo coçou o nariz.

    — Não é fácil. O sentimento de vazio e perda quando você perde as memórias de Paraíso é algo difícil de lidar pra maioria.

    — Então…

    — Mas se for ele, tenho certeza que vai conseguir superar todas as dificuldades. Eu confio no Dylan.

    Hugo continuou com voz firme.

    — O que importa é que Dylan voltou pra Terra como humano. Devemos focar nisso.

    As palavras de Hugo tocaram Seol Jihu. Ele realmente desejava que Dylan fosse capaz de superar aquela penalidade infame. Não, ele tinha certeza de que conseguiria.

    Seol Jihu cerrou os punhos. Um breve silêncio se seguiu antes de Chohong abrir a boca.

    — O que você vai fazer agora?

    Seol Jihu ficou levemente surpreso. Estaria ela falando sobre o futuro da Carpe Diem? Era ele quem queria perguntar isso para ela. Não esperava que ela fosse levantar essa questão primeiro.

    — Hugo e eu vamos voltar pra Terra por enquanto — Chohong continuou — A gente tá, bem, meio exausto. Queremos descansar… e também precisamos de um tempo pra organizar as ideias.

    — Vocês vão dissolver a Carpe Diem?

    — Que conversa é essa?

    Chohong bufou e acenou com a mão.

    — Tô só dizendo que a gente devia descansar, já que acabamos de concluir uma missão enorme. Não vai tirando conclusão precipitada.

    Felizmente, parecia que Chohong não tinha planos de dissolver a Carpe Diem. Isso já bastava. Seol Jihu suspirou de alívio por dentro.

    — Ah, e tem uma coisa que eu preciso te contar.

    Hugo, que estava com a mão dentro da cesta, de repente falou como se tivesse acabado de se lembrar de algo.

    — A Senhorita Raposa pediu pra gente te passar um recado. Ela disse pra você ir pra Terra assim que acordasse.

    — Senhorita Raposa… Quer dizer, a Kim Hannah?

    Seol Jihu perguntou surpreso.

    — É. Também me surpreendi. Quem diria que você tinha contrato com a Sinyoung?

    — Não tenho.

    — Não tem?

    — Não. Eles me ofereceram, mas eu recusei. A Kim Hannah e eu só temos um contrato pessoal.

    — Você recusou? E assinou um contrato com a Senhorita Raposa?

    — Sim.

    Os olhos de Hugo se arregalaram em surpresa. Depois, suas mãos voltaram a se mover. Ele pegou uma fruta bem madura e murmurou em admiração:

    — Uau… Não acredito que você recusou a Sinyoung. Ah, bom, acho que é porque você tem o Selo Dourado.

    Crunch.

    Ele mordeu a fruta e começou a rir.

    — Mesmo assim, eu fiquei realmente surpreso.

    — Por quê? Ela disse algo?

    — Não, não é isso… Kik! Não leva a mal, mas… por que todas as mulheres da sua vida são malucas?

    “Malucas?”

    — O que isso quer dizer?

    Chohong também pareceu curiosa. Hugo continuou rindo e apontou para Chohong com o queixo.

    — Quero dizer que você tem quatro das Seis Malucas de Paraíso ao seu redor.

    — Quatro das Seis Malucas? Uh, Senhorita Raposa, Maria Yeriel, Claire Agnes… ah, é mesmo.

    Chohong contou nos dedos e acabou caindo na gargalhada.

    — Ele tem contrato com uma e duas vieram visitar ele! Ele, ele tá ferrado! Será que vamos encontrar o corpo dele um dia num beco qualquer? Puhahaha!

    Chohong gargalhava enquanto batia nas costas de Seol Jihu.

    — Quem é a outra? Ah! Cinzia! Cinzia noonim! Puhahaha!

    Mas, por algum motivo, Hugo não estava rindo nem um pouco.

    — …

    Na verdade, ele olhava para Chohong com uma expressão que misturava amargura e confusão. Seus lábios se contraíam como se quisessem dizer algo, mas ele apenas clicou a língua e deu mais uma mordida na fruta.

    — …Se cuida, Seol, especialmente com quem tá mais perto de você. Tô falando sério.

    Ele sussurrou para Seol Jihu enquanto mastigava a fruta. Seol Jihu respondeu com um sorriso irônico.

    — Mas chamar elas de malucas… não é meio rude?

    — Rude? Você sabe há quanto tempo eu conheço ela? Maluca é pouco. O apelido dela é Donzela do Massacre. Donzela do Massacre! Nem é Donzela da Batalha.

    — D-Donzela do Massacre?

    Enquanto Chohong se contorcia de tanto rir com as mãos na barriga, os dois homens cochichavam entre si.

    — Não te falei antes? Ela fica toda fofa e inocente perto de você. Sério.

    — A Chohong? Fofa? Eii, ela quase me deu uma surra hoje. Mas, bom, a culpa foi minha.

    — Exatamente! Aquilo mal conta como raiva. Teria que ser pelo menos dez vezes mais do que isso pra você dizer: “Ah, hoje ela tá realmente furiosa.”

    “Dez vezes?!”

    Seol Jihu não conseguia acreditar. Imediatamente ativou os Nove Olhos e lançou um olhar para Chohong.

    【Janela de Status de Chung Chohong】


    【1. Informações Gerais】

    Data de Convocação: 18 de novembro de 2015

    Grau do Selo: Vermelho

    Sexo/Idade: Feminino/22

    Altura/Peso: 170,2 cm / 58,6 kg

    Condição atual: Saudável

    Classe: NV. 4 Campeã Divina

    Nacionalidade: Hong Kong (Área 1)

    Afiliação: Carpe Diem

    Apelido: Vai-não-vai1, Donzela do Massacre, Sexta Maluca, Chung Caiu de Novo2.

    “Hã…?”

    Era verdade. Seol Jihu estava prestes a pedir para Chohong ler os apelidos dela na janela de status, mas então seus olhos pousaram na gaveta quebrada ao lado da cama. De repente, um calafrio percorreu sua espinha.

    — Ah, fazia tempo que eu não ria tanto assim.

    Chohong finalmente conseguiu se recompor e limpava as lágrimas dos olhos.

    — Enfim, você vai, né?

    — Hm?

    — Pra Terra.

    Seol Jihu foi pego de surpresa.

    — Alô? Você não precisa voltar? Sua contratante tá te chamando, sabia?

    — Uh, é… Eu vou ligar pra ela.

    — Como é que é? Vai ligar pra alguém na Terra daqui? Que é isso, tem alguma coisa que precisa fazer? Por que essa relutância pra voltar?

    — A Princesa Teresa disse que vai me convidar pro palácio.

    — E daí? Isso pode ficar pra quando você voltar.

    Seol Jihu ficou sem palavras e só conseguiu balbuciar. Chohong sentiu que tinha algo estranho, e suas sobrancelhas se ergueram.

    — Você… você realmente não quer voltar?

    — N-Não.

    Seol Jihu respondeu no reflexo, mas não conseguiu esconder o leve tremor do pomo de adão. Foi nesse momento que percebeu os próprios dedos tremendo e os escondeu debaixo do cobertor.

    Para ser sincero, ele queria dizer que não queria voltar. Não sabia o motivo. Era só que, quando pensava em deixar Paraíso… um sentimento instintivo de rejeição crescia dentro dele. Sentia o peito apertado de forma desconfortável e até um pouco de ansiedade.

    Mas não conseguia dizer tudo isso. Se dissesse, sabia que Chohong perguntaria o porquê. Ele não queria mentir, mas também não queria dizer a verdade.

    “…Não.”

    Agora que pensava bem, ele realmente precisava voltar ao menos uma vez. Não dava pra dizer que estava em uma posição segura na Terra, e também imaginava que seria mais fácil encontrar conhecimento básico sobre arremesso de lanças e circulação de energia por lá.

    Pensando assim, sentiu-se um pouco melhor.

    “Certo, se eu quero viver em Paraíso…”

    — Claro que eu vou voltar. Tenho algumas coisas pra resolver, então pode demorar um pouco até eu retornar.

    — …É, imagino. Não se preocupa com isso e faz uma boa viagem.

    Chohong apagou as suspeitas ao ouvir a resposta direta de Seol Jihu. Ele sorriu. Já estava animado só de pensar em aprender Lança de Mana e Circulação de Mana quando voltasse.

    1. Referência a jogo de cartas coreano, apelido no sentido de alguém indeciso[]
    2. Caiu no sentido de ser enganada, passada pra trás, cair em pegadinhas.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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