Capítulo 186: O Presente do Chefe da Vila (6/7)

A região de Haramark não era uma zona segura. Como a Montanha Rochosa da Pedra Imensa era inegavelmente perigosa, Kazuki deveria, em teoria, liderar o grupo. Mas, na prática, era Jang Maldong quem ocupava essa posição.

Durante todo o tempo que passou no Paraíso, metade foi vivido nessa montanha. Naturalmente, ele conhecia a geografia local melhor do que qualquer nativo da vila vizinha, e, portanto, não tinha problema algum em agir como batedor. Conhecia os caminhos como a palma da própria mão e ainda possuía o mapa que Arbor Muto lhe dera.

— Ele realmente escondeu bem.

Apenas trinta minutos se passaram até que Jang Maldong encontrasse o esconderijo de Arbor Muto e fizesse esse comentário sarcástico.

— Mestre Jang, por favor, espere.

Foi então que Kazuki pediu ao grupo para parar. À primeira vista, a caverna parecia exposta demais para ser chamada de esconderijo. Ao ver as árvores e a vegetação ao redor da entrada danificadas, Kazuki abriu a boca:

— Parece que a caverna era bem escondida no início… Mas parece que algo a encontrou e a transformou em sua morada.

— Um indivíduo? Ou um grupo?

Kazuki abaixou o olhar. Ele examinou o chão antes de responder com calma:

— Ettins de Caverna. Quanto ao número… é pequeno. Há oito dentro da caverna, mas não detecto nenhum movimento deles.

— Estão dormindo?

— Provavelmente. Eles não gostam de sair durante o dia, a menos que estejam com fome.

Enquanto Seol Jihu se impressionava com a rapidez da análise, Kazuki sacou sua besta. Quando carregou um virote e apontou para frente, Jang Maldong bloqueou a mira com sua bengala.

— Mestre Jang?

Jang Maldong virou-se e olhou para Seol Jihu.

— Diga-me os quatro elementos que compõem a formação do qi.

Foi uma pergunta repentina, mas Seol Jihu respondeu fielmente aquilo que havia aprendido:

— São a quantidade, a velocidade e o poder do fluxo, o controle e a imaginação.

Jang Maldong não disse nada e pegou uma pedra do tamanho de um punho do chão. Então, antes que alguém pudesse detê-lo, ele a lançou dentro da caverna.

Tak, tak! Drrrrrr.

O som da pedra batendo no chão e rolando pela caverna ecoou pela silenciosa montanha. Uma característica peculiar dos Ettins de Caverna era que eles tinham duas cabeças, com uma delas sempre acordada para ficar de guarda. Assim, era impossível que não tivessem ouvido o som. Como também possuíam um olfato aguçado, era apenas questão de tempo até detectarem inimigos se aproximando.

E, como esperado… alguns segundos depois, ruídos agudos começaram a ecoar de dentro da caverna. Jang Maldong abriu a boca:

— Preparem-se. Ataquem assim que eles aparecerem.

Seol Jihu reuniu sua mana sem hesitar. Uma energia poderosa de nível Intermediário (Alto) fluiu imediatamente por seu Circuito e disparou pela sua mão direita.

O explosivo jorro de mana permaneceu amorfo apenas por um segundo. Logo, dançou como água corrente e lentamente assumiu forma até se transformar em uma lança. Embora tivesse apenas sessenta centímetros de comprimento, era evidente que a lança azul era feita de mana.

— Eles estão vindo — Hugo murmurou brevemente.

Drrr!

No momento em que ouviu o som da investida, Seol Jihu disparou numa corrida sem hesitar. A postura que havia aperfeiçoado após milhares de tentativas, do cruzamento à liberação, seu corpo já havia memorizado cada movimento.

Agnes, que observava tudo, expressou uma leve surpresa. “Está perfeito.”

Cada um de seus movimentos se conectava naturalmente. O braço direito de Seol Jihu lançou a Lança de Mana no exato momento em que os Ettins saíam da caverna.

BOOM!

Quando a lança deixou sua mão, o som de uma granada explodindo ecoou. O Ettin que corria na dianteira hesitou. Seu corpo oscilou como um pêndulo antes de desabar como uma marionete sem cordas.

— Kereuk?

Outro Ettin, saindo logo atrás, cambaleou. Franziu as sobrancelhas ao ouvir o som explosivo. Viu as duas cabeças de seu camarada caído, uma vaporizada sem deixar vestígios, a outra despedaçada.

Tirou os olhos dos pedaços de carne espalhados e encarou a frente. Então, avistou outra lança azul voando em sua direção.

Thwack!

Um buraco se abriu em seu peito musculoso. A força do impacto o fez se curvar, e seus pés se ergueram do chão.

— Caralho! — Até o deprimido Hugo exclamou em choque ao ver o Ettin voando para trás com os membros estendidos.

Boom! Boom!

Um golpe, uma morte. Cada lança lançada por Seol Jihu reclamava a vida de um Ettin.

E não era só isso. Diferente de arremessos normais, as ondas de choque das explosões também afetavam o ambiente. Kazuki estreitou os olhos ao ver alguns Ettins perderem o equilíbrio e caírem, mesmo sem serem atingidos diretamente. De fato, alguns deles haviam se ferido apenas com o impacto.

— Pare!

Jang Maldong gritou e, de repente, lançou para Seol Jihu sua Lança de Gelo.

— Cuide dos que restaram com essa. E está proibido de usar aquele brinco e aquela pulseira.

Seol Jihu agarrou a lança no ar e avançou como um raio. Estava inflamado depois de confirmar o poder da Lança de Mana. Como foi instruído a lutar como um Guerreiro, não tinha motivo para recusar.

Sem ter lutado por um longo tempo, Seol Jihu avançou como um leão furioso. Os Ettins de Caverna também se levantaram, enfurecidos pela morte de seus companheiros.

— E então?

Enquanto Seol Jihu lutava contra os Ettins de Caverna, Jang Maldong perguntou ao homem ao seu lado.

— Ele é bom.

Kazuki respondeu sem desviar o olhar. Manteve os olhos fixos no campo de batalha, com a besta carregada, apenas por precaução.

— Aquela Lança de Mana dele tem tanto poder de perfuração quanto poder destrutivo. Só essas duas qualidades já seriam mais do que suficientes, mas ela ainda causa efeitos de impacto…

— Certo, essa habilidade com certeza será útil no Banquete.

Kazuki assentiu em concordância.

— Claro que será. É um pouco lamentável que ele não possa dispará-las em sucessão rápida, mas mesmo assim será uma ótima opção para o time.

— E se disparos consecutivos forem possíveis?

— Então não há mais nada a dizer. Ela já tem a velocidade de um Arqueiro e o poder destrutivo de um Mago. Consigo vê-la sendo usada tanto para emboscar um alvo quanto para iniciar um combate.

Kazuki o elogiou bastante. Era de se esperar, considerando que estava presenciando o produto de uma classe única criada cuidadosamente por Gula para um Guerreiro com alta mana inata.

— Estou ansioso pelo Banquete.

Ouvindo esse comentário final, Jang Maldong perguntou novamente:

— E quanto a agora?

— ?

— O combate corpo a corpo dele.

Os dois haviam observado a batalha de Seol Jihu o tempo todo. O jovem desferia estocadas, golpes e cortes à vontade. Embora ninguém pudesse chamar a luta de massacre, era fácil ver que Seol Jihu estava dominando os Ettins de Caverna.

— Não sei… Bem, comparado a outros do nível dele…

— Não estou pedindo para comparar alhos com bugalhos. Compare com você.

Kazuki arqueou as sobrancelhas.

— Comparar… comigo?

— Isso mesmo. Impressionante, não é?

Será que o Mestre Jang estava tentando se gabar de seu discípulo? Kazuki inclinou a cabeça. Baixou a besta e lançou um olhar para o lado. O rosto de Jang Maldong estava assustadoramente sério.

— …Sim.

Percebendo a atmosfera pesada, Kazuki respondeu baixinho. Observou Seol Jihu com mais atenção antes de fazer outra avaliação:

— É impressionantemente ruim.

Os cantos da boca de Jang Maldong se curvaram.

— Certo, se ele participar do Banquete assim, será morto na hora.

— Mas apenas como Guerreiro. Se ele usar aquela habilidade de arremesso de lanças, ficará bem. Contanto que a equipe o proteja devidamente, ele deve conseguir contribuir até o Estágio 2.

Kazuki explicou, sem saber do pedido teimoso que Seol Jihu havia feito.

— Eu já disse isso a ele, mas ele recusou.

— …Como é?

— Ele foi categórico em assumir a posição de Guerreiro, aquele maldito pirralho. Disse que não queria apenas lançar lanças.

Kazuki duvidou do que acabara de ouvir.

— Q-Quero dizer, é importante ter habilidades de combate corpo a corpo… mas desde quando é estranho para um lanceiro arremessar sua lança?

— Isso é o que eu também gostaria de saber.

Jang Maldong bateu no peito, sufocado. Hugo fez um biquinho ao lado.

— Então por que viemos aqui, afinal? Quando a Chohong e eu éramos teimosos, você só batia na gente até aceitarmos.

— Eu teria feito isso se aquele cara fosse tão estúpido quanto vocês dois.

Jang Maldong bufou e cruzou os braços.

— Mas ele é alguém que usa a cabeça. Parece ter um certo nível de discernimento também. Quando alguém assim é teimoso, é porque tem algo entalado dentro de si.

— Então… o que vai fazer?

— Vou fazer com que ele perceba sozinho. É a única maneira. Ele precisa encarar a realidade e desistir.

Kazuki finalmente entendeu por que Jang Maldong permitiu que outsiders se juntassem a eles.

— Vai levar um dia, talvez dois, no máximo.

A batalha estava chegando ao fim. Jang Maldong clicou a língua.

— Tsk, ainda não terminou contra um bando de Ettins de Caverna…

Seol Jihu exterminou todos os Ettins que viviam no esconderijo. Estava satisfeito com sua Lança de Mana e considerou que seu combate subsequente fora estável.

Sentia que havia dado um enorme passo à frente desde sua primeira expedição. Pensando que tudo tinha corrido bem, tinha certeza de que Jang Maldong o via sob uma nova luz também.

Com a batalha encerrada, os cinco entraram na caverna. O esconderijo era um túnel amplo, equipado com itens básicos como uma mesa, uma cômoda e uma cama.

Uma coisa que deixou Seol Jihu aliviado foi que os Ettins de Caverna não haviam danificado o local. Depois de recolher todos os livros que o chefe da vila havia pedido, Seol Jihu começou a vasculhar o lugar com atenção. Como o chefe da vila mencionou que o pagamento estaria dentro do esconderijo, deveria haver algo valioso ali.

No entanto, ele não encontrou nada de especial na mesa ou na cômoda. Mas, ao abrir o armário embutido na parede da caverna, ficou boquiaberto.

O armário de quatro níveis, com oitenta centímetros de altura, estava repleto de garrafas de vidro coloridas. O conjunto inteiro parecia mais uma vitrine de joias exibindo seus acessórios mais preciosos.

Kazuki pegou cuidadosamente uma garrafa laranja.

— Parece um reagente explosivo.

— Espera, isso aqui não é um afrodisíaco?

Hugo olhou para uma garrafa rosa com olhos brilhando.

Seol Jihu ficou bastante distraído com tudo aquilo. Uma poção de cura de alta qualidade, uma garrafa cheia de sal, uma estranha garrafa que brilhava em cinco cores… Havia tantos frascos que ele não sabia mais o que era o quê. No entanto, as garrafas contendo um líquido leitoso pareciam vagamente familiares para ele.

De qualquer modo, o grupo decidiu testar os efeitos das garrafas mais tarde e começou a se instalar. Como planejavam ficar ali por um bom tempo, imediatamente começaram a limpar o local.

Era evidente que tudo no esconderijo pertencia a Seol Jihu. Hugo ficou com inveja, pois muitas das garrafas pareciam caras e valiosas, mas não ousou tocar em nenhuma delas sob as ordens rigorosas de Jang Maldong.

O mesmo se aplicava a Agnes e Kazuki. Havia um motivo pelo qual Jang Maldong fez Seol Jihu lutar sozinho.

O grupo levou cerca de uma hora para limpar o lugar completamente. Quando saíram da caverna, o sol já começava a se pôr no horizonte oeste.