Capítulo 174: As Fitas dos Laços Começam a se Atar (4/10)
Por volta do momento em que o sol pairava no meio do céu.
— Exterminadora! É a Exterminadora!
— Uwaaaah, uwaaaaaah!
Enquanto os Terráqueos nas ruas de Haramark corriam dali como se suas vidas dependessem disso, Agnes caminhava tranquilamente na direção do escritório da Carpe Diem. Ela não estava ali a negócios oficiais. Na verdade, era uma visita estritamente pessoal.
Não havia nada demais. Ela apenas havia prometido a alguém que o ajudaria com o treinamento e estava indo cumprir sua palavra.
Apesar de ser uma promessa verbal, ela tinha como princípio nunca fazer uma promessa que não pudesse cumprir. Por isso, via como seu dever assumir responsabilidade por suas palavras.
E quando chegou ao seu destino…
Tak, tak.
Foi recebida pelo som de algo batendo no chão de tempos em tempos. Como alguém a um passo de se tornar uma Ranker Única, Agnes conseguia ouvir claramente os gemidos fracos vindos do escritório.
Ao se aproximar lentamente, viu uma pessoa caminhando em sua direção do outro lado da rua. Diferente da maioria em Haramark, essa pessoa não demonstrava nenhum sinal de medo diante de Agnes.
O nome Agnes era uma fonte de terror em Haramark. A razão pela qual Haramark era chamada de ‘cidade do crime’ tinha muito a ver com a infâmia acumulada durante seus conflitos internos no passado.
Para explicar em detalhes, a maneira como Agnes lidava com seus inimigos podia ser resumida de forma simples: olho por olho, dente por dente.
Ela assassinava inimigos notórios por sua crueldade de forma ainda mais cruel. Quando enfrentava pessoas insanas, tornava-se ainda mais insana que elas.
Certa vez, esquartejou seus inimigos com precisão e arrumou cuidadosamente os pedaços de seus corpos em uma bandeja antes de servir isso em um jantar de negociação. Em outra ocasião, massacrou todos os membros de uma organização inimiga e decorou uma árvore de Natal usando os cadáveres e órgãos deles. E como se isso não bastasse, ainda organizou uma exposição para exibir tudo.
Não foram uma ou duas vezes que Agnes fez algo absurdo sob o princípio da Sicilia: ‘o sangue de um aliado será lavado com o sangue de um inimigo’. Com tais histórias de terror como vanguarda da Sicilia, não era de se admirar que todos a temessem.
No entanto, o homem que caminhava em sua direção não parecia se importar nem um pouco. Claro, Agnes também não tinha motivo para se importar, então passou por ele sem dar muita atenção.
Ou, ao menos, tentou passar.
Mas não conseguiu. Isso porque viu os traços do homem conforme ele se aproximava.
O chapéu fedora na cabeça e o sobretudo azul-escuro davam-lhe a aparência de alguém que havia acabado de chegar em Paraíso. Ele carregava um longo bastão de madeira em uma das mãos. Mais do que um cajado usado por Magos, parecia uma bengala que carregava por hábito.
Era mais baixo que Agnes e aparentava ser mais frágil também. As rugas em seu rosto envelhecido eram um lembrete pungente da passagem do tempo. No entanto, nem a idade conseguia esconder a vitalidade ardente em seu olhar.
E quando Agnes captou aquele olhar…
— Eh?
Seus olhos se arregalaram em surpresa. Ela até parou completamente.
Tak!
O velho também pareceu vê-la, pois agarrou com firmeza sua bengala e parou de andar.
— Hoh.
Ele tirou o chapéu, revelando os cabelos brancos cuidadosamente penteados. As sobrancelhas erguidas suavizaram-se um pouco, indicando que estava tão surpreso quanto Agnes.
— Você é…
Uma voz rouca e idosa soou. Agnes saiu de seu transe e juntou as mãos respeitosamente antes de se curvar.
— Não esperava encontrá-lo aqui.
— Sim, faz um tempo.
— Vejo que ainda não fala comigo com naturalidade.
— Huhu, isso de novo. Acredito que já falei sobre isso várias vezes.
— Tem razão. Não posso deixar de me sentir um pouco desapontado, mas também é bem nostálgico.
Agnes assentiu e continuou:
— Parece que foi ontem que eu chorava de tanto ranho e lágrimas após receber as lições do Mestre.
O velho protestou com um olhar que dizia: ‘Do que você está falando?’
— Não me lembro de tê-la visto chorar. A Agnes que eu me lembro sempre sabia o que fazer mesmo sem ninguém para guiá-la.
— Eu chorava sozinha à noite. Chorar na frente dos outros feria meu orgulho.
O queixo do velho caiu, e ele deu uma risada sem som.
— Vejo que aprendeu a fazer piadas. Tudo o que fiz foi cuidar um pouco de você por causa do pedido daquela pessoa… Ah, ela está bem?
— Se está falando da Chefe Cinzia, ela está sim, muito bem, tudo graças ao senhor.
Agnes respondeu com respeito.
— Tudo graças a mim? Ah, por favor, bajular este velho não vai lhe render nada.
— Não estou bajulando. Estou sendo sincera.
Agnes revelou um sorriso raro antes de levar lentamente a mão ao peito.
— As memórias que tenho do treinamento sob o Mestre são como tesouros guardados em uma gaveta antiga.
— Chamar de tesouros é um pouco…
— São tesouros, sim. Assim como a Chefe, fui salva inúmeras vezes pelos ensinamentos do Mestre. Na verdade, isso aconteceu há poucas semanas também.
— Hoh, então algo grande deve ter acontecido.
O velho coçou o rosto, agora levemente avermelhado.
— Não ensinei nada demais. Afinal, Cinzia e você sempre superaram minhas expectativas, fufu.
Um sorriso caloroso se espalhou pelo rosto dele, como se recordasse os velhos tempos.
Após um momento de silêncio, Agnes falou com um leve tom de expectativa:
— Posso estar sendo impertinente, mas…
— Mm, não.
O velho balançou a cabeça antes mesmo de ela terminar a frase.
— Vim aqui por causa de uma promessa que fiz ao Dylan. Ele me fez prometer que daria uma passada aqui de vez em quando.
— Eu imaginei…
Agnes demonstrou uma expressão complicada. Dava para ver que seu velho mestre não fazia ideia do que havia acontecido com Dylan.
— Enfim, qual o motivo de sua visita? Algum pedido?
Agnes balançou a cabeça.
— Estou aqui para encontrar alguém por um motivo pessoal.
— Oh? Não me vem ninguém à cabeça. Duvido que seja a Chung Chohong ou aquele Hugo… Dylan?
— Não é nenhum dos três.
Nenhum dos três?
— Há mais uma pessoa.
Ao perceber que a Carpe Diem havia recrutado um novo membro, seu interesse foi imediatamente despertado. Alguém havia passado pela difícil triagem do Dylan? E mais: essa pessoa conseguiu fazer com que Agnes o visitasse pessoalmente?
— Vamos entrar. Já que faz tempo, que tal tomarmos um chá?
— Não, tudo bem. Voltarei em outra ocasião.
Agnes ficou grata pela oferta, mas recusou educadamente. O velho à sua frente logo enfrentaria uma dura realidade. A pessoa que deveria lhe contar isso deveria ser alguém da Carpe Diem, não ela.
Claro, esse não era o único motivo.
— Não é nada urgente… e, além disso, parece que já não tenho mais motivo para ir.
O velho assentiu. Não sabia ao certo o que ela queria dizer, mas também não tinha motivo para impedi-la de ir embora.
— Cuide-se. Foi bom vê-la depois de tanto tempo.
— Sim, espero que aproveite sua estadia em Paraíso.
Depois de uma reverência cortês, Agnes desapareceu num instante. Assim que ela se foi, o velho olhou para o prédio velho e decadente. Nostalgia e melancolia umedeceram seus olhos. Mas esse sentimento durou apenas um momento. Logo, ao entrar no prédio…
— Hm?
Seus olhos se voltaram para frente. Conseguiu ver o campo de treinamento do primeiro andar através da janela. Como era um lugar que havia construído com paixão ardente e esforço meticuloso, tinha inúmeras memórias naquele pequeno espaço.
Mas agora, um jovem que ele nunca tinha visto antes treinava arduamente, pingando suor. Não sabia quem ele era, mas tinha uma ideia.
“É o novato? Perfeito, eu estava curioso.”
O velho não entrou no campo de treinamento e observou o jovem pela janela.
“Hm…”, Logo, levou a mão ao queixo. “É bem decente para um novato.”
Essa foi sua avaliação. Contudo, ao observar com mais atenção, notou alguns outros detalhes.
Ele não estava apenas se esforçando ao máximo. Apesar de faltar em alguns pontos, parecia estar concentrando bastante atenção nos movimentos e na respiração. Pela forma como parava periodicamente para descansar, o velho podia perceber que ele havia recebido treinamento profissional.
“Não sei quem o ensinou, mas seja quem for, fez um bom trabalho.”
Fez um raro elogio. Logo, o jovem desamarrou os pesos de areia e saiu.
Shiik! Tak… Shiik! Tak…
Quando o velho o seguiu até o quintal, pôde ouvir periodicamente o som de algo cortando o ar antes de atingir alguma coisa. O jovem estava repetidamente arremessando uma azagaia contra uma parede. O velho inclinou a cabeça enquanto o observava em silêncio.
“O que ele está fazendo?”
Parecia estar tentando aprender a habilidade diretamente. Isso era algo digno de elogio, mas o velho continuava com a cabeça inclinada. Algo parecia incomodá-lo, pois sua expressão se tornou desconfortável.
“Ele está treinando para acertar um alvo?”
De repente, notou o caderno do jovem no chão. Ao ver que estava cheio de anotações, assentiu com a cabeça e voltou a olhar para cima. O jovem ainda lançava azagaias sem perceber que estava sendo observado.
“Espere, isso é… arremesso de azagaia!”
Depois de comparar os movimentos do jovem com as anotações, o velho fez uma expressão de incredulidade.
“Idiota!”
Ele não se considerava uma pessoa intrometida, mas se o jovem era membro da Carpe Diem, a história era outra. No fim, não conseguiu mais assistir em silêncio e abriu a boca.
— Ei.
Shiik! Tak…!
Chamou o jovem, mas não obteve resposta.
— EI!!
— ?
Só ao elevar a voz o jovem reagiu. Olhos límpidos e pele clara. Para um homem, parecia bastante delicado. No entanto, ao olhar para o corpo robusto, a impressão de fraqueza desapareceu. Quando o jovem se virou, o velho ergueu a bengala.
— Levante o braço.
— …Perdão?
Retrucou com um rosto assustado. No entanto, o velho continuou sem dar explicações.
— Seu braço direito. Gire-o meia volta no sentido horário.
— Um, quem é…
— Olhe para onde está seu cotovelo e gire a mão!!
O velho gritou de repente. O jovem se encolheu antes de, reflexivamente, girar o braço direito recuado no sentido horário.
— A-Assim?
— Tente de novo.
Ao ouvir o velho mandando repetir do nada, o jovem piscou, confuso.
— Não fique parado. Comece com a corrida de impulso.
O jovem se encolheu diante do tom gélido do velho e começou a se mover. Pé esquerdo à frente, seguido do direito. Imediatamente, o velho franziu o cenho.
— Pare, pare!
Avançou a passos largos e bateu com a bengala no chão, bem à frente do pé do jovem.
— Eu disse corrida de impulso, não sapateado. Por que você está correndo com o calcanhar esquerdo levantado?
Ao ouvir isso, o jovem resmungou como se tivesse sido injustiçado.
— Mas isso faz parte da corrida de impulso…
— A corrida de impulso serve apenas para ganhar velocidade e ritmo. Os passos cruzados são quando você se posiciona para um bom lançamento. No momento, você está levantando o pé ao se impulsionar do chão. Você não é um palhaço de circo, então por que está começando na ponta dos pés?
— Mas…
— Mantenha o pé esquerdo no chão!
Seol Jihu estava prestes a protestar, mas cedeu diante da intensidade do velho e apoiou o pé esquerdo no chão. O velho estalou os lábios, ainda insatisfeito, mesmo depois de o jovem obedecer.
— Fique assim.
Entrou no prédio e voltou com um pequeno martelo. Após arrancar a azagaia da mão dele e colocar o martelo em seu lugar, posicionou-se atrás do jovem e segurou sua mão direita.
— Certo, vamos tentar de novo.
Mesmo surpreso pela força do aperto do velho, o jovem impulsionou-se instintivamente. Porém, a bronca flamejante não parou.
— Não empurre o chão com a sola do pé direito! Use os dedos! Seu pé esquerdo está levantando porque você não está transferindo a força corretamente!!
— S-Sim!
— Nada de braços frouxos! Você começa com o pé, mas a chave está na mão esquerda, que conecta tudo! Mantenha-a reta, como se estivesse puxando o ar! Transfira essa energia rotacional para o braço direito!
— Sim!
De fora, a cena era até cômica. O jovem tinha o braço direito puxado para trás como se estivesse preso, enquanto as pernas se moviam como numa dança techno. No entanto, por dentro, ele estava prestes a entrar em colapso de tão chocado.
“H-Huh?”
O movimento todo parecia diferente do que estava acostumado. Algo ali o deixava desconfortável, mas como o velho o guiava, seus movimentos fluíam de forma suave. Em outras palavras, o que vinha fazendo até então estava errado.
De repente, o aperto em sua mão direita se afrouxou.
“Ele soltou?”
Mesmo surpreso, seu corpo se moveu por conta própria, lembrando da nova postura. O pé direito avançou, o esquerdo firmou-se com força no chão. Ele puxou o braço esquerdo ao girar o corpo no sentido anti-horário, e a força rotacional gerada foi transferida ao braço direito.
Quando o braço direito praticamente disparou sozinho, os olhos de Seol Jihu se arregalaram em choque.
“Então é por isso…!”
Quando seu braço semi-rotacionado retornou à posição original, girou e amplificou a força rotacional vinda do corpo inteiro!
— Agora!
Com o grito estrondoso, Seol Jihu instintivamente lançou o martelo à frente.
“!”
Pak!
Sentiu uma explosão satisfatória na mão. Era a primeira vez que experimentava essa sensação. Parecia que acabara de disparar uma arma.
Kwak!
Ele olhava a própria mão, atônito, quando uma explosão repentina o fez erguer a cabeça. O pequeno martelo que havia arremessado cravara fundo na parede. Imediatamente, várias mensagens surgiram, alertando que havia aprendido Lançamento de Lança.
“I-Inacreditável…”
Não conseguia acreditar. Algo que o atormentava há tanto tempo se resolveu em um instante.
— Existe uma diferença entre lançamento curto e lançamento longo.
Uma voz profunda ecoou. Seol Jihu exclamou um — Ah! — e se virou para o velho.
— Você estava tentando aprender o lançamento longo, mas seu alvo estava muito perto. Não é de se estranhar que estivesse com dificuldades.
Seol Jihu o encarava como uma estátua de pedra. Não fazia ideia de quem ele era. Mas sabia que aquele velho misterioso o havia ajudado no treinamento.
“Um encontro fortuito!”
Era algo comum em romances, um excêntrico recluso surgindo de repente e ajudando o protagonista. Estava bem familiarizado com esses clichês convenientes.
“!!!”
Ao ativar os Nove Olhos, quase fechou os olhos de susto. A luz dourada que jorrava do velho era algo que jamais havia experimentado. Era tão ofuscante que confirmou sua suspeita sem dúvidas.
“É o meu encontro fortuito!!”
Subitamente se lembrou de quando estava na praça de Haramark, olhando para o papel de recrutamento da Carpe Diem. Não podia deixar passar essa oportunidade.
O velho notou o olhar escancarado do jovem e tirou o chapéu.
— Esqueci de me apresentar.
Tossiu seco e abriu a boca:
— Eu sou…
— Me ajude!
Seol Jihu saltou em cima dele.
— H-Hm?
O velho ficou surpreso.
— Me ajude!
— O-Oi, se acalme primeiro e…
— Ó excêntrico misterioso, eu lhe imploro. Eu estou atualmente…!
— Silêncio! Céus! Só me escuta primeiro!
Seol Jihu se agarrava a ele como se sua vida dependesse disso. Por causa disso, o velho teve que lutar bastante para evitar que as calças escorregassem.
Foi só três ou quatro dias após o encontro entre o velho e o jovem que Chohong retornou à Carpe Diem.
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