Índice de Capítulo

    Seol Jihu recusou veementemente, mas quando Teresa ameaçou não entregar a recompensa, ele engoliu o orgulho e a acompanhou até seu quarto. Felizmente, a sobremesa era uma verdadeira iguaria. Macia e saborosa, fez com que ele a devorasse com entusiasmo, esquecendo completamente de manter as aparências.

    Ele adorou comer Teresa Hussey, e como a Princesa ficou feliz ao vê-lo comer com tanto gosto, acabou ganhando todo tipo de recompensas adicionais que ela lhe ofereceu.

    “Quem diria que existia uma sobremesa dessas?”

    De fato, havia mesmo uma sobremesa chamada ‘Teresa Hussey’. Era um bolinho fof, não, uma refrescante torta rosa com sabor de morango. Aparentemente, o rei e a rainha a prepararam pessoalmente para sua filha caçula, uma incorrigível formiga por doces. O bolo havia ganhado o nome de Teresa por ter sido criado em seu aniversário.

    “Aquilo foi ótimo.”

    Ele queria prová-lo de novo. Saboreando o doce que ainda permanecia em sua boca, Seol Jihu retornou ao escritório.

    “Ainda bem que fui.”

    Sentia que aquele havia sido seu dia de sorte. Não apenas tinha pago sua dívida com o chefe da vila, como também cuidado da santa fantasma.

    E isso não era tudo. Ao olhar para as recompensas que deixara sobre a mesa do escritório, uma sensação de satisfação se espalhou em seu rosto. Embora não tivesse entrado no tesouro real propriamente dito, os itens que recebeu faziam até questionar se aquilo era mesmo permitido.

    O primeiro era uma maça metálica chamada ‘Espinho de Aço +2’. Forjada a partir de um meteorito refinado, possuía uma dureza dez vezes superior ao aço comum e era encantada com uma magia que dobrava seu poder de ataque em caso de acerto.

    “Chohong vai adorar isso.”

    Ele a havia escolhido como presente para Chohong, que provavelmente se tornaria uma Alto Ranker em breve. Só de imaginar a empolgação dela, ele já sorria.

    Também recebeu um artefato em forma de crucifixo. Embora não fosse tão bom quanto a Prova de Castidade, ainda era um item que não podia ser comprado com dinheiro. Tinha certeza de que seria uma isca excelente para atrair Maria quando precisasse dela.

    Quando estava prestes a sair do depósito do palácio, achando que aqueles dois itens já estavam de bom tamanho, Teresa o chamou, pedindo que esperasse. Em seguida, trouxe um cinto preto. O cinto era encantado com uma magia permanente de ‘Espaço Mágico’, permitindo armazenar o equivalente a duas mochilas.

    O único detalhe que o incomodou foi o modo como ela olhou cuidadosamente ao redor enquanto lhe pedia para escondê-lo ao sair. Quando perguntou se podia mesmo levá-lo, Teresa exclamou prontamente que não havia pegado aquilo do tesouro real. Como Seol Jihu confiava nela de todo coração, aceitou sem reservas.

    Por fim, ela lhe entregou quinhentas moedas de prata, dizendo ser uma ‘pequena demonstração de gratidão’.

    — Ah~

    Enquanto admirava os itens com alegria, de repente se lembrou da pulseira que a santa fantasma lhe havia dado. Imediatamente, tirou-a do bolso.

    “Fico curioso pra saber qual é o efeito.”

    Como era um item vindo do Império, era improvável que fosse algo simples. Seol Jihu ativou a cor de Observação Geral dos Nove Olhos e olhou para a pulseira dourada.

    Logo…

    — …Hã?

    Seus olhos sorridentes se arregalaram.


    【Bênção do Circum】

    『A lei das três ordens abrange tudo o que é observado na natureza. Ao falar sobre a essência das coisas, a matéria é a perspectiva de primeira ordem, a magia é a perspectiva de segunda ordem e a lei da natureza é a perspectiva de terceira ordem.』

    『A Bênção do Circum é um escudo tridimensional criado em conformidade com essas perspectivas de múltiplas ordens. Ela protege seu usuário não apenas contra matéria física e magia, mas também contra feitiços realizados por meio de adivinhação e bruxaria.』

    『Utiliza a mana do usuário como energia e dura um total de 10 segundos uma vez ativada. Pode ser usada três vezes por dia, mas seus efeitos não podem ser acumulados.』

    — Oh…

    Seol Jihu soltou uma exclamação de admiração, mas não entendeu muito bem o que aquele texto longo queria dizer. Tudo o que conseguiu captar era que se tratava de um bom escudo. O que mais o encantava era o fato de não precisar segurá-lo com a mão como um escudo comum.

    “Então é tipo uma Phalanx?”

    Ele só conseguiu pensar nisso porque não sabia que uma verdadeira Phalanx era uma formação de batalha usada por soldados de infantaria.

    De qualquer forma, ele nunca sequer sonhara em usar um escudo, já que era um lancista, mas isso mudou agora que possuía aquela pulseira.

    E se ele invocasse um escudo em um momento crítico de uma batalha?

    Só de imaginar já achava incrível. Colocou a pulseira no pulso esquerdo sem hesitar e pegou sua lança de gelo.

    — Yaap! Haat!

    Saltitava de um lado para o outro, fingindo estar no meio de uma batalha feroz. De repente, imaginou ser atacado por um machado voador e ergueu a mão esquerda.

    Woong!

    Assim que infundiu mana nela, três círculos, dourado, vermelho e azul, surgiram ao redor da pulseira. Eles se entrelaçaram, formando um triângulo com o círculo dourado no topo e os círculos vermelho e azul sustentando os lados.

    “Com esse tamanho…”

    Era pequeno demais para cobrir o corpo inteiro, mas grande o suficiente para proteger o rosto e a parte superior do corpo. Exatamente 10 segundos depois, os três escudos circulares desapareceram no ar.

    Seol Jihu deve ter percebido o quão infantis eram suas peripécias, pois soltou uma risada abafada. Continuou colocando e tirando o cinto preto com um sorriso satisfeito. Seu corpo coçava agora que havia adquirido novas ferramentas para batalha. Independentemente do trabalho que recaísse sobre seus ombros, sentia que podia enfrentá-lo com entusiasmo.

    Mas ainda não estava pronto. Precisava alcançar seus objetivos.

    Ao se lembrar de que ainda não havia aprendido a Lança de Mana, ficou sério. Era tarde da noite, mas não havia regra que o impedisse de treinar àquela hora.

    “Hoje será o dia!”

    Após tirar um monte de azagaias do cinto, correu apressadamente até o campo de treinamento ao ar livre.


    A lei de Murphy, um adágio1 que dizia: ‘Tudo o que pode dar errado, dará errado.’

    Embora o significado da frase fosse um tanto malicioso, essa era a realidade da vida. Como dizia o ditado, ‘cruze uma montanha e outra surgirá’, as desgraças frequentemente vinham em sequência, nos momentos mais inesperados.

    Quando as coisas começavam a dar errado, era a ponto de as pessoas culparem seus ancestrais ou os céus. Claro, isso não significava que só havia má sorte na vida.

    Fortuna e infortúnio estavam intimamente ligados, então havia momentos, ao longo de uma vida, em que a sorte batia à porta.

    A lei de Sally era o contraponto da lei de Murphy. Se existiam períodos em que infortúnios contínuos arrastavam uma vida até os abismos do inferno, também havia períodos em que fortunas contínuas a elevavam aos céus.

    No caso de Seol Jihu, podia-se dizer que sua vida em Paraíso vinha sendo uma viagem tranquila.

    Assim como Prihi dissera, a Família Real de Haramark era justa nas recompensas e nos castigos. Em outras palavras, trabalhavam com rapidez.

    Seol Jihu recebeu a notícia de um mensageiro de que o rei já havia passado a mensagem ao chefe da vila. Por conta disso, a Vila Ramman estava aparentemente em clima de festa.

    E fazia sentido. Haramark não era exatamente segura, mas era muito melhor que a Vila Ramman, por estar mais longe da região fronteiriça e sob a proteção dos Terráqueos e do exército real.

    A visita ao túmulo também estava avançando. Teresa havia contratado um Sacerdote Chefe de confiança e estava no processo de preparar orações escritas. O plano, aparentemente, era construir um santuário para consolar a santa fantasma. Ela também disse que avisaria assim que os preparativos estivessem concluídos.

    Com isso, o peso em sua consciência foi aliviado. Mas, como diz o ditado, ‘até o jade tem um arranhão’, ele não estava completamente livre de preocupações.

    Tak!

    Um som surdo ecoou. Uma azagaia rolou no chão após atingir uma parede e parou próximo ao pé de um jovem.

    — Huk… huk…

    Seol Jihu arfava pesadamente, com as costas curvadas, quando avistou a azagaia perto de seus pés e o pegou depois de enxugar o suor da testa.

    Perdera a conta de quantos dias haviam se passado. Mas havia uma coisa da qual tinha certeza: ainda não havia aprendido a arremessar uma simples lança, quanto mais uma feita de mana.

    “Qual é o problema?”

    Teoria e prática eram diferentes. Mesmo que alguém estudasse bastante e acumulasse conhecimento, traduzi-lo em ação impecável era outro assunto completamente diferente.

    Seol Jihu esperava enfrentar alguns obstáculos, mas a muralha bloqueando seu caminho era grande demais para ser superada. Para ser franco, ele só conseguira aprender Circulação de Mana com tanta facilidade por causa das Lágrimas de Psychi. Como não tinha nenhum apoio externo nem um golpe de sorte que o ajudasse com a Lança de Mana, era normal que seu progresso fosse lento, mesmo considerando todo o esforço que estava fazendo.

    Na verdade, ele nem sabia se estava progredindo. Após bater de frente com essa muralha aparentemente intransponível, não pôde deixar de concordar que seus talentos eram ‘medianos’.

    “Argh, vou acabar enlouquecendo desse jeito.”

    Pensando bem, ele percebeu o quanto fora afortunado na Zona Neutra. Afinal, tinha uma instrutora excelente como Agnes. Embora ela o espancasse e xingasse a cada treino, conseguia apontar seus erros como uma demônia e oferecer conselhos precisos.

    “Será que eu devia visitá-la?”

    Não era como se esse pensamento nunca tivesse passado por sua cabeça. No entanto, ele sempre se convencia do contrário.

    Paraíso não era a Zona Neutra. Não podia continuar dependendo dos outros para sempre. Além disso, fora ele quem decidira trilhar o caminho espinhoso como pioneiro.

    Não podia começar a reclamar tão cedo.

    Depois de balançar a cabeça, fazendo o suor voar em todas as direções, endireitou as costas e começou a recolher as azagaias espalhados pelo chão.

    Treinou o arremesso de azagaias do início da madrugada até o meio-dia. Foi então que pensou que não seria ruim mudar um pouco o ritmo e passar uma ou duas horas fazendo treino físico.

    Empilhou cuidadosamente dez azagaias e desceu para o primeiro andar com pesos de areia nos braços e nas pernas.

    Seol Jihu estava tão absorto no treinamento que nem percebeu que mais uma grande sorte estava a caminho.

    1. Sentença moral de origem popular; anexim, ditado, provérbio.[]
    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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