Índice de Capítulo

    Jang Maldong devia estar exausto, pois estava esparramado no sofá. Já havia encontrado todos que precisava e queria apenas voltar. Mas as visitas não paravam de chegar.

    Não era como se ele desgostasse disso. Na verdade, até se sentia grato por ainda se lembrarem dele. Mas até coisas boas precisavam de moderação.

    Além disso, havia mais de uma dúzia de pessoas esperando que ele saísse da aposentadoria e retornasse a Paraíso. E, claro, manter conversas profundas também era um fardo.

    E não era só isso. Se havia um assunto que ouvia mais do que sua aposentadoria, era sobre o novato. Todo mundo que o visitava mencionava o novato, tanto que ele já estava começando a se irritar. Mas, por outro lado, sua curiosidade havia sido despertada.

    “Espera, qual era mesmo o nome daquele cara…? Ah, não!”

    Ele não terminou o pensamento. Estava aposentado. Não queria se envolver mais.

    — Vou precisar ir embora em breve. Se eu ficar mais tempo do que isso…

    Jang Maldong pegou sua gravata e o casaco antes que mais alguém viesse incomodá-lo. Mas os céus não foram tão gentis.

    Toque, toque.

    Antes mesmo que pudesse colocar a gravata, batidas soaram à porta. Jang Maldong soltou um gemido antes de afundar novamente no sofá e pressionar as têmporas.

    — …Entre, a porta está aberta.

    A porta se abriu. Quem seria desta vez? Jang Maldong estreitou os olhos e virou-se para a entrada, apenas para se surpreender.

    — Tem alguém aí?

    Uma voz idosa ecoou. O visitante parecia tão velho quanto Jang Maldong. O detalhe importante é que era alguém que ele nunca havia visto antes. O velho olhou para Jang Maldong e perguntou, em tom baixo:

    — Com licença, há um Terrestre chamado Seol por aqui?

    “Certo, era Seol… Espera, Terrestre?”

    Pessoas da Terra raramente se referiam a si mesmas como Terrestres. Na verdade, esse termo havia sido cunhado para distinguir entre Terrestres e Paraisianos, sendo usado com mais frequência pelos próprios Paraisianos.

    — Ele parece estar fora… Ah, entre.

    — Entendo. Com licença, então, incomodarei um pouco.

    O velho visitante entrou e sentou-se no sofá em frente a Jang Maldong. Como o outro também parecia ter sua idade, Jang Maldong falou educadamente:

    — Aceita um chá enquanto espera?

    O visitante retribuiu a cortesia.

    — Não, estou bem. Além disso, não sou um Terrestre.

    — Isso importa, ser Terrestre ou Paraisiano? Haha.

    Jang Maldong riu antes de preparar duas xícaras de chá e entregar uma ao visitante.

    — O-O obrigado.

    — Sem problemas. É um chá tradicional coreano feito com folhas da Terra. É doce mesmo sem levar açúcar.

    O visitante deu um gole cauteloso antes de assentir com a cabeça.

    — Tem um sabor maravilhoso!

    — Fico feliz que tenha gostado. Se quiser, posso separar um pouco para levar com você de volta.

    Ao ver Jang Maldong gargalhar, o velho visitante ficou um pouco desconcertado. Parecia que ele não sabia como reagir ao tratamento inesperadamente caloroso.

    Após mais alguns goles, Jang Maldong finalmente fez a pergunta que não saía de sua mente.

    — Com licença, mas quem seria o senhor? Por que está procurando aquele jovem? — perguntou com cortesia.

    Como o visitante estava acostumado a ser tratado como um NPC, não pôde deixar de olhar para Jang Maldong sob uma nova perspectiva. Endireitou rapidamente a postura para parecer um cavalheiro antes de finalmente responder:

    — Sou o chefe da vila de Ramman. Vim agradecê-lo em nome da vila.

    — Perdão?

    Jang Maldong ficou surpreso com o motivo inesperado da visita. Foi então que… Kiik. A porta se abriu com um rangido. Dois pares de olhos se voltaram ao mesmo tempo e viram um jovem entrar com uma expressão abatida.

    — Hã?

    Seol Jihu deve ter reconhecido o chefe da vila, pois soltou uma exclamação surpresa.

    — Chefe?

    Só então o chefe da vila exibiu um sorriso gentil.

    — Faz tempo.


    Seol Jihu e o chefe da vila conversaram cordialmente por um longo tempo. O clima era bem agradável, o que não era de se surpreender, considerando o quanto haviam ajudado um ao outro.

    Relegado ao papel de espectador, Jang Maldong apenas escutava com atenção a conversa.

    — Você deve ser um idiota, dizendo ao rei para usar a barra de ouro que ganhou em favor da nossa vila. Sabe o susto que levei quando soube disso?

    “O quê?”

    Jang Maldong estava ouvindo com o queixo apoiado na mão quando escutou o que o chefe da vila disse e levantou a cabeça.

    Ele ganhou o quê e usou como?

    — Lembrei que o senhor disse que queria se mudar para a cidade. Eu não gosto muito de ficar com dívidas nos ombros, sabe?

    — É uma forma e tanto de pagar uma dívida. Como convenceu o rei? Duvido que ele tenha aceitado facilmente.

    — No começo ele ficou indeciso, então tive que contar sobre sua contribuição inestimável para o sucesso da missão de resgate. Ah, também expliquei suas circunstâncias, então não precisa se preocupar em ser incomodado por ele.

    — Por favor! Ele já veio me ver pessoalmente e, indiretamente, perguntou se eu ajudaria a família real.

    — Hã?

    — Bom, não se preocupe com isso. Ele disse que não mencionaria meu passado, e eu disse que pensaria no assunto.

    Apesar do que dizia, o chefe da vila parecia satisfeito por o rei ter vindo pessoalmente recrutá-lo. Naquele momento, Seol Jihu se lembrou das palavras de Gula sobre ‘atar’ os outros com laços. Mas logo esqueceu disso e parabenizou o velho.

    O chefe da vila soltou uma tosse seca. Foi então que percebeu Jang Maldong sentado ali, meio atônito, e falou:

    — Ah. — Ele percebeu que se deixara levar pelo momento e acabara falando demais.

    — Ah, ele é…

    Quando Seol Jihu tentou apresentá-lo, Jang Maldong abriu a boca:

    — Sou Jang Maldong, um vilarejo insignificante.

    — Jang Maldong?

    O chefe da vila demonstrou surpresa.

    — Seria o famoso mestre de artes marciais de Haramark…?

    — É uma fama infundada.

    O chefe da vila balançou a cabeça.

    — Fama infundada? Vejo que é humilde. Mesmo entre os Paraisianos, são poucos os que não ouviram falar de Jang Maldong.

    Depois de dizer isso, o chefe da vila estendeu a mão:

    — Este aldeão insignificante chama-se Arbor Muto. Posso ter a honra?

    — Fico até envergonhado em apertar sua mão.

    — Não seja. Sei muito bem o quanto fez por Paraíso até agora. Se até o chefe de uma vila remota sabe quem você é, não há mais o que dizer.

    Diante disso, Jang Maldong não teve como recusar. Seol Jihu observava os dois velhos apertando as mãos e sorria, admirado.

    “Velho Maldong é realmente incrível!”

    Depois de apertar as mãos, o chefe da vila, não, Arbor Muto, se levantou. Jang Maldong o acompanhou apressado.

    — Por que não fica mais um pouco?

    — Está tudo bem. Veja, a vila inteira anda ocupada com os preparativos da migração.

    Jang Maldong não pôde dizer muito após ouvir isso. Arbor Muto olhou de um para o outro, entre Jang Maldong e Seol Jihu, antes de sorrir com satisfação.

    — Eu já estava achando que esse rapaz era diferente… Parece que tudo se deve a você. Hm, é natural que um mestre corajoso forme um discípulo corajoso.

    — N-Não…

    — Então devo agradecer a você também. Ajudou a salvar a vida de centenas de moradores da vila.

    Jang Maldong ficou sem graça. Esse velho na frente dele parecia estar enganado em alguma coisa. No entanto, Arbor Muto continuou como se nada fosse:

    — Você tem um excelente discípulo. Que inveja.

    Nesse momento, os olhos de Jang Maldong se arregalaram. Ele parecia atordoado, como se tivesse sido atingido na cabeça com um martelo.

    — Eu o acompanho até a saída.

    — Por favor, não. Ficarei sem jeito se o fizer.

    Arbor Muto caminhou em direção à porta, mas de repente parou.

    — Ah… na verdade, tem uma coisa que esqueci de mencionar. Bem, é mais um pedido.

    — Por favor, diga.

    Arbor Muto remexeu nos bolsos antes de tirar um papel dobrado.

    — Já ouviu falar da Montanha Rochosa da Pedra Imensa?

    Seol Jihu inclinou a cabeça. Não fazia ideia, mas esse era um lugar com o qual Jang Maldong estava familiarizado. Afinal, foi onde inúmeras memórias de sua juventude estavam enterradas. Por outro lado, era um pesadelo para Chohong e Hugo.

    Seol Jihu pegou o papel dobrado e perguntou:

    — O que é isso?

    — Um mapa do meu esconderijo nessa montanha.

    — Perdão?

    — Qual a surpresa?

    — …Quantos esconderijos você tem, afinal?

    Arbor Muto fez uma pausa antes de responder:

    — Vinte e dois?

    — …

    — Os espertos sempre cavam túneis de fuga, para quando precisarem escapar.

    Dando uma risadinha infantil, ele continuou:

    — Enfim, fica perto de Haramark. Só leva um dia de carruagem.

    — E o que quer que eu faça?

    — Nada demais. Devem ter alguns equipamentos velhos e livros jogados por lá. Só precisa trazê-los para mim.

    — Parece fácil.

    — E deve ser mesmo. Mas recomendo que tome cuidado. Já faz tempo que ninguém vai até lá, e como construí o esconderijo em uma caverna, não sei o que pode estar habitando o local agora.

    — Entendido.

    Seol Jihu assentiu devagar.

    — Para quando precisa deles?

    — Pode ir com calma. Como sabe, tenho estado bem ocupado. Vá quando estiver entediado e quiser tomar um ar fresco.

    — Então parece que terei tempo. — Seol Jihu sorriu abertamente.

    — Ah, mais uma coisa…

    Arbor Muto fez um sorriso maroto.

    — Pretendo pagar com o que estiver no esconderijo. Tudo bem?

    — Com o que estiver no esconderijo?

    — Sim, devem haver alguns itens e poções. Não são nada demais, então vou entender se preferir dinheiro.

    — Não, por mim tudo bem. — Seol Jihu aceitou imediatamente, lembrando que o chefe da vila fora um Mago respeitado no passado.

    — De qualquer forma, vá quando tiver tempo. — E assim, Arbor Muto deixou o escritório.

    — Que tipo de pessoa é ele? — Jang Maldong finalmente saiu do transe e perguntou assim que a porta se fechou. Seol Jihu hesitou, como se não soubesse bem o que dizer.

    — Não parece alguém que pertença a uma vila remota.

    — Como soube?

    — Ele não parecia ser simples, e deu pra perceber pela conversa de vocês. Se o rei fez questão de procurá-lo pessoalmente, ele não deve ser um velho comum.

    — Ah… isso é verdade.

    — Está tudo bem. Sei guardar segredos.

    Seol Jihu coçou a bochecha e abriu a boca, como se não tivesse escolha.

    — Ele se isolou, mas já foi um Mago famoso no Ducado Delphinion.

    — Ducado Delphinion… — Jang Maldong exclamou, surpreso.

    — Um Mago do Império. Ele é ainda maior do que imaginei.

    — Do Império? Mas ele é do Ducado Delphinion.

    — O Ducado Delphinion era um dos ducados sob o domínio das famílias duquesas do Império.

    Ao ouvir isso pela primeira vez, os olhos de Seol Jihu se arregalaram.

    — Mas aquele velho com certeza gosta de dar voltas. Podia simplesmente ter dito direto. Em vez disso, transforma tudo em um pedido…

    Jang Maldong riu, e então, com uma expressão suave, ergueu o braço e pousou a mão sobre o ombro do jovem.

    — Obrigado.

    Tap, tap.

    Ele deu dois tapinhas e sorriu. Esse foi o primeiro sorriso que Seol Jihu viu.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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