Índice de Capítulo

    Quinto dia.

    Jang Maldong nem sempre ficava ao lado dele durante o treinamento. Havia momentos em que saía para ver como os outros estavam, mas isso não significava que ninguém estivesse observando Seol Jihu.

    Hoje, Kazuki veio como substituto.

    Após Seol Jihu completar sua trigésima viagem e repetir a Estocada, Golpe e Corte…

    — Wuuuuek!

    Vômito jorrou repentinamente de sua boca. Seu estômago não conseguiu digerir o almoço que ele forçara para dentro.

    No entanto, ele apenas vacilou por um instante. Imediatamente voltou a executar a Estocada, sem se preocupar sequer em limpar a boca.

    — …Você não deveria forçar tanto. — Kazuki, que o observava em silêncio até então, finalmente abriu a boca.

    — Ninguém jamais chegou ao fim do Banquete em sua primeira vez.

    Seol Jihu não disse nada. Kazuki percebeu que ele estava ouvindo pelo breve olhar que lhe lançou, mas o jovem não abriu a boca. Não podia ser ajudado, já que o atual Seol Jihu estava tão exaurido que cada suspiro era precioso.

    — Você ainda está no Nível 3. Pode tentar de novo daqui a dois anos, quando estiver no Nível 4 ou superior.

    O rosto de Seol Jihu se contorceu. Às vezes, a preocupação da cunhada bondosa parecia mais irritante que as lamúrias da sogra. Já exausto e à beira do colapso, ele se enfureceu com as palavras intrometidas de Kazuki.

    — Se é por causa do Mestre Jang, não precisa se preocupar. Ele está esperando que você perceba por si mesmo. Claro, pode até gritar com você, mas já que chegou até aqui…

    Swish!

    A ponta da lança de Seol Jihu de repente apontou para Kazuki. Embora tenha parado antes de alcançá-lo, a lâmina embotada recuperou sua nitidez momentaneamente.

    Ele estava lhe dizendo para calar a boca, a menos que fosse ajudá-lo.

    Os olhos de Kazuki se estreitaram.

    — Qual o significado disso? Está me desafiando?

    — …Não me incomode.

    Uma voz rouca ecoou. As sobrancelhas de Kazuki se contraíram.

    — O quê?

    — Estou dizendo para não me irritar. Não sei o que sou capaz de fazer no meu estado atual.

    Seol Jihu puxou sua Lança de Gelo de volta, encarando Kazuki com olhos apagados. Então, voltou a executar a Estocada.

    Kazuki esfregou o pescoço e rangeu os dentes.

    — Vai mesmo insistir nessa teimosia?

    — Cala a boca. Eu entendi o que você quis dizer, então cale a boca!

    Seol Jihu rosnou. Estava encurralado e não tinha mais tranquilidade para agir normalmente.

    — Eu não entendo. O que há de errado em um lanceiro arremessar sua lança?

    — Quem disse que eu não arremessaria!?

    PANG!

    A Estocada. Em um instante, o som do ar explodindo reverberou pela ponta da lança. Surpreso pelo barulho, Kazuki duvidou do que ouviu.

    — O-O quê?

    — Eu vou usar! Eu vou usar, mas…!

    PANG! PANG!

    O Golpe e o Corte passaram a carregar os mesmos estrondos que a Estocada. No entanto, Seol Jihu permaneceu alheio e gritou sem parar.

    — Estou dizendo que não quero apenas arremessar minha lança!

    — Mas por quê?

    — E se houver uma situação em que a Lança de Mana não funcionar?

    — Você tem razão, isso pode acontecer. Se acontecer, deixe conosco. Existe um motivo para os Terráqueos se moverem em equipes.

    — E se a equipe estiver em apuros quando minha Lança de Mana não funcionar!?

    — Estamos brincando de vinte perguntas agora?

    Seol Jihu riu. Foi uma risada clara, mas cheia de escárnio.

    — Quer saber o que eu ouvi!? Ouvi que o Banquete é cheio de incertezas e aleatoriedades!

    Kazuki ficou sem palavras.

    — Pode garantir o que acabou de dizer?

    — …

    — Não pode!

    — …

    — Ninguém pode ter certeza de nada! Então qual é o problema de querer se preparar para aquela chance em dez mil!?

    Seol Jihu rugiu como se estivesse gritando suas últimas forças.

    — Eu não quero ficar parado, sem poder fazer nada, como naquela vez em que a Chohong desabou…!

    Pelo jeito como ele divagava, parecia mesmo ter enlouquecido. Kazuki estalou os lábios e soltou um longo suspiro.

    — …Idiota louco.

    “Idiota louco. É assim que pareço para os outros?”

    “Tudo bem, que me chamem de louco o quanto quiserem.”

    Depois de finalmente terminar sua terceira milésima sequência de Estocada, Golpe e Corte, Seol Jihu jogou sua lança no chão e começou a correr feito louco.

    Assim, o quinto dia passou, seguido pelo sexto. Por fim, o sétimo dia amanheceu.

    E foi também o primeiro dia em que uma leve amargura apareceu no rosto de Jang Maldong.


    Houve uma época em que ele pensou o seguinte: que era seu destino vir para o Paraíso.

    E não podia ser culpado. Ele possuía um Selo de Ouro e duas Habilidades Inatas, coisas que ninguém mais parecia ter. Além disso, tudo o que fazia fluía sem grandes dificuldades. Lembrava-se de rir sozinho, pensando que, se existisse um protagonista no Paraíso, esse protagonista só poderia ser ele.

    No entanto, esse pensamento começou a ruir quando deixou a Zona Neutra. Seol Jihu não era o protagonista. Ele sentia isso.

    Quando olhava ao redor, mesmo que só um pouco, via pessoas mil vezes mais fortes que ele. E como sempre se colocava em missões além de suas capacidades, quase perdeu a vida várias vezes.

    Sobreviveu de maneira lamentável e desesperada. Estava muito longe do que se imaginava para um protagonista.

    O mesmo valia para seu crescimento. Protagonistas de romances ficavam mais fortes facilmente, encontrando tesouros e tendo encontros fortuitos.

    Mas ele não era assim. Seu talento era extremamente mediano e, embora estivesse dando tudo de si, não via muito progresso.

    Agora, até mesmo as habilidades que o tornavam especial começavam a estrangulá-lo. E a culpa não era de mais ninguém além dele próprio.

    Só podia chegar a uma conclusão: precisava se esforçar ainda mais.

    No momento em que o jovem percebeu que não era especial, a única coisa que lhe restava era um esforço doloroso e extenuante, de arrancar o sangue e as entranhas.

    Esse era o motivo pelo qual Seol Jihu não desistia daquele treinamento infernal.

    De repente, sua fuga do laboratório do Ducado de Delphinion surgiu em sua mente. Quando sentiu fome pela primeira vez, todo tipo de comida surgia em sua cabeça. Depois, pensou no gosto refrescante de uma Coca-Cola, mas, no final, desejava água.

    Mais precisamente, seu corpo passou a ansiar por água. Seu cérebro, sua cabeça, seus órgãos… cada célula do seu corpo a buscava.

    Era o mesmo com o treinamento.

    No começo, todo tipo de tentação se aproximava: fazer uma pausa, descansar quando ninguém estivesse olhando, dar um gole de água, fumar um cigarro.

    A tentação dizia: ‘Por que não pega leve?’

    Mas, ao superar essa fase, tornou-se relutante em ceder. Mesmo que quisesse aliviar o esforço, dava tudo de si, pois não queria desperdiçar tudo o que já havia conquistado.

    A partir daí, nenhum pensamento mais entrava em sua mente; seu corpo se movia sozinho.

    Contudo, como Agnes havia dito, até mesmo a força de vontade mais forte tem um limite.

    Uma noite silenciosa. Seol Jihu não conseguiu completar o treinamento do dia devido ao cansaço acumulado e ficou acordado sozinho para terminá-lo.

    “…Em que número eu estava…?”

    “Era o quadragésimo?”

    Ele ergueu o olhar para o pico da montanha com os olhos semicerrados. Cambaleava de um lado para o outro como se fosse cair a qualquer momento. Então, sentiu algo ‘estalar’ em sua cabeça.

    “Hã?”

    Quando abriu os olhos, viu o chão. Estava prestes a escalar a encosta da montanha, então por que estava vendo terra?

    “…Ah.”

    Sua boca se abriu. Parecia ter perdido a consciência por alguns segundos. No entanto, não se importou muito.

    “…O fim…”

    Sentiu a força que sustentava seu corpo se esvair.

    “…Devo me deitar?”

    “Tudo bem. Só preciso desmaiar.”

    “Não estou desistindo.”

    “Só que não tenho outra escolha a não ser desmaiar.”

    “Certo, era um regime de treinamento impossível desde o início.”

    “Kazuki também disse. Que esse treinamento era feito para me fazer desistir.”

    “Vamos deitar. Eu fiz mais do que o suficiente.”

    Aos poucos, aproximava-se da terra repleta de aranhas. Um sorriso fino surgiu em sua boca aberta.

    “Só preciso fechar os olhos.”

    “Deitar na terra úmida vai parecer o paraíso. Vai esfriar meu corpo febril e me abraçar suavemente.”

    “Vai ser confortável…”

    “Já que tem algo bloqueando meu caminho como uma parede, não é como se eu pudesse correr de qualquer forma…”

    “…Parede?”

    Força surgiu em seus olhos sem vida. Mesmo naquele momento, aproximava-se do chão. De um lado, sentia uma estranha sensação de déjà-vu. Como se já tivesse passado por aquilo antes…

    Quando seu rosto estava prestes a tocar o chão, o jovem foi tomado por um conflito mental.

    “Quero me deitar. Quero me deitar e fechar os olhos…”

    — !

    Kwak!

    Suas mãos tocaram o chão por um triz.

    “Parede!”

    A parede! Finalmente, a parede havia chegado até ele. No momento antes de seu colapso, ele finalmente viu o limite que podia superar.

    E agora?

    “Preciso superá-la.”

    Concentrou força nos braços e se empurrou para cima. Deu um passo adiante na encosta da montanha com as pernas gritando de dor. E assim…

    — Uwaaaaaah!

    Seol Jihu começou a correr mais uma vez.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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