Índice de Capítulo

    O cérebro do jovem teve dificuldade em aceitar que a mulher à sua frente era Yun Seora. Seol Jihu examinou cuidadosamente seus traços delicados, que o faziam lembrar de uma escultura renascentista.

    Sua primeira impressão de Yun Seora fora a de uma garota da cidade, arrogante e puritana. Mas, depois de salvá-la de Kang Seok durante o Tutorial e conviver com ela na Zona Neutra, descobriu que ela também tinha uma personalidade calorosa, quase como a de uma filhote.

    Suas sobrancelhas ainda estavam arqueadas como as de um gato travesso, e o formato dos olhos ainda transmitia uma aura fria, mas o olhar, tão evidentemente cheio de saudade, fez Seol Jihu se perguntar se ela havia voltado para casa após anos de trabalho duro no exterior.

    — Jihu-nim?

    Ele mal conseguiu conter a vontade de engasgar com o ar. Ela devia tê-lo chamado porque ele não dizia nada, mas ‘nim’? Nim!?

    Yun Seora deve ter notado sua expressão de choque, pois murmurou com cuidado:

    — Hm, você me deu um nome falso?

    Ela entendeu tudo errado. O problema era a forma como ela o chamava. Seol Jihu balançou a cabeça com firmeza.

    — Não, você acertou o nome. Mas, hm, me chamar de ‘nim’ é meio…

    Sendo a garota esperta que era, Yun Seora percebeu rapidamente que ele estava envergonhado de ser chamado assim.

    — Ah… então…

    Ela inclinou ligeiramente a cabeça antes de abrir a boca.

    — Jihu Oppa?

    “…Mm.”

    Oppa. Ele nunca imaginou que uma palavra tão simples pudesse ter um poder destrutivo tão grande. Percebeu que a mesma palavra podia ter nuances e sabores diferentes, dependendo de quem a dizia.

    “Pelo menos é melhor do que ‘nim’…”

    Depois de desativar os Nove Olhos, ele finalmente entendeu a origem da estranheza que sentia. Era a roupa dela.

    Óculos escuros com estampa de leopardo repousavam sobre sua testa alva. Um vestido de tweed azul-marinho com rendas envolvia sua silhueta esguia, um cinto de couro bordô delineava sua cintura, um pequeno brinco de diamante brilhava no lóbulo esquerdo e uma meia-calça de bolinhas, fina, de 20 denier, cobria suas pernas…

    Mesmo com um olhar superficial, suas roupas gritavam: ‘Sou filha de uma família rica.’ Como Seol Jihu só a conhecia usando moletons largos ou armadura, não podia deixar de estranhar essa Yun Seora vestida com tanto esmero.

    “Certo, ela era a filha mais nova da Sinyoung…”

    Foi então que Seol Jihu percebeu que Yun Seora parecia ansiosa. Já fazia tempo desde a última vez que se viram. Vendo que ele criticara a forma como ela o chamou e não dissera mais nada desde então, não se podia culpá-la por achar que ele estava incomodado por ter sido forçado a vir.

    Claro, seria mentira dizer que Seol Jihu não estava incomodado. Mas, no momento em que descobriu que Yun Seora era quem queria vê-lo, o sentimento ruim em seu coração desapareceu como neve derretendo.

    Apesar de Yun Seora estar ligada à Sinyoung, ela também era uma boa amiga que esteve com ele na alegria e na dor. Além disso, Kim Hannah a chamara de única ‘aliada’ capaz de protegê-lo das mãos de Yun Seohui, e o Mandamento Dourado era a prova disso.

    Sabendo disso, Seol Jihu conseguiu sorrir.

    — Estou surpreso.

    Os olhos de Yun Seora se arregalaram.

    — Eu não esperava que fosse você, senhorita Yun Seora.

    Sua expressão preocupada finalmente se suavizou, e um sorriso surgiu em seu rosto.

    — Hm… se não se importar…

    Yun Seora segurou com firmeza a mão de Seol Jihu e olhou para a porta deslizante.

    — Claro.

    Ele entrou na sala sem hesitar. A única coisa que não conseguia entender era por que ela se sentou ao lado dele quando havia um assento bem em frente. Ela ainda estava ajoelhada, como uma dama recatada.

    O jeito como o olhava com carinho do início ao fim fazia-o lembrar de um chihuahua implorando por carinho. Seol Jihu achou tudo aquilo um pouco incômodo.

    O que deveria dizer?

    ‘Você tem estado bem?’, parecia simples demais. ‘Por que me chamou?’, parecia formal demais, quase profissional. Enquanto Seol Jihu quebrava a cabeça tentando encontrar as palavras certas, Yun Seora iniciou a conversa.

    — Desculpe por ter chamado você tão de repente. Teve algum problema no caminho?

    — Não, nenhum.

    O tom cauteloso e apologético dela fez Seol Jihu negar com as mãos imediatamente.

    — Só fiquei um pouco surpreso. Eu não esperava ver a senhorita Yun Seora, e…

    Quando ele deixou a frase no ar, Yun Seora ajustou sua postura ainda ajoelhada. Basicamente, entrelaçou as mãos e as repousou no colo.

    “Será que falo ou não?”, Seol Jihu praticamente conseguia ler seus pensamentos à medida que a tensão dela aumentava. Logo, ela abriu a boca com um tom sério.

    — Ouvi dizer que você viria para a Sinyoung.

    O sorriso desconfortável de Seol Jihu desapareceu, sendo substituído por uma expressão séria.

    — Também ouvi dizer que você planejava ir para outro lugar, mas foi forçado a vir por pressão da Yun Seohui sobre a Diretora Kim.

    Foi estranho ouvi-la se referir à irmã mais velha como uma completa estranha, mas ele permaneceu em silêncio e continuou ouvindo.

    — Vou ser direta. Por favor, se candidate para o departamento do qual estou encarregada.

    Seol Jihu arregalou a boca.

    — Ah.

    O que Kim Hannah lhe dissera no dia anterior veio à mente.

    — A questão do emprego falso já foi decidida? Os detalhes, digo.

    — Não, nada foi definido ainda.

    Yun Seora balançou a cabeça, enquanto Seol Jihu assentiu. Começava a entender por que Kim Hannah estava tão convencida da última vez que se viram.

    Embora o emprego de Seol Jihu na Sinyoung fosse apenas nominal, já que seria um funcionário oficial apenas nos registros, ele precisaria estar vinculado a um departamento. Havia, claro, uma grande chance de esse departamento ser o de Yun Seohui.

    Em outras palavras, sob o pretexto de oferecer um ambiente seguro, Yun Seohui obteria um canal de contato com ele. Poderia facilmente chamá-lo de tempos em tempos ou convocá-lo mencionando um jantar obrigatório da empresa. Havia dezenas de maneiras de se fazer isso.

    Yun Seora devia ser a carta na manga que Kim Hannah usou para impedir isso. Ao espalhar o boato de que Seol Jihu se juntaria à Sinyoung, ela levou Yun Seora a agir.

    Yun Seora também tinha uma justificativa perfeita para isso. Já que havia recebido tanta ajuda durante seu tempo na Zona Neutra, quem poderia dizer algo se ela afirmasse que queria retribuir a dívida?

    “Então era disso que ela estava falando quando disse que estava batendo na porta errada.”

    Ele descobriu as peças que faltavam no quebra-cabeça, mas ainda assim perguntou, só para ter certeza.

    — Haverá algo que eu precise fazer se entrar no departamento da senhorita Yun Seora? Ou alguma regra que eu precise seguir?

    — Não, posso prometer que não haverá nada disso.

    Yun Seora respondeu com firmeza, como se estivesse esperando por essa pergunta. Sua postura nervosa deixava claro o quanto ela aguardava por uma resposta.

    — Certo, então por mim tudo bem.

    Uma flor desabrochou no rosto de Yun Seora. Ao ver o alívio se espalhar por sua expressão, Seol Jihu teve certeza de algo. Aquela era a expressão de alguém que dizia ‘Eu o protegi’, e não ‘Consegui’.

    “Parece que terei uma preocupação a menos.”

    O problema que o incomodava no fundo da mente havia sido resolvido graças à intervenção de Yun Seora. De certo modo, teve sorte. O favor que havia feito a ela na Zona Neutra retornara como uma bênção inesperada.

    Nesse momento, diversos pratos chegaram. Seol Jihu encarou a comida luxuosa e arregalou os olhos. Era simplesmente comida demais.

    — Imaginei que você ainda não tivesse comido…

    Yun Seora juntou as mãos e falou timidamente.

    — Eu não sabia do que você gostava, então preparei um pouco de tudo…

    Sopa de carne de caranguejo reluzindo com um brilho apetitoso, barriga de porco frita no shoyu de dar água na boca, brotos de feijão escaldados, grandes abalone grelhados e muito mais… Todos os tipos de aromas saborosos e intensos atingiam seu nariz, fazendo-o ficar tonto.

    Ele não conseguia tirar os olhos dos pratos enquanto perguntava, salivando:

    — Posso… comer tudo isso?

    No momento em que ouviu um — Claro — pegou os hashis. Era do tipo que perdia o juízo diante de uma boa refeição, então concentrou-se apenas em comer.

    Depois de observá-lo por um tempo com um sorriso satisfeito, Yun Seora começou a lhe recomendar pratos, dizendo ‘Prova este’. Não se esqueceu de encher seu copo com água constantemente e lembrá-lo de comer mais devagar.

    Após comer tudo o que lhe davam por um bom tempo, ele finalmente saiu de seu transe.

    — Ah, senhorita Yun Seora, você devia comer…

    Não conseguiu terminar a frase com um ‘também’. Todos os pratos sobre a mesa estavam limpos. Quando olhou para cima, atônito, viu Yun Seora com os olhos bem fechados e uma mão sobre a boca. Estava claramente tentando segurar o riso.

    “Aaaaaah.”

    Gritou por dentro, incapaz de suportar a vergonha que subia dentro dele. Por outro lado, parecia ser a primeira vez que via Yun Seora rir. E, pensando bem, quem não acharia engraçado alguém pedir para comer junto e devorar tudo sozinho?

    — Não se preocupe. Ainda sobrou um pouco.

    Yun Seora conteve o riso e começou a comer as sobras. Mesmo tremendo de vergonha, Seol Jihu não conseguiu deixar de achar fofo o jeitinho dela mastigando devagar.

    — Eu ouvi as notícias.

    Parecendo querer salvá-lo de seu colapso nervoso, Yun Seora puxou outro assunto. Era, claro, sobre o Paraíso. Começaram a conversar sobre várias coisas.

    Uma coisa que surpreendeu Seol Jihu foi como Yun Seora sabia de tudo sobre suas conquistas. Mas, como Kim Hannah também sabia de seus grandes feitos, e considerando que foram colegas da Zona Neutra, ele entendeu o motivo do interesse dela.

    Com esse pensamento, começou a se perguntar como estavam Shin Sang-Ah e Hyun Sangmin, e perguntou se ela sabia algo sobre eles.

    — Não tenho ideia.

    Yun Seora respondeu friamente. Notando a expressão atônita de Seol Jihu, ela soltou um ‘Ah’ antes de se apressar em dar mais detalhes.

    — Mas ouvi falar da Seol-Ah. Aparentemente, o talento dela como Arqueira é excelente. Parece que ela vai alcançar o Nível 2 em poucos meses.

    Depois de perguntar sobre seus antigos amigos da Zona Neutra…

    — Eu? Sou uma Berserker de Nível 2. N-Não… Não sou tão incrível assim. Não subi de nível pelos meus próprios méritos como você, Oppa.

    Ele perguntou sobre Yun Seora. Como tinha tempo, mergulhou na conversa. Achou divertido e interessante. Quando conheceu Yun Seora, nunca imaginou que se encontrariam fora do Paraíso, desse jeito.

    Após beber um chá caríssimo para manter o hálito fresco, Seol Jihu finalmente deixou a sala VIP com Yun Seora. A essa altura, já tinham passado duas horas conversando lá dentro. Seol Jihu andou um passo à frente para pagar a refeição, mas ficou um pouco culpado ao descobrir que já estava paga.

    — Eu pago da próxima vez.

    Seol Jihu prometeu levá-la para comer algo gostoso e se redimir pela vergonha que passou. No entanto, Yun Seora se encolheu ao ouvir o que ele disse.

    — Sério?

    Ao ouvir o tom agudo da voz dela, o suor frio desceu pelas costas de Seol Jihu. Yun Seora havia rido da situação antes, mas ele não pôde deixar de pensar que ela ainda guardava um pouco de raiva por dentro.

    Após hesitar por um momento, Yun Seora tirou o celular do bolso e o encarou fixamente.

    — Então… posso te ligar de novo?

    — Claro.

    Seol Jihu assentiu imediatamente. Depois de trocarem os números, os dois deixaram o restaurante. O céu já estava escuro, mostrando quanto tempo haviam passado lá dentro.

    No estacionamento do lado de fora, o homem que o levara até lá os aguardava com o carro. Seol Jihu insistiu em pegar um táxi de volta, mas antes que percebesse, já estava no banco de trás do sedã.

    O ambiente ficou constrangedor. Yun Seora estava falante quando estavam a sós, mas permaneceu em silêncio, talvez por haver outra pessoa presente.

    Huff, huff.

    Só se ouviam as respirações suaves dela.

    Tk.

    De repente, ele sentiu algo bater em seu antebraço.

    “Hm?”

    Ao mover os olhos para o lado, viu Yun Seora encostada em seu ombro com os olhos fechados.

    — Senhorita Yun Seora?

    Quando ele afastou o braço, ela caiu, pousando a cabeça em seu colo. Ao cutucá-la para acordá-la, Yun Seora agarrou sua mão abruptamente e a cobriu com ela os próprios olhos.

    — Mmnn. — Ela murmurou suavemente, parecendo satisfeita.

    — …

    Ele não sabia se ela fazia aquilo dormindo, mas ficou surpreso com a ousadia dela.

    — Senhor Seol Jihu.

    Nesse momento, o motorista o chamou.

    — Você gosta de passear de carro à noite?

    Seol Jihu piscou repetidamente com a pergunta aparentemente aleatória.

    — Conheço um bom lugar para dirigir a essa hora da noite. Ver a paisagem noturna dirigindo devagar dá um novo sentido à vida. Não vai se arrepender.

    Quando Seol Jihu continuou o encarando sem reação, o homem soltou um sorriso amargo.

    — Já fazia tempo desde que a Jovem Senhorita não fazia uma… Digo, já fazia tempo desde que ela não dormia em paz. Então, por favor.

    Só então Seol Jihu entendeu o que ele queria dizer.

    — Você tem ligação com esse lugar?

    — Claro.

    — Ficarei feliz, contanto que tenha alguém com quem conversar.

    — Ficarei honrado em acompanhá-lo.

    O homem mudou o trajeto e perguntou com um sorriso:

    — Pergunto só por curiosidade, mas você não é do tipo que joga no outro time, é?

    — Eu vou descer.

    — Brincadeira, brincadeira.

    Os dois riram em silêncio.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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