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    Jang Maldong só deixou o bar tarde da noite. Depois de mandar o dono jogar Ian em algum canto da rua, ele voltou para o escritório da Carpe Diem. Talvez por estar bêbado, seus passos cambaleavam de um lado para o outro.

    Seus pés pararam em frente à porta do escritório. Agora que pensava nisso, ele não tinha motivo para entrar. Bastava dar meia-volta e deixar o Paraíso. Então, tudo acabaria.

    Após hesitar por um tempo, Jang Maldong espiou lá dentro.

    — Ohh.

    Soltou um murmúrio de admiração sem perceber.

    No primeiro andar, um jovem treinava com afinco. Mesmo sendo tarde, ele estava tão empenhado quanto no primeiro dia em que o viu.

    Ao observá-lo, várias frases lhe vieram à mente:

    — Você acredita nisso? Ele consolou uma alma. Uma alma!

    — Foi hilário. Ele ficou ali parado e disse: ‘Se quiser levar, vai ter que passar por cima do meu cadáver!’ Deus, eu ainda lembro claramente.

    — Ele é um idiota. Sabe por que ele se ofereceu para ser a isca na batalha da Fortaleza de Arden? Disse que não queria que o exército real sofresse danos!

    — Ele é um Terráqueo meio único. Como posso dizer isso… bem, dá pra notar só pela maneira como ele fica desconfortável perto de mim, do rei… Não parece que ele encara o Paraíso como um jogo. A Teresa se apaixonou por ele, isso já diz tudo.

    Mais importante ainda…

    — Você tem um excelente discípulo.

    As palavras que Muto dissera o fizeram estremecer. Já ouvira essa mesma frase inúmeras vezes sobre os diversos Terráqueos que treinou. Mas era a primeira vez que sentia algo assim.

    Afinal, até mesmo as mesmas palavras podiam carregar significados diferentes.

    Quanto mais pensava, mais parecia que um fio invisível e apertado amarrava sua perna, dizendo para ele ficar.

    — Eu sei que você ainda tem arrependimentos.

    Jang Maldong suspirou.

    — Eu não tinha arrependimentos… eles só apareceram agora, seu desgraçado.

    Murmurando para si mesmo, encarou o jovem com um olhar complicado.

    “Se ao menos ele fosse um gênio…”

    Pelo que pôde perceber durante o pouco tempo em que o treinou, o corpo físico do jovem era incrível para o seu nível. No entanto, seu talento era mediano.

    Não era do tipo que surpreenderia alguém se deixado por conta própria, mas também não decepcionaria.

    Se ele não fosse exatamente do jeito que era, Jang Maldong teria conseguido partir sem hesitação. Era isso que o fazia se sentir tão frustrado.

    Se ao menos pudesse ensinar isso, ou aquilo…

    Em outras palavras, ele conseguiria, se soubesse como.

    “Por que ele tinha que aparecer justo agora?”

    Jang Maldong apertou o chapéu fedora sobre a cabeça. Então, começou a andar lentamente para frente.


    Seol Jihu estava feliz. Isso porque Agnes havia acabado de contatá-lo, dizendo que viria visitá-lo em breve. Embora tenha comentado que talvez se atrasasse, ele sabia que Agnes sempre cumpria suas promessas.

    Ansioso para perguntar sobre o Passo Flash assim que ela chegasse, ele treinava sozinho enquanto esperava.

    Foi então que…

    — Hoh.

    Seol Jihu se virou ao ouvir a porta se abrir. Piscou os olhos, surpreso.

    — Ancião Jang Maldong?

    — Seu nome é Seol, certo?

    Deixando de lado o fato de que Jang Maldong entrara sem aviso, o que mais o surpreendeu foi ele ter chamado seu nome pela primeira vez.

    — Quero lhe perguntar algo.

    Intrigado com a declaração repentina, Seol desceu calmamente do aparelho de exercícios.

    — Qual o motivo de você vir a Paraíso?

    O rosto de Seol Jihu se contorceu. Ele não conseguia entender a intenção por trás da pergunta. Havia um leve cheiro de álcool vindo dele. Seus olhos, normalmente serenos, pareciam arder com chamas invisíveis.

    — Quero saber por que você vem a Paraíso.

    Sentindo que havia algo estranho, Seol Jihu refletiu cuidadosamente sobre a pergunta antes de responder.

    — Porque eu gosto deste lugar.

    — Não, não algo abstrato assim.

    O velho perguntou novamente.

    — Seja mais concreto. Dinheiro e fama! Benefícios ou liberdade! Coisas desse tipo!

    Seol Jihu balançou a cabeça.

    — Hm… não é por nada do tipo.

    — Não é?

    O velho insistiu, em tom incisivo.

    — Você não gosta de dinheiro e fama?

    — Não é que eu os deteste. Na verdade, nem acho que haja algo de errado em gostar dessas coisas.

    — Isso é verdade.

    — Mas não é por isso que venho a Paraíso.

    — Então por quê?

    — Porque este é o lugar ao qual eu pertenço.

    Seol Jihu coçou a bochecha.

    — Também é o lugar que me deu um novo começo…

    Fez uma expressão um pouco embaraçada antes de sorrir.

    — Não consigo pensar em nada além de que eu gosto mesmo daqui.

    O velho manteve os olhos fixos nele o tempo todo. Como se não quisesse perder nem mesmo o menor tremor em seu rosto, analisava cada fio de cabelo, refletia sobre cada palavra que ele dizia.

    Após um breve silêncio, o velho voltou a falar.

    — Então.

    — ?

    — Você ficaria triste se Paraíso desaparecesse.

    — C-Claro que sim.

    Seol Jihu respondeu, pego de surpresa. Paraíso desaparecer? Ele finalmente havia encontrado o seu lugar. Nem queria imaginar uma coisa dessas.

    Na verdade, ele não entendia o porquê daquelas perguntas. Então, quando lançou um olhar confuso ao velho, a expressão severa dele suavizou.

    — …É verdade? — Sua voz rouca também se abrandou.

    — Sim — Seol Jihu inclinou a cabeça e respondeu com firmeza. — Mas por que está me perguntando isso?

    Apesar da pergunta, o velho não respondeu. Sua bengala, que até então batia constantemente no chão, finalmente parou.

    — Maldito pirralho — Ele praguejou de repente. — Dez anos… não, se ao menos tivesse aparecido cinco anos antes… — Chegou a ranger os dentes. — Aparecer justo agora…!

    Mordeu os lábios, virou-se e saiu pisando firme.

    “E-Eu fiz algo de errado?”

    Como se tivesse sido atingido por um raio em céu limpo, Seol Jihu ficou de beiço.

    Jang Maldong desceu até o porão e abriu o armário de ferro. Estava cheio das roupas que usava no passado. Com olhos sedentos, tirou o casaco com força. Em seguida, arrancou a camisa e as calças, trocando para suas roupas de treino.

    Ao ver a própria imagem no espelho, uma sensação revigorante invadiu seu corpo.

    Logo depois, empunhando seu bastão de madeira, Jang Maldong subiu as escadas.

    O criador de lendas.

    O Criador de Reis de Paraíso havia finalmente retornado.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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